PALMARES
Luiz Alberto Machado
Uma cidade esta
A morada abissal nos quilombos da noite Zumbi
Ou uivo de coruja de todos os presságios
Alalaôs de todas as festas
Orações de todos os templos
Correio de todas as notícias
Arena de todas as lutas vencidas, perdidas, mal-choradas,
Terreno surpreso de todas ignóbeis sentenças de vida
Que se descoram e se colorem a cada anátema dos deuses
Eu guardo em meu cofre
Todos os teus impérios de fome e luxúria
Tua desprezível ingratidão
Contemplada nos tapetes de pelúcia que te completam
E te arruínam rodeada de penúria
Festejando andores que fabricam as incontestáveis beatitudes
Aureoladas nas noites insones
Que te deixam morrer e ressurge em cada copo mal-tomado
Como sudário de tua manifestação
Uma cidade esta
Dos deuses do barro suspensos nos tronos inflamáveis
De lazarentos apodrecidos nos porões de tua riqueza roubada
Que cantam cantigas do tempo do ronca sob um sol escasso e débil
Dos arcabuzes, mosquetões e pistolas ressoando seus estrépitos como saudando a vida disfarçada, o plantão do inverno nos ventres tristalegres e boquifamintos que inventariam teu espolio do mais completo bestiário canhestra de todas as vidas
O teu gen ressecou antes mesmo de caminhar pelas orlas estelares em formas do teu organismo carcomido e prostituído das seqüelas da vida que não mais retalham teus dramas porque são doces quimeras impetradas ao sigilo do teu crepúsculo
Porque são tirânicas as ousadias engastadas ao sibilo de tuas chuvas desmoronando sangue – a comiseração por todas bestificadas ruindades indiferentes que te redundam na mais completa insolência de justiça.
Uma cidade esta
Teus porões jamais revolvidos teriam muito mais que sujar toda tua cara e apodrecer-te nas mais inexoráveis das balanças, mas mesmo assim te guardo em meu seio como quem guarda a amante após a chuva dos desejos e te desejo como quem vai dormir ao relento dos cobertores e te venero como a um súdito esconjurado, pois não te jogaria uma pedra porque não as tenho no coração. Mas te daria meu aconchego porá poder sonhares teus erros e remediá-los com as meizinhas e ungüentos que guardo ao bolso e te sentiria, não como um carrasco, mas como um filho sem seio na anciã de amamentar.
Sou todos os teus brejos e imundícies
Sou eu que sofro com a tua agonia sabendo que ela não é minha, mas a te me dou e guardo em meus cofres o teu segredo.
Guardo tuas praças, ruas, becos e memórias.
Guardo santificadamente todos os teus desvarios e todas as tuas relíquias de bondade. E com amor todas as noites deito-me em teu corpo e ouço a voz de tua indignidade me falar sob as olheiras, o bafo da cachaça, o fumo, a tua ressaca, o teu pouco sol, a tua grande noite.
Eu tenho o teu desespero na carne e o teu desassossego no sono que me foge noite a noite na tua madrugada insidiosa, no teu crepúsculo suicida.
Eu tenho em mim todos os teus dotes, inventario teu espolio como um deserdado, mas sempre guardando a tua marca em meu peito e te tenho e sou pouco.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Canção de Terra. Recife: Bagaço, 1986. Veja mais aqui.
PALMARES – PE
Palmares está encravada na microrregião homogênea 112 – Mata Úmida – e da zona fisiográfica do Litoral – Mata do Estado de Pernambuco. Sua denominação tem origem na quantidade de palmeiras na localidade, bem como associada ao Quilombo dos Palmares. Inicialmente era o aldeamento Trombetas, depois Povoado dos Montes, Una, e, finalmente, Palmares. Com a Lei Provincial 844, de maio de 1868, foi desmembrada das freguesias de Bonito e Água Preta. Foi elevada à categoria de vila pela lei 1093, de 24 de maio de 1873, pelo Governo Provincial. Com a edição da Lei Provincial 1468, de 9 de janeiro de 1879, obteve foro de cidade. O Município foi instituído com a constituição dos municípios autônomos do Estado, com o advento da República, em 3 de agosto de 1892.
