sábado, julho 11, 2015

GÓNGORA, SÉRGIO BUARQUE, ROBERTO CARDOSO, CARMEN MIRANDA, BÜCHNER, OLINSKY, COYPEL, ORPEN & FOLIA CAETÉ!!!!


Ivan Gregorewitch Olinsky (1878-1962).

(Milão, 1873) & Lo Schiavo (1887) do compositor do Romantismo brasileiro, Antônio Carlos Gomes (1836-1896), com a Orquestra Sinfonica Nacional da Rádio Mec, regente Nino Stinco (Funarte/Atração Fonográfica/Instituto Itaú Cultural, 1982/1998). Veja mais aqui e aqui.

O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO – O livro O trabalho do antropólogo (Paralelo 15, 1998), do antropólogo brasileiro Roberto Cardoso de Oliveira (1928-2006), aborda temas como o olhar, o ouvir e o escrever no trabalho do antropólogo, o movimento dos conceitos na antropologia, a "crise" dos modelos explicativos, 0 lugar- e em lugar- do método, a dupla interpretação, tradições intelectuais, antropologias periféricas e centrais, a etnicidade como fator de estilo, o relativismo cultural, moralidade, eticidade e globalização, o diálogo intolerante, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Talvez a primeira experiência do pesquisador de campo - ou no campo esteja na domesticação teórica de seu olhar. Isso porque, a partir do momento em que nos sentimos preparados para a investigação empírica, o objeto, sobre o qual dirigimos o nosso olhar, já foi previamente alterado pelo próprio modo de visualiza-lo. Seja qual for esse objeto, ele não escapa de ser apreendido pelo esquema conceitual da disciplina formadora de nossa maneira de ver a realidade. Esse esquema conceitual – disciplinadamente apreendido durante o nosso itinerário acadêmico, do termo disciplina para as matérias que estudamos -, funciona como uma espécie de prisma por meio do qual a realidade observada sofre um processo de refração - se me é permitida a imagem. E certo que isso não é exclusivo do olhar, uma vez que esta presente em todo processo de conhecimento, envolvendo, portanto, todos os atos cognitivos, que mencionei, em seu conjunto. Contudo, e certamente no olhar que essa refração pode ser melhor compreendida. A própria imagem ótica – refração chama a atenção para isso. Imaginemos um antropólogo no início de uma pesquisa junto a um determinado grupo indígena e entrando em uma maloca, uma moradia de uma ou mais dezenas de indivíduos, sem ainda conhecer uma palavra do idioma nativo. Essa moradia de tão amplas proporções e de estilo tão peculiar, como, por exemplo, as tradicionais casas coletivas dos antigos Tiikuna, do alto rio Solimões, no Amazonas, teriam o seu interior imediatamente vasculhado pelo "olhar etnográfico", por meio do qual toda a teoria que a disciplina dispõe relativamente as residências indígenas passaria a ser instrumentalizada pelo pesquisador, isto e, por ele referida. Nesse sentido, o interior da maloca não seria visto com ingenuidade, como uma mera curiosidade diante do exótico, porem com um olhar devidamente sensibilizado pela teoria disponível. Ao basear-se nessa teoria, o observador bem preparado, como etnólogo, iria olhá-la como objeto de investigação previamente construído por ele, pelo menos em uma primeira prefiguração: passaria, então, a contar os fogos - pequenas cozinhas primitivas -, cujos resíduos de cinza e carvão irão indicar que, em torno de cada um, estiveram reunidos não apenas indivíduos, porem pessoas, portanto seres sociais, membros de um único "grupo domestico"; 0 que lhe clara a informação subsidiaria que pela menos nessa maloca, de conformidade com o numero de fogos, estaria abrigada uma certa porção de grupos domésticos, formados por uma ou mais famílias elementares e, eventualmente, de indivíduos "agregadas" – originários de outro grupo tribal. Conhecera, igualmente, o numero total de moradores - ou quase - contando as redes dependuradas nos mourões da maloca dos membros de cada grupo domestico. Observara, também, as características arquitetônicas da maloca, classificando-a segundo uma tipologia de alcance planetária sobre estilas de residências, ensinada pela literatura etnológica existente. Ao se tomar, ainda, os mesmos Tukuna, mas em sua feição moderna, o etnólogo que visitasse suas malocas observaria de pronto que elas diferenciavam-se radicalmente daquelas descritas por cronistas ou viajantes que, no passado, navegaram pelos igarapés por eles habitados. Verificaria que as amplas malocas, então dotadas de uma cobertura em forma de semiarco descendo suas laterais ate ao solo e fechando a casa a toda e qualquer entrada de ar - e do olhar externo -, salvo por portas removíveis, acham-se agora totalmente remodeladas. A maloca já se apresenta amplamente aberta, constituída por uma cobertura de duas aguas, sem paredes - ou com paredes precárias -, e, internamente, impondo-se ao olhar externo, veem-se redes penduradas nos mourões, com seus respectivos mosquiteiros - um elemento da cultura material indígena desconhecido antes do contato interétnico e desnecessário para as casas antigas, uma vez que seu fechamento impedia a entrada de qualquer tipo de inseto. Nesse sentido, para esse etn6logo moderno, ja tendo ao seu alcance uma documentação histórica, a primeira conclusão será sobre a existência de uma mudança cultural de tal monta que, se, de um lado, facilitou a construção das casas indígenas, uma vez que a antiga residência exigia um grande dispêndio de trabalho, dada sua complexidade arquitetônica, por outro, afetou as relações de trabalho, por não ser mais necessária a mobilização de todo o dia para a edificação da maloca, ao mesmo tempo em que tornava o grupo residencial mais vulnerável aos insetos, posto que os mosquiteiros somente poderiam ser uteis nas redes, ficando a família a mercê desses insetos durante todo o dia. Observava-se, assim, literalmente, a que o saudoso Herbert Baldus chamava de uma espécie de "natureza morta" da aculturação. Como torna-la viva, senão pela penetração na natureza das relações sociais? [...]. Veja mais aqui.

