quinta-feira, março 07, 2013

A GESTA DE VCA, KARINA GÁLVEZ, MOORCOCK, ELLEN JOHNSON, MARIA DA PENHA, CORBUSIER, CÂNDIDO & LITERÓTICA

 

GESTA PERNAMBUCANA, DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJOQuando escrevi o Fecamepa dediquei um capítulo ao Brasil holandês, contando do buruçú e todo vuque-vuque na casa de mãe-Joana. Sim, é que por aqui essa imensidão toda era pequena para tanta refrega. Claro, ora, além dos portugas eram os franceses na Paraíba, no Maranhão e no Rio Grande do Norte; os espanhóis rondando tudo, ora aliado, ora em pé de guerra; eram corsários ingleses, piratas anônimos, navios neerlandeses, ladrões e facínoras de todas as estirpes, maior fuá de mar terra adentro. É compreensível que a razão para esse bafafá todo era porque o olho gordo mirava o apogeu da açucarocracia reinante. E mais porque ninguém estava nem aí para quem pintou a zebra: só comer as índias, vender a cana e o pau-brasil e vencer na vida, pouco se lixando para a defesa da grandiosa terra. Além disso, como narrou Joan Nieuhof, nas suas memoráveis viagens por mares, rios e terrenos publicadas em 1682, de que aqui era “[...] uma região magnificamente prendada pela natureza, para a produção de tudo quanto se encontra nas Índias Ocidentais, em climas iguais ou afins, à exceção do ouro e prata. [...] Entretanto, à parte esses metais preciosos, o açúcar apresenta-se, aí, como a principal produção do país”. Esta a razão pela qual os batavos botaram fé nisso e fincaram pé na conquista, reunindo aparato naval que encarou a supremacia luso-galaica, findando por ancorar nestas terras em 1630, na praia de Pau Amarelo. E vieram com fome ampliando as conquistas da Holanda Nova e da Companhia das Índias Ocidentais, passando a administrar em pouco tempo e em lutas sangrentas, desde Sergipe-d´El-Rei, Alagoas, Pernambuco, Itamaracá – que pertencia à Goiana -, Paraíba, Potigí – mais tarde Rio Grande do Norte -, e Siará – mais tarde Ceará. Tudo isso no ajeitado da lábia que prometia liberdade a quem se enfincasse no chão para produzir, besteiras de impostos baratos, oferta de compradores certos, arteirice com direito de ir e vir, culto religioso liberado para quaisquer crentes e similares, porte de arma para os graúdos donos de plantação, enfim, proposta completamente simpática e por demais diferente das que estavam acostumados a receber do ordenamento português. Ôxe, se era?! Hum! Muito diferente, ora! Não deu outra e os nativos logo se bandearam pros flamengos, maior trupé de festa nas homenagens, tendo em vista, conforme registrado por Nelson Barbalho na sua Cronologia pernambucana, que a indiada de Pernambuco, via de regra, era sempre espoliada pelos portugueses da colônia, os quais viam os nativos como seres inferiores que eram preados, reduzidos à escravidão por meio das infames guerras justas, suas mulheres prostituídas, suas terras tomadas, perseguidos a ferro e fogo, massacrados, trucidados impunemente, enquanto os holandeses sempre os trataram como criaturas humanas dignas de respeito e consideração, quando não instruindo, dando-lhes assistência médica e social, não escravizando nem jamais invadindo as suas aldeias, muito menos roubando as suas terras. Olhe o enterro voltando de novo, hem? Será que aprenderam? Hum, duvido! Espia só. Do outro lado, com os luso-brasileiros comandados por Matias de Albuquerque num clima de sedição, deserções e traições, todas fartamente registradas nas Memórias Diárias da Guerra do Brasil, de Duartede Albuquerque Coelho. É quando Domingos Fernandes Calabar, um mulato ativo, sagaz e astuto, natural da Paróquia de Porto Calvo, empreendedor e conhecedor das matas e terras, e diga-se de passagem, um dos primeiros a se engajar na luta dos portugueses e que, insatisfeito por nunca receber sequer respeito, distinção ou honraria, porque era somente espezinhado pelo conde de Bagnuolo que era o chefe das tropas mercenárias napolitanas enviadas pelos espanhóis, resolveu, enfim, em 1632, engrossar as fileiras flamengas. Putzgrilla! E ao receber a acolhida deles, só aceitou a oferta do posto de major ao exigir informações acerca do futuro dos brasileiros depois da contenda. Tudo preto no branco, maior enlace. Evidente que no fuxico luso ele fora acusado de traidor e se defendia