
Estudos científicos e pesquisas de opinião mostram que, apesar da população brasileira de grandes centros urbanos estar razoavelmente informada sobre a doença, existe um descompasso entre o nível de informações sobre a doença e o que concretamente acontece em termos de prevenção.
A antropologia pode contribuir para entender a complexidade dessa questão. Para compreender as dificuldades da prevenção da Aids é necessário considerar que qualquer ação preventiva, como qualquer outro fato social, está cercada de códigos, relações e interpretações sociais e culturais. Uma questão fundamental é a racionalidade implícita nos pressupostos das ações preventivas. Nesse contexto, tudo se passa como se o conhecimento técnico-científico da doença, portanto baseado na racionalidade, por si fosse suficiente para convencer as pessoas a mudar de comportamento. Muitos exemplos mostram que, apesar de informadas sobre a doença, as mulheres não mudaram de comportamento, mesmo com a ameaça da Aids. O que poderia, na prática clínica, ser ampliado para várias outras situações. A questão fundamental é por que a informação não leva, necessariamente, às desejadas mudanças de comportamento.
A informação é fundamental para a prevenção de doenças, sendo uma questão de cidadania. Todavia, não é o único ingrediente presente nessa complexa relação entre saber/conhecer a doença e fazer algo concreto em termos de prevenção. Nos diversos estudos realizados pela comunidade acadêmica, surgem duas questões muito importantes: a de que as pessoas fazem parte de um contexto cultural em que suas escolhas fazem sentido ou não de acordo com o que é valorizado socialmente, e para se pensar a prevenção não se pode ter um olhar individual e particular sobre o problema. Transpondo esse raciocínio para a prevenção da Aids, é necessário buscar a lógica que dá sentido ao comportamento arriscado das mulheres. Embora contaminadas ou expostas ao HIV em contextos muito diferentes (e a prostituição é uma situação limite quanto aos perigos), a cultura é o filtro pelo qual os perigos são reconhecidos e prevenidos ou não. A prevenção de doenças, no caso a Aids ou qualquer outra que envolva mudanças de comportamento, é difícil de ocorrer. Todavia, não é impossível. Uma possível estratégia seria o discurso de prevenção tentar se aproximar ao máximo do universo cultural da população que pretende atingir. É bom lembrar, também, que toda mudança de comportamento tem limites, sejam eles culturais, sociais, econômicos ou psicológicos que devem ser respeitados, ainda que caminhem no sentido contrário à promoção da saúde em geral. Com isso, passa-se a entender que a prostituição é uma atividade condenada, desprezada e isolada pela sociedade, apesar deste poder ter como uma das suas causas, a própria desigualdade social e econômica. E sendo essa desigualdade, algo extremamente antigo em nossas sociedades, encontramos citações sobre a prostituição ao longo da história da humanidade, sendo que em alguns momentos ela é vista enquanto atividade estigmatizada e em outros, segundo Tannahill (apud Abramovay, 1999), assume um papel sagrado como no caso dos Sumérios e Babilônios. Ainda segundo o autor, em achados arqueológicos da época de Hamurabi (1750 a.C.), encontrou-se citações sobre as prostitutas sagradas, as quais podiam estar relacionadas a rituais de fertilidade. Tannahill (Abramovay, 1999) ainda faz referência a vestígios que datam do período após a época de Salomão, onde são citados os prostitutos homens da terra. Segundo Martin (1999), apesar de antiga, a prostituição ainda existe e vem apresentando um grande crescimento no número de seus profissionais, os quais objetivam a busca do prazer e/ou do dinheiro. Assim, a prostituição homossexual vem se mantendo “[...] em quase todos os períodos da história da humanidade, adaptando-se as variáveis de tempo, crenças e valores, de acordo com a cultura na qual ela se insere” (Martin 1995:.3). Para Gregersen (apud Brasil, 1999), a prostituição masculina tem sua história sempre ligada as práticas homossexuais, assim não havendo relatos nas sociedades mais antigas de mulheres fazendo uso dos serviços oferecidos por estes profissionais. Goldenson & Anderson (apud Brasil, 1999:.3) definem “a prostituição homossexual como forma de prostituição pela qual garotos ou jovens prestam serviços sexuais para outros homens em troca de dinheiro ou de outras vantagens, como favores ou proteção na prisão”. Perlongher (apud Martin, 1999) e Goldenson & Anderson (apud Brasil, 1999) definem os michês, como jovens que vendem os seus serviços sexuais para homens que estão a procura de práticas homossexuais, sendo que em sua causística de rua, a freqüência feminina enquanto clientela é insignificante. Ainda segundo os autores esse termo está relacionado ao ato de prostituir-se, porém sem deixar a masculinidade para um segundo plano. Assim, o michê se traveste de homem, da mesma maneira que o travesti de mulher (Fry & Macrae apud Brasil, 1999). Segundo Morse et al. (apud Martin 1999), “[...] a prostituição, abuso de substâncias (álcool, drogas), uso inadequado e inconsciente do condom, comportamentos sexuais inseguros, além dos riscos intrínsecos dos parceiros (promiscuidade, uso de drogas endovenosas) são componentes de risco para os quais a prostituição masculina tem alta propensão”. Assim, fazendo dos michês um importante elo epidemiológico na aquisição e transmissão do HIV entre indivíduos de alto risco para população.