Terra dos Poetas. É assim que Palmares ficou conhecida por ter sido berço de grandes poetas. Também o município possui o primeiro teatro a funcionar no interior de Pernambuco e o terceiro mais antigo do Estado, além de abrigar a primeira loja maçônica de Pernambuco. Veja mais aqui e aqui.
HINO
(Nehemias Galdino de Araújo/Edson Carlos Rodrigues/Milton Barbosa Souto)
“Palmares é canção da natureza
exortou certa vez Silva Jardim
é terra de cultura e de grandeza
no mundo não havendo igual assim...”
POETAS DOS PALMARES
O poeta e escirtor Juhareiz Correya organizou em duas edições a antologia POETAS DOS PALMARES, reunindo:
Adalberto Marroquim, Aloísio Fraga, Antonio Veloso, Amaro Matias, Artur Griz, Ascenso Ferreira, Calazans Alves d´Araujo, Eliseu Pereira de Melo, Euripedes Afonso Ferreira, Ezequiel Pessoa de Siqueira, Fabio Silva, Fenelon Barreto, Fernando Griz, Jayme Griz, João Costa, José Lagreca, José Ramos, Julia Leite, Lelé Correia, Leopoldo Lins, Mario Marroquim, Manuel Bemtevi, Milton Souto, Olimpio José de Freitas, Raimundo Alves de Souza, Rubem de Lima Machado, Stella Griz, Zenobio Melo, Afonso Paulins, Alfredo Moraes, Américo Furtunato, Ângelo Meyer, Elita Afonso Ferreira, Eniel Sabino de Oliveira, Fred Caminha, Jesimiel Gonçalves, JoãoLins, Juhareiz Correya, Leonilda Silva, Luiz Alberto Machado, Paulo Menezes, Roberto Quental, Sandra Lustosa, Telles Junior e Wilmar Antonio Carvalho. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
CORREYA, Juhareiz (Org.). Poetas de Palmares. Palmares: Palmares, 1973.
_____. Poetas dos Palmares. Recife/Palmares: FUNDARPE/Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.
LEÃO, Brivaldo. Memórias da noite e do dia. Recife/Palmares: Bagaço, 1987.
MACHADO, Luiz Alberto. Canção de terra. Recife: Bagaço, 1986.
_____. Primeira reunião. Recife: Bagaço, 1992.
_____. A atividade artística como função alternativa para o progresso do município. Revista A Região, ano I, nº 5 (24), 1984.
MACHADO, Luiz Alberto; SILVÉRIO, Rolandry. Aventureiros do uma. Revista em quadrinhos. Recife/Palmares: Bagaço, 1986.
MENEZES, Paulo. Sindicalismo X repressão: a história de Zé Eduardo, o líder do maior sindicato de camponeses do Brasil. Recife: Nordestal, 1983,
PALMARES. Município dos Palmares. Recife: Governo do Estado/Pernambucana de Artes Gráficas, 1963.
_______. Palmares. Recife: Governo do Estado/FUNDARPE/FIAM, 1981.
Veja mais: Crônicas Palmarenses.
DITOS & DESDITOS - Na Terra, os homens e as
mulheres correm os mesmos riscos. Por que não deveríamos fazer o mesmo no espaço?
Eu acredito que uma mulher deve sempre permanecer uma mulher e nada feminino
deve ser alienígena para ela. Ao mesmo tempo, sinto fortemente que nenhum
trabalho feito por uma mulher no campo da ciência ou da cultura ou o que for,
por mais vigorosa ou exigente, pode entrar em conflito com sua antiga
"missão maravilhosa" - amar, para ser amado - - E com ela desejo pela
felicidade da maternidade. Pensamento da aviadora e astronauta russa Valentina
Tereshkova, a primeira mulher a ter
ido ao espaço na Vostok 6, transformada em heroína nacional após o sucesso da
sua missão.
