(Imagem: Acervo ArtLAM)
Ao som dos álbuns Uma Maneira de Dizer (Independente,
2012), Diários de Vento (Independente, 2016), Boa Noite pra Falar com
o Mar (Independente, 2016) e Tempo Sem Tempo (Yb Music, 2019), todos
da compositora e multi-instrumentista Joana Queiroz.
ICONOGRAFIA DA RUÍNA –
Quem ainda se lembra se o coração bate alheio e o tempo, ah o tempo passa veloz
afiada lâmina e pouco importa, as ruas e direções servem aos pneus
congestionados na pressa do relógio de quem bate no pulso porque tem de ir nem
se sabe direito pra onde. E vai acolá, o que tem de desembesto pragoraqui inadiável,
líquido e certo, urgente, o resto pra depois de amanhã. Decerto o depois
demorará a chegar, não tem de ficar à espera, não há mais muros nem janelas,
varandas ou terraços, apenas mausoléus e lavabos suntuosos no quadratismo
vertical, com suas vidraças espelhadas sobre as calçadas do vaivém desde ontens
e há muito. Dá pra notar: há tempos só troca de roupa, no ademais o mais do
mesmo. Só não passou quem está mais mole que um prato de papa ou mais velho que
um papa-figo estirado numa cama ou maca hospitalar. Só não passou quem está
entrevado que nem borreia engrenada na esquina, ou se acabando pelo fundo feito
panela. Isso também não importa, destampa a garrafa, goles e farras. Tudo passa.
Seria invencionice a cana em demasia: beira de rio, terreiro de casas, topo de
morros e nos cafundós da desgraça difusa Mata adentro e ninguém nem aí, vale o
esfolado no estrépito do consumo arrivista, ostentação e desencanto. A quem a
pachorra de se dar conta do tanto desolador, ninguém. Ninguém mesmo porque o deliberado
racismo fracking entra sem bater portas e com todos os dedos na ferida aberta
perfurando profundidade na carne do solo para extrair o xisto ou folhelho pro
gás natural em Vaca Muerta, um ecocídio Mapuche que agora desaloja os nossos
ameaçados pelo Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul e Tocantins, por enquanto. O
que estridula no bolso é emergencial, recados da hora, decisões iminentes e
ninguém quer passar batido, ora! Quem ainda se lembra vai clandestino, exilado
voluntário com exercício de inventar alvos móveis ou falsos. O que sei é se não
estou em apuros, confesso: no meio do caos e do medo. Pudera, há mais de
quinhentos anos à deriva, há mais de um século sucumbindo aos golpes – e por
falar em golpe, melhor se precaver: um novinho em folha está no ensaio dia após
noite, os que malograram já foram. Ah, quem acenou eu nem vi, quase sou
atropelado na faixa de pedestre; semáforos, vá entender. Quem aceitou foi
recusado, não sei como, ah não, basta de tantos nãos e coniventes sins, quanto
eufemismo à toa. Quem ainda se lembra eu não sei, só não esqueci sangue nas
veias. Até mais ver.
DITOS & DESDITOS
(Imagem: Acervo ArtLAM)
A
história, no sentido humano, é uma rede de linguagem arremessada para trás...
Pensamento
do professor e crítico literário francês George Steiner (1929-2020), que
no ensaio The Retreat from the Word (Kenyon Review (1961), inserido na obra Language and
Silence: Essays 1958-1966 (Macmillan
Pub Co, 1967), expressou que: [...] A linguagem só pode lidar significativamente com um segmento especial e
restrito da realidade. O resto,
e presumivelmente a parte muito maior, é silêncio.[...]. Quando uma
língua morre, uma maneira de entender o mundo morre com ela, uma maneira de
olhar para o mundo. [...]. Veja mais aqui.
TORDO - [...] Certos
passos você tem de dar sozinho. [...] A promessa de que a vida pode continuar, não importa quão
ruins sejam nossas perdas. Que pode
ser bom de novo. [...]. Trechos extraídos da obra Mockingjay (Scholastic Press, 2010), da escritora e roteirista
estadunidense Suzanne Collins. Veja mais aqui.
