Nunca senti que
ser mulher me tenha impedido de algo ou que tenha feito qualquer diferença... Tem
muito a ver com o papel da mulher na família e com o que também carregamos e
assumimos... Se você sabe que é isso que realmente quer fazer, porque é
difícil entrar nesse mercado, persista e persista....
Trechos da
entrevista (Classic FM, 2017) ao som das trilhas sonoras de The
Cider House Rules (1999) e Chocolate (2000), da compositora
britânica Rachel Portman (Rachel Mary
Berkeley Portman). Veja mais aqui.
Fábula das cores coevas... - Era Julie introspectiva inaugurando o amanhecer, a imensidão azul
do céu no teto do quarto; a lâmpada apagada, o Sol e as estrelas. No seu desamparo
de viúva, o pensamento invasivo de uma cena: um troglodita à saída de uma
caverna se deslumbra ao avistar um ser - como se visse o Sol da primeira manhã,
ou o raio primevo rasgando o céu do seu mundo. Não era, mas muito lhe apetecia.
Era ela e os olhos dele cheios de ternura. Arrebatado, ele então demonstrou sua
afeição exibindo sua musculosa virilidade, ao suspender uma enorme fraga sobre
a cabeça e, logo em seguida, às mesuras jogou-a contra ela, como se dissesse: toma,
segura! Coitada, era o modo da aptidão dele para o amor. Não! Viu-se ali esmagada
pela brutalidade de todas as milenares coações punitivas das leis de deuses
estúpidos, cultuadas por sacerdotes cretinos e implementadas legalmente dos pais
para os maridos detentores do Código de Hamurabi, das Leis de Manu e de toda
insensata legislação dos humanos. Ao mesmo tempo, viu-se invadida por lembranças
e a enredaram às tramas, as quais negou o quanto pode: foi tomada pela
insolência de Antígona e enfrentou a si mesma e a todos. E teve raiva
por que viu-se Hypátia tombando diante da fanática fúria cristã. E barganhou
por ser apenas uma costela inútil e portadora do pecado de Eva, só para ganhar
tempo. E se deprimiu porque era Juliette na pele do sofrimento Claudel.
Não adiantava chorar, lamentava-se questionando o quanto era livre se estava diante
de tantos flagelos seculares. Despertou assustada aceitando, enfim, seu
pesadelo: adotou o nome de solteira, a sua vulnerável armadura, a luta contra o
chão e a silenciosa depressão, a sanidade recuperada. Não dispunha de corrimão
ou mãos solidárias. Sofria: a filha morta, as perdas, a vida esvaziada. Dispôs-se
a se safar das armadilhas, sobrevivente do azul triste da queda absoluta. Estava
disposta até a matar, se fosse preciso, um mero alívio, não fazia nada, a não
ser revolver-se a si própria na sua autorreclusa estagnada, quando precisava
escapar do passado, desligar a tomada. Aí fechou os olhos: a sinfonia inacabada,
a liberdade vazia era o fundo de um poço azul. Já era Dominique prisioneira
numa cela branca de um dia nublado. Novas rememorações a tomaram e, no meio
delas, viu-se Joana d’Arc entre vozes ocultas e condenada pela Inquisição. Viu-se
Ana Bolena executada inexoravelmente. Viu-se Isabella Morra sob golpes dos
irmãos. Viu-se vagando nas trevas da caça às bruxas, súcubus às fogueiras e na
perseguição da imposta culpa judaico-cristã às pecadoras da boceta maldita; o
suicídio de Dandara, Francelina Maria degolada, e todos olvidavam de Olympe de Gouges porque prosperava o Código Napoleônico. Viu-se Bridget Cleary abatida
pela misoginia, enquanto formava coro entre histéricas loucas com suas doenças
insanas. E repassava a sua vida entrecortada por golpes históricos levando-a surpreendida
pela vingança de Karol, humilhado perdedor, parvo apaixonado. Ah, havia perdido
a química, não o queria mais: a Polônia jamais seria França, o amor e o ódio, o
desejo e a fome, o desigual e a infelicidade de abrir mão do amor, a punição
severa e a constatação em riste: o ama. E nesse sentimento ali o branco de
todas as cores, juntas, iguais. Fechou-se em si e já era Valentine: o sangue da
memória, as paixões, o mundo e as ilusões. Atordoada por atropelar uma cadela
desamparada de um cínico e amargo juiz aposentado – na verdade, um espião da
vida alheia. E assim o julgamento de Rosa Luxemburgo condenada, de Olga
capturada, de Sharon Tate grávida, de Dian Fossey na cabana, das feiticeiras
da Papua-Nova Guiné, das crianças e mães do Congo, dos feminicídios de Ciudad
Juárez; de Dorothy Stang na floresta, da Chiara Páez espancada e a revolta #NiUnaMenos,
o protesto sufocado de Marisela Escobedo: estão matando muitas mulheres! E as manchetes
jornalísticas coetâneas: vereadora é abatida a tiros, juíza é morta pela
polícia, militar assassinada pelo marido soldado, dona de casa esfaqueada pelo
cônjuge, professora é alvejada por pai de aluno, servidoras são trucidadas por
colega de trabalho, psicóloga estrangulada por suposto paciente, deputada é
escalpelada em matagal, miss é tragicamente morta por perseguidor, e todas não
menos humilhadas, estupradas, perseguidas, vilipendiadas, lançadas do alto de
edifícios, queimadas vivas e forçadas ao silêncio eterno da matança, de penas
infligidas por homicidas autoritários, extremistas, fundamentalistas, toscos com
seu deus odioso e enlouquecido carrasco: o machismo mata! E corrói a humanidade.
