ELE & ELA: ROTEIROS SENTIMENTAIS - Ele
sonha em vencer na vida, ser o tampa engravatado, bigodudo, topetudo, ter um
carro zero importado, um palacete, muita grana e uma Amélia sex symbol fatal pra casar, senão todas.
Ela sonha com o amor da vida dela, um salvador príncipe encantado ator de
televisão ou capa de revista que seja compreensivo e másculo, ter tudo em cima
com chapinha e brincos, batom, cílios postiços, salto alto, pernuda sem TPM e menstruação,
sexto sentido e o inacreditável dentro da bolsa. Ele se embeca metrossexual pra
caça, se ajeita perfumado desleixando a freada na cueca e, depois de muito
pelejar na indumentária, vai de qualquer jeito, ô bicho besta danado. Ela vive
de espelhos, maquiagens, depilações, e confere o tamanho dos seios e da bunda,
demora no banho, escolhe essa ou aquela roupa, qual não sabe, resolve depois de
tantas e sai lindamente trajada. Ele quer fazer amor, vasculha as intimidades
dela e quer tudo na hora: agora ou nunca! Só faz merda e acerta na cagada,
arrisca tudo: fudido por um, fudido por mil, o último a saber. Ela quer fazer
amor e sonha ter filhos e uma família saudável, sozinha na siririca, se entrega
por inteiro e bota tudo a perder, ainda há esperança: quem aqui faz, aqui paga.
Ele sai pra trabalhar rangendo os dentes, pé na goela, sai da frente, em cima
da hora, quem quiser que se lasque, fim do expediente: agora pro bar! Aí coça o
saco e a pentelheira com futebol, porrinha e outros blefes, se embeiçando com a
primeira reboladora que passar. Ela sai pra trabalhar toda jeitosa, suspira por
ele, quer ser mãe exemplar no terceiro expediente, quando borra a maquiagem ao
saber que foi trocada por uma mocreia mais jovem. Ah, o amor, o amor é lindo e
nunca morre. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o compositor, violonista, escritor, editor e
crítico literário e musical, Arthur Nestrovski: Jobim Violão, Por causa de você & The
man I love, com Lívia Netrovski; da cantora, musicista e atriz irlandesa Camille O’Sullivan: Live at jazz open
Stuttgart, Oh lord & Five years/Eclipse; & muito mais nos mais de 2 milhões de
acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só
ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] um
processo de matematização não é nem uma tradução, fiel ou infiel, nem uma
substituição puramente formal da pré-lógica que existe nas leis empíricas [...]
a estrutura lógica estabelecida entre afirmações descritivas a respeito de
fatos [...] está sujeita a modificações por vezes radicais que não só mudam a
forma da teoria, mas afetam as próprias evidencias empíricas, forçando-nos
assim a dar uma interpretação diferente às observações e às relações entre as
medidas. [...] Pensamento extraído da obra A world on paper: studies on yhe second scientific revolution (MIT
Press, 1980), do físico e historiador italiano Enrico Bellone (1938-2011).
ENCONTROS EMOCIONAIS & O CASAMENTO - [...]
Quantas neuroses familiares e
degenerescências libidinais seriam evitadas através de uma educação sexual para
a procriação em comum acordo, sem nada arriscar antes do processo à autonomia
cívica pecuniária dos dois elementos do casal, vale dizer, ao estado adulto dos
seus egos, e nunca antes do acesso a uma volúpia satisfatória comum, ou seja, a
uma troca libidinal, genital e geneticamente sensata! [...] Um homem e uma mulher nem sempre se enganam
em sua primeira atração sexual, mas muitas vezes comprometem depressa demais a
sua existência, antes mesmo de terem atingido a idade do desejo de dar
nascimento a um terceiro termo, o filho, antes de estarem maduros para deslocar
o eixo do seu narcisismo para o fruto vivo do seu amor. [...] Trecho
extraído da obra Sexualidade feminina: libido, erotismo, frigidez
(Martins Fontes, 1983), da médica e pediatra francesa Françoise Dolto
(1908-1988). Veja mais aqui, aqui e aqui.
A MULHER & O PRAZER - [...]
