PALPO A QUIMERA & O TREMOR DE VCA – Bastou um verso de Murilo Mendes
e surgiram átomos de palavras com uma tuia de monósticos iniciado pelo “Onde busco abrigo e abstrato exílio”. Giro
em que vergas gemem e ergas emem altanoite, com grito de pedra à dor do mundo de
um Rimbaud abandonado na barca dos sentidos, clarim plúmbeo e sexo da morte,
cônegos partidos na conspiração do crepúsculo e a profecia azul, o basalto
absoluto aos artesão de Nuremberg, acordes de cor com dísticos amarelos e
tercetos italianos, objetos, realidade, leitura, visão pergunta à tinta ou a
Gôngora, o cio de égua porque o amor cura na derrota pela pedra, em que
doar\doer era apenas rumor do tempo com a confissão trêmula a Ivonilde com três
poemas perdidos. Voz de gaivota e o aconselho no poema a Tutmósis Terceiro, era
setembro em Creta para a Declaração sem princípio, destino e glória do poema
das tardes perpétuas e noites betuminosas. Sete poemas (seis próprios) em um
quarto em Lisboa ainda em novembro e chovia no nascimento do azul na insônia do
tempo no velório amarelo da morte mineral loucura. O naufrágio do rosto aos
mortos de abril (à América Latina sepultada sob o escombro da tortura). A azul
voz de gaivota no epitáfio cônico (em
forma de crônica) porque palpo a quimera e o tremor, ir serpente ser pela
estória de gnomos sem elfos ou c0nfissão unicórnia, eu álamo, Shelley afogou-se
em setembro no Golfo de Spezzia e a tristeza se abate sobre basaltos. Cavalos
da autora derrubaram pianos enquanto os últimos ruidos da manhã atravessam
tênue céu de açucena, fragmentos de ouro do poemas aos 55, vi VI e vi II,
Rilke, Pound, Hordelin, Paz, os sentidos do poema, poeta coitado (confissão
irrespondível, de chegada e de olhos, o crepúsculo tocaia touro: lábaro
extremado. Silêncio amanhece pálpebra aberta: olhar posto e descontínuo, meu
nome é capricónio na segunda confissão do poeta sem aspas aos olhos da manhã. Ah,
com prefácio de Delmo Montenegro sobre um motivo de Vinicius de Moraes e Valdene
Duarte: só as paredes confesso. Fragmentos de César Leal e Sébastien Joachim,
invocando Eliot, Eugênio de Andrade, Laugston Hughes, Walter de la Mare,
Archibald Macleish, José Gomes Ferreira, para cismar: o visível inviabiliza o invisível ou o cobre com a cal da opacidade...
Vá-se à medula do que seja novo, mire-se na ganga pura, abula o ouro hipnótico,
entregue-se à potência da palavra e à geometria do porvir! Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - As
mulheres são metade da sociedade. Você não pode ter uma revolução sem mulheres.
Você não pode ter democracia sem mulheres. Você não pode ter igualdade sem
mulheres. Você não pode ter nada sem mulheres. Democracia
não é apenas liberdade de criticar o governo ou chefe de Estado, ou para
realizar eleições parlamentares. A verdadeira democracia obtém apenas quando as
pessoas - mulheres, homens, jovens, crianças - têm a capacidade de mudar o
sistema de capitalismo industrial que os oprimiu desde os primeiros dias da
escravidão: um sistema baseado em divisão de classe, patriarcal e militar , um
sistema hierárquico que subjuga as pessoas apenas porque nascem pobres, ou
mulheres ou pele escuras... Pensamento da escritora, médica e feminista egípcia Nawal al-Sa'dawi (1931-2021).
ALGUEM FALOU - Para ser um artista, você olha, você percebe, você
reconhece o que está passando pela sua cabeça. E não são ideias. Tudo o que
você sente e tudo o que você vê e tudo o que toda a sua vida passa pela sua
cabeça, você sabe. Mas você tem que reconhecê-lo e acompanhá-lo e realmente
senti-lo. Minhas obras não têm objeto, nem espaço, nem linha, nem nada – nem
formas. Eles são luz, leveza, sobre a fusão, sobre a falta de forma, quebrando
a forma. Você não pensaria em forma perto do oceano. Você pode entrar se não
encontrar nada. Um mundo sem objetos, sem interrupção, fazendo uma obra sem
interrupção ou obstáculo. É aceitar a necessidade desse simples e direto entrar
em um campo de visão como se fosse cruzar uma praia vazia para olhar o oceano. Negligenciar
sua própria mente é como negligenciar sua consciência. Isso é como desistir de
toda a esperança de alegria e felicidade, realmente. Você é o único que pode
descobrir para você o significado de qualquer coisa. O que isso significa para
você. Com isso, não quero dizer significado intelectual. Quero dizer, o que
isso significa, como isso faz você se sentir. Você tem que ver se você
realmente está feliz ou não. Se você está realmente triste ou não. E você tem
que investigar o que passa pela sua cabeça. Pensamento da pintora e educadora canadense Agnes Martin (1912-2004), autora
do poema: O estado de espírito
aventureiro é uma casa alta // Para aproveitar a vida, o estado de espírito
aventureiro deve ser / compreendido e mantido // A característica essencial da
aventura é que é um / avançar para um território desconhecido // O a alegria da
aventura é inexplicável // Essa é a atratividade da / obra de arte. É
aventureiro, / extenuante e alegre. E também autora do texto: Ao descrever a inspiração, não quero que
você pense que estou falando de religião. Aquilo que nos surpreende - momentos
de felicidade - isso é inspiração. Inspiração que é diferente do cuidado
diário. Muitas pessoas, quando adultas, ficam tão impressionadas com a
inspiração que é diferente dos cuidados diários que pensam que são únicas por
tê-la. Nada poderia estar mais longe da verdade. A inspiração está presente o
tempo todo. Veja mais aqui.
