quarta-feira, julho 22, 2015

FLORESTAN, BRECHT, OLGA, BASÍLIO, CALCANHOTO, ZIRALDO, MUNARI, ADJANI, BRINCARTE, DORO & ROLANDRY SILVÉRIO!


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? POR ONDE É QUE ANDA O DORO, HEM? – Foi o Rollandry Silvério quem me apresentou ao Doro – o Doroteu do Brincarte do Nitolino! – com todas as suas trelas, pacutias e aprontações. Pensei até que fossem irmãos, tal a parência deles em todos os sentidos. Mas não, Rollandry trabalhava na Bombonieri do Seu Beija – Benjamim, seu pai – e me chegou, da primeira vez, num mandú véio fumaçando até no retrato, caindo as bandas e aos pedaços, pegando no empurrão, pisando no rabo do gato ao debrear e se peidando todo – será que era cabrito? Acho que incendiário; melhor, como ele mesmo diz: autofogaréu. – Esse carro num tá pegando fogo, não? Conferi e vi depois de muito assuntado, que era uma Brasília que não consegui identificar a cor nem o ano de fabricação. Sei que era esse tipo de veículo, o que dava pra crer, pelo menos. Ele veio acompanhado do Palhaço Pirulito e do Iraquitan Oliveira que estavam empestados de fuligem oriunda do fumaceiro do loré, com a proposta de que eu dirigisse uma peça teatral que eles tencionavam encenar reunindo todos os grupos amadores do teatro de Palmares. Era grupo como a praga. Nem sabia que na terrinha tinha tanto. Como eu precisava rumar pra Recife, peguei o texto e me dispus a adaptá-lo pra uma apresentação nas festas natalinas como eles queriam. Na data aprazada, estavam todos ensaiados, engalanados e prontos para se apresentarem no legendário Teatro Cinema Apolo. Foi a partir daí que o descobri artista plástico escondido e logo batemos o centro numa parceria, lançando os três números da revistinha em quadrinhos Aventureiros do Una e com um detalhe: as bênçãos de Maurício de Souza. Retornei pra Palmares e abri um escritório na Praça Ismael Gouveia, no qual alojei o Rollandry que passou a ser responsável pela criação e confecção de cartazes e material impresso dos meus shows Por um novo dia e, por tabela, ilustrações do meu quarto livro de poesias, Canção de Terra. Não lembro de ter pago um centavo ao rapaz por isso. Mas vamos lá. Nessa época inventei o Circo Itinerante e ele não só atuou multiprofissionalmente – aliás, uma das suas virtudes e engenhosidades -, como foi uma das estrelas principais, tanto pela atuação como ator, como pela exposição de artes plásticas que ele realizou no evento. Ao mesmo tempo, ele fez outra exposição pra Fundação de Hermilo, denominada Orixás, na gestão da poetamiga Jussara Koury. Deu-se, então, de Rollandry inquieto, como sempre, pegar corujão pra São Paulo. De lá me mandou duas cartas, uma dentro da outra, porque, segundo ele, se uma não chegasse, a outra chegaria sem dúvida. E só. Passaram-se os anos, na verdade uns vinte anos, quando o reencontrei na condição de Design de Joias e vendendo de tudo, até os quatro elementos. Essa foi a batida de centro pro segundo tempo da nossa parceria. Trazendo a trouxa com todos os seus mijados, mulher e bruguelos a tiracolo, arranchou-se em São Miguel dos Campos, Alagoas, para uma porrada de atividades: exposição de artes plásticas, teatro