A Sra. Carré-Lamadon, que conhecera
muitos oficiais e que os julgava entendida, não achava aquele absolutamente
mai; lamentava mesmo que não fosse francês, porque daria um hussardo muito
onito, pelo qual todas as mulheres certamente se apaixonariam. [...] Os olhos da linda Sra. Carré-Lamadon
cintilavam, e ela estava um pouco pálida, como se já se sentisse violentada
pelo oficial. [...]. A mimosa Sra.
Carré-Lamadon parecia mesmo pensar que em seu lugar recusaria aquele menos que
qualquer outro. O assedio foi longamente preparado, como se se tratasse de uma
fortaleza a atacar. [...] Exemplos
antigos foram citados: Judite e Olofernes, depois, sem a menor razão, Lucrecia
e Sexto, Cleopatra fazendo passar por seu leito todos os generais inimigos e
reduzindo-os ao servilismos de escravos. Relataram então uma história
fantástica, surgida na imaginação daqueles milionários ignorantes, na qual as
cidadãs de Roma iam adormecer em Cápua tendo Anibal entre seus braços, e, com
ele, seus oficiais e as falanges de mercenários. Citaram-se todas as mulheres
que detiveram, os conquistadores, fizeram de seu corpo um campo de batalha, um
meio de dominar, uma arma, que venceram com suas carícias heróicas criaturas
medonhas ou odiadas, e sacrificaram sua castidade à vingança e à dedicação.
Falou-se mesmo em termos velados naquela inglesa de ilustre família que se
deixara inocular uma horrível e contagiosa moléstia para transmiti-la a
Bonaparte, a quem uma súbita debilidade salvara miraculosamente, na hora do
encontro fatal. E tudo isso era contado de maneira correta e moderada, na qual
às vezes explodia um entusiasmo intencional, próprio para provocar a emulação.
No fim poder-se-ia acreditar que o único papel da mulher, sobre a terra, era um
perpetuo sacrifício de sua pessoa, um abandono contínuo aos caprichos da
soldadesca. [...]. Trecho extraído da obra O prazer (Vecchi, 1954), do escritor francês Guy de Maupassant
(1950-1893). Veja mais aqui.
A PRAIA DE DOVER – Esta noite o mar se mostra calmo. / A maré
está cheia, a lua clara / sobre o estreito; na costa francesa, a luz / brilha e
se apaga; os penhascos da Inglaterra, / cintilantes e vastos, na baía
tranqüila. / Vem à janela, que delícia o ar da noite! / Solitário, na longa
linha de espuma, / onde o mar encontra a terra empalidecida pelo luar, / ouve o
rugir rouquenho / dos seixos que as ondas levam e atiram / de volta a praia
extensa. / Começam, param, recomeçam / numa cadência trêmula e vagarosa, /
transmitindo o seu eterno tom tristonho. / Sófocles, há tanto tempo, / ouviu aquele
tom, no Egeu. / E isso trouxe à sua mente / o turbilhão do fluxo e o refluxo /
da miséria humana. / Encontramos também, no som, um pensamento, / ouvindo-o, no
distante mar do norte. / O mar da Fé também surgiu / na maré cheia, em volta
das praias, / como as dobras de uma faixa amarfanhada. / Mas agora, eu só ouço
/ a sua melancolia, como um ronco longo e arrastado / conduzido pelo sopro do
vento da noite, / nas vastas praias tristonhas / e os rochedos nus do mundo. /
Ah, amor, sejamos sinceros / um com o outro! Porque o mundo que parece / estar
deitado diante de nós, como uma terra de sonh, / tão vário, tão belo, tão novo,
/ não tem na realidade, nem alegria, nem amor, nem luz / não tem certeza, nem
paz, nem consolo para a dor. / E aqui nos encontramos como numa planície
encoberta, / varrida por alarmas confusos de luta e fuga, / onde exércitos
desconhecidos se batem à noite. Poema do poeta e crítico britânico Matthew Arnold (1822-1888).
A ARTE DE DORA MAAR
A arte da fotógrafa, poeta e pintora francesa Dora Maar (1907-1997).
&
De
homens, bichos & feras, o pensamento de Gaston Bachelard, a literatura de Rogel Samuel, a pintura de Jean-Léon
Gérôme & a arte de Wendy
Arnold aqui.