HEUTAGOGIA X ESCOLARIZAÇÃO – Como já dizia Murilo Gun: escolas matam a aprendizagem! Verdade.
Já desconfiava disso desde quando, no início dos anos 1980, assisti ao
filme/show The Wall, de Alan Parker
& a banda Pink Floyd, principalmente com a letra do sucesso musical Another brik in the wall. Isso ficou
martelando no meu juízo e, nos anos 1990, ao publicar meus livros infantis e
começar uma peregrinação com recreações promovendo as minhas publicações nas
escolas, fui me deparando com muros altos, divórcio com a comunidade e a
realidade do entorno, disciplina rígida e segurança máxima. Parecia-me mais um
quartel ou detenção, um negócio rachado no meio: de um lado, gestores e
profissionais não-docentes fechados incomunicáveis na administração; e, do
outro, professores e alunos – os visíveis, sobre os quais recaem toda a
responsabilidade pela trágica crise educacional. Ora, ora, desconfiei: o
problema é bem maior e começa no MEC, indubitavelmente; daí, de forma difusa, vai
se tornando uma avalanche pelas secretarias de estados e municípios. Aprumei a
vista: a educação básica prepara pro vestibular e a faculdade pro mercado –
quando muito e só. Hem? E o ser humano, o desenvolvimento do sujeito, o cidadão
e sua interdependência com o mundo e a vida? Ah, por isso que temos advogados,
médicos, engenheiros e outros tantos profissionais diplomados e pós-graduados (lato & stricto sensu), por aí, tudo tapado chega fazer dó, uma tuia gigantesca
de besta quadrada. A-rá! Os anos se passaram e, enquanto isso, fui
desenvolvendo estudos aprofundados nas áreas de educação e psicologia. O estalo
pra certidão quem me deu foi o psicanalista e educador, Rubem Alves, já em meados
dos anos 2000, com a sua crônica Casas
emburrecedoras. Com a dica, juntei o troço: casas/escolas. E ampliei a
pesquisa: educação básica (infantil, fundamental e médio) até o curso superior,
profissional, tecnológico, especial, EAD, EJA e lá vai teibei. Além disso,
assessorei graduandos e pós-graduandos nas suas pesquisas num corpo a corpo,
ministrei por anos um curso sobre Metodologia Científica e emburaquei fundo no
assunto, redundando no acompanhamento e assessoria a um bocado de dissertações
de mestrado e teses de doutoramento no Brasil e no exterior, envolvendo
diversas escolas das redes pública e privada. Juntei tudo e me matriculei num
curso de Psicologia. Lá me meti nuns grupos de pesquisa, entre os quais o de
Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva, e matei a charada com uma palestra que
passei a desenvolver desde então: Neuroeducação & práticas pedagógicas no ensino-aprendizagem. Dava conta do como é desenvolvida
a educação no Brasil: a confusão que envolvia a lógica do mercado e ensino misturada
com capitalismo e cristianismo, o equívoco de que educação é escolarização, e
um monte de coisas que me deixaram de cabelo em pé: sectarismo, pedantismo,
preconceito e má vontade – aquela coisa de Pandora. Vixe! Foi aí que comecei o
confronto entre heutagogia e escolarização. Ao constatar o traumatismo de gerações
que a escola provocou com sua imposição bancária de conteúdos obsoletos e
disciplina exagerada, visualizei a crescente fatia do autodidatismo, antes
tratado com desdém na base do escárnio cruz-credo! Ué? Pra quem vê a escola de
educação básica distante do desejado e os vestibulares das universidades
públicas manipulados pelos cursinhos, afora outras tantas broncas no pega-lá-dá-cá
desse Brasilzão, qual a alternativa para inclusão de tantos deserdados? Sentir na
pele e dar-se ao sacrifício individual de entender que é um ser que se prepara
pra experiência da vida e pro convívio em sociedade planetária. É isso: a
escola emburrece e mata a aprendizagem mesmo, tenho dito. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial do Dia Nacional do Choro com a música do
compositor Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho – 1897-1973) & o Choro
Brasileiro: Choro, chorinho & chorões; do premiado conjunto Teresa Cristina & o Grupo Semente, formado pela vocalista Teresa Cristina, o cavaquinho de
João Callado, o violão de Bernardo Dantas, o pandeiro de Pedro Miranda e o
surdo de Ricardo Cotrim: Delicada, Coração Imprudente e O mundo é meu lugar; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] O
que dá a uma nação destino próprio, [...] é sua capacidade de autodeterminação e o efetivo exercício dessa
capacidade [...]. Pensamento extraído da obra O nacionalismo na atualidade
brasileira (Iseb/MEC, 1958), do sociólogo, cientista político e escritor Hélio Jaguaribe, que acrescenta na obra
A reconfiguração da ordem mundial no início do século XXI (Câmara dos
Deputados, 2002): [...] a preservação da
autonomia é requisito absolutamente fundamental para que este País tenha um
destino próprio [...].
REFLEXÃO CONTEMPORÂNEA - [...]