CULTURA POPULAR - [...] todos eram
iguais e onde reinava uma forma especial de contato livre e familiar entre os
indivíduos normalmente separados na vida cotidiana pelas barreiras intransponíveis
da sua condição, sua fortuna, seu emprego, idade e situação familiar [...] A vitória sobre a morte não é absolutamente
a sua eliminação abstrata, é ao mesmo tempo o seu destronamento, sua renovação,
sua transformação em alegria: o inferno explodiu e converteu-se numa cornucópia.
[...] A vitória sobre a morte não é
absolutamente a sua eliminação abstrata, é ao mesmo tempo o seu destronamento,
sua renovação, sua transformação em alegria: o inferno explodiu e converteu-se
numa cornucópia. [...]. Trechos extraídos da obra A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de
François Rabelais (Annablume, 2002), do filósofo e pensador russo teórico da
cultura e das artes Mikhail Bakhtin (1895-1975). Veja mais aqui.
CIDADE DA NOITE - [...] Contra uma
parede, uma mulher loira desbotada - um anjo exilado, com traços de beleza
ainda persistentes em seu rosto pálido - está sentada com olhos delineados em
preto queimando o bar. [...] Da rua,
olhei para os prédios de apartamentos, para as janelas nuas dos minúsculos
cubículos. Mais rostos macilentos olhando inexpressivamente; corpos magros e
mutilados de mulheres indiferentes em combinações; homens sem camisa. Todos têm
a mesma aparência: a aparência de uma condenação resignada e não mais
questionadora. O mundo de joelhos… [...] Sua família a expulsou, anos atrás; eles até se ofereceram para pagá-la
para ficar longe. Ela acrescentou com orgulho: “Mas Kathy não aceitaria o dinheiro
deles. Ela vive em um pequeno buraco do inferno no bairro desde então -
sozinha. Aqueles apagões que ela tem... Ela está morrendo,” ela disse
abruptamente. [...] E eu vejo:
Dominando o horizonte, no topo de um prédio alto, um holofote gigante escaneando
a cidade. Ele desliza assustadoramente, gira sobre a água negra. Ele flutua,
paira acima do horizonte, circunda a cidade noturna. E loucamente animado, de
repente me pergunto se aquele holofote girando todas as noites não está
tentando de alguma forma abraçar tudo - abraçar aquela fusão de contradições
selvagens dentro desta lenda chamada América momentaneamente perdido - algo
encontrado novamente no parque, nos quartos dos fugitivos, nas selvas
abandonadas: o mundo da dor não solicitada e não solicitada... encontrado
agora, de forma libertadora, até mesmo na memória do próprio Neil. E eu pude
pensar naquele momento, pela primeira vez realmente: É possível odiar o mundo
imundo e ainda amá-lo com um amor abstrato e piedoso. [...]. Trechos extraídos
da obra As cidades da noite
(Civilização Brasileira, 1964), do escritor estadunidense John Rechy, autor de frases como: Você pode apodrecer aqui sem sentir.
Apenas a ausência de solidão. Isso é amor o suficiente. Li muitos livros,
vi muitos, muitos filmes. Assisti outras vidas, só por uma janela. A memória é
muito pouco confiável para ser "verdadeira".
O POEMA FINAL - Uma forja arde
em meu coração. \ Sou mais vermelha que a aurora, \ Mais profunda que algas, \ Mais
distante que gaivotas, \ Mais oca que poços. \ Mas eu só dou à luz \ Sementes e
cascas. \ Minha língua se emaranha em palavras: \ Não falo mais branco, \ Nem
pronuncio preto, \ Nem sussurro o cinza de um penhasco gasto pelo vento, \Mal
vislumbro uma andorinha, \ O breve vislumbre de uma sombra, \ Ou adivinho uma
íris. \ Onde estão as palavras, \ O fogo eterno, \ O poema final? \ A fonte da
vida? Poema da escritora egípcia Andrée Chedid (1920-2011). Veja
mais aqui.