OS CAMINHOS DO SERTÃO – O livro Monções (1945 - Companhia das Letras, 2014), do historiador, jornalista, escritor e professor Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), aborda temas como os caminhos do sertão, o transporte fluvial, o ouro, sertanistas e mareantes, as estradas móveis, o comércio de Cuiabá, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho inicial: Durante os primeiros tempos da colonização do Brasil, os sítios povoados, conquistados à mata e ao índio, não passam geralmente de manchas dispersas, ao longo do litoral, mal plantadas na terra e quase independentes dela. Acomodando-se à arribada de navios, mais do que ao acesso do interior, esses núcleos voltam-se inteiramente para o outro lado do oceano. Em tais paragens, tratam os portugueses de provocar um ambiente que se adapte à sua rotina, às suas conveniências mercantis, à sua experiência africana e asiática. O processo evolui graças à introdução da cana-de-açúcar, destinada a produzir para mercados estrangeiros. A lavoura do açúcar tem seu complemento no engenho. Ambos — lavoura e engenho — chamam o negro. Incapazes de ajustar-se a esse processo, os antigos naturais da terra são rapidamente sacrificados. Aqueles que não perecem, vítimas das armas e também das moléstias trazidas pelo conquistador, vão procurar refúgio no sertão distante. Vencida porém a escabrosidade da Serra do Mar, sobretudo na região de Piratininga, a paisagem colonial já toma um colorido diferente. Não existe aqui a coesão externa, o equilíbrio aparente, embora muitas vezes fictício, dos núcleos formados no litoral nordestino, nas terras do massapê gordo, onde a riqueza agrária pode exprimir-se na sólida habitação do senhor do engenho. A sociedade, constituída no planalto da capitania de Martim Afonso, mantém-se, por longo tempo ainda, numa situação de instabilidade ou de imaturidade, que deixa margem ao maior intercurso dos adventícios com a população nativa. Sua vocação estaria no caminho, que convida ao movimento; não na grande propriedade rural, que cria indivíduos sedentários. É verdade que essas diferenças têm caráter relativo e que delas não é lícito tirar nenhuma conclusão muito peremptória. A mobilidade dos paulistas estava condicionada, em grande parte, a certa insuficiência do meio em que viviam; insuficiência para nutrir os mesmos ideais de vida estável, que nas terras da marinha puderam realizar-se, ao primeiro contato entre o europeu e o Novo Mundo. Distanciados dos centros de consumo, incapacitados, por isso, de importar em apreciável escala os negros africanos, eles deverão contentar-se com o braço indígena — os “negros” da terra; para obtê-lo é que são forçados a correr sertões inóspitos e ignorados. Em toda parte é idêntico o objetivo dos colonos portugueses. Diverge unicamente, ditado por circunstâncias locais, o compasso que, num e noutro caso, dirige a marcha para esse objetivo. [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.