alegando abandonar a causa da escravidão de Portugal pela liberdade holandesa. E saiu levando mato nos peitos até suplantar a resistência hispano-portuguesa do Arraial do Bom Jesus, numa batida macha e desmoralizante. U-hu! A respeito da conduta de Calabar, ao contrário da pecha oficial de traidor, vários historiadores são convergentes à ideia de que ele traiu os colonizadores portugueses e espanhóis, pela liberdade e pela pátria. Há, inclusive, o registro de que José Bonifácio de Andrade e Silva declarou a deserção de Calabar como patriótica. No entanto, cabe a você, distinta leitora, avaliar pelos fatos narrados. Mas, já viu “Calabar, o elogio da traição”, de Chico Buarque & Ruy Guerra? Uma das cenas mais espetaculares é aquela que começa: [...] Sou Anna de vinte minutos \ Sou Anna da brasa dos brutos na coxa \ que apaga charutos, sou Anna dos dentes rangendo \ e dos olhos enxutos. \ Até amanhã \ sou Anna ; das marcas, das macas, das vacas, das pratas \ sou Anna de Amsterdam [...], e que termina quando ela recita: [...] Fui amada por mil homens \ com milhares de ideais, \ mas na lista dos seus sonhos \ eu fiquei sempre pra trás. \ O milésimo primeiro \ fez de mim a principal, \ mas era um pobre fuleiro \ que não tinha ideal. Vamos nessa. Então, perseguido, Calabar foi, enfim, traído e entregue ao inimigo Matias de Albuquerque, em 22 de julho de 1635, sendo executado sumariamente em praça pública, enforcado e esquartejado. Deste fato, contam que, de garroteado, seu corpo foi retalhado e seus restos expostos à curiosidade pública, espetados em estacas. Ai ai ai ai ai ai ai! Pois é, eis que dois anos depois, chegava o conde Maurício de Nassau-Siegen, defendendo a luta de Calabar, a liberdade e alardeando que a monocultura era um atraso de vida. Botou quente logo de cara! Com ele a prosperidade e a movimentação em Pernambuco, promovendo uma estrepitosa festa de conclamar o povo para ver um boi voar pela ponte. Foi ele quem inaugurou aquele ditado de 50 anos em 5. Mas como tudo agradava uns que era maioria na mundiça e desagradava outros poucos gananciosos, anos depois, a Companhia não se satisfez com a gestão e obras nassovianas de pacificação e descobertas locais, a ponto de, em 1644, forçá-lo a se despedir, sendo substituído por um Conselho Supremo que iniciou uma administração extremamente severa, cobrando dívidas e confiscando propriedades dos luso-brasileiros, pondo fim à tolerância religiosa, dentre outras rígidas conduções que provocaram tensões que foram pipocando e o rebuliço se agigantando até esborrarem em rebeliões que se generalizaram. Tascaram fogo no rabo e sacudiram tudo! Nem deu tempo de perceber que tais conduções levaram às constantes conspirações dos portugueses se viam diante dos tribunais batavos para resolverem as pendências de todas as transações e só engrossavam os bolsos dos advogados, o que ainda mais concorria para agravar a insatisfação geral, dado o elevado custo do processo judicial, no Brasil, desde esta época, pode? A cena é tão parecida com a realidade de hoje, que Joan Nieuhof na obra citada anteriormente diz: “Depois quando já se tinha sentença e mandado de execução contra os devedores, o difícil era descobrir onde e como cumpri-lo, pois a maioria dos portugueses reclamava a proteção real”. Olha só onde está a origem da ineficiência, da lerdeza, contraproducência e privilégio dos apaniguados na justiça brasileira. Aí, meu babau! O revestrés desencadeou rebeliões que resultaram na Insurreição Pernambucana, que teve início em 1645 e só findou com a derrota dos holandeses em 1654. Isso numa só frente com o negro valente Henrique Dias, o índio servil Felipe Camarão e toda a tropa de Mathias de Albuquerque, além dos líderes André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira que foram acumulando vitórias como a do monte das Tabocas, de 1645, bem como a primeira e segunda batalhas de Guararapes, de 1648 e 1649, respectivamente, dando pano para as mangas pruma guerra que continuaria penicando a tampa da bronca com devastações, prisões, delações, jogos baixos, a ponto dos portugueses envenenarem todos os poços onde os batavos bebiam água. Eita! Até que em 1653, finalmente, Portugal decidiu armar uma frota para lutar, sacudindo a poeira até a