SIMBORA NO TEATRO DA VIDA – QUER UMA? LÁ VAI - Haja
drama no enredo da vida, com suas curvas, percalços e catabis. A gente tenta
acertar que só, só na volta do revertério. De chapa, eu tanto fiz de sofrer que
nem sovaco de aleijado, só na minha, que nem Bukowski: Observava as
pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e
eu era plateia de um homem só. E
TOME DUAS: CALIBÃ SABE QUEM É - Sempre gostei de fotografar, não de ser
fotografado. Nada narcísico. Foi que entendi do riscado com Millôr: Basta um avião sacudir um pouquinho mais, e logo todos os passageiros
ficam parecidos com a foto do passaporte. Ainda hoje tenho a foto da
carteira de identidade que tirei em 1975, quando contava com apenas 15 anos de
idade e emancipado por lei. Cada vez que exibo, me bate aquela do Andy Warhol: A melhor coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as
pessoas mudam. Ah, mas se feiura matasse, eu era um natimorto, hehehehehe. UM, DOIS, TRÊS: A CULPA É DO CAPITALISMO,
ORA! – É mesmo, ué. Quem mandou eu nascer baixim, buchudim, tronchim e
bunitim! E ainda por cima nordestino, numa cidade onde o mundo todo está lá
dentro para fazê-la o cu do planeta! Já dizia o meu filósofo favorito, Agostinho da Silva: A liberdade que há no capitalismo é a do cão
preso de dia e solto à noite. E vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS
& DESDITOS: [...] Fui na casa
de uma preta levar umas latas que ela havia pedido. Latas grandes para plantar
flores. Fiquei conhecendo uma pretinha muito limpinha que falava muito bem. Disse
ser costureira, mas que não gostava da profissão. E que admirava-me. Catar
papel e cantar [...] Os lixeiros
haviam jogado carne no lixo. E ele escolhia uns pedaços. Disse-me: Leva,
Carolina. Dá para comer. Deu-me uns pedaços. Para não maguá-lo aceitei.
Procurei convencê-lo a não comer aquela carne. Para comer os pães duros ruídos
pelos ratos. Ele disse-me que não. Que há dois dias não comia. Acendeu o fogo e
assou a carne. A fome era tanta que ele não poude deixar assar a carne. Esquentou-a
e comeu. Para não presenciar aquele quadro, saí pensando: faz de conta que eu
não presenciei esta cena. Isto não pode ser real num país fértil igual ao meu.
Revoltei contra o tal Serviço Social que diz ter sido criado para reajustar os
desajustados, mas não toma conhecimento da existência infausta dos marginais.
Vendi os ferros no Zinho e voltei para o quintal de São Paulo, a favela. No
outro dia encontraram o pretinho morto. [...] Não trazia documentos. Foi sepultado como um Zé qualquer. Ninguém
procurou saber seu nome. Marginal não tem nome. … De quatro em quatro anos muda-se
os políticos e não soluciona a fome, que tem sua matriz nas favelas […] Eu deixei o leito as 3 da manhã porque
quando a gente perde o sono começa a pensar nas misérias que nos rodeia [...]
Deixei o leito para escrever. Enquanto
escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do
sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista
circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. [...] É preciso criar este ambiente de fantasia,
para esquecer que estou na favela […] Uma
senhora que fez compra gastou 43 cruzeiros. E o senhor Eduardo disse: - Nos
gastos quase que vocês empataram. Eu disse: - Ela é branca. Tem direito de
gastar mais. Ela disse-me: - A cor não influi. Então começamos a falar sobre o preconceito.
Ela disse-me que nos Estados Unidos eles não querem negros na escola. Fico
pensando: os norte-americanos são considerados os mais civilizados do mundo e
ainda não convenceram que preterir o preto é o mesmo que preterir o sol. O
homem não pode lutar com os produtos da Natureza. Deus criou todas as raças na
mesma época. Se criasse os negros depois dos brancos, aí os brancos podia revoltar-se
[...]. Trechos da obra Quarto de despejo:
diário de uma favelada (Ática, 2015), da escritora brasileira Carolina de Jesus (1914-1977). Veja
mais aqui.
UM INIMIGO DO POVO, HENRIK IBSEN
[...] HOVSTAD - Falo do pântano onde está apodrecendo toda
a nossa cidade. [...] HOVSTAD - Todos os negócios da cidade passaram,
pouco a pouco, para as mãos de um bando de políticos, altos funcionários do
governo. [...] HOVSTAD - Mas dá no mesmo, pois quem não é
funcionário público ou político é amigo ou partidário de funcionário. São esses
ricos, que ostentam nomes tradicionais, os mesmos que nos governam. [...] ASLAKSEN - Não, não, não, Sr. Hovstad. Nada de ataques à autoridade. Nada de
oposição àqueles de quem dependemos. Estou farto disso, e aliás, isso nunca deu
resultado positivo. Mas não há nada de ofensivo no fato de um cidadão exprimir
livremente algumas ideias sensatas. [...]
HENRIK IBSEN – Trechos extraídos da peça teatral Um inimigo do povo (En folkefiende - Globo, 1984), do dramaturgo do Realismo norueguês Henrik
Ibsen (1828-1906), que tornou-se uma declaração de guerra do individualista
à sociedade e que, apesar do pessimismo social, deixa antever, porém, uma vaga
esperança da horia dos indivíduos e das instituições. Veja mais aqui e aqui.
A FOTOGRAFIA DE EUGÈNE ATGET
A arte
do fotógrafo francês Eugène Atget (1857-1927) que revolucionou a
fotografia com seu olhar desviado do ser humano, fotografando o vazio das ruas
parisienes, objetos inusitados e mulheres nuas. Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A poesia
de Conceição Ramos aqui.
Baixio
das Bestas aqui.
José
Durán y Durán & As Noites da Cultura Palmarense aqui
&
Noite do
Recife aqui.