De pura honestidade altar sagrado, / cuja base formosa e gentil muro / de branco nácar e alabastro duro / foi pela mão divina fabricado; / pequena porta de coral torneado, / claros luzeiros de mirar seguro, / que à esmeralda fina o verde puro / haveis para redomas usurpado; / soberbo teto, cujos frisos de ouro, / ao claro sol, enquanto em torno gira, / ornam de luz, coroam de beleza; / ídolo belo, a quem humilde adoro: / ouve piedoso o que por ti suspira, / canta os teus hinos e os teus dotes reza. Também o seu Romance: A mais bela jovem / do nosso lugar, / hoje viúva e só / e ontem por casar, / vendo que seus olhos / à guerra se vão, / a sua mãe diz /que escuta seu mal: / Deixai-me chorar / à beira do mar. / Pois que em tenra idade / me lograstes dar / tão curto o prazer, / tão longo o pesar, / e me cativastes, / mãe, a quem se vai / carregando as chaves / sem me libertar: / Deixai-me chorar / à beira do mar. / De hoje em diante os olhos / tornem-me em chorar / o gostoso ofício / do doce mirar, / pois que não se podem / melhor ocupar, / se se vai à guerra / quem lhes era paz: / Deixai-me chorar / à beira do mar. / Não me ponhais freio / nem queirais culpar; / que uma coisa é justa, / a outra é de mais. / Se me quereis bem, / não me façais mal; / muito pior fora / morrer e calar: / Deixai-me chorar / à beira do mar. / Minha doce mãe, / quem não chorará, / mesmo tendo o peito / como um pedernal, / e não dará gritos / vendo já murchar / os mais verdes anos / de meu alvorar? / Deixai-me chorar / à beira do mar. / Que se vão as noites, / pois se foram já / os olhos que os meus / faziam velar; / vão-se antes de tanta / solidão mirar, / dês que há no meu leito / metade a sobrar. / Deixai-me chorar / à beira do mar. Por fim o belíssimo A doce boca que a provar convida: A doce boca que a provar convida / um humor entre perlas destilado, / sem ter inveja do licor sagrado / que a Júpiter ministra o garção de Ida, / amantes, não toqueis, se quereis vida, / porque a meio de um lábio e outro corado / Amor está, de seu veneno armado, / qual entre flor e flor serpe escondida. / Não vos burlem as rosas que, na Aurora, / direis que aljofaradas e olorosas / caíram do purpúreo seio ameno: / serão maçãs de Tântalo, e não rosas, / que logo fogem do insinuado agora; / e somente do amor resta o veneno. Veja mais aqui e aqui.

O POETA DRAMÁTICO – Com o texto O poeta dramático e a história (Estética Teatral, 1980), o escritor e dramaturgo alemão Karl Georg Büchner (1813-1837), tornou-se autêntico precursor do drama moderno, tendo influenciado fortemente o teatro do expressionismo e naturalismo. Por seu espírito revolucionário, promoveu a insurreição e dedicou ao teatro suas ideias satíricas contra o Romantismo. No texto ele expressa que: O poeta dramático, para mim, não é mais do que um historiador, mas sobrepõe-se a este último pelo fato de criar para nós a história uma segunda vez e ainda porque, em vez de nos oferecer uma relação seca, mergulha-nos imediatamente na vida de uma época; em vez de características, mostra-nos caracteres e figuras em vez de descrições. O seu mais alto dever é o de se aproximar o mais possível da história, tal como aconteceu de fato. Mas a história não foi concebida pelo bom Deus, como uma leitura para jovens donzelas e não é preciso polemizar comigo se o meu drama não tem este objetivo. Eu não posso fazer de Danton e dos bandidos da revolução paradigmas da verdade! Se eu quisesse representar a sua libertinagem, seria necessário que eu fosse libertino, se eu pudesse mostrar o seu ateísmo, seria preciso que eu os fizesse falar com ateus. [...] O poeta não é um professor de moral. Inventa e cria figuras, faz reviver épocas passadas, e as pessoas podem daí extrair os mesmos ensinamentos que do estudo da história ou pela observação do que se passa à sua volta na vida corrente. Se é isso que se pretende, não se devia estudar a história, porque nela encontram relatadas muitas coisas inconvenientes, e devia-se maldizer um Deus que criou um mundo em que reina o deboche. Se, por outro lado, me viessem dizer que o poeta não deve mostrar o mundo tal como é, eu responderia que não pretendo fazer melhor que o bom Deus, que certamente fez o mundo tal como devia ser. Pelo que diz respeito aos chamados poetas idealistas, eu acho que eles não produziram senão marionetes, de nariz voltado para o céu, e falando com uma grandiloquência afetada, mas não homens de carne e sangue, nos quais eu possa captar a dor e a alegria e cujos fatos e gestos me chamam de horror ou de admiração. Veja mais aqui

Alfred E. Green (1889-1960) e música de Edward Ward (1900-1971), contando a história entre um sujeito que se passa por agente teatral com a sua namorada, e tem 24 horas para pagar a conta do hotel, enquanto tenta coloca-la para um teste no Club Copacabana. A partir de então, ela vai atuar em dois papéis para enganar o produtor do clube, quando uma delas faz mais sucesso e outro produtor quer contratá-la. Surge uma confusão até chegar a invenção da morte de uma delas, envolvendo polícia e muitos problemas. O filme é estrelado pelo ator e comediante Grouxo Marx (1890-1977) e pela atriz do rádio, teatro de revista, cinema e televisão, e cantora luso-brasileira Carmen Miranda (1909-1955). Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do pintor francês Charles-Antoine Coypel (1694-1752)

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Alegoria da loucura, O livro do cortesão de Castiglione & Coríntios aqui.
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