EFEITO GENOVESE, OU DEIXA & EU DEIXO,
TERCEIRIZA – Tinha eu apenas quatro anos de idade quando tudo
ocorreu. Sim, eu ouvia as pessoas comentando, queria saber o que havia
acontecido. Parecia algo que comoveu muita gente ao meu redor, parente ou
pessoa muita achegada havia sido vítima de uma tragédia. Quem, não sabia. Só
muitos anos depois é que alguém dos meus familiares lembrou-se daquela noite da
minha infância e não deixei passar. Então, insisti muito para que me contasse,
até que uma das minhas tias relatou de uma caso distante e muito longe, parecia
que em Nova Iorque. Estranhei algo tão longínquo poderia afetar meus familiares
a ponto deles ficarem todos cabisbaixos, contidos, logo percebi que a minha
gente era sentimental demais. Mas, não. Sim, décadas passadas e pude ter uma
noção completa a respeito do caso que ocorrera na região metropolitana
nova-iorquina em 1964. Uma moça foi atacada quando chegava na sua residência de
madrugada, por um sujeito que a apunhalou duas vezes pelas costas. Ela gritou e
o agressor fugiu em seu carro. Minutos depois, ela conseguiu entrar em casa e o
agressor retornou para mais esfaqueá-la, estuprá-la e roubar dela 49 dólares de
sua bolsa. Ela lutou o quanto pôde, gritando por socorro desesperadamente por
35 minutos. A polícia foi chamada e dois minutos depois chegou: era tarde
demais, ela falecera aos 28 anos de idade. Era ela Kitty Genovese (Catherine Susan Genovese – 1935-1964).
O mais curioso de tudo é que 37 pessoas presenciaram toda cena e não chamaram a
polícia. Inclusive um dos vizinhos relatou à policia e à imprensa que não
chamou as autoridades policiais porque não queria se envolver. Mais ainda: ela
já estava morta, mesmo assim os turistas tiram fotos de recordação. O assassino
foi preso dias depois, um jovem de 29 anos de idade, chamado Winston Moseley,
casado e pai de três filhos. Ele confessou o crime durante o interrogatório, afora
outros dois assassinatos, mais violações e quarenta assaltos, afora ser
diagnosticado por exames psiquiátricos como necrófilo. Foi o que apurou a dupla
de psicólogos John Darley e Bibb Latané num estudo realizado em 1968, chegando
à conclusão de que quantas mais pessoas testemunham uma emergência, menos
provável é que uma delas ajude a vítima. O criminoso foi condenado à morte, mas
teve seu veredicto alterado para prisão perpétua. Foi quando surgiu o fenômeno
psicológico hoje conhecido como efeito espectador ou síndrome de Genovese. Este
por sua vez compreende aos casos de espectadores em situações de perigo ou
violência não oferecerem qualquer meio de ajuda emergencial quando outras
pessoas estão presentes. E para o meu mais completo espanto tomei ciência que
dois dias antes do ocorrido com a vítima estadunidense, uma vizinha lá de casa
havia sido esquartejada pelo insano marido, depois de uma convivência de
violência doméstica de décadas e nenhum vizinho jamais dera parte às autoridades,
ignorando o caso até o presente. Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Se eu tivesse dois
caminhos, teria escolhido o terceiro... Os dias ensinaram você a não confiar na
felicidade porque dói quando ela nos engana... Longe, nossos sonhos nada têm a
ver com o que fazemos. O vento leva a noite e passa, sem rumo...
Pensamento do poeta árabe Mahmoud Darwish (1942-2008).
Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Ninguém nunca mediu, nem
mesmo poetas, quanto o coração pode segurar... Um vácuo só pode existir,
imagino, pelas coisas que o inclui... Pensamento da
escritora estadunidense Zelda Fitzgerald (1900-1948). Veja mais
aqui e aqui.
