terça-feira, fevereiro 18, 2020

NÍKOS KAZANTZÁKIS, JURGA IVANAUSKAITĖ, MAX KLINGER & SOM AO REDOR


O TEMPO PASSA E A GENTE NA MESMA DESDE NUM SEI QUANDO – UMA: AGORA É TARDE! ANTES DELA, OUTRA INÊS JÁ ERA MORTA – Todo mundo já ouviu: agora é tarde, Inês é morta! Pois é, isso porque lá pelo século 14, o primeiro D. Pedro estava enrolado com a dama de companhia Inês de Castro. Ele foi obrigado a casar com outra, a Constança, e assim, tornaram-se amantes. Como sempre ocorre aqui, ali e acolá, deu o maior escândalo. De repente, ela aparece degolada. Como? Quando? Onde? Quase como ainda hoje em dia, soube-se logo quem mandou e quem executou. Ele vingou-se dos assassinos, arrancando o coração deles com as mãos. Aí, só depois de morta, ela tornou-se rainha. É isso. Antes dela, porém, uma outra Inês, a Inês Visconti, senhora de Mântua e esposa do rei, teve sina semelhante. Foi assim: o pai dela era um déspota que vivia em guerra contra o papado. Por conta disso, foi deposto, aprisionado e morreu envenenado. Morreu, mas o prestígio ficou. Ela, aos 13 anos, casou-se com outro menino de 12, que era filho dum rei. Aí, um belo dia, casamento consumado, o marido armou uma trama: precisava romper a aliança com o pai dela por outra mais vantajosa e, por conta disso, acusou-a de traí-lo com um certo cavaleiro de nome Antonio da Scandiano. Pelo crime de adultério, os supostos amantes adúlteros, foram executados no dia 7 de fevereiro de 1391 e enterrados na Piazza Pallone. O impune se deu bem. Cá comigo: isso se repete todo dia até hoje, hem? DUAS: OUTRA BRABA - Não menos diferente foi o destino de Hypatia de Alexandria, lá pelos 4 séculos depois de Jesus. Isso porque, entre outras e tantas coisas, ela costumava dizer: Defenda seu direito de pensar, porque pensar de maneira errada é melhor do que não pensar. Foi o bastante para o cristianismo ceifar a vida dela. Ih, os tempos atuais não são muito diferentes desse tempo não. TRÊS: SERÁ QUE A GENTE PODE INVENTAR UMA NOVA FORMA DE VIVER? – Sei não, hem? Entre mentiras disfarçadas de verdades e verdades que se produzem encapadas dum bocado de equívocos interpretativos, valho-me de Clarice Lispector: Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada. E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] tão logo nascemos, principia o esforço de criar, de tramar, de fazer da matéria vida: a cada instante nascemos. Por isso muitos proclamaram: O escopo da vida efêmera é a imortalidade. Nos transitórios corpos vivos, lutam duas correntes: uma, a ascendente, rumo à síntese, à vida, à imortalidade; segunda, a descendente, rumo à dissolução, à matéria, à morte. [...] E as duas correntes se originam no imo da substância primeva. De começo, a vida surpreende; parece uma reação ilegítima, desnaturada e efêmera às trevas das fontes eternas; mas, quando nos aprofundamos, percebemos que a Vida é o próprio curso, sem princípio nem fim, do Universo. Se assim não fosse, de onde viria a força sobre-humana que nos lança do incriado ao criado e nos impele - plantas, animais, homens - à luta? As duas correntes antagônicas são pois sagradas. Cumpre-nos, então, aceder a uma visão que articule e harmonize estes dois prodigiosos impulsos sem princípio nem fim, e por ela regular o nosso pensamento e ação. [...] Entre todos os impulsos de Deus, qual o que o homem pode perceber? Somente este distinguimos: uma linha rubra sobre a terra, uma rubra linha de sangue que luta por ascender, da matéria inanimada às plantas, das plantas aos animais, dos animais ao homem. Esse indestrutível ritmo pré-humano é o único curso visível, sobre esta terra, do Invisível. Plantas, animais e homens são os degraus que Deus criou para poder pisar e ascender. Árdua, terrível, infinda ascensão. Nesse assalto, Deus vencerá ou será vencido? Existe vitória? Existe prêmio? Nosso corpo se arruinará, voltará ao seio da terra, mas Àquele que por um instante o atravessou, que acontecerá? [...] Não me importa que rosto deram outras épocas e outros povos à prodigiosa essência sem rosto. Encheram-na de virtudes humanas, de recompensas e punições, de certezas. Deram um rosto às suas próprias esperanças e temores, impuseram um ritmo à sua própria anarquia, encontraram uma justificação superior para viver e labutar. Cumpriram seu dever. [...] É, pelo contrário, homem e mulher a um só tempo, mortal e imortal, excremento e espírito. Concebe, fecunda e mata; amor e morte, conjuntamente, torna a conceber e matar - e em largos passos de dança vai além dos limites da lógica, onde não há lugar para antinomias. Meu Deus não é onipotente. Peleja, enfrenta o perigo a todo momento, treme, tropeça em cada ser vivo, grita. É incessantemente vencido, mas torna a erguer-se, sujo de sangue e terra, e recomeça a luta. [...] Meu Deus não é todo bondade. Está cheio de aspereza, de selvagem retidão, e é sem piedade alguma que escolhe sempre o melhor. Não se compadece, não se importa nem com seres humanos nem com animais, muito menos com virtudes ou ideias. Ama-os por um instante, esmaga-os para sempre e segue adiante. [...] Meu Deus não é onisciente. Seu cérebro é um novelo de luz e trevas que ele forceja por desembaraçar dentro do labirinto da carne. [...] Havia uma prisão; a prisão se rompeu, foram libertadas as forças terríveis ali encerradas e o ponto não existe mais! Esse grau último da ascese se chama Silêncio. Não porque seu conteúdo seja o supremo, inexprimível desespero ou a suprema, inexprimível alegria e esperança. Nem porque seja o supremo conhecimento que não se digna a falar, ou a suprema ignorância que não consegue falar. Silêncio quer dizer: Cada qual, após cumprir seu tempo de serviço como combatente, chega ao mais alto cimo do esforço - passados os combates, não luta mais, não grita mais: amadurece por inteiro, silenciosamente, indissoluvelmente, eternamente, com o Universo. [...] não existe doutrina, não existe Redentor para abrir caminho. Não existe tampouco caminho a ser aberto [...]. Trechos extraídos da obra Ascese: Os Salvadores de Deus. (Ática, 1997). do escritor e pensador grego Níkos Kazantzákis (1883-1957). Veja mais aqui & aqui.