capitulação holandesa da Campina da Taborda, que se deu exatamente em 26 de janeiro de 1654. Pronto, foi aí que a porca torceu o rabo. Expulsos, os batavos restabeleceram as relações com Portugal, mas, a merda foi que depois que saíram, na verdade provocaram a decadência do açúcar, vez que passaram a produzir a matéria-prima nas Antilhas em situação mais competitiva. Eita, porra!!!! Fodeu Maria-preá, num foi? Foi. Pois, com a maior mais sem-graceza dos vitoriosos, para num virar tudo uma meleca só, deram por satisfeito com a formalização diplomática da vitoriosa insurreição pernambucana, ocorrida só em 1661, com a assinatura da Paz de Haia. Para desconsolo dos despropósitos, o Brasil havia se tornado, sem dúvida, a mais valiosa possessão portuguesa, mas o açúcar agora era Holandês nas Antilhas, i-hi!! Cada jumento com sua carga, a-há! Isto é Brasil, onde tudo é nebuloso, o Reino das Dubiedades, melhor Ambiguidades: todo mundo mete o dedo, o bedelho, o pentelho e o que mais couber, né não? É. É só o triz da cipoada latanhando tudo, zás, para a barbárie da discórdia se armar por escaramuças irrefreáveis explodindo em tudo quanto é ajuntamento de gente. Eita, boba-torrêro! Inferno perto disso é pouco! Bote bronca pra moer. Agora outra antes de se falar do livro que me proponho comentar: era eu menino quando ouvi pela primeira vez a palavra gesta, nas contações e converseiros dos moradores dos engenhos e nas pinoias das reuniões informais de casacudos e maloqueiros. Havia sempre alguém puxando o mote pruma gesta com a bravura de vaqueiros, coragem fazendeiros, e de gloriosos como Lampião, Camonge, Antônio Silvino, Jesuíno Brilhante, Cabeleira (na verdade livro de Franklin Távora), até de Bocage, Juquinha, bois, vacas, cavalos e o escambau, misturando pilhérias e invencionices com gestas e solfas, coisa que só aprendi a distinguir já rapazote, com as leituras do Câmara Cascudo e, depois, na faculdade, com os estudos de Massaud Moisés e Oto Maria Carpeaux. De fato, a gesta é uma composição poética, em forma de canção, que narra feitos memoráveis, heroicos, façanhas ou proezas, reais ou lendários, surgida da literatura apócrifa, como aquela que muito ouvi do ladrão impenitente que, amiudamente, era um daqueles condenados que foram crucificados ao lado de Jesus e que apareceu pela primeira vez no Evangelho de Nicodemos e, depois, no Evangelho Árabe da Infância. A primeira que eu soube de mesmo, foi a da Lenda Dourada, do religioso italiano Jacopo de Varazze (1226-1298), uma coletânea de narrativas hagiográficas escritas como exemplum, por volta de 1260, e que, tudo indica, tenha sido o mote para o grandioso poema Lenda dourada, do poeta estadunidense, Henry Wafsworth Longfellow (1807-1882), que, por sua vez, embasou a cantata The Golden Legend (1886), de Arthur Sullivan com libreto de Joseph Bennett. Outras mais eu soube, como a do herói Roland das canções de gesta medievais, e dos épicos de El Cid, Rodrigo Diaz Bivar, Orlando Furioso de Ariosto, entroutros. Já a gesta do VCA é doutra envergadura: as belíssimas ilustrações e capa da artista Ladjane Bandeira são um primor. E, além disso, torna-se inevitável, que eu faça uso de cara da apresentação feita ao volume, intitulada O poeta Vital, feita pelo Paulo Bandeira da Cruz: Vital Corrêa de Araújo é o grande feiticeiro da poesia urbana. O arqueólogo das gavetas. O teólogo dos arquivos. O carimbador das manhãs. O grande místico do caos civilizado. O profeta do Messias de plástico. O biógrafo do abismo suburbano. O pescador do rio de argamassa. Da maré de asfalto. Do peixe de amianto. Dos caranguejos de neon e vidro. O pastor das engrenagens místicas. O maestro das praias octaédricas e das chuvas pálidas. O retório do sol de jade. Da lua de polvilho. O escultor da seca. Da eternidade esquálida. Do branco extinto. Do edifício de carne. Da avenida nua. Do pássaro sem fuselagem. Das amebas sânscritas. Dos brasões de fogo. Das bananas de fio a pavio. Da liberdade de alumínio. Da paz posta. Da justiça de óculos. O oráculo da alma exausta. Do universo devastado. Do beco olímpico. Da trilha sonora. Do catecismo de pedra. Do travesseiro de zinco. Cantador dos punhos Nagasaki. Da rosa atômica. Da natureza morta. Bebedor do vinho faraônico. Comedor de pães