A VIUVA DA CAUSA – Emily enviuvou e não abdicou da família Stowe, da mesma forma que se manteve Jennings no casamento. Desde Ontário, quando seu pai se converteu ao metodismo, sua mãe manteve a si e as filhas como quakers, estudando na escola estadunidense de Rhode Island. Ao tentar ingressar na faculdade de Ontário foi recusada por ser mulher, matriculando-se noutra escola em Toronto. Formou-se para ocupar a direção de uma escola na sua cidade, a primeira a ocupar tal cargo no Canadá. Tornou-se professora e, além de lecionar, iniciou sua luta pública pela igualdade entre homens e mulheres. Daí então casou-se e, sete anos depois, enviuvou logo após o nascimento da terceira filha. Foi então que se decidiu a ser médica e recebeu a informação do vice-diretor: As portas da universidade não estão abertas para as mulheres e acredito que nunca estarão. Foi então que decidiu se formar nos Estados Unidos, retornando ao seu país natal para inaugurar uma clínica em Toronto. Durante os estudos conhece a ativista Susan Anthony, ocasião em que testemunhou as divisões das sufragistas estadunidense, frequentando clubes femininos de Ohio. Retornou ao seu país para fundar o Clube Literário Feminino de Toronto que, depois, tornou-se em associação pelo sufrágio feminino canadense. Daí, então, desenvolveu um trabalho sobre a saúde da mulher, fez campanha por melhores condições de trabalho e recebeu, finalmente, uma concessão para estudar, tendo em vista a exigência de profissionais com diplomas estrangeiros. Ali enfrentou hostilidades de docentes e discentes, recusando-se a realizar exames orais, decidindo abandonar a escola. O Conselho da classe médica concedeu-lhe licença para praticar a profissão com base na sua experiência homeopática. Tornou-se a primeira mulher a exercer a medicina no Canadá, a segunda a ser licenciada para a profissão no país. Ativista dos direitos e sufrágio da mulher, passou a presidir a Dominio Women’s Enfranchisement Association e denunciou a corrupção de grandes empresas e o governo. Incansavelmente fez campanha para a criação da primeira faculdade de medicina para mulheres, participou da Congresso Feminino da Exposição Universal e aposentou-se depois de ter o quadril quebrado. Não conseguiu presenciar o êxito de suas campanhas, faleceu muito antes. Viva Emily Howard Stowe (1831-1903). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS – Quando nos encontramos com amigos à noite, nossos amigos e
nós mesmos não somos a mesma pessoa à tarde. A tarde ou o dia ou o que quer que
seja. Porque pensei que todos nós temos poucas escolhas na vida. Acordar de
manhã e ir trabalhar não é uma escolha. É uma obrigação... Você pode tomar a
decisão de não sair para jantar. Você tem essa escolha. Você pode ligar dizendo
que está doente. Estou com dor de cabeça. Eu tenho um problema. Então, se você
sair, a educação – o mínimo que você pode fazer é trazer algo de si mesmo. O
seu lado mais ensolarado. E é isso que as pessoas fazem. E, portanto, as
pessoas mentem. As pessoas fingem. E o que há de adorável nisso é que é uma
espécie de pedido de desculpas. É um aspecto da vida que considero muito
importante na vida social. Você acredita em si mesmo. Isso faz você se sentir
melhor. Você tem uma espécie de entreato. Um intervalo em sua própria vida onde
você riu e contou piadas engraçadas, e fingiu que tudo estava indo bem com seu
casal, seus filhos e seu trabalho... Escrever o roteiro é um procedimento muito
íntimo porque você obviamente cria coisas que tem em mente e há uma liberdade
que deve existir... É mais um plano do que um sonho. Quando começamos a rodar
um filme, não sabemos como tudo vai correr, se vai ser um sucesso. Estamos
constantemente em dúvida. Este é um trabalho dos sonhos, mas todo projeto é
bastante imprevisível e cheio de surpresas... Meus filmes sempre foram uma
mistura de comédia e algo um pouco triste também. Estou sempre indo de um para
o outro. Como roteirista, fiz coisas muito diferentes. Eu realmente passei de
um diretor para outro e de um período para outro. Foi muito diversificado.
