DE NOITES & LEITURAS - UMA: O TEMPO PASSA – Sim, a vida passa, o
tempo segue adiante e a gente vai cada vez mais ficando desconfiado. Arisco é
pouco, precavido e atento. Principalmente quando ouvi da Olga Tokarczuk: Com
o passar dos anos, o tempo se tornou meu aliado, como para todas as mulheres:
tornei-me invisível, transparente... Como ela eu me tornei também meio
paisagem desbotada, invisível na indiferença de muitos, transparente para os
demais. Nada como um dia atrás do outro com uma noite no meio e muitas rodadas
da Terra. Coisas da vida, de cair o queixo e aprender direito. (Veja mais dela aqui).
DUAS: DEDO NA FERIDA – Mesmo se
parecendo uma chata de galocha (ou autenticamente verdadeira, não sei), a Fran Lebowitz sempre acerta na mosca: A vida é algo que acontece quando você não
consegue dormir. Humildade não substitui uma boa personalidade. Na vida real,
eu garanto, não existe matemática. Ô mulher duma pontaria certeira! Quase não
consigo me desvencilhar de suas palavras. (Veja mais dela aqui). TRÊS: BOLAS DE SABÃO – Taí a comprovação de que sou
mesmo achegado às leituras, tanto é que uma das frases que mais gosto de
repetir é a do Yukio Mishima de que:
Os livros e os amigos são os companheiros
espirituais da juventude... Para mim, muito mais que isso, já passei dos 50
e continuo mantendo a leitura em dia, e os amigos nem tanto. Mas as coisas são
mais ou menos como ele mesmo diz: As
mulheres: bolas de sabão; o dinheiro: bolas de sabão; o sucesso: bolas de
sabão. Os reflexos sobre as bolas de sabão são o mundo em que vivemos...
Hehehehehe!!! Diga lá se não é quase assim mesmo, diga... (Veja mais dele aqui
e aqui).
Vamos aprumar a conversa, gente!
DITOS & DESDITOS - Nos momentos mais trágicos eu rio
ou acendo um cigarro e deito no chão e olho para você como se nada de ruim
fosse acontecer. O
amor e a morte se parecem: quando estamos perdidos acudimos a eles. A única coisa que sabemos é o que nos surpreende: que tudo acontece, como
se não tivesse acontecido. Pensamento da escritora
argentina Silvina Ocampo (1903-1994). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Você sempre terá algumas pessoas em quem pode confiar, e
nenhum homem hoje em dia pode se gabar de mais do que isso. Lembre-se deles; esqueça os outros... Pensamento do escritor britânico
Hugh Lofting (1886-1947).
UM SOPRO DE NEVES & CINZAS - [...]
eu corri para longe das pedras, parando
no que achei que deveria ser uma distância segura. Não era. O som das pedras -
um rugido desta vez, em vez de um som estridente - trovejou através de mim,
parando minha respiração e quase meu coração