cônicos. Escritor de livro aceso. De poesia seca. Do epitáfio de Deus. Do silêncio vivo. Confiro: apesar de um texto pequeno no tamanho, diz tudo. Mas preciso acrescentar um fragmento do que escreveu o Edgard Powell, com o prefácio de uma epopeia: [...] Só um privilegiado poeta nato poderia arrancar poesia dessa insipida realidade. [...] E tudo isso sem falsa patriotada, sem omitir o beneficio realmente progressista período nassoviano [...] o toque de lenda e mistério à História – saturada de tantos heroísmos, tanto retinir de armas e tantos relinchos de corcéis. Deveras, desde o primeiro poema Invasão, até o último, Fundador, o que VCA faz é poetar ao seu modo, como no poema Os heróis anônimos: Anônimos são os verdadeiros heróis. E arrematar seu singular lirismo no poema Ana de Amsterdam: [...] Além do mangue \ Ana, a Rainha \ dos Tanoeiros, esperava \ o príncipe noturno \ que aportava \ na claridade do seu corpo. Tudo que eu acrescentar será desnecessário ao que já foi exposto e confirmando a obra com o que foi concedido pelo Prêmio Eugênio Coimbra Júnior, um dos prêmios literários da cidade do Recife, de 1984. De resto, só me resta saudá-lo e aplaudir o poeta, evoé VCA!!!! Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - O tamanho dos seus sonhos deve sempre exceder a sua capacidade de alcançá-los. Se os seus sonhos não te assustam, eles não são grandes o suficiente... Pensamento da líder liberiana e Prêmio Nobel da Paz de 2011, Ellen Johnson-Sirleaf.

 

ALGUÉM FALOU - A vida começa quando a violência acaba... Papel de juiz não é aconselhar, é fazer justiça... A principal finalidade da lei não é punir os homens. É prevenir e proteger as mulheres da violência doméstica e fazer com que esta mulher tenha uma vida livre de violência. Somente por meio da educação poderemos ter uma sociedade menos machista e mais igualitária. Pensamento da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que lutou para que seu agressor viesse a ser condenado por conta das agressões sofridas que a deixou paraplégica. Em 2002, dezenove anos depois, ocorreu a condenação do seu marido, quando faltavam apenas seis meses para a prescrição do crime. O seu marido Heredia foi preso e cumpriu um terço da pena, solto em 2004. Ela tornou-se líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres e vítima emblemática da violência doméstica. Em sua homenagem, no dia 7 de agosto de 2006, foi sancionada a lei que leva seu nome: a Lei Maria da Penha. Ela é fundadora do Instituto Maria da Penha, uma ONG sem fins lucrativos que luta contra a violência doméstica contra a mulher. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

O CÃO DE GUERRA E A DOR DO MUNDO - [...] Então você ainda é nosso Mestre,” disse Sabrina. Ela estava carrancuda. Ela voltara a ter medo. "Não tão!" Lúcifer se virou, quase com raiva. [...] Vocês são seus próprios mestres. Seu destino é seu. Suas vidas são suas. Você não vê que isso significa o fim do milagroso? Você está no início de uma nova era para o Homem, uma era de investigação e análise. [...] “A Era de Lúcifer,” eu disse, ecoando um pouco de Sua própria ironia. Ele viu a piada nisso. Ele sorriu. [...] O homem, seja ele cristão ou pagão, deve aprender a governar a si mesmo, a compreender a si mesmo, a assumir a responsabilidade por si mesmo. Não pode haver Armagedom agora. Se o homem for destruído, ele terá destruído a si mesmo. [...] “Portanto, devemos viver sem ajuda”, disse Sabrina. Seu rosto estava clareando. "E sem impedimentos", disse Lúcifer. “Serão seus companheiros, seus filhos e os filhos deles que encontrarão a Cura para a Dor do Mundo.” “Ou morrer na tentativa,” disse eu. “É um risco justo,” disse Lúcifer. “E você deve se lembrar, von Bek, que é do meu interesse que você tenha sucesso. Tenho sabedoria e conhecimento à sua disposição. Sempre tive esse dom para o Homem. E agora que posso dar livremente, escolho não fazê-lo. Cada fragmento de sabedoria será conquistado. E será conquistado com muito esforço, capitão. [...]. Trechos extraídos da obra The War Hound and the World's Pain (Timescape, 1981), do escritor britânico Michael Moorcock, autor da frase: Eu me considero um péssimo escritor com grandes ideias, mas prefiro ser isso do que um grande escritor com ideias ruins.