NO AVIÃO – Aqueles sentados perto / a saída de emergência / deveria abandonar tudo / mas esperança. / Sem dúvida sem dúvida / bolsas e maletas / impedirá uma queda de cabeça / do forro que cai. / Envoltórios, mantas ou mantos / também não são necessários, / espíritos interespaciais famintos / pode ficar enredado neles. / As barbas dos poetas / são menos do que desejáveis, / o diabo os agarra / em primeiro lugar. / É aconselhável fazer a barba / até pêlos nas pernas, / quando eretos eles se tornam afiados / e pode rasgar as nuvens. / É necessário / tire todas as roupas / estar nu como recém-nascidos, / amantes ou cadáveres. / A nudez é inevitável / em momentos cruciais / como no Paraíso e no Inferno da Bosch / ou no Juízo Final de Memling. / Todo mundo caiu uma vez / já está fervilhando / com sorrisos cruéis / entre as asas da hélice. Poema da escritora, pintora e fotógrafa lituana Jurga Ivanauskaitė (1961-2007).

SOM AO REDOR
O premiado longa-metragem Som ao redor (2013), dirigido por Kléber Mendonça Filho, conta a história da chegada de uma milícia de rua no bairro de Boa Viagem, zona sul do Recife e a reação dos moradores com a sua atuação na segurança local. Na verdade, a vida dos residentes de uma rua de classe média de Recife toma um rumo inesperado quando uma empresa de segurança particular é contratada para trazer paz aos moradores. Para alguns deles, a presença dos guardas cria mais tensão do que alívio. Veja mais aqui.

A ARTE DE MAX KLINGER
A arte do escultor, pintor e artista gráfico alemão Max Klinger (1857-1920). Veja mais aqui & aqui.

A ARTE PERNAMBUCANA
A música do pianista, maestro e compositor Marlos Nobre aqui, aqui e aqui.
Educação como prática da liberdade de Paulo Freire (1921-1997) aqui.
A poesia de Jayme Griz aqui, aqui & aqui.
A arte de Maurício Silva aqui.
A sedutora da noite aqui.
O município de Quipapá aqui, aqui & aqui
&
Oficinas ABI  aqui & aqui.
 

KARIMA ZIALI, ANA JAKA, AMIN MAALOUF & JOÃO PERNAMBUCO

  Poemagem – Acervo ArtLAM . Veja mais abaixo & aqui . Ao som de Sonho de magia (1930), do compositor João Pernambuco (1883-1947), ...