popular, material publicitário, o escambau. O maior dele foi a construção de um carro volante de som. O veículo: um fusca. E o cara queria que esse carro carregasse o que só poderia ser transportado por um trator. Resultado: não sei como o fusquinha aguentou! A ponto do Marcos Palmeira chegar pra mim e dizer: - Rollandry é um engenheiro que levou pau em cálculo. Depois de muitos incêndios, decomposições, sobras de material – ele desmontou um carro e ao remontar, tinha peça pra dois. Quando o Inmetro veio conferir, os caras tiveram um susto: - Um fusca com tudo isso? Como pode? Tivemos que levar prum elevacar pros caras investigarem na mais minuciosa conferência como é que aquilo aguentava aquela tuia de coisa em cima dele. Depois de hora na detalhada fiscalização, aplaudiram o engenheiro que foi capaz de fazer aquilo, mas com a advertência de encher de luminárias todas acesas todo dia e o dia todo, para que todo mundo visse quando ele trafegasse nas rodovias (as luzes todas não era para chamar atenção, era pra avisar que uma doidice estava no trânsito!). Eu me virei pro Rolandry e ele, num sorriso enigmático, confidenciou: - Segredos do ofício, é normal. Ninguém sabe como ele foi capaz de tal proeza, só que deu certo. Pra encurtar a história, não estou aqui pra macular o amigo, nada disso. É que pra mim todo dia é dia do amigo e da manutenção das amizades, tanto que o Rollandry é um dos credores que figuram no elenco das minhas dívidas no rol da Serasa das minhas amizades. Sou devedor – tô debulhando mesmo uma confissão de dívidas das brabas - de um montante incalculável a este rapaz, que nem mesmo eu colocando as minhas três futuras encarnações no empenho, não dará vencimento preu adimplir. Sujeito bom, artista original – feito daqueles que nascem da terra, produto de obra milagrosa da natureza -, e dum humor mordaz e inteligente que me orgulha – e muito! – ter o prazer e a graça de privar da sua amizade (sei não, depois de umas presepadas minhas, sei não). O melhor dele é a parceria com Dona Márcia: uma ruma de menino, escadinha, especialmente Alicinha que é um encanto de gente! Beijabrações procês todos, ocês moram no meu coração. (Eita, esqueci de contar as últimas do Doro. Tem nada não, fica pra outra!). E vamos aprumar a conversa conferindo mais das artes dele aqui e mais aqui e aqui.

Imagem: Still-Life with Musical Instruments and Fruit, do pintor italiano Cristoforo Munari (1667-1720)

Curtindo o álbum infantil Adriana Partimpim (BMG/Ariola, 2004), da cantora e compositora Adriana Calcanhoto.

BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino pras crianças de todas as idades, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação de Isis Corrêa Naves. No blog estão dispostas as parcerias Brincarte, com os eventos que culminaram com a publicação das antologias Brincarte, edições de 1998 e 1999, resultado do Prêmio Nascente de Arte Infanto-Juvenil, homenageando os participantes do certame, bem como os parceiros, o advogado e executivo do setor automobilístico, Ismael Oliveira, o empresário Marcos Alexandre Martins Palmeira e a arte de Rollandry Silvério. Para conferir clique aqui ou aqui.