 

DOIS POEMAS - VOCÊ É O INÍCIO E O FIM DA MINHA POESIA – Você é o começo e o fim da minha poesia. \ Por ti creio aqueles versos transbordantes de harmonia \ E contigo termina este capítulo da minha vida. \ Foste o sol nascente e o poente do meu riso \ E a ti devo o título de romântico perdido \ Que sulcará o mundo, mesmo depois dos meus dias. \ Só minha era a esperança de esvaziar minha vida em você \ E minha apenas acreditar que você também me amava, \ Com o coração na mão, como eu o ofereci a você. \ Deus ouviu minhas orações para tirar você da minha vida \ E hoje é Ele quem me ampara, me dando o valor \ Que morreu quando te conheceu, uma manhã um dia. \ Você é o começo e o fim da minha poesia, \ a memória e o fantasma que carregarei todos os dias, \A respiração que à noite vai beijar minha bochecha. \ Minha alma morre jovem, como o sol lilás do inverno, \ Minha alma morre de dor, como um pássaro no deserto, \ Minha alma morre em silêncio, enquanto você envelhece. \ E olharás o passado com olhar perdido, \ Com os olhos encharcados, sulcando um vidro fino, \ Sem poder mudar a noite que decidiu nossas vidas. \ Você é o começo e o fim da minha poesia, \ o novo verso que sempre vai bater na minha alma, \ mas com esse novo verso me despeço da sua vida. ADEUS AMOR – Eu te amei com toda a minha alma! \ Deus sabe o quanto eu te amei! \ Eu te dei meu corpo, minha alma \ e a vida eu te dei. \ Eu te amei com toda a minha alma, \ mas o que você fez ontem \ destruiu toda a confiança \ que eu poderia depositar em você. \ Que dor te encontrar \ Com aquela outra mulher, \ E descobrir que você estava mentindo \ Como nunca sonhei. \ Eu te amei com toda a minha alma \ E é impossível voltar \ Sentir o que eu sentia \ Quando era seu único amor. \ E não tente me explicar, \ não me importa o porquê. \ Não tente se desculpar: \ o papel não combina com você. \ Não tente se justificar \ que hoje percebi que \ entre você e eu não havia nada,\ Eu apenas sonhei. Poemas da poeta equatoriana Karina Gálvez.

 


A CIDADE DAS TORRES: A RADIOSA CIDADE CORBUSIANA - Analisando a teoria de que a casa era uma máquina de morar, Peter Hall inicia uma crítica à obra de Lê Corbusier, no capítulo “A cidade das torres – A radiosa cidade corbusiana: Paris, Chandigar, Brasilia, Londres, St.Louis (1920-1970)” de sua obra “Cidades do amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos no século XX”. Em sua análise, encontra-se que Peter Hall observa a Cidade Radiosa, ou a “La Ville contemporaine”, ou “ La Ville radieuse” planejada por peritos que compreendessem a ciência do urbanismo e que resultasse numa Assemblée de Constructeurs por une Rénovation Architecturale – ASCORAL, influenciando, inclusive, Lucio Costa e Oscar Niemeyer na construção de Brasília, faziam o arcabouço da idéia corbusiana mais conhecida como cidade das torres, sonhada pelo arquiteto suíço para atender a população geral da França e de outros países.
