sexta-feira, julho 24, 2015

BOLÍVAR, NORBERT, NIETZSCHE, WILDE, SAURA, LOPE DE VEGA, SAINT-SAËNS, HOCHSCHARTNER & OS SONHOS.



Ernst Hochschartner (1877-1947)

Curtindo: Phryné (Frinéia, 1960/2013), do compositor, maestro e pianista do Romantismo francês Camille Saint-Saëns (1835-1921), na interpretação da soprano Denise Duval com a Orchestre & Chorale Lyrique de l'ORTF & maestro Jules Gressier. Veja mais aqui.

PROCESSO CIVILIZADOR – Os dois volumes da obra Processo civilizador (1939 – Zahar, 1990), do sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990), abordam, no primeiro volume - Uma história dos costumes -, abordando temas como sociogênese dos conceitos de civilização e cultura, fisiocracia e movimento de reforma francês, civilização como comportamento humano, mudanças de atitude nas relações entre os sexos, da agressividade e cenas da vida de um cavaleiro medieval, entre outros assuntos, enquanto que no segundo volume – Formação do Estado e Civilização – trata sobre a sociogenese do absolutismo, dinâmica da feudalização, forças centralizadores e descentralizadora, migração dos povos, cruzadas, formação de novos órgãos e instrumentos sociais, estrutura e sociogenese do Estado, mecanismo monopolista, distribuição das taxas de poder, monopólio, processos civilizadores, psciologização racionalista, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] 0 homem ocidental nem sempre se comportou da maneira que estamos acostumados a considerar como típica ou como sinal característico do homem "civilizado". Se um homem da atual sociedade civilizada ocidental fosse, de repente, transportado para uma época remota de sua pr6pria sociedade, tal como 0 período medievo-feudal, descobriria nele muito do que julga "incivilizado" em outras sociedades modernas. Sua reação em pouco diferiria da que nele e despertada no presente pelo comportamento de pessoas que vivem em sociedades feudais fora do Mundo Ocidental. Dependendo de sua situação e inclinações, sentir-se-ia atraído pela vida mais desregrada, mais descontraída e aventurosa das classes superiores desta sociedade ou repelido pelos costumes "bárbaros", pela pobreza e rudeza que nele encontraria. E como quer que entendesse sua própria "civilização", ele concluiria, da maneira a mais inequívoca, que a sociedade existente nesses tempos pretéritos da bist6ria ocidental não era "civilizada" no mesmo sentido e no mesmo grau que a sociedade ocidental moderna. Este estado de coisas talvez parece óbvio a numerosas pessoas e alguns julgarão desnecessário referi-lo aqui. Mas ele necessariamente acarreta perguntas que não podemos, com a mesma justiça, dizer que estejam claramente presentes na consciência das atuais gerações, embora estas questões não deixem de ter importância para uma compreensão de nós mesmos. Como ocorreu realmente essa mudança, esse processo "civilizador" do Ocidente? Em que consistiu? E quais foram suas causas ou forças motivadoras? É intenção deste estudo contribuir para a solução dessas principais questões. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O CAMINHO DOS SONHOS – O livro O caminho dos sonhos: em conversa com Fraser Boa (Cultrix, 1988), de da psicoterapeuta analítica, pesquisadora e escritora alemã Marie-Louise von Franz (1915-1998), aborda temas sobre a psicologia básica de Carl Gustav Jung, descida ao mundo dos sonhos, mapeamento do inconsciente, a estrutura dos sonhos, sonhos na cultura, a escada para o céu, a linguagem esquecida, a psicologia masculina, a sombra sabe, a mãe devoradora, a morte do dragão, a psicologia feminina, guia interior, relacionamentos, o self, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Bem, todo sonho estabelece uma conexão essencial entre a nossa consciência de ego e o nosso centro interior. Uma conexão duradoura. Todo aquele que tiver observado seus próprios sonhos por alguns anos terá em mente uma série deles, da qual dirá: "Nunca me esquecerei daquele sonho e do que significa." Fica-se para sempre ligado a ele e, através dele, ao centro interior. "... Apanho uma lasca que se soltou do sonho. É feita de pão. Então digo ao rapaz: 'Isso mostra como o sonho deve ser interpretado. Você deve saber o que descartar. É como na vida.'... Ora, assim que a interpretação atinge o alvo, ou como dizemos, chega em casa, o sonho se transforma em pão da vida. Sempre que compreendemos um sonho adequadamente nos sentimos alimentados. Sentimos, por assim dizer, o alimento sobrenatural de que precisamos lá dentro e que vem do inconsciente. Isso é muitas vezes representado nos sonhos como o pão ou a água da vida, porque, quando atinge o alvo, sentimo-nos vivificados e alimentados, e temos uma sensação de felicidade e satisfação, como depois de uma boa refeição. Como se nos disséssemos: "É isso aí. Agora sei para onde estou indo. Agora posso prosseguir." Algo se tranquiliza e se satisfaz dentro de nós. Quando os penedos atingem o sonho, parte da substância, o pão, se desprega, e o que resta são parafusos e porcas que lentamente constituem uma estranha estrutura piramidal. Aí temos, por assim dizer, a forma exterior do sonho e sua substância. E podemos dizer: "Sim, a forma exterior do sonho é a sequência de imagens que precisamos ir compreendendo gradativamente." Mas então — e essa é a parte mais difícil da interpretação de sonhos — temos que nos perguntar: "Muito bem, mas qual é a essência da mensagem desse sonho? O que ele nos diz?" Faz-se necessário assim penetrar na essência da mensagem, da mensagem divina contida naquela estranha