Nosso universo está em construção. A
historia humana, acontecimento particular da história do universo, acompanha
essa mesma dinâmica do inacabado, das flutuações, das bifurcações. O universo é
uma mistura de determinismo e de imprevisibilidade. A criação do universo é
antes de tudo uma criação de possibilidades das quais alguma se realizam e
outras, não. [...] A condição humana
reside em abrir-se à possibilidade da escolha. Pensar o incerto é pensar a
liberdade. [...]. Cabe ao homem, tal
qual é hoje, com seus problemas, dores, tristezas e alegrias, garantir que
sobreviva ao futuro. [...]. Trecho extraído da entrevista concedida pelo
químico russo Prêmio Nobel de Quimica de 1977, Ilya Prigogine (1917-2003), retirada da obra Conversações:
entrevistas essências para entender o mundo (Cultura, 2008), de João Lins de
Albuquerque.
PSICOLOGIA SOB O OLHAR DA SOCIEDADE - Celebração – porque a morte é uma festa, estamos aqui para festejar DU,
Maria do Carmo Vieira. Festejando DU, festejo nossa morte cartesiana. Morrerei
sem ter descoberto as ideias claras, nítidas e precisas que podem diferenciar,
especificar os campos da psicologia, da psiquiatria, da psicanálise. Morrer
desta ignorância fundamental. Morrer de não saber, mergulhado na nebulosa PSI,
buraco negro de nosso cotidiano, de sociabilidade e incomunicações. Buraco
negro acima e abaixo dos racismos, etnocentrismos e até das metarraças. Ninguém
escapa pelas fendas da morte romântica. Região subterrânea e transcendental de
luzes e sombras, iluminando os romantismos mais clássicos e pós-modernos.
Obscuros e translúcidos subjetivismos, subjetividade e subjetivações. Qualquer
livre associação pode nos conduzir – natural, intencional e intempestivamente
ao tema-problema da loucura. Portanto, entre a livre associação e a ideia fixa,
morro sonhando, pensando e penando, dispensando que todos os enigmas continuam
girando em torno da palavra logos. L, a mesma letra inicial da loucura.
Múltiplas conotações. Pensamos logos como tradução direta para lógica – mas de qual
lógica tratamos? Da lógica formal ou da lógica dialética? Da lógica enquanto
princípio de identidade ou da analógica com seus paradoxos e contradições. O
logos nos situaria apenas entre conceitos e raciocínios? Logica discursiva,
retórica, persuasiva, pedagógica? Apostamos que o logos da psicologia também
nos surpreende enquanto perspectiva do imaginário, imagens e contraimagens,
metáforas, jogo imprevisível de intuições. Intuição criadora de artes e
ciências. Visão direta, instantânea, pré-conceitual, livre jogo de hipóteses.
Intuição intelectual e volitiva que não se confunde com o fervor das intuições
místicas. Nesse diálogo entre o intuitivo e o conceitual transitam os múltiplos
saberes, percepções, olhares, visões de um logos do senso comum, da sabedoria
prática, conjunto de fazeres e aprendizados de nossa sociabilidade. Morremos e
renascemos entre laços e lâminas. Nós cegos e luminosos das crenças, do senso
comum, das intuições mais nítidas ou delirantes, desejando uma racionalidade
mais aberta, experimental, descentralizadora. Experimentando, por um lado, as
ambiguidades, entre o empirismo, o positivismo dos testes e medidas; e, por
outro lado, o intelectualismo das racionalizações. Tudo continua sendo visto,
olhado, escutado, tocado, presenciado como expressão dos mecanismos de defesa,
das percepções seletivas, hábitos herdados, memorias roubadas, tradições
revisitadas e consumidas. Continuamos morrendo e renascendo diante das tramas, segredos,
mistérios, mitologias, desvelamentos e desocultações de nosso inconsciente,
desejos dilacerados, frustrações messiânicas, recalques do papai e mamãe,
sublimações holísticas, fantasias de poder, fantasmas do não saber. Morremos e
renascimento festejando simultaneamente a “impenetrabilidade dos seres humanos”
e o projeto de sermos interdependentes, intercomunicantes. Dentro e fora desse
logos polifônico, pluralista, democratizador, qual o olhar da sociedade sobre a
psicologia? Muito mais do que uma ótica, imaginamos uma semiótica de afetos
ambivalentes. Eu odeio, eu adoro numa mesma oração: na música Baioque do Chico
Buarque. Dor e delícia, dilema de sermos outros caetanos. Infinitamente Chico
César da Paraibarroca. Semiótica da cruel beleza pela longevidade dos
tropicalistas. Todas as dúvidas permanentes, agora e permanecendo. Todos os
casos e ocasos. Você é Lindair no processo PSI de ir e vir. Rosa de todos os
jardins. Seres talvez impenetráveis, mas interpenetradores e intercomunicantes.
Por isso descartemos o olhar semiótico, arrogante, dilacerado, benevolente,
autoconsolador, ridículo, idiota e genial da sociedade e seus mais sábios
intérpretes. Salve-se quem souber do enigma das carências, desamparos,
angustias, solidões: situações-limite da loucura. Extraído da obra A língua dos Tres Pppês: Poesia, politica e
pedagogia (Sesc-PE, 2012), de do poeta, professor, cineasta, filósofo e
agitador cultural Jomar Muniz de Brito, organizado
por Antonio Edson Cadengue e Igor de Almeida Silva.