Então ela precisava rever as suas boas intenções diante da barbárie, temia e os
seus medos estavam por trás dos acontecimentos, seus receios esgarçando elos
esfarrapados que se reagarravam uns aos outros pelos horrores das coincidências
e nada disso nunca foi nem será por acaso, tudo se repete, o eterno retorno. E sangrava
com a mão escondida, o semblante trancado, o olhar indiferente de existir
quando queria viver, com a sua amabilidade nos relâmpagos da boca e o coração atormentado:
a injustiça é a maior escuridão das leis lesadas. Era o xadrez da morte: a vida
não era só uma trilogia de Kieslowski - a dança letal era a desgraça ocidental,
entre o medo e a metáfora: a confluência de devires e absurdos, as contradições
e o paradoxo. Até mais ver.
Mayim Bialik: Eu não quero dizer que tudo acontece por uma razão, mas todos os dias estão alinhados ao lado do outro por uma razão. O melhor que você pode fazer é fazer cada dia bem com bondade e como uma boa pessoa... Veja mais aqui, aqui & aqui.
Michèle Lamont: Penso que as reivindicações de reconhecimento devem ser levadas muito a
sério pelos decisores políticos e cientistas sociais. Ainda temos que entender
como a desigualdade e a estigmatização se articulam umas com as outras... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
Sophie Kinsella: Pensando bem, o que é
mais importante? Roupas ou o milagre de uma nova vida?... Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui & aqui.
ANTES DO NOME
Imagem: Acervo ArtLAM.
Não me importa a
palavra, esta corriqueira. \ Quero é o esplêndido caos de onde emerge a
sintaxe, \ os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”, \ o “o”, o “porém” e
o “que”, esta incompreensível \ muleta que me apóia. \ Quem entender a
linguagem entende Deus \ cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. \ A palavra é
disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, \ foi inventada para ser calada.
\ Em momentos de graça, infrequentíssimos, \ se poderá apanhá-la: um peixe vivo
com a mão. \ Puro susto e terror.
Poema da poeta,
professora, filósofa e escritora Adélia Prado (Adélia Luzia Prado de
Freitas), destacando-se o texto Erótica é a alma, da autora: Todos
vamos envelhecer... Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão
pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar
gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos. A boa notícia é que a
alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos
trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a
mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas,
arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E,
quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar. Erótica é a alma
que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua
história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de
preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem
do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos
e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus
defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita
suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. Aprenda: bisturi algum vai
dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio. Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui
& aqui.
UMA
REVOLTA
– Quando o amor é
grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada
tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que
mesmo no amor tem-se que ter bom-senso e medida. Ah, a vida dos sentimentos é
extremamente burguesa. Texto extraído da coleção Clarice Lispector: crônica para jovens (4 vols., Rocco, 2011), da
escritora e jornalista Clarice
Lispector (Chaya
Pinkhasivna Lispector – 1920-1977). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,
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A CRISE CLIMÁTICA
NÃO EXISTE NO VÁCUO - [...] Cada coisa linda que vejo é como um triste
lembrete de tudo o que estamos perdendo. É doloroso porque você sabe que está
indo embora. [...]
Sempre foi uma realidade aterrorizante para mim, algo pairando
sobre toda a minha vida. [...] Eu vejo um lugar bonito, mas é agridoce
porque está sendo destruído e não vai estar lá quando eu crescer. [...].
Trecho da entrevista (BBC/LifeGate Daily, 2019), concedida pela
ativista climática estadunidense Jamie
Margolin.
ARTE NA ESCOLA:
NÓS CRIAMOS O MUNDO, SÓ ESQUECERAM DE CONTAR.
Numa iniciativa
das professoras Fátima Portela e Luciana Flávia, os alunos do 6º ao 9º, da
Escola CAIC José do Rego Maciel, de Palmares (PE), apresentaram no último dia
27 de novembro, a culminância do projeto Afro-Indígena, com a temática “Nós
criamos o mundo, só esqueceram de contar”. A exposição contou com apresentações da linha
do tempo com a história e arte afro-indígena, leituras, capoeira e um destaque
para a obra Quarto de Pensão, da escritora Carolina Maria de Jesus.
Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
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VERNISSAGE
RICARDO BERTACIN AIDAR
Ocorreu
neste domingo, 07 de dezembro, a abertura no Espaço RGAOBE – Arte Ofício e Bem
Estar, em São Paulo, da vernissagem do artista plástico e engenheiro civil Ricardo Bertacin Aidar. Ele participou com suas obras da publicação
Dareladas (CriaArt, 2024), é integrante do Gentamiga Ateliê (SP) e participa da
plataforma Ubqub (SP). Veja mais aqui, aqui & aqui.
ITINERARTE –
COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:
Veja mais sobre
MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.