A partir de uma leitura ao capítulo “Cidade das Torres – A radiosa cidade corbusiana: Paris, Chandigar, Brasília, Londres, St. Louis (1920 – 1970)”, compreende-se que Lê Corbusier e sua “casa-máquina vale quanto se pensa”, com o seu Modulor, quando o homem pode ser a medida e a referência de tudo, então é a partir dele e das suas necessidades básicas que o pensamento arquitetônico vai ser pautado. E tendo em vista Le Corbusier, forte crítico da arquitetura pré-moderna, ter pautado o seu pensamento em uma ótica racionalista e de intenso cunho instrumental, com essa perspectiva, ele defendia que a cidade devia cumprir seu papel instrumental, lamentando que ela já não cumpre essa função, porque são ineficazes: desgastam o corpo, contrariam o espírito. A desordem que se multiplica nelas é ultrajante: sua decadência fere o amor-próprio e melindra a dignidade.
Antes de tudo, porém, é preciso entender que Charles Édouard Jeanneret, conhecido por Le Corbusier, nasceu na Suíça em 1887, mas viveu a maior parte da sua vida na França. Foi o mais famoso arquiteto da escola modernista. De inúmeras facetas, fez escultura, móveis, paisagismo e pinturas. Em 27 de Agosto de 1965 morreu afogado no Mediterrâneo. O entre suas obras mais importantes temos, a Villa Savoye; a Fondation Le Corbusier - FLC e Le Patrimoine Le Corbusier à Firminy, onde se encontram vários trabalhos do arquiteto.
Le Corbusier foi arquiteto, escultor, pintor, escritor e um pensador revolucionário e inovador. Foi um visionário cheio de idéias e conceitos que mexeu profundamente com o pensamento da sua época e definiu fortes inovações na arquitetura do seu tempo.Ele idealizava o tamanho padrão do homem com 1,83m e criou uma série de medidas proporcionais que dividia o corpo humano de forma harmônica e equilibrada. Isso servia para orientar os seus projetos e suas pinturas e baseava-se na "razão de ouro", uma proporção matemática considerada harmônica e agradável a visão. Essa "razão de ouro" é a divisão de qualquer segmento de reta em duas partes desiguais onde a menor está para a maior, assim como a maior está para o segmento inteiro. Com base nessas proporções constrói-se o retângulo de ouro, do qual, extraindo-se um quadrado sobra outro retângulo com as mesmas proporções. Se você quiser mais explicações sobre esse interessante capítulo da matemática acesse o endereço que vamos deixar no final do texto mas o fato é que Lê Corbusier baseou muito do seu trabalho nessas medidas. Também criou o "Modulor", um sistema de medidas e proporções baseado nos números de ouro e aplicou isso em vários sentidos. As suas espirais eram baseadas na colagem de retângulos de ouro e todo um mecanismo matemático. Nem sempre obteve sucesso, como no caso do uso da espiral de ouro mas, acarretou a mudança do pensamento e criou novos rumos para os projetos de arquitetura. O Modulor apresentado ao público na metade do século XX foi um sucesso e alguns anos depois Le Corbusier faria uma nova publicação, baseada no sucesso da primeira. A principal preocupação do arquiteto em seus projetos era a funcionalidade. As edificações eram projetadas para serem usadas e com isso todos os enfeites e decorações eram rejeitados. As linhas eram simples e funcionais, cada coisa tinha uma razão de ser e o objetivo maior era o bem estar dos usuários. Esse purismo, um reflexo de sua personalidade, foi a sua principal marca registrada, junto com uma ousadia necessária a quem tem idéias revolucionárias. Le Corbusier olhou para o mundo como um trabalho a ser desenvolvido, como uma obra a ser modificada e dedicou-se a isso com todas as suas energias. Foi um homem que marcou sua época. O seu desprezo pelos adornos e enfeites não o impediu de construir edifícios bonitos e agradáveis. Dono de um estilo próprio, nos presenteou com idéias arrojadas que hoje são comuns mas definiram uma mudança, no tempo em que foram idealizadas. A maior parte de sua vida foi na França, onde acabou morrendo em 1965, aos 78 anos. Havia projetado para si um túmulo que foi construído imediatamente após a sua morte e para lá foi posteriormente transferido. Por que terá desenhado um túmulo para si? Que idéia de funcionalidade tinha nesse momento. Apenas 8 anos após esse projeto, morreria.