Sabemos que hoje a pandemia Acquired Immunedeficiency Syndrome (AIDS), a qual tem como agente etiológico o Human Immunodeficiency Virus (HIV) é um grande problema de saúde pública para todas as sociedades contemporâneas. Sendo que sua gravidade advém do fato de que o agente infeccioso que a causa é um retrovírus que afeta sobretudo as células do sistema imunitário. A Aids é uma doença crônica, sua evolução geralmente é lenta, e em pouco mais da metade dos casos passam-se 10 anos entre a contaminação e o momento em que o paciente, que até então não apresentava nenhum sinal clínico, desenvolvia a doença. Nesse intervalo, ele é ‘soropositivo’. O HIV como já dissemos é um retrovírus, ou seja, é um vírus que possui o Ácido Ribonucléico (ARN, em inglês RNA) como material genético, porém através de uma enzima denominada transcriptase reversa, o ARN é transcrito numa cópia de Ácido Desoxirribonucléico (ADN, em inglês DNA) no interior da célula. É essa cópia que consegue se integrar no seio de longas fitas do DNA celular que constituem os cromossomos. O DNA do vírus (chamado provírus) comporta um conjunto de genes que são novamente transcritos RNA chamados mensageiros, porque induzem a síntese das proteínas do vírus, que juntam-se para formar partículas virais que brotam na superfície da célula. A partir daí o ciclo pode recomeçar.
Dentro desse panorama se faz mister discutir a problemática das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) para que possamos compreender sua participação na infecção pelo HIV. O termo Doenças Sexualmente Transmissíveis surgiu com o objetivo de diminuir o estigma que estava relacionado com o termo doenças venéreas. As DSTs podem ter como agentes etiológicos, vírus, bactérias, protozoários, fungos e ectoparasitos, havendo doenças que tem a sua transmissão mais relacionada do como as relações se processam e existem outras que não necessitam de um contato tão estreito entre os corpos, como é o caso do “chato” ou P. pubis, o qual se trata de um ectoparasito. Atualmente, existem evidências de que a transmissão do HIV seja maior na presença de DST, tendo em vista que neste quadro os linfócitos T ativados pela DST facilitam a infecção pelo HIV no novo hospedeiro, além de poderem estar relacionadas as práticas do sexo não seguro e da promiscuidade sexual.
Por outro lado, os adolescentes apresentam diferentes interesses e entendimentos sobre os perigos das DST, AIDS e drogas, encontrando-se, assim, sob risco de infecção. De uma maneira geral, eles têm dificuldade de identificar o comportamento de risco do mesmo ponto de vista dos adultos. Como as lideranças adolescentes, geralmente, são vistas por seus colegas como exemplos, a idéia de treinar adolescentes utilizando-se a metodologia de larga escala, para desenvolverem atividades educativas em prevenção de DST e AIDS junto aos seus colegas da escola e da comunidade, surgiu como uma solução estratégica de abordagem preventiva. A proposta baseia-se em um trabalho de grupo através da troca de experiências e conhecimentos, buscando aumentar a percepção de risco e orientar para a adoção de práticas seguras. O objetivo desta intervenção é levar os adolescentes a desenvolverem os conhecimentos necessários quanto a percepção de risco e opções de atitudes saudáveis, relacionadas com a sexualidade e a prevenção das DST, da AIDS e das drogas. A metodologia de larga escala é usada capacitando profissionais que prepararam os lideres adolescentes que desenvolvem ações de prevenção junto a outros adolescentes abrindo assim o leque de pessoas informadas pelos seus pares. Assim, a promoção à saúde e a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, com ênfase na aids, e do uso indevido de drogas no ambiente escolar através da capacitação presencial de professores e alunos é uma ferramenta importante.
O trabalho de prevenção junto a rede escolar exige a articulação entre as secretarias estaduais e municipais de saúde promovendo atividades de prevenção ao uso indevido de drogas e às doenças sexualmente transmissíveis na rede escolar. A metodologia utilizada inclui a capacitação de professores (multiplicadores) e alunos (monitores) para atuarem entre seus colegas - multiplicação em pares. Os professores serão capacitados através de oficinas e de dinâmicas, proporcionando, entre outros elementos, subsídios para a identificação, entre seus alunos, aqueles que deveriam ser recrutados e capacitados - os monitores. Estes alunos desenvolvem atividades de prevenção junto a seus colegas de escola discutindo com seus companheiros os conhecimentos adquiridos sobre a sexualidade, as drogas e as doenças sexualmente transmissíveis. Abordam, também, outras formas de prevenção a possíveis efeitos indesejados que podem acontecer neste período da vida: a gravidez indesejada, o uso indevido de drogas, a violência ou a contaminação por uma doença sexualmente transmissível, incluindo a aids.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVAY, Miriam (et al.), Gangues, galeras, chegados e rappers : juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília. Rio de Janeiro: Garamond, 1999.
BRASIL: Ministério da Saúde, Crianças e Adolescentes – Prevenção de DST/aids e do uso indevido de drogas, s.d.
_____. Sexualidade, Prevenção das DST/Aids e uso Indevido de Drogas (Diretrizes pra o tabalho com crianças e adolescentes). Brasília: MS, 1999
MARTIN, D. Mulheres & Aids: uma abordagem antropológica. São Paulo: USP< 1995
_____. A construção cultural do risco: o cotidiano da prostituição em Santos. São Paulo: USP; 1999.

DEWEY, JOHN. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.

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