Agora, acho que talvez devesse ir para algo muito diferente e tentar pensar em
fazer um filme de época. Veremos... Pensamento da cineasta e roteirista
monegasca Danièle Thompson, que dirigiu, entre outros filmes, a premiada
comédia romântica Fauteuils d'orchestre (2006), que conta a história de Jessica,
interpretada pela belíssima atriz belga Cécile de France, uma jovem que
se muda de sua pequena cidade na Borgonha para Paris e lá começar uma vida nova
inspirada na sua vó Madame Roux que sempre amou o luxo. Na capital francesa ela
encontra dificuldade para encontrar trabalho e passa uma noite sem abrigo, até
consegui um emprego de garçonete num pequeno café, o Bar des Théâtres, que
seguia a tradição de nunca contratar garçons mulheres. Pois bem, ao ser
contratada pelo proprietário que aguardava grandes multidões, por conta das
proximidades com o Théâtre des Champs-Élysées e a sala de concertos da Avenue
Montaigne. Ela recebe as boas-vindas de uma das funcionárias dos bastidores do
teatro, Claudie, oportunidade em que conhece várias pessoas que estão lidando
com diversas crises ou mudanças na vida, como por exemplo Catherine, que é uma
atriz que foi rotulada por seu papel em uma popular novela de TV e que anseia
por fazer um trabalho mais gratificante artisticamente, alternando entre sua
novela de TV e a produção de uma peça de Georges Feydean , raramente
conseguindo tempo para dormir, exceto em táxis, tendo, inclusive, uma nova
oportunidade que surgiu quando o diretor de cinema estadunidense Brian Sobinski
chega por ali para lançar um novo filme baseado na vida de Simone de Beauvoir.
Outra pessoa que ela conhece é o Jean-François, que é um pianista de renome
mundial que não deseja nada mais do que partilhar a sua forma de tocar com
aqueles que menos a apreciam e afastar-se dos concertos formais de música
clássica, razão pela qual deixa sua esposa Valentine desconcertada e que também
é sua empresária, por todo o planejamento que ela fez para sua carreira. Um
outro que ela chega a conhecer é Jacques, que é um colecionador de arte que
decidiu vender sua coleção no fim da vida, juntamente com seu filho Frédéric que
têm um relacionamento um tanto tenso, o que não é ajudado pelo fato de Jacques
ter um relacionamento com Valérie, muito mais jovem, com quem o próprio
Frédéric já teve um caso, separando-se da esposa. Todos os três enfrentam
momentos decisivos em suas vidas na mesma noite, com Jéssica como um fio
condutor entre os três. A música do filme é outro importante detalhe do filme: foi
composta pelo compositor clássico de trilhas sonoras para filmes e peças de
teatro italiano Nicola Piovani, tendo como consultor técnico o pianista
francês François-René Duchâble, o qual incorpora o personagem Jean-François
Lefort, com elementos das atitudes expressas pelo próprio pianista em relação
ao mundo da música clássica. No filme, Jean-François afirma não gostar do
estresse e da formalidade do mundo da música clássica e deseja realizar
concertos para crianças e doentes, refletindo-se nas declarações públicas que
Duchâble fez em anos anteriores. O álbum com a trilha sonora (EQM, 2006) reúne momentos
inesquecíveis, com o finale da sonata A tempestade de Beethoven, a Consolação
nº 3 de Liszt, duas obras de Bécaud (Solidão não
existe e A Rosa é a parte importante), e o piano Concerto 2 de Rachmaninov.
Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU:
Comédia é tragédia mais tempo... Brinque, querido,
apenas brinque... Ninguém nunca disse que a vida era justa. Apenas agitada.
Porque ninguém passa a vida sem cicatriz. Só eu posso mudar minha vida. Ninguém pode fazer
isso por mim. Sempre cresci a partir dos meus problemas e desafios, das coisas
que não dão certo, foi aí que aprendi de verdade. Dar à luz é como pegar o
lábio inferior e forçá-lo sobre a cabeça. As palavras, uma vez impressas, têm
vida própria. Quando você tem um sonho, você precisa agarrá-lo e nunca mais
largá-lo. Pensamento da atriz, comediante, cantora e escritora estadunidense Carol
Burnett, que é autora da obra One More Time: A Memoir (Random House, 2003), expressando que: […] A calçada estava
toda rachada e ondulada, como pequenos morros, e as ervas daninhas subiam pelo
cimento. De qualquer forma, tive que andar de patins até lá, porque eles não me
deixavam perder de vista e podiam me observar do balanço na varanda da frente
da velha casa. Era difícil andar de skate lá, e eu
continuava caindo e ficando com feridas nos joelhos... Às vezes, quando me
deixavam sozinho no 102 para ir à loja, eu ligava o rádio e dançava pela sala. Eu subia nos móveis
e pulava do sofá para a cama e para a cadeira, pulando e girando o tempo todo. [...].