ALGUÉM FALOU: Todos nós, cada um de nós,
carregam uma estrela dentro de nossos baús. ... luz e escuridão estão sempre
lado a lado. Se você mostra até mesmo o menor medo ou lágrimas para a
escuridão, irá inchar imediatamente e virá atacando e engolir a luz.
Serenidade, a fim de derrotar a escuridão e as almas escuras, você deve manter
a estrela dentro do seu peito queimando brilhantemente em todos os momentos.
Essa é a sua taxa mais importante. As pessoas do mundo, todas elas, se é a raça
diferente ou a língua diferente ou o estilo de vida diferente , tende a pensar
apenas sobre o que não podemos compartilhar. Mas nossos cérebros são todos
iguais. Nós somos as mesmas pessoas. Com a força de todos, todos nós podemos
compartilhar os mesmos sentimentos. Isso é óbvio. Mas não virá facilmente. Pensamento
da artista mangaká japonesa Naoko Takeuchi.
DESPISTANDO A GESTAPO - [...] Esperamos por uma hora quando vemos um esquadrão de
soldados alemães alinhados no leito da estrada ao lado do trem. Em seguida vem uma coluna de pessoas em trajes civis. Certamente são judeus. Todos bastante bem vestidos, com as malas nas mãos como
se partissem tranquilamente de férias. Eles sobem a bordo do trem enquanto um sargento-mor os
mantém em movimento, “Schnell, schnell”. Há homens e mulheres de todas as idades, até crianças. Entre eles, vejo uma de minhas ex-alunas, Jeanine
Crémieux. Ela se casou em 1941 e teve um bebê na primavera passada. Ela está segurando o bebê no braço esquerdo e uma mala na
mão direita. O primeiro degrau é muito alto, acima do leito rochoso da
estrada. Ela põe a mala no degrau e segura com uma das mãos o
batente da porta, mas não consegue se erguer. O sargento-mor vem correndo, grita e chuta o traseiro
dela. Perdendo o equilíbrio, ela grita quando seu bebê cai no
chão, um patético monte de choro branco. Eu nunca vou saber se foi ferido, porque meus amigos me
puxaram para trás e agarraram minha mão quando eu estava prestes a atirar. [...]. Trecho extraído da obra Outwitting
the Gestapo (University of Nebraska, 1993),
da educadora e ativista francesa Lucie Aubrac (1912-2007).
UMA VIDA IMAGINÁRIA - [...] O que mais nossas vidas deveriam ser senão uma série
contínua de começos, de dolorosas colocações rumo ao desconhecido,
empurrando-nos das bordas da consciência para o mistério do que ainda não nos
tornamos.
[...]. Trecho extraído da obra An Imaginary Life (Vintage, 1996), do
escritor e dramaturgo australiano David Malouf, autor da frase: Palavras com as quais sua alma dançava.
TRÊS POEMAS - PAZ - O curso constante das estrelas, \ As ondas
que ondulam até a praia, \ As árvores vigorosas que ano após ano \ Se espalham
mais e mais;\ A joia se formando na mina, \ A neve que cai tão suave e leve, \ O
nascer e o pôr do sol, \ As crescentes trevas da noite;\ Todas as coisas
naturais vivem e se movem \ Na paz natural que lhes é própria; \ Apenas em
nossa vida desordenada \ Quase ela é desconhecida. \ Ela não é descanso, nem
sono, nem morte; \ Ordem e movimento sempre permanecem \ Para cumprir suas
ordens firmes \ Como guardas à sua mão direita.\ E algo de sua força viva \ molda
os lábios quando os cristãos dizem \ Àquele cuja força sustenta o mundo: \ "Dá-nos
a tua paz, rogamos!" MÚSICA - Doce melodia
irrompe entre as esferas em movimento, \ um som solene e arrebatador, \ Uma
harmonia da qual as colinas verdes da terra \ Emitem apenas o mais fraco eco; ainda
há \ uma música em todos os lugares, e doce concerto! \ Todos os pássaros que
cantam no meio da floresta profunda \ Até que as flores escutem com sinos
desdobrados; \ Todos os ventos que murmuram sobre a grama do verão, \ Ou
encrespam as ondas na costa pedregosa; \ Principalmente todas as vozes humanas
sinceras levantadas \ Em caridade e pela causa da verdade, \ Misturam-se em um
acorde sagrado, \ E flutuam, um incenso agradecido, até Deus. VÉSPERA DE ANO
NOVO E DIA DE ANO NOVO – Adeus, Ano Velho! \ E contigo leva \ Graças pelas
dádivas a todas as terras \ que Tu trouxeste em tuas mãos generosas, \ E tudo o
que ensinaste aos corações teus passos demorados abandonam. \ Adeus, Ano Velho!
