ALGUMA COISA DITA QUE SIRVA OU NÃO – Imagem: Fire in
town, da artista vanguardista do suprematismo russo, Olga Rosanova (1886-1918). - Acorda a manhã com os chuviscos de
abril, inverno antecipado que se prolonga na rouca voz do locutor desalmado
berrando com estardalhaço a extravagância da nossa barbárie. Um prazer oculto
da locução pro ouvinte, nessa interação entre manchetes e emoções, escândalos e
frisson, equívocos e condenações – o olhar canhestra de quem fracassou na sua humanidade.
Mortes, escândalos, rol de desumanidade como cantiga matinal, saudando um dia
fúnebre que desconhece o Sol por trás das nuvens, as sementes que brotam
alhures, as águas das correntes, os ventos que carregam todas as loucuras. Quem
ouve atento, ou assiste o rol de atrocidades, pelo menos, terá o que conversar,
ávido por novidades da tragédia, satisfação de punir com as razões das
desrazões, o culto do desvario, da estupidez, do inclemente. Pra eles quanto mais
sensacionalista, mais prazeroso e tudo é pra lá de deprimente, desde que o leão
devore o desafiador, desde que o circo pegue fogo pra festança geral, desde que
o Tribunal Júri condene a pele de quem estiver no banco dos réus, seja quem for.
Não importa quem, a Lei de Talião. A indignação perdida pelo agora banal, antes
revolta, é só a torpeza do trivial, que a olhos ingênuos não acontecerá consigo
protegido pelas orações de fé carregadas no bolso, só com outrem, apenas, os
ímpios e descrentes, os que estão do outro lado. O lado definido, infeliz de
quem estiver na outra banda das convenções. É como se tudo fosse dividido entre
os a favor e os do contra, tão somente, pros da roda da amizade e compadrio
tudo; pros que não são da laia, infelizes desconhecidos ou desafetos, a lei
mais desumana. A pena de não saber que a gente existe não só no físico, o
invisível nos completa, mas quem quer saber do que não vê, importa só o
perceptível que diz tudo e é só o que vale. É como se uma cegueira doentia
afastasse os problemas e suas consequências, pra lá os presságios dos anátemas
ou a vingança dos mortos; só bem-vindas e graças a Deus, os ganhos e os milagres
do favorecimento. E isso é viver, o quase impossível sentir perto, por mais
longe que esteja, o que não se alcança facilmente é deixado de lado, nada de
faina, nem azares, voltar-se sempre pro lucrado, prejuízo é coisa pra desviados
pecadores, até vale a fraternidade dos celerados em troca de simpatias para a
rede de prosélitos, toma lá, dá cá, insânia que cresce ao meio dia e se
agiganta pela tarde e noite, até o adormecimento dos ardis que serão retomados
e sobrepostos na manhã seguinte em nome do saber viver entre acordos celebrados
e nas relações de amizade, como se uma guerra eterna construísse amigos e
inimigos ao longo dos dias. E se a manhã é outra, os atos são os mesmos desde
não sei quando e se repetem por semanas, meses e anos, décadas, milênios, o
código dos acertos, a manutenção do acertado. Quem olha por trás, acima ou além
disso, sente o travo que corta a língua e fere a garganta pro grito da
insubordinação, um grito sufocado pelo alarido da loucura instalada desde antes
de sempre. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do cantor e compositor Hyldon: A origem, Nossa história de amor e Sabor de amor; da
cantora e compositora Céu: Vagarosa, Catch a fire The Wailers e Bob Marley e solo; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Não
há objetivo para a vida, a existência é desproposital [...] A existência, por outro lado, não tem
objetivos. E a menos que você saiba o que há além do ego, além dos objetos, não
terá sabido nada. [...]. Texto extraído de Eu sou a porta: o sentido da iniciação e do aprendizado
(Pensamento, 1975), do filósofo místico Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990).
Veja mais aqui.
A ARTE & HOJE - [...] O
progresso técnico [...] conduziu à
vulgaridade [...] a reprodutibilidade
técnica e as rotativas possibilitaram a multiplicação infinita de escritos e
imagens. A instrução obrigatória e a elevação dos salários gerou um grande
público que é capaz de ler e tem condição de adquirir publicações. Para dar
conta dessa demanda, surgiu uma indústria considerável. O talento artístico, no
entanto, é algo raro; a consequência disso foi que a maioria da produção
artística, em qualquer tempo ou lugar, tornou-se medíocre. Hoje, a quantidade de
vulgaridade no conjunto da produção artística supera qualquer outra época
[...] Estamos diante de um simples
fenômeno matemático. [...] Resulta
que em todos os gêneros artísticos a produção de vulgaridades seja maior do que
foi no passado; e assim permanecerá, enquanto as pessoas continuarem a consumir
quantidades desproporcionais de material escrito, imagens e música. [...].