Mais conhecido como arquiteto, o artista foi polivalente no mundo das artes. Pintou, escreveu e participou de movimentos que instigavam o mundo a uma nova forma de pensamento e buscavam a funcionalidade das coisas. Participante do movimento purista o artista não buscava uma construção nem uma pintura decorativa e ornamental, não procurava a emoção ou a espiritualidade. Seu objetivo era o funcionamento prático e objetivo de todos os traços idealizados por sua mente criativa. Foi moderno no tempo do modernismo e continua sendo, nos tempos da atualidade. Peter Hall deixa claro que a leitura que Le Corbusier faz sobre a cidade não é a partir de dados reconhecidos na realidade visível das cidades. O máximo que ele reconhece é que a cidade já não resolve e nem comporta o novo comportamento humano, a nova vida moderna. Mas em nenhum momento tenta identificar na realidade presente possíveis soluções. A solução não está nessa realidade. Portanto, não atribui valor a quase nenhum atributo morfológico histórico e propõe a sua própria morfologia. E essa leitura da cidade moderna passa pela concepção subjetiva de Le Corbusier. A cidade é filtrada pela mente corbusiana e relançada à ordem geométrica da racionalidade científica e retificada das suas imperfeições e feita, modelo e imagem, a sua própria “semelhança.” Ou seja, aquilo que a cidade passa a ser é menos resultado da ordem cotidiana e mais uma ordem racionalista corbusiana. Peter Hall entende que para ele, o caos e a desordem da cidade pré-moderna devem passar por uma transformação. E essa transformação é constituída de um ato de ordenar, de retificar, no sentido de tornar reto, alinhado, segundo os preceitos da boa ordem arquitetônica – sempre na ótica de Le Corbusier.
Vê-se, com isso, que para Le Corbusier, o contexto é reinventado para a realização eficiente de um modelo idealizado de realidade que só poderá ser executado dentro de uma lógica racional e menos historicista. A razão não deve se submeter aos preceitos históricos. A única história que vale é a que remete ao futuro e o alimente em termos de ideais a se perseguir. O arquiteto trabalhava sempre em estreita colaboração com a mesma equipe de artistas: escultores, vitralistas, iluminador, serralheiro, chaveiro e decorador. O mobiliário funcional que desenhou – entre os quais uma famosa cadeirinha em tubo metálico negro – é a alegria dos colecionadores. Seu Plan Voisin de 1925 nada tinha a ver com as unidades de vizinhança,e sim com o sobrenome do fabricante de aviões que o patrocinava.Seus dezoito edifícios uniformes de 700 pés de altura teriam acarretado a demolição da maior parte da Paris histórica ao norte do Sena. Seus princípios urbanísticos foram desenvolvidos sobretudo em La Ville contemporaine(1922) e La Ville radieuse(1933) até o Movimento City Beautiful que significava planejar sem propósitos sociais - ou até com propósitos retrógrados: o movimento zoneador, era, no mínimo, socialmente excluidor, em seu intuito e impacto. Isto porque o planejamento passou a depender ùnicamente da "aliança dos interesses imobiliários com os eleitores de renda média e casa própria", que não tinham qualquer interesse em programas para realojamento do pobre, num nítido contraste com a Europa, onde uma forte consciência operária aliou-se a uma burocracia intervencionista. O que surgiu, em contrapartida, foi algo singular e inconfundivelmente norte-americano: um movimento voluntário dedicado a salvar o imigrante (especialmente a imigrante) de seus próprios erros e excessos, socializando-o dentro dos padrões de vida norte-americanos, e adaptando-o à vida urbana. Defendia Corbusier que agora todos iriam morar em gigantescos prédios coletivos,denominados Unités, baseando-se de quando estivera na União Soviética.E,na década de 20,um importante grupo de arquitetos soviéticos - os urbanistas - desenvolvera idéias muito próximas das dele, são quase idênticos,até nos pormenores,ao Unité tal como foi desenvolvido na Cidade Radiosa,e como foi efetivamente construído em Marselha,em 1946.Mas,depois de 1931,o regime soviético rejeitou o parecer de Le Corbusier.