CALUNGA - [...] Para isso tanta desgraça planejada, banguês comidos,
senhores reduzidos á miséria, e atrás de tudo o homem do eito, da bagaceira, das
limpas, das fornalhas, cambiteiros, metedores de cana, caldeireiros,
trabalhadores de enxada, mal alimentados, mal vestidos, descalços, trabalhando
noite e dia pra aguentar o bangüê, para o bangüê ser devorado pela uzina e por
sua vez o uzineiro ser devorado por U.S.A. Lula imaginava naquela hora clara o
nativo esmagado pelas ferragens dos engenhos, os tríplices efeitos e as turbinas
e vácuos das uzinas, e em cima disso tudo de quebra, trens da Inglaterra, e automoveis
dos Estados Unidos. [...] Saltando no
planalto, em cima da cidade, resolveu ir mesmo a pé, para ir sentindo
devagarinho o prazer de encontrar depois de tanto tempo os recantos saudosos e
surpreender-se com as modificações que pensava se tivessem realizado na sua
ausência. Nada. Tudo andava no mesmo. Era de manhã e ele pôde ver o antigo Sol
nascendo na lagoa lá longe no mar. O casario, os caminhos, a cidadezinha, as olarias,
embaixo, tudo tinha a mesma cara, como se aquelas coisas fugazes tivessem
adormecido, e acordassem agora com o velho Sol. Lula diminuiu mais as passadas,
olhando demoradamente a cidade despertando
[...] Sururuzeiro esquentadinho de sezões via o mundo diferente,
o sol com outra cor, a lama chegava a possuir seus afagos apalpando os pés de
frieira, abarcando os sexos, oferecendo uns gozos muito diversos dos da carne,
o incesto com a mãe-terra se dava de todo jeito, comendo a velha, machucando-a,
sentindo-a sexualmente pela pele, num mais vasto prazer sexual, por todos os nervos
do corpo. A lama generosa maternalmente oferecia o sururu que ela gerava em seu
seio, como guardando o nutrimento debaixo do cabeção para a fome dos filhos
fracos. [...]. Trecho extraído do romance
Calunga (Livraria Globo, 1935), do médico, escritor, tradutor e pintor Jorge
de Lima (1893-1953). Veja mais aqui.
A BALADA DO DESESPERADO - — Quem bate à porta a tais horas? / — Abre,
sou eu. Quem tu és? / Não se entra na minha casa / Tão tarde assim, bem o vês.
/ — Abre. — Teu nome? — Há geada, / Abre. Teu nome? — És tardio! / Qual é teu
nome? — Ai, na cova / Um morto não tem mais frio. / Eu caminhei todo o dia / Do
sul ao setentrião, / Ao pé da tua lareira / Quero sentar-me — Inda não! / Diz
teu nome... — Eu sou a glória / E aspiro à posteridade... / — Passa fantasma
irrisório... / — Ó dá-me hospitalidade! / Eu sou o amor e a esperança / As duas
porções de Deus... / — Segue a estrada... A minha amante / Há muito me disse
adeus! /— Eu sou a arte e a poesia, /Proscreveram-me... Abre! — Não! / Já não
canto minha amante. / Nem sei que nome lhe dão!... / — Abre, que eu sou a
riqueza, / E trago do ouro o fulgor, / — Posso dar-te a tua amante... / — Podes
dar-me o seu amor? / — Sou o poder, tenho a púrpura. / Abre a porta! — Anelo
vão! / Podes trazer-me a existência / Daqueles que já não sâo?! / — Se tu não
abres teus lares / Senão a quem diz seu nome / Sou a morte! trago alívio / P'ra
cada dor que consome! / Podes ver, trago na cinta / Ruidosas chaves fatais... /
Abrigarei teu sepulcro / Do insulto dos animais. / — Entra, estrangeira
funérea... / Perdoa à mendicidade, / Porque é no lar da miséria / Que tens hospitalidade.
/ Entra; cansei-me da vida / Que nada tem que me dar... / Há muito eu tinha
desejos / (Não força) de me matar! / Entra no lar, bebe e come, / Dorme, e
quando despertares, / Para pagar tua conta / Hás de levar-me aos teus lares. / Eu
te esperava, eu te sigo... / Vamos... arrasta-me... assim... / Mas deixa o meu
cão na terra / P'ra eu ter quem chore por mim! Poema do poeta e romancista
francês Henri Murger (1822-1861).
A ARTE DE MAURÍCIO SILVA
A arte do artista Maurício
Silva.
Ana de
Ferro no Teatro, Burocracial de Vital Corrêa de Araujo, a Poesiarte de Cyane
Pacheco & muito mais na Agenda aqui.
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Aganocê: o poema feito prosa de amor, o pensamento
de Hannah Arendt, a
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Egorov, a arte de Jack Hanley
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O Brasil & outros Brasis, Saúde no
Brasil, o cinema de Michael Moore &
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