designar alterações contínuas ou súbitas que ocorrem na natureza ou na cultura”, chamando atenção para a compreensão de que se trata de mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade, admitindo a tendência a torná-la um fato mítico e heroico, romântico, individualizado. Do livro destaco o trecho O que se deve entender por revolução: A palavra revolução tem sido empregada de modo a provocar confusões. Por exemplo, quando se fala de "revolução institucional", com referência ao golpe de Estado de 1964. É patente que aí se pretendia acobertar o que ocorreu de fato, o uso da violência militar para impedir a continuidade da revolução democrática (a palavra correta seria contrarrevolução: mas quais são os contrarrevolucionários que gostam de se ver na própria pele?). Além disso, a palavra "revolução" encontra empregos correntes para designar alterações contínuas ou súbitas que ocorrem na natureza ou na cultura (coisas que devemos deixar de lado e que os dicionários registram satisfatoriamente). No essencial, porém, há pouca confusão quanto ao seu significado central: mesmo na linguagem de senso comum, sabe-se que a palavra se aplica para designar mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade. Daí o contraste frequente de "mudança gradual" e "mudança revolucionária" que sublinha o teor da revolução como uma mudança que "mexe nas estruturas", que subverte a ordem social imperante na sociedade. O debate terminológico não nos interessa por si mesmo. É que o uso das palavras traduz relações de dominação. Se um golpe de Estado é descrito como "revolução", isso não acontece por acaso. Em primeiro lugar, há uma intenção: a de simular que a revolução democrática não teria sido interrompida. Portanto, os agentes do golpe de Estado estariam servindo à Nação como um todo (e não privando a Nação de uma ordem política legítima com fins estritamente egoístas e antinacionais). Em segundo lugar, há uma intimidação: uma revolução dita as suas leis, os seus limites e o que ela extingue ou não tolera (em suma, golpe de Estado criou uma ordem ilegítima que se inculcava redentora; mas, na realidade, o "império da lei" abolia o direito e implantava a "força das baionetas": não há mais aparências de anarquia, porque a própria sociedade deixava de secretar suas energias democráticas). No conjunto, o golpe de Estado extraía a sua vitalidade e a sua autojustificação de argumentos que nada tinham a ver com "o consentimento" ou com "as necessidades" da Nação como um todo. Ele se voltava contra ela porque uma parte precisava anular e submeter a outra à sua vontade e discrição pela força bruta (ainda que mediada por certas instituições). Nessa conjuntura, confundir os espíritos quanto ao significado de determinadas palavras-chave vinha a ser fundamental. É por aí que começa a inversão das relações normais de dominação. Fica mais difícil para o dominado entender o que está acontecendo e mais fácil defender os abusos e as violações cometidas pelos donos do poder. O marco de 1964 (completado pelo apogeu a que chegou o golpe em 1968-1969) ilustra muito bem a natureza da batalha que as classes trabalhadoras precisam travar no Brasil. Elas precisam libertar-se da tutela terminológica da burguesia (isto é, de relações de dominação que se definem, na área da cultura, como se fossem parte do ar que respiramos ou "simples palavras"). Ora, em uma sociedade de classes da periferia do mundo capitalista e de nossa época, não existem "simples palavras". A revolução constitui uma realidade histórica; a contrarrevolução é sempre o seu contrário (não apenas a revolução pelo avesso: é aquilo que impede ou adultera a revolução). Se a massa dos trabalhadores quiser desempenhar tarefas práticas específicas e criadoras, ela tem de se apossar primeiro de certas palavras-chave (que não podem ser compartilhadas com outras classes, que não estão empenhadas ou que não podem realizar aquelas tarefas sem se destruírem ou sem se prejudicarem irremediavelmente). Em seguida, deve calibrá-Ias cuidadosamente, porque o sentido daquelas palavras terá de confundir-se, inexoravelmente, com o sentido das ações coletivas envolvidas pelas mencionadas tarefas históricas. [...]. Veja mais aqui.

