TRÍPTICO DQP – UM SÁBADO
& OUTRO... Imagem: Artes de Priscila Artes – Priscila Silva, ao som
das Symphonies 1 & 3, da
compositora francesa Louise Farrenc, na interpretação da Insula Orchesta & Laurence
Equilbey. – O primeiro, um sábado
ensolarado. A praça estava invadida pela barulhada de um dia de feira. No
centro, gente; na verdade, artistas ou quase, ao menos. Um grupo oriundo do
Recife dava o tom do evento: eram os renomados. Da terra, outros tantos, cada
qual, seus apetrechos e expressões. Estava bonito, como sempre: era dia de
homenagear Murillo La Greca! Tudo
muito bom. No segundo, outro dia azulado na Biblioteca de Fenelon, a gente
conversava sobre Planejamento e elaboração de projetos. Era uma promoção da ABI e as ideias rolando sobre o que fazer
desta uma outra cidade mais humana, mais artística, mais Palmares. Assim foram
estes e que outros destes sábados possam acontecer.
DOIS OLHOS NOS MEUS - Imagem da pintora, gravadora e
professora Helena Lopes, ao som da
canção Seu olhar do álbum Dia Dorim Noite Neon (WEA, 1985), de Gilberto Gil: - A magia do olhar de quem chega... – Entre a praça e a biblioteca, o
olhar dela pousou no meu: faíscas, relâmpagos, o coração era a Terra convulsa.
Aproximou-se e o espanto como um raio de Sol, era a premiada escritora,
ativista e jornalista mexicana Elena Poniatowska Amor: Hoje não quero ser meiga, calma, decente,
submissa, compreensiva, resignada, qualidades que os amigos sempre valorizam.
Nem quero ser maternal... As mulheres são desprezadas, consumidas, descartadas,
estigmatizadas, enforcadas para sempre na árvore patriarcal e enforcadas lá...
Sim, eu sei. Olhou pros lados e, de repente, um sorriso só dela, seus olhos de
novo nos meus e...: Pela primeira vez em
quatro longos anos, sinto que você não está longe, estou cheio de você, isto é,
de tinta... Para esquecer, você deve primeiro lembrar... Você começa a saber o
que é um governo, você percebe o que é, quando este governo joga os tanques na
rua. Sim, sei, mesmo que seja só escárnio ou impotência, tudo está muito
difícil. Deveras,
tudo me parece um filme horroroso que na verdade vivi na infância, por toda
minha adolescência e quase nem adulteci direito por isso: a revolta no peito
pela injustiça de todos os mandos. Por um instante senti um gosto de sangue na
boca, como se ouvisse Isaac Asimov: Examinem fragmentos de pseudociência e
encontrarão um manto de proteção, um polegar para chupar, umas barras de saia
para se agarrar. E o que oferecemos nós em troca? Incerteza! Insegurança! Ela
percebeu o tanto de injuriado fiquei naquele momento e voltou a sorrir com um
olhar meigo e parecia me dizer aquela frase extraída d’A vassoura da bruxa nos Cavalos
do Amanhecer (L&PM, 2003), do escritor uruguaio Mario Arregui (1915-1985): Muitas
coisas foram ditas, repito, mas não houve quem fosse capaz sequer uma
aproximação daquela frase antiquíssima (nascida na costa oriental do Mar Egeu
há quase vinte e cinco séculos) que asseverava que ninguém fica tão unido a
ninguém como o homicida a sua vítima. Sim. E é como se o mato queimasse
dentro mim, labaredas amazônicas e pantaneiras, e eu tostasse atávica herança
como espólio de cinzas.
TRÊS VEZES ME FALOU ELA... - E era ela
na tarde renascida da manhã sonhada na noite anterior, e eu pudesse vê-la
sorrir desnudada entre meus braços e suas outras almas, a me dizer do que lera
outro dia e que estava escrito Nas suas
veias corria tinta de jornal (AIP, 1980), de Múcio Borges da Fonseca, sobre a trajetória do jornalista Josimar Moreira de Melo (1927-1865),
ecoando como se lesse no meu íntimo: Nunca
me senti tão cansado em minha vida... Há os que esperam o meu fracasso – um
esforço de quatro anos, no decorrer dos quais quase fui largado no meio do
caminho e pude contar com a ajuda, a amizade e o apoio de um amigo que agora
espera de mim esse esforço... E me sorria como se soubesse o que eu
pensava, a me dizer Millôr: Como são admiráveis as pessoas que nós não
conhecemos bem. Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar. E gargalhou
no meio do tempo com meu tronco entre seu sexo, coxas e pernas. E me fitou
enviesada como se quisesse dizer exatamente o que dissera outras vezes Bukowski, e me fazendo de gangorra
rodopiante: Não, eu não odeio as pessoas.
Só prefiro quando elas não estão por perto. Se você vai tentar, vá até o fim,
caso contrário, nem comece. Cheguei numa fase da minha vida que vejo que a
única coisa que fiz até agora foi fugir, fugir de mim mesmo, do meu nada, e
agora não tenho mais para onde ir, nem sei o que vou fazer, fui péssimo em tudo.
Adivinhei? E perguntou outras vezes e tantas como se quisesse saber para onde
vou, e refaz a indagação com ar de enigmática, como se eu soubesse de algo além
daquele momento que ela me premiava e eu só tinha a minha vida e ela para me
amparar ali no seu abraço e corpo, nada mais. Até mais ver.
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