\ O Passado espera por ti. \ Quem governa em seu poder sozinho \ O reino do
esquecimento. \ Silenciosa, ela se senta na cadeira de ébano; \ Névoas caindo
de cabelos escuros \ Velam o brilho glorioso de seus olhos escuros, \ Cheios de
ajuda sábia e verdade divina. \ Silencioso, a menos que um som intermitente, \ Como
de alguma caverna subterrânea, \ Roube de seus lábios; a companhia \ De anos
antigos que a rodeiam, \ Então cantando, um por um, dá voz \ À velha
experiência em sua canção.\ Adeus, Ano Velho! \ Tu vais sozinho, \ Como nós
faremos: tuas páginas alegres, \Estações e meses que te cercam, \ Acompanham-te
até a borda mais distante da Terra, então volta! para cumprimentar teu filho.\ Salve,
Ano Novo! \ Embalado nas nuvens da manhã \ Dourado e branco. Não posso ver \ Teu
rosto - está envolto em mistério; \ Mas a primavera para ti está pintando
flores, \ e o verão adorna seus caramanchões de tecido; \ Os ricos feixes do outono
logo serão colhidos, \ Com estoque de frutas embebidas em raios de sol, \ E uma
a uma, com mão gentil, dobras para trás tuas mortalhas iluminadas pelo sol.\ Salve,
Ano Novo! \ Brilhante e belo, \ Tu caminharás na plenitude \ Da juventude e seu
humor alegre. \ Último filho de meio século, \ E tempo de vitória vindoura \ Sobre
os espíritos da noite e do pecado, \ Cujos uivos de derrota começam: \ Tu
trazes esperança e trabalho abençoado \ Em visões de descanso bem-sucedido, \ Trazes
grandes pensamentos e ações forjadas \ Em fogo sobre aquela forja de
pensamento, \ E com a alma de seriedade eu acho que tua juventude está cheia.\ Salve,
Ano Novo! \ Minha expressão é muito fraca \ Para contar tudo o que penso que
trazes, \ Para ecoar a canção que cantas; \ Mas os próprios ventos do Céu para
aqueles que os ouvem, falem! Poemas da escritora e ativista feminista
inglesa Bessie
Rayner Parkes (1829-1925).
Veja
mais sobre:
A mulher
na Roma antiga, William
Faulkner, Victor Hugo, Jacqueline Du Pre, Helena
Saffioti, Brian De Palma, Jean-Baptiste Pigalle, Carmen Tyrrel, Elizabeth Short, Mia Kirshner, Lenita
Estrela de Sá & Lia Helena Giannechini aqui.
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Antonio Callado, Angela Yvonne Davis,
Giovanni Lanfranco, Tavito Carvalho & Jane Fonda aqui.
O
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O
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O
pensamento de Empédocles aqui.
O
pensamento de Zenão de Eleia aqui.
O
pensamento de Parmênides aqui.
O
pensamento de Xenófanes aqui.
O
pensamento de Heráclito aqui.
A
fenomenologia de Husserl aqui.
O
pensamento de Pitágoras aqui.
O
pensamento de Anaxímenes aqui.
O
pensamento de Anaximandro aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tataritaritatá!!!
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.