OLGA BENÁRIO – O livro Olga (Companhia das Letras, 2004), do escritor Fernando Morais, trata da biografia da militante comunista alemã de origem judaica Olga Benário Prestes (1908-1942), que veio para o Brasil por determinação da Internacional Comunista, em 1934, para apoiar o Partido Comunista Brasileiro, tornando-se companheira de Luis Carlos Prestes e com o objetivo de liderar uma revolução armada com o apoio de Moscou, até ser presa quando estava grávida e deportada pelo Governo Vargas para a Alemanha Nazista, prisioneira da Gestapo, sendo executada na câmara de gás, aos 34 anos de idade, no dia 23 de abril de 1942. Da obra destaco o trecho: A reportagem que você vai ler agora relata fatos que aconteceram exatamente como estão descritos neste livro; a vida de Olga Benario Prestes, uma história que me fascina e atormenta desde a adolescência, quando ouvia meu pai referir-se a Fílinto Müller como o homem que tinha dado a Hitler, "de presente", a mulher de Luís Carlos Prestes, uma judia comunista que estava grávida de sete meses. Perseguido por essa imagem, decidi que algum dia escreveria sobre Olga, projeto que guardei com avareza durante os anos negros do terrorismo de estado no Brasil, quando seria inimaginável que uma história como esta passasse incólume pela censura. Logo que iniciei a investigação para escrever este livro, há quase três anos, percebi que as dificuldades para recompor o retrato de Olga seriam muito maiores do que supunha. No Brasil não havia praticamente nada sobre o personagem - e surpreendi-me a descobrir que até mesmo a historiografia oficial do movimento operário brasileiro, produzida por partidos ou pesquisadores marxistas, relegara invariavelmente a ela o papel subalterno de "mulher de Prestes" – e nada mais do que isto. Em tudo o que pude ler não encontrei mais do que alguns parágrafos vagos e superficiais. A esta circunstância se somava outro obstáculo: se estivesse viva, Olga teria hoje 77 anos –e como sua militância política se deu muito precocemente, a maioria dos personagens que conviveram com ela estavam mortos. Os poucos sobreviventes que testemunharam sua saga na Alemanha ou no Brasil – eram, no mínimo, octogenários, nem todos com memória ou condições de saúde para desenterrar detalhes de episódios acontecidos há pelo menos meio século. Minha primeira e óbvia investida foi sobre Luís Carlos Prestes. As tardes de sábado o que lhe roubei no Rio de Janeiro produziram páginas e páginas de preciosas informações, muitas delas inéditas. E ao lutar para romper a barreira que ele se impunha para evitar falar de questões pessoais, muitas vezes me comovia o perceber que o rígido comunista que transmitia a imagem de um homem de aço não escondia sua emoção ao revelar minúcias da personalidade de sua falecida mulher ou rememorar passagens da curta e emocionante vida em comum que tiveram. Dono de memória prodigiosa, Prestes foi capaz de reviver com precisão a hora de um embarque ou as exatas palavras de um diálogo ocorrido há cinquenta anos. Foram poucos os casos de informações dadas por ele que, compulsadas com processos e documentos oficiais da época, resultaram incorretas. Dos rolos de fita gravada de seus depoimentos surgiram novos fatos e personagens da revolta comunista de 1935, em cuja busca parti em seguida. Simultaneamente o jovem advogado e bibliófilo Antonio Sérgio Ribeiro (um dos maiores estudiosos de Carmem Miranda em nosso país) vasculhava coleções de jornais e revistas da época. O passo seguinte envolveu uma viagem à República Democrática Alemã, onde, ao contrário do que ocorrera no Brasil, localizei um verdadeiro tesouro. Heroína nacional cujo nome batiza dezenas de escolas e fábricas, Olga teve sua memória carinhosamente preservada pelos comunistas de sua terra. Nos arquivos do Instituto de Marxismo-Leninismo, no Comitê de Resistentes Antifascistas ou nos pequenos museus montados no campo de concentração de Ravensbrücken e o campo de extermínio de Bernburg (ambos preservados tais como foram encontrados pelas tropas aliadas), obtive cópias de todos os documentos e fotografias referentes a Olga Benario. Com a preciosa ajuda de Alexandre Fischer e Katharina Schneider, intérpretes destacados pelo governo da RDA para auxiliar-me na pesquisa, não só selecionei e reproduzi todo o material disponível, como entrevistei creio que todos os velhos militantes que tinham convivido com Olga na Juventude Comunista, nos anos 20 e, uma década depois, nas prisões e campos de concentração nazistas. [...] Este livro foi transformado em filme com o título de Olga: muitas paixões numa só vida (2004), dirigido por Jayme Monjardim e com música de Marcus Viana. Veja mais aqui e aqui.