Quando, por volta dos anos 40, suas idéias novamente se modificaram. Sua ASCORAL (Assemblée de Constructeurs pour une Rénovation Architecturale), fundada durante a guerra,alegava que Les cités radiocentriques des échanges,os centros de educação e recreio,ainda projetados no velho estilo corbusiano, deveriam ser ligados entre si pelas cités linéaires industrielles, linhas contínuas de industrialização dispostas ao longo de corredores de trânsito. Fora-se seu otimismo com respeito à cidade grande: a seu ver, a população de Paris deveria cair de 3 milhões para um milhão apenas. Tais noções guardavam curiosos ecos dos desurbanistas soviéticos da década de 20, que Le Corbusier tão acremente criticara. Continuava implacavelmente contrário à idéia de cités-jardins, que ele coerentemente confundia,como a maioria de seus colegas planejadores franceses,com os subúrbios-jardim.
No planejamento de Chandigar, o governo da Índia decidira, por razões políticas,construir uma nova capital para o Punjab em Chandigar. Contratou,para tanto,um planejador urbano, Albert Mayer, que elaborou um projeto adequado,dentro da linha Unwin-Parker-Stein-Wright.O projeto foi aprovado,só que ficou decidido que se chamaria uma equipe formada pelos mais prestigiosos arquitetos da época - Le Corbusier,seu filho Jeanneret,Maxwell Fry e Jane Drew - para dar-lhe expressão.
A partir da leitura do capítulo estudado, vê-se que nascido em Chaux-de-Fonds, na Suíça, e naturalizado francês em 1930, Charles-Edouard Jenneret, pintor, arquiteto, decorador, teórico e escritor, assumiu o nome de Le Corbusier em 1920 em Paris, onde publicara com seu amigo, o pintor Amédée Ozenfant o manifesto do purismo Após o Cubismo, e colaborara para a revista L’Esprit Nouveau. Apaixonado por arquitetura desde a adolescência, grande viajante que se tornou um urbanista visionário e “propagandista da modernidade”, ele milita por uma arquitetura nova, “em escala humana”, dentro de um contexto onde o homem se encontre “em harmonia com as condições da natureza: sol, espaço, verdor”. Deve-se a ele a construção de diversos imóveis públicos e privados, alguns dos quais célebres mansões de volumes abstratos, onde coloca em prática “os 5 pontos de uma nova arquitetura”: pilotis, plano livre graças ao abandono da parede de sustentação, fachada livre com painéis de vidro, janelas com bandô, terraço-cobertura.
Le Corbusier também desenhou o plano diretor e construiu os principais edifícios administrativos da cidade de Chandigarh, na Índia, e realizou na França suas famosas “unidades habitacionais”, a mais célebre das quais é a Cidade Radiosa, de Marselha, com seus 350 apartamentos distribuídos por 8 andares, dentre verdadeiros patrimônios.Para Peter Hall o pecado de Le Corbusier e dos corbusianos está, portanto, não em seus projetos mas na leviana arrogância com que foram impostos a uma gente que não podia arcar com eles. Veja mais aqui.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
ABREU, Mauricio. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.
BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o império: o Rio de janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 2004
CARVALHO, José Murilo. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a república que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987
COUTO, Ronaldo Costa. Brasília Kubitschek de Oliveira. São Paulo: Record, 2006;
DUARTE, Fabio. Crise das matrizes espaciais. Arquitetura, cidades, geopolítica, tecnocultura. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002.
EISENMAN, P. Diagram diares. New York, Universe Publishing. 1999.
HALL, Peter. Cidades do amanhã. São Paulo: Perspectiva, 2005.
LAMAS, J.M.R.G. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbekian/Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2000.
LE CORBUSIER. Urbanismo. São Paulo, Martins Fontes, 2000.
MONTANER, J.M. Depois do Movimento Moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gilli, 2000.




ANTONIO CANDIDO – O DISCURSO E A CIDADE

ANTONIO CÂNDIDO – o poeta, ensaísta, professor universitário e critico literário Antonio Candido é professor emérito da USP e da UNESP, doutor honoris causa da Unicamp e autor de uma obra digna de registro. Entre os seus livros, “O discurso e a cidade”, onde o autor nas suas três partes e apêndices, aborda a questão do discurso e a cidade sob a ótica da dialética da malandragem, degradação do espaço, o mundo-provérbio e de cortiço a cortiço. Em seguida as quatro esperas: na cidade, na muralha, na fortaleza e na marinha. Logo após, fora do esquadro abordando a carta marítima, a poesia pantagruélica, ponto do mal e o poeta itinerante. Nos apêndices: carta marítima e louvação da tarde. Veja mais aqui e aqui. 

FONTE:
CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 2004.



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