Extraído da obra Croisière d’hiver (Paris,
1935), do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963). Veja mais aqui.
NÃO CONFIE NAS APARÊNCIAS – Não há nada mais enganador e de modo geral
tão fascinante quanto uma boa superfície. O mar, quando contemplado na cálida
luz do sol de um dia de verão; o céu, azul na cintilação débil e âmbar de um
sol outonal, agradam a vista: mas, como é diferente a cena, quando a louca
fúria dos elementos desperta novamente a desarmonia da confusão, como é
diferente o oceano, arrojando-se com espuma e escuma, do calmo, plácido mar,
que cintila e ondula alegremente ao sol. Mas os melhores exemplos da
instabilidade das aparências são: o Homem e a Fortuna. A aparência bajuladora e
servil; e igualmente a expressão arrogante e altiva, escondem a falta de
caráter. A Fortuna, essa quinquilharia cintilante cujo brilho lustroso fascinou
e tentou tanto orgulhosos como pobres, é tão instável quanto o vento. Mas
existe um “algo” que nos diz qual o caráter de um homem. É o olho. O único
traidor que nem a mais rígida vontade de um vilão viciado não consegue
disfarçar. É o olho que revela ao homem a culpa ou a inocência, os vícios ou as
virtudes da alma. Essa é a única exceção ao proverbio “Não confie nas
aparências”. Em todos os outros casos é preciso procurar o verdadeiro valor. O
garbo da realeza ou da democracia não são senão a sombra de um “homem” deixa
atrás de si. “Oh! Como é infeliz o homem que depende dos favores dos príncipes”.
A instável maré da fortuna sempre mutante traz consigo – bem e mal. Como parece
belo quando arauto do bem e como parece cruel quando mensageiro do mal! O homem
que depende do temperamento de um rei não é senão um barquinho no grande
oceano. Assim vemos como são ocas as aparências. O hipócrita é o pior tipo de
vilão, mas sob a aparecia de virtude esconde o pior dos vícios. O amigo, que
não tem ambição, nem fortuna nem luxo exceto contentamento não consegue ocultar
a alegria da felicidade que flui de uma consciência clara e de uma mente leve.
Trecho extraído da obra James Joyce
(Globo, 1989), de Richard Ellmann,
com tradução de Lya Luft, sobre a biografia do escritor irlandês expatriado James
Joyce (1882-1941). Veja mais aqui.
SABEDORIA DA INSEGURANÇA – Da desintegração a parte interminável / é
que se construirá novamente; / de um rouxinol, / é que se tornará uma memória;
/ de uma grande mariposa de agosto, / com os olhos nas asas, tão bela, / capaz
de representar-se tal uma fábula, / é que será tentada de novo em um poema; /
de uma rosa despetalada, / é que são seus amáveis avós; / do mal do homem para
com o homem, / é que é a tenacidade da humanidade: / tirar da mente a longo
tempo / e atribuir ao coração novas fidelidades; / da música do silêncio
rompida, / é que será reunida novamente; / renomeando a poesia da cor dos dias,
/ é que fazem o paradigma do pintor. / Da falibilidade imensurável, / é que se
transforma em arte por autoridade; / que a desintegração do tempo / torna-se um
enriquecimento do intemporal; assim nada se destrói, antes encontra tudo / a
sua verdade na mente eterna; / que a morte não oferece escapatória, / o homem
torna-se a forma de outro homem. / Eu devo descender do velho Adão / e sou seu,
dele, metropolitano. / Caem a chuva e as folhas. É o mistério / palpável. E a
mesmice é sempre a mesma. / Embora diferente, donde espio, / é através do peixe
o seu anzol. / O estranho no sonho do poeta, / é o que é e não o que parece. /
Quando se vê a própria destruição / vê-se a forma surgindo do inferno / como
lembro no Campo Santo em Pisa / a obra do Giovanni medieval / que um velho
pintor morto, inclinado. / De um infante, a alma saindo da cabeça. Poema do
premiado poeta estadunidense Richard Eberhart (1904-
2005).
A ARTE DO CANTON BALLEY CELEBRATE
DANCE
Cena do Canton Ballet Celebrate Dance!, no Palace
Theatre, sob a direção de Cassandra Crowley.
O Centro
Cultural Vital Corrêa de Araujo & a Biblioteca
Fenelon Barreto informam:
&
Pelos
caminhos que andares, o pensamento de Simone de
Beauvoir, o cinema de Paulo Cesar Saraceni, a pintura de Alfredo Volpi & a A arte de Luciah Lopez aqui.