casca, aquela sequência de imagens absurdas e difíceis de compreender. Essa essência aponta para o Self. Os sonhos sempre apontam para o centro interior. São como centenas de formas que apontam para o mesmo centro interior. Cada sonho é uma tentativa da natureza de nos centrar, de nos religar ao nosso centro mais profundo e estabilizar nossa personalidade. A questão principal da interpretação dos sonhos é explicada ao sonhador: ou seja, o que descartar e o que reter. "E como a vida." O sonho, como ávida, tem uma superfície que deve ser descartada. Por exemplo, os sonhos, sendo natureza pura, usam alguns símiles absurdos, alguns de muito mau gosto. Lembro-me a propósito do sonho de um analisando pintor, no qual ele cagava tanto, tanto, que a merda inundava o banheiro. Daí descobrimos o que havia se passado. Na noite anterior ele tinha começado a pintar uma tela pequena. Muitas fantasias lhe vieram à mente, mas não havia espaço para elas na diminuta tela. Dá para ver — como ele era um tanto avarento, e não queria comprar uma tela maior, o sonho claramente lhe dizia o que achava de sua atitude. Percebe-se assim que os sonhos não respeitam as regras da boa educação ou as ideias de bons modos. Eles falam uma linguagem natural. A superfície é às vezes extremamente repelente, ou simplesmente estúpida. As pessoas dirão: "Esta noite tive um sonho absurdo e bobo." É preciso então descartar a imagem e atingir o significado. O importante não é a imagética, mas o sentido, a mensagem. E como diz o sonho, na vida é igual. "... Aí o sonho muda. Ainda estamos os dois sentados um de frente para o outro, mas na beira de um rio..." É como se a primeira parte do sonho tentasse explicar ao sonhador o que os sonhos são em essência e de onde eles vêm, enquanto a segunda parte procura lhe explicar como os sonhos funcionam no decorrer da vida, simbolizada pelo rio. O rio é uma imagem do fluir do tempo. Portanto não se trata apenas do que este ou aquele sonho significam, mas, antes, do sentido do grande rio da vida onírica, no qual a cada noite penetramos. O que é isso? O que significa? De onde vem esse rio, qual o princípio básico da sua vitalidade? [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O SIMÃO MACABEU DO NOVO MUNDO – O líder político sul-americano Simon Bolívar (1783-1830), nasceu na Venezuela. No seu batizado, o pai desejava chama-lo Santiago quando o padre alertou: “Tenho o pressentimento de que esse menino ainda será algum dia o Simão Macabeu do Novo Mundo”. Dizia isso, mas era perigosíssimo rebelar-se contra o governo espanhol na América Latina. Em 1781, quando Tupac Amaru tentou libertar o Peru, o governador espanhol mandou cortar-lhe a língua e depois o obrigou a assistir ao trucidamento de sua esposa e de seu filho, os quais foram atados pelos membros a quatro cavalos que os puxaram em direções opostas, despedaçando-lhes os corpos. No fim do espetáculo, a ele próprio foi dado o mesmo tratamento. Isso era ainda muito vivo no tempo que Bolívar considerava: “Neste mundo louco há duas coisas que devemos considerar antes de tudo: a santidade do corpo humano e a estupidez do espírito humano”. A sua vida era para as aventuras amorosas, até que em 1799 voltou-se para aventurar-se no Velho Mundo. Lá casou-se e ficou viúvo, até encontrar-se com intelectuais sul-americanos que, como ele, sonhava com a liberdade. Organizaram-se em sociedade secreta, tornando-se Bolívar um de seus chefes. Anos depois, regressou à terra natal pelos Estados Unidos, onde viu o espírito da independência na sua aplicação prática. Em 1811, na Venezuela, um libertador denominado Miranda, um soldado da desventura, propagava a Independência da América do Sul. Uniu-se na luta até a traição, quando Miranda foi preso e Bolívar conseguiu fugir, tendo suas propriedades confiscadas. Em seguida, organizou duzentos homens e lançou um manifesto de libertação. Enfrentou a força espanhola: derrotou um exército no grito: “Meu canhão? Eu não tinha nenhum”, conquistava Tenerife e seguiu para Mompox, pelas cordilheiras andinas. Em seis dias, travou seis batalhas e ganhou todas elas. E depois começou a galgar os Andes em direção à Venezuela: “Temos uma missão a cumprir, e nada nos deterá!”. Em meio de cenas de indescritível entusiasmo pela derrota espanhola, marchou através da Venezuela para a sua cidade natal, Caracas, na qual entraram vitoriosos em 1913. Bolívar vencera os inimigos, contudo foi incapaz de vencer os amigos que se tornaram invejosos de seus sucessos, acusando-o de ambições ditatoriais. Arruaças, motins, deserções, a Venezuela estava mergulhada em guerras civis. Venceu todos e a água em voo cobria uma espantosa vastidão de território para libertar a América de seus tiranos e traidores. Em toda parte era aclamado como um salvador: libertador da Venezuela, de Nova Granada, da Colômbia, do Equador, da Bolívia, do Chile, do Peru – “O domínio espanhol na América do Sul agora não é mais que uma recordação”. Em 1826 havia Bolívar completado a sua obra de libertação. A partir daí, a tragédia toma conta da sua vida: “Deixemos de regionalismos. Não mais Venezuela, não mais Equador, Chile, Bolívia ou Peru. Unamo-nos todos em uma só família de americanos”. Contudo, rivalidades, conspirações, assassinatos, Bolívar estava virtualmente sozinho, apenas acompanhado por sua amante Manuela, embarcando numa fragata silenciosamente para sua morte solitária, em Santa Maria, na costa da Colômbia, balbuciando em seu estertor: “Meu último desejo é ver os americanos unidos”. Veja mais aqui.