DUPLA
MORAL RACIAL - O racista se faz, não se nasce... Essas atitudes
são aprendidas e muitas delas são transmitidas de geração em geração como
durante um longo período, e constituem um código de valor-informação que é
transmitido a cada indivíduo no processo de socialização... Expressão do sociólogo,
antropólogo e professor espanhol Tomás Calvo Buezas, autor de obras como Los más pobres en el país más
rico: clase, raza y etnia en el movimiento campesino chicano (1981), Los
racistas son los otros. Gitanos, minorías y Derechos Humanos en los textos
escolares (1989) e La escuela ante la inmigración y el racismo.
Orientaciones de educación intercultural (2003), entre outras obras.
UM POEMA & DUAS FRASES
E o problema é que, se você não arriscar nada,
arriscará ainda mais...
(Imagem:
Acervo ArtLAM)
Eu estava
cansada de ser mulher, \ cansada da dor, \ do detalhe irrelevante do sexo, \
minha própria concavidade \ faminta inutilmente \ e mais vazia sempre que
estava cheia, \ e finalmente preenchida \ por seu próprio vazio, \ buscando o
jardim da solidão \ em vez dos homens. \ A cama branca \ no jardim verde - \ eu
ansiava \ por dormir sozinha \ do jeito que alguns anseiam \ por um amante. \
Mesmo quando você chegou, \ tentei espancá-lo \ com minha tristeza, \ minhas
seduções cínicas \ e meu truque de \ transformar um escravo \ em mestre. \ E
tudo porque \ você fez \ meus dedos doerem \ e meus olhos se cruzam \ numa
paixão \ que não sabia o próprio nome. \ Urso, fera, amante \ do livro do meu
corpo, \ você folheou minhas páginas \ e descobriu \ o que havia \ para ser
escrito \ do outro lado. \ E agora \ estou em branco \ para você, \ uma tabula
rasa \ pronta para ser impressa \ com letras \ em um idioma desconhecido \ pela
grande imprensa \ do nosso amor.
Frase
& poema Beast, Book, Body, da escritora e educadora estadunidense Erica
Jong, que ainda expressa: Todo mundo tem um talento. O que é raro é a
coragem de seguir o talento para o lugar escuro onde ele leva. Veja mais
aqui e aqui.
DIÁLOGO COM A MINHA AVÓ
- [...] Esta é uma história de muitas mulheres negras que lavaram,
passaram a ferro e foram as bases das nossas famílias. É por isso que mostrei
suas mãos. Por respeito pelas mãos que trabalharam tanto para construir uma
família [...] Há algo que não posso evitar dizer. Eles queriam distorcer
muitas vezes a imagem da minha avó... Desde a época colonial, eles inventaram
os padrões de uma indústria que não nos representa. Mas, infelizmente, muitas
pessoas em Cuba e outros países também reproduzem e vendem essas irresponsáveis
versões
coloniais. Por que essa imagem falsa e degradante da mulher negra? Por quê? Por quê? Por quê? [...]. Trechos extraídos de Diálogo com a
minha avó (2015), da premiada cineasta e roteirista cubana Gloria
Rolando, que também se expressou sobre o filme Reshipment (2014): Quando
falamos sobre a diáspora africana, às vezes as pessoas não sabem muito sobre o
que aconteceu na história do Caribe - e Cuba é uma ilha caribenha que
compartilhou muitos destinos com outros países do Caribe. Mesmo que falemos
espanhol e outros falem francês ou inglês, temos muitas coisas em comum. Então
eu acho que a expectativa, o interesse e a reação que eu vejo é porque
as pessoas querem saber o que aconteceu com o resto dos negros do continente...
Através dos meus filmes, eles conseguem ter um pedaço desse conhecimento.
Não consigo abarcar, em um documentário de uma hora, toda a complexidade da
história dos países caribenhos e de nossa história como pessoas negras. Mas
pelo menos o público pode obter alguns elementos que lhes permitem continuar
estudando ou fazendo mais pesquisas, especialmente a geração jovem...
VALUNA: ALTINHO
(Imagem: Acervo ArtLAM).
Enquanto
Jorge cantava correnteza abaixo...
De mim o
que jamais passou, a mesma coisa e não, processos dos devires. E tantos que ela
já era a Cabeleira de Altinho, da Chata e Mentirosas, Maracajá, Molambo...
Valuna:
homenagem ao Município de Altinho – Pernambuco. Veja mais aqui, aqui,
aqui e aqui.