DOCES DIAS DE DISCIPLINA – [...] Eu ainda pensava que para conseguir algo você tinha que ir direto ao seu objetivo, ao passo que são apenas as distrações, a incerteza, a distância que nos aproximam dos nossos alvos, e então são os alvos que nos atingem. [...] É do conhecimento geral que um novo líder odiará os favoritos dos antecessores. Um internato é como um harém. [...] O vento enrugava o lago escuro e os meus pensamentos enquanto varria as nuvens, cortando-as com o seu machado; entre eles você poderia apenas vislumbrar o Juízo Final, declarando cada um de nós culpado de nada [...] A campainha toca, nos levantamos. A campainha toca novamente, vamos para a cama. Retiramo-nos para os nossos quartos; víamos a vida passar debaixo das nossas janelas, observávamos-na nos livros e nos nossos passeios, observávamos a mudança das estações. Foi sempre um reflexo, um reflexo que parecia congelar no parapeito das nossas janelas... Imaginávamos o mundo. O que mais podemos imaginar agora senão a nossa própria morte? A campainha toca e está tudo acabado [...] Pelo menos para aqueles de nós que passaram nossos melhores anos como internos. Encontramos nossas irmãs em seus rostos. Uma estranha familiaridade nos une, um culto aos mortos. Todas aquelas garotas que conhecíamos se infiltraram em nossas mentes, tornaram-se uma tribo; e eles voltam para nós numa espécie de florescimento póstumo. Empoleirados como estiletes em nossas sobrancelhas, dormindo em uma fileira de camas. Vejo meus pequenos companheiros de quando eu tinha oito anos, em lençóis brancos e brilhantes, com seus sorrisos, suas pálpebras baixas; seu olhar se esvaiu. Dividíamos nossas camas com eles. Também nas prisões os presos não se esquecem dos companheiros de cela. São rostos que alimentaram e devoraram nossos cérebros, nossos olhos. Não há tempo, naquele momento. A infância é antiga. [...] Nossas mentes são uma série de sepulturas numa parede. Nossas não-entidades estão todas lá quando o registro é chamado, criaturas gulosas; às vezes eles voam como abutres para esconder o rosto daqueles que amamos. Uma multidão de rostos habita as sepulturas, um rico pasto. [...]. Trechos extraídos da obra Sweet Days of Discipline (Paperback New Directions, 1993), da escritora suíça Fleur Jaeggy.
DOIS POEMAS
- O FIM DO MUNDO - Aqui, no fim do mundo, as flores sangram como se fossem corações, \ os
corações exalam uma escuridão como tinta nanquim, \ & poetas mergulham suas
canetas & eles escrevem. \ "Aqui, no fim do mundo," \ eles
escrevem, \ sem saber o que isso significa. \ "Aqui, onde o céu amamenta
com leite preto, \ onde a chaminé alimenta o céu, \ onde as árvores tremem de
terror \ e as pessoas passam a se parecer com eles... \ "Aqui, no fim do
mundo, os poetas estão sangrando. \ Escrevendo e sangrando são considerados
iguais; \ cantando e sangrando são considerados iguais. \ Escreva-nos uma
carta! \ Envie-nos um pacote de comida! \ Conforte-nos com provérbios ou frutas
cristalizadas, \ com falar de um Deus. \ Distraia-nos com teorias da arte
ninguém pode provar. \ Aqui no fim do mundo nossas cabeças estão vazias, \ &
o vento passa por eles como fantasmas através de uma casa mal-assombrada. AUTOBIOGRÁFICA
- O amante nesses poemas sou eu; \ o médico, Amor. \ Ele aparece como
marido, amante analista e musa, \ como pai, filho e talvez até Deus e
certamente a morte. \ Tudo isso é verdade. \ O homem para quem você recorre no
escuro são muitos homens. \ Este é um segredo aberto mulheres compartilham \ e
ainda concorda em se esconder \ Até parece eles poderiam então esconder isso de
si mesmos. \ Eu não vou me esconder. Escrevo nu. \ Eu cito nomes. Eu sou eu. \
O nome do médico é Amor. Poemas da escritora e educadora
estadunidense Erica Jong. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.