SONETOS – No livro Sonetos (La isla de los ratones, Santander, 1960), do poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562-1635), destaco dois deles, o primeiro Soneto de Repente: Um soneto me pede Violante, / nunca na vida estive em tal aperto; / quatorze versos dizem que é soneto: / brinca brincando lá vão três avante. / Não pensei que encontrasse consoante, / e na metade estou de outro quarteto; / mas, se me vem o início de um terceto, /cá nos quartetos nada há que me espante. / No primeiro terceto vou entrando, / e parece que entrei com o pé direito, / pois fim com este verso lhe vou dando. / Estou já no segundo, e ainda suspeito / que vou os treze versos acabando; / contai se são quatorze, e ei-lo: está feito. O segundo soneto Definição de Amor: Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso, / áspero, terno, liberal, esquivo, / alentado, mortal, defunto, vivo, / leal, traidor, covarde e valoroso; / não ver, fora do bem, centro e repouso, / mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo, / enfadado, valente, fugitivo, / satisfeito, ofendido, receoso; / furtar o rosto ao claro desengano, / beber veneno qual licor suave, / esquecer o proveito, amar o dano; / acreditar que o céu no inferno cabe, / doar sua vida e alma a um desengano, / isto é amor; quem o provou bem sabe. Veja mais aqui e aqui.

SALOMÉ – A tragédia em um único ato Salomé (1894), do escritor e dramaturgo irlandês Oscar Wilde (1854-1900), conta a história bíblica de Salomé (14-71dC), eleita a musa da estética decadentista e enteada do tetrarca Herodes Antipas, que, para desgosto de seu padrasto, mas para o deleite de sua mãe Herodias, pede a cabeça de Jokanaan (João Batista) em uma bandeja de prata como um recompensa para dançar a a dança dos sete véus. A peça foi escrita em francês em 1892 para ser representada por Sarah Bernhardt em Paris. Também foi adaptada para o cinema em 2002, pelo cineasta e roteirista espanhol Carlos Saura, contando a história a partir de uma perspectiva de uma companhia de dança flamenca, sobre o amor e a vingança da figura mítica e bíblica. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Homenagem à atriz francesa Sarah Bernhardt (1844-1923) que em sua vida teve mais de 1.000 homens diferentes.

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