CANTO PRIMEIRO – Na obra O Uruguai, do poeta luso-brasileiro Basílio da Gama (1740-1795), encontro o Canto Primeiro, o qual destaco a seguir: Fumam ainda nas desertas praias / Lagos de sangue tépidos e impuros / Em que ondeiam cadáveres despidos, / Pasto de corvos. Dura inda nos vales / O rouco som da irada artilheria. / MUSA, honremos o Herói que o povo rude / Subjugou do Uraguai, e no seu sangue / Dos decretos reais lavou a afronta. / Ai tanto custas, ambição de império! / E Vós, por quem o Maranhão pendura / Rotas cadeias e grilhões pesados, / Herói e irmão de heróis, saudosa e triste / Se ao longe a vossa América vos lembra, / Protegei os meus versos. Possa entanto / Acostumar ao voo as novas asas / Em que um dia vos leve. Desta sorte / Medrosa deixa o ninho a vez primeira / Águia, que depois foge à humilde terra / E vai ver de mais perto no ar vazio / O espaço azul, onde não chega o raio. / Já dos olhos o véu tinha rasgado / A enganada Madri, e ao Novo Mundo / Da vontade do Rei núncio severo / Aportava Catâneo: e ao grande Andrade / Avisa que tem prontos os socorros / E que em breve saía ao campo armado. / Não podia marchar por um deserto / O nosso General, sem que chegassem / As conduções, que há muito tempo espera. / Já por dilatadíssimos caminhos / Tinha mandado de remotas partes / Conduzir os petrechos para a guerra. / Mas entretanto cuidadoso e triste / Muitas cousas a um tempo revolvia / No inquieto agitado pensamento. / Quando pelos seus guardas conduzido / Um índio, com insígnias de correio, / Com cerimônia estranha lhe apresenta / Humilde as cartas, que primeiro toca / Levemente na boca e na cabeça. / Conhece a fiel mão e já descansa / O ilustre General, que viu, rasgando, / Que na cera encarnada impressa vinha / A águia real do generoso Almeida. / Diz-lhe que está vizinho e traz consigo, / Prontos para o caminho e para a guerra, / Os fogosos cavalos e os robustos / E tardos bois que hão de sofrer o jugo / No pesado exercício das carretas. / Não tem mais que esperar, e sem demora / Responde ao castelhano que partia, / E lhe determinou lugar e tempo / Para unir os socorros ao seu campo. / Juntos enfim, e um corpo do outro à vista, / Fez desfilar as tropas pelo plano, / Por que visse o espanhol em campo largo / A nobre gente e as armas que trazia. / Vão passando as esquadras: ele entanto / Tudo nota de parte e tudo observa / Encostado ao bastão. Ligeira e leve / Passou primeiro a guarda, que na guerra / É primeira a marchar, e que a seu cargo / Tem descobrir e segurar o campo. / Depois desta se segue a que descreve / E dá ao campo a ordem e a figura, / E transporta e edifica em um momento / O leve teto e as movediças casas, / E a praça e as ruas da cidade errante. / Atrás dos forçosíssimos cavalos / Quentes sonoros eixos vão gemendo / Co’ peso da funesta artilheria. / Vinha logo de guardas rodeado / - Fontes de crimes - militar tesouro, / Por quem deixa no rego o curvo arado / O lavrador, que não conhece a glória; / E vendendo a vil preço o sangue e a vida  / Move, e nem sabe por que move, a guerra. / Intrépidos e imóveis nas fileiras, / Com grandes passos, firme a testa e os olhos / Vão marchando os mitrados granadeiros, / Sobre ligeiras rodas conduzindo / Novas espécies de fundidos bronzes / Que amiúdam, de prontas mãos servidos, / E multiplicam pelo campo a morte. / Que é este, Catâneo perguntava, / Das brancas plumas e de azul e branco / Vestido, e de galões coberto e cheio, / Que traz a rica cruz no largo peito? / Geraldo, que os conhece, lhe responde: / É o ilustre Meneses, mais que todos / Forte de