DITOS & DESDITOS – Eu digo, vida e figura são atributos distintos de uma
substância, e como um e o mesmo corpo pode ser transmutado em todos os tipos de
figuras; e como a figura
aperfeiçoadora compreende o que é mais imperfeito; assim, um mesmo corpo
pode ser transmutado de um grau de vida a outro mais perfeito, que sempre
compreende nele o inferior. Pensamento da filósofa inglesa Anne Conway (1631-1679). Veja mais
aqui.
ALGUÉM FALOU: O propósito da música é levar o
ouvinte a um reino de consciência, em que a revelação do verdadeiro sentido do
universo possa ser vivida com alegria. Pensamento do
compositor e músico indiano Ravi Shankar (1920-2012). Veja mais aqui.
OUTROS DITOS: Foi preciso um acúmulo incrivel de
fracassos para eu encontrar o meu caminho. Pensamento do pintor venezuelano
Carlos Cruz-Diez (1923-2019), um dos
principais artistas da arte cinética.
AS SEREIAS DA ARGONÁUTICA - [...] A viagem
de regresso compreende várias peripécias: desde a fuga e o assassinato
de Absirto, até à travessia de Cila e Caríbdis e as sereias.
[...] Por outro lado, Orfeu tem aqui o papel mais importante. Quando entoa um cântico que salva os
seus companheiros do feitiço do canto das sereias,
tem uma intervenção verdadeiramente vital, sem a qual teriam perecido.
Considerando o catálogo, que é o efetivo começo da narração, e o término
da história, pode verificar-se que ele inicia um movimento que começa
com Orfeu, passa por Héracles e segue pelo tipo de herói que cada um
representa, tornando ao primeiro. [...]. Trechos extraídos da obra Argonautiques (Les Belles Lettres, 1980) do poeta grego Apollonios de Rhodes (295-215aC), na qual traz o relato da sirena Partenope, uma ninfa serva de Perséfone que com seu
canto enfeitiçava os marinheiros para a morte. Ao tornar-se pássaro ela se
estabelecer na ilha da Antemoessa quando foi encontrada pelos argonautas que
foram salvos por Orfeu.
A CIDADE NO INVERNO - [...] Sente o medo
apertando-lhe o peito, e também aquela comichão de prazer que lhe vem assim que
se despede dos companheiros e toma a larga avenida. [...] a certeza de se aproximar de algo que lhe
pertence completamente. Algo escuro, desconhecido e imenso [...] quando decide voltar para casa, a noite já
se tornou enorme. [...]. Trechos extraídos da obra La ciudad en invierno
(CdT, 2007), da escritora espanhola Elvira Navarro.
BONSAI – [...] Você escreve romances, esses romances de
capítulos curtos, de quarenta páginas, que estão a moda? Julio: Não. E acrescenta,
só para dizer alguma coisa: O senhor me aconselha a escrever romances? Olhe só
que pergunta você fez [...] No final ela morre e ele fica sozinho, ainda
que na verdade ele já tivesse ficado sozinho muitos anos antes de morte dela,
de Emilia. Digamos que ela se chama ou se chamava Emilia e que ele se chama, se
chamava e continua se chamando Julio. Julio e Emilia. No final, Emilia morre e
Julio não morre. O resto é literatura [...]. Trechos extraídos da
obra Bonsai (Cosac Naify, ), do escritor chileno Alejandro Zambra.
POESIA – Alguém disse: / Você não é poeta,/ Pois se esqueceu de que / Poesia é
uma arte e – / Arte é ritmo com sentido. / Agora, o que é ritmo, / Se posso
perguntar?/ Alguns dizem que são sílabas marchando,/ Outros, que são sons
marchando,/ Agora me digam como casar os dois./ Lutamos contra Shakespeare no
campo de batalha./ Negros lutaram contra boers com suas lanças./ Estas são
sílabas marchando / E isto é arte para alguns,/ Mas como posso casar os dois? /
Que tal um ritmo diferente? / Pessoas morrem nos guetos,/ De ataques da polícia
e tiros do exército, / Trabalhadores sufocam dentro de minas de carvão, / Cavando
o carvão que não têm como comprar, / Para cozinhar diariamente e se
alimentarem./ Coisas poéticas estas./ Então, concordemos em discordar – / A
arte serve. Poema da poeta e feminista zimbabuense Freedom Nyamubaya (1960-2015), guerrilheira na luta pela
independência de seu país, integrando as célebres "guerrilhas-poetas"
do Zimbábue.