Sou um poeta obscuro, os meus companheiros são poetas obscuros, nosso país é o amor...
(Nênia
de Abril, Veja mais aqui e aqui).
CARTA DE OUTONO - (Imagem Acervo ArtLAM) - Ontem choveu muito, hoje ensolarou,
que bom! Sempre assim pelas beiradas equatoriais dos trópicos, a ponto de nem
se saber direito se vigência estival ou reinado das
invernadas. Sempre assim. Por isso herdei do sonho o discernimento na mais
apurada solidão para perceber do que
clareia quando muito, ou se escurece por demais no desespero com a desventura esmerada,
e só olhares abertos para que a morte por lá se demore, muito embora eu mesmo
nem tenha lá razão para resistir. Faz tempo que a desgraça mandou ver em
dose dupla nos deixando num verdadeiro Campo de Asfódelos: a mais profunda treva de Érebo, qual catábase prévia e insuportável com exéquias perenes no pesadelo dos refugiados amedrontados,
insones e famélicos. Os que se acham acima da carniça por não terem cara de ladrão nem se comovem, mas deitam hipocrisia
mesmo não adiantando sair do conforto para tratar tudo por porqueira
ou partir pra serração da velha, ora pro nobis, valei-me deus! O
meu país tornou-se uma penitenciária aberta com um monte
de oh porque está bonito pra chover e pagam pra inglês ver com
o nada a declarar dos que
possuem mossa funda na reputação e que resolvem tudo pela justiça-do-rio-de-baixo. Ainda lembro e sei que esquecer é o pior de tudo: as
sequelas são dolorosas e sangram com a impunidade e supuram envenenando o
futuro. É costume não se passar nada a
limpo, nenhuma prova dos nove há séculos, só deixa pra
lá e festa da matança que não me deixa conciliar o sono com as memórias de mar
e terra nas mãos escassas aonde fui chegante e cortei volta, as conjuras surdas
de vírgula e reticências, coágulos de nenhuma aspa... Eu sei, na vida eu só bati catolé, preciso é tirar a lomba da
cacunda, como não sei. Aí é que está. Impossível dormir com a dor silenciosa dos sobreviventes,
remoem suas vidas no jeitinho que der. Quando não der mais, deixo de mão, até
o dia em que a sorte pouse em meus ombros,
embora eu nem acredite nisso, apenas persigo e vou lá por que preciso cantar... Bella Ciao... Nênia de abril... Até
mais ver.
Bella
Ciao: la canzone della libertá, na interpretação da guitarrista, cantante,
compositora e escritora espanhola Paola Hermosín.
TOMANDO NOTA: O
OUTONO DO PATRIARCA
[...] uma
pátria que então era como tudo antes dele, vasta e incerta, até o extremo de
que era impossível saber se era noite ou dia naquela espécie de crepúsculo
eterno [...].
Trecho
extraído da obra O outono do patriarca (Record, 1993), do escritor
colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014). Imagem: Sel-portrait II,
da artista plástica Eugênia França. Veja mais aqui.
DITOS
& DESDITOS: A maior parte da história ocorre ao ar livre, e os
acadêmicos vivem e pensam em ambientes fechados... Pensamento do escritor e
ilustrador canadense Bruce McCall.
ABRIL
DESPEDAÇADO: [...] Há muitas ocasiões para morrer [...] Foi apenas uma frase que passou de
boca em boca e nunca foi totalmente engolida. [...] E tudo seria diferente,
diferente. [...]. Trechos extraídos da obra Abril
despedaçado (Prilli i Thyer, 1978), do premiado escritor
albanês Ismail Kadaré, que no Brasil ganhou uma versão cinematográfica.
Veja mais aqui e aqui.
CANÇÃO DE
OUTONO
Poema e
imagem da escritora, pintora, professora e
jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
O DIA A
DIA, O AMOR... - [...] Parecem banalidades, coisas quase práticas,
mas que escondem a realidade [...] são os pequenos detalhes do
quotidiano que fazem a diferença. No fundo, apanhar em falso o que é
verdadeiro. Será sempre assim por entre as revoluções são os rostos que ficam,
os nomes que se distinguem, as praças que ficamos a conhecer... [...]. Pensamento
do premiado dramaturgo e poeta sueco Lars Norén (1944-2021), sobre a sua
minimalista peça teatral Do amor, tratando sobre os lados escuros e
difíceis da vida humana, psicológica e familiar, colocando em cena dois casais,
cujo homem e mulher de cada um deles acaba por se envolver um com o outro, materializando
um mal estar social. Ele também é autor da peça teatral Outono Inverno ou O
Que Sonhamos Ontem, que traz em cena as discussões e mágoas de um encontro
familiar entre um casal de idosos – um médico fracassado e uma dona de casa
frustrada que humilha o marido – e suas duas filhas que são mulheres
independentes que lidam com seus problemas, evidenciando a opressão no ambiente
familiar. São ainda de sua autoria os textos teatrais Coragem de matar
(1978), A noite é a mãe do dia (1982), O tempo é a nossa casa
(1991), Círculo de pessoas (1997), entre outras obras em prosa e verso.
Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
HORA DE
LEMBRAR - [...] Lembre-me de que não há como salvar as pessoas - as pessoas só podem salvar
a si mesmas. O melhor
que você pode fazer é ajudar quando eles estiverem prontos. [...] Meu pai gosta de dizer:
'A vida nunca é simples'. Este é
um de seus aforismos favoritos. Na verdade, acho que está incorreto. A vida costuma ser simples, mas você
não percebe como ela era simples até que ela se torne incrivelmente complicada,
como você nunca se sente grato por estar bem até ficar doente, ou como você
nunca valoriza sua gaveta de meias até rasgar um par e não tem sobressalentes. [...]. Trechos extraídos da obra The
Flatshare (Flatiron, 2019), da escritora
inglesa Beth O'Leary.
UNA-SE, O RIO É SEU
Assim, a vida. Já nem sei de mim, nunca fui nada... Ouvi
de longe alguém gritar: Quem matou o rio? Ora, me rio, ela me ensinou a vida,
quem disse que eu morri, com ela virei mar e era apenas uma gota no oceano.
Unadia, Diauna...
Valuna, Epitáfio
na Várzea... (Rio Una – Pernambuco).