braço e forte de conselho. / Toda essa guerreira infanteria, / A flor da mocidade e da nobreza / Como ele azul e branco e ouro vestem. / Quem é, continuava o castelhano, / Aquele velho vigoroso e forte, / Que de branco e amarelo e de ouro ornado / Vem os seus artilheiros conduzindo? / Vês o grande alpoim. Este o primeiro / Ensinou entre nós por que caminho / Se eleva aos céus a curva e grave bomba / Prenhe de fogo; e com que força do alto / Abate os tetos da cidade e lança / Do roto seio envolta em fumo a morte. / Seguiam juntos o paterno exemplo / Dignos do grande pai ambos os filhos. / Justos céus! E é forçoso, ilustre Vasco, / Que te preparem as soberbas ondas, / Longe de mim, a morte e a sepultura? / Ninfas do amor, que vistes, se é que vistes, / O rosto esmorecido e os frios braços, / Sobre os olhos soltai as verdes tranças. / Triste objeto de mágoa e de saudade, / Como em meu coração, vive em meus versos. /Com os teus encarnados granadeiros / Também te viu naquele dia o campo, / Famoso Mascarenhas, tu, que agora / Em doce paz, nos menos firmes anos, / Igualmente servindo ao rei e à pátria, / Ditas as leis ao público sossego, / Honra de Toga e glória do Senado. / Nem tu, Castro fortíssimo, escolheste / O descanso da pátria: o campo e as armas / Fizeram renovar no ínclito peito / Todo o heroico valor dos teus passados. / Os últimos que em campo se mostraram / Foram fortes dragões de duros peitos, / Prontos para dous gêneros de guerra, / Que pelejam a pé sobre as montanhas, / Quando o pede o terreno; e quando o pede / Erguem nuvens de pó por todo o campo / Co’ tropel dos magnânimos cavalos. / Convida o General depois da mostra, / Pago da militar guerreira imagem, / Os seus e os espanhóis; e já recebe / No pavilhão purpúreo, em largo giro, / Os capitães a alegre e rica mesa. / Desterram-se os cuidados, derramando / Os vinhos europeus nas taças de ouro. / Ao som da ebúrnea cítara sonora / Arrebatado de furor divino / Do seu herói, Matúsio celebrava / Altas empresas dignas de memória. / Honras futuras lhe promete, e canta / Os seus brasões, e sobre o forte escudo / Já de então lhe afigura e lhe descreve / As pérolas e o título de Grande. / Levantadas as mesas, entretinham / O congresso de heróis discursos vários. / Ali Catâneo ao General pedia / Que do princípio lhe dissesse as causas / Da nova guerra e do fatal tumulto. / Se aos Padres seguem os rebeldes povos? / Quem os governa em paz e na peleja? / Que do premeditado oculto Império / Vagamente na Europa se falava / Nos seus lugares cada qual imóvel / atende da sua boca: atende em roda / Tudo em silêncio, e dá princípio Andrade: / O nosso último rei e o rei de Espanha / Determinaram, por cortar de um golpe, / Como sabeis, neste ângulo da terra, / As desordens de povos confinantes, / Que mais certos sinais nos dividissem / Tirando a linha de onde a estéril costa, / E o cerro de Castilhos o mar lava / Ao monte mais vizinho, e que as vertentes / Os termos do domínio assinalassem. / Vossa fica a Colônia, e ficam nossos / Sete povos, que os Bárbaros habitam / Naquela oriental vasta campina / Que o fértil Uraguai discorre e banha. / Quem podia esperar que uns índios rudes, / Sem disciplina, sem valor, sem armas, / Se atravessassem no caminho aos nossos, / E que lhes disputassem o terreno! / Enfim não lhes dei ordens para a guerra:/ Frustrada a expedição, enfim voltaram. / Co’ vosso general me determino / A entrar no campo juntos, em chegando / A doce volta da estação das flores. / Não sofrem tanto os índios atrevidos: / Juntos um nosso forte entanto assaltam. / E os padres