DIÁRIO - [...] Não há nada melhor para fazermos do que assumir a nós
mesmos como nos encontramos e fazer o melhor de nós mesmos. Se me vejo, como fiz,
filha de um artista que me deixou com uma mente aberta e um caráter
convenientemente forte para resistir à tentação, saio dali e faço o que posso…
Não mereço nem elogios por fazer o meu melhor , pois esse é meu dever
e mereço ser culpado por não ter feito o meu melhor. [...]. Trecho
extraído da obra Growing Pains: Diaries And Drawings From The Years 1908-17 (Minnesota Historical Society Press, 1984), da
desenhista, escritora e artista estadunidense Wanda
Gág (1893-1946). Veja mais aqui.
A PONTE SOBRE O DRINA - [...]
Para um homem cheio de um amor grande, verdadeiro e
altruísta, mesmo que seja apenas de um lado, abrem-se horizontes e
possibilidades e caminhos que são fechados e desconhecidos para tantos homens
inteligentes, ambiciosos e egoístas. [...] Não há
edifícios que tenham sido construídos ao acaso, distantes da sociedade humana
onde cresceram e das suas necessidades, esperanças e entendimentos, assim como
não há linhas arbitrárias e formas sem motivo na obra dos pedreiros. A vida e a existência de
cada edifício grande, bonito e útil, bem como sua relação com o local onde foi
construído, muitas vezes traz consigo um drama e uma história complexos e misteriosos. [...] O esquecimento cura tudo e a canção é a forma mais bela de esquecer,
pois na canção o homem sente apenas o que ama. [...] A ponte permaneceu como se estivesse sob sentença de morte, mas ainda
assim inteira e intocada, entre os dois lados em guerra [...] Você ouve e vive com prudência, na verdade
você não vive nada, mas trabalha e economiza e está sobrecarregado de
preocupações; e assim toda a sua vida passa. Então, de repente, tudo
vira de cabeça para baixo; tempos vêm em que o mundo zomba da razão, quando a Igreja
fecha suas portas e se cala, quando a autoridade se torna mera força bruta,
quando aqueles que ganharam seu dinheiro honestamente e com o suor de suas
sobrancelhas perdem seu tempo e seu dinheiro, e os violentos ganham o
jogo. Ninguém reconhece seus
esforços e não há ninguém para ajudá-lo ou aconselhá-lo sobre como manter o que
você ganhou e economizou. Isso pode ser? Certamente isso não pode ser? [...]. Trechos extraídos da obra The Bridge on the Drina (University of
Chicago Press, 1977), do escritor iugoslavo e ganhador do Prêmio Nobel, Ivo
Andrić (1892-1975).
UM POEMA - Não sou anterior à escolha \ ou nexo do ofício \ Nada em
mim começou por um acorde\ Escrevo com saliva\ e a fuligem da noite\ no meio de
mobília\ inarredável\ atento à efusão\ da névoa na sala. Poema do poeta moçanbicano Sebastião Alba (Dinis
Albano Carneiro Gonçalves – 1940-2000).
MAIS TRÊS POEMAS - PARA UMA AMIGA - Ouça, garota, esses momentos são nuvens: \ você os deixa
passar e eles se vão. \ Absorva seu toque úmido. \ Pegar encharcado. \ Não
desperdice uma única gota. \ Ouça, as chuvas não se lembram ruas, \ e a luz do
sol não consegue ler sinais de trânsito. SOMETHING TO REMEMBER - Você também
será como os outros: colocar a escuridão de ontem contra a de hoje brilhante? \
Bem, agrade a si mesmo...\ mas tenha paciência mente: \ eles também cobram: \ o
sol dorme com noite! WHAT WILL HAPPEN TO FLOWERS? - Eu ouço as borboletas
serão novamente banidas, \ e as abelhas receberão pólen por correio para eles- \
“Eles não devem voar de rosa em rosa!” \ E a brisa terá que vigiar seus passos.
\ Abelhas, borboletas, até brisa verá apenas quem a lei aprova. \ Mas, Alguém
pensou no destino da flor? Quantos podem se autopolinizar? Poemas da professora e poeta
paquistanesa Parveen Shakir (1952-1994)