os incitam e acompanham. / Que, à sua discrição, só eles podem / Aqui mover ou sossegar a guerra. / Os índios que ficaram prisioneiros / Ainda os podeis ver neste meu campo. / Deixados os quartéis, enfim partimos / Por diversas estradas, procurando / Tomar no meio os rebelados povos. / Por muitas léguas de áspero caminho, / Por lagos, bosques, vales e montanhas, / Chegamos onde nos impede o passo / Arrebatado e caudaloso rio. / Por toda a oposta margem se descobre / De bárbaros o número infinito / Que ao longe nos insulta e nos espera. / Preparo curvas balsas e pelotas, / E em uma parte de passar aceno, / Enquanto em outra passo oculto as tropas. / Quase tocava o fim da empresa, quando / Do vosso general um mensageiro / Me afirma que se havia retirado: / A disciplina militar dos índios / Tinha esterilizado aqueles campos. / Que eu também me retire, me aconselha, / Até que o tempo mostre outro caminho. / Irado, não o nego, lhe respondo: / Que para trás não sei mover um passo. / Venha quando puder, que eu firme o espero. / Porém o rio e a forma do terreno / Nos faz não vista e nunca usada guerra. / Sai furioso do seu seio, e toda / Vai alagando com o desmedido / Peso das águas a planície imensa. / As tendas levantei, primeiro aos troncos, / Depois aos altos ramos: pouco a pouco / Fomos tomar na região do vento / A habitação aos leves passarinhos. / Tece o emaranhadíssimo arvoredo / Verdes, irregulares, e torcidas / Ruas e praças, de uma e de outra banda / Cruzadas de canoas. Tais podemos / Co’a mistura das luzes, e das sombras / Ver por meio de um vidro transplantados / Ao seio de Ádria os nobres edifícios, / E os jardins, que produz outro elemento. / E batidas do remo, e navegáveis / As ruas da marítima Veneza. / Duas vezes a lua prateada / Curvou no céu sereno os alvos cornos, / E inda continuava a grossa enchente. / Tudo nos falta no país deserto. / Tardar devia o espanhol socorro. / E de si nos lançava o rio e o tempo. / Cedi, e retirei-me às nossas terras. / Deu fim à narração o invicto Andrade / E antes de se soltar o ajuntamento, / Com os régios poderes, que ocultara, / Surpreende os seus, e os ânimos alegra, / Enchendo os postos todos do seu campo. / O corpo de dragões a Almeida entrega, / E Campo das Mercês o lugar chama. Veja mais aqui, aqui e aqui.

dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), encontro, entre outros, textos, O teatro e a ciência, na parte dedicada ao Teatro Recreativo ou Teatro Didático, o qual destaco a seguir:

Patrice Chéreau, baseado no livro de Alexandre Dumas, com roteiro de Danièle Thompson e Patrice Chéreau, contando a história dos últimos anos da Casa de Valois, como casa real da França, com as perseguições religiosas aos protestantes, incluindo o massacre da noite de São Bartolomeu, de 24 de agosto de 1572. O filme arrebatou diversos prêmios, entre eles o Cesar 1995 de melhor atriz para a belíssima francesa Isabelle Adjani e recebeu o Premio do Júri do Festival de Cannes, em 1994. A atriz tem sempre sido destacada aqui por sua beleza incomparável e seu premiadíssimo talento confirmado nas suas participações nos mais diversos filmes que tive oportunidade de conferir. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Clube Literário de Andrelândia (CLAN - Fundação Guairá) Av. Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação, 271 Andrelândia, MG – Brasil 37.300-000. Maiores detalhes confira aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do artista plástico, ator e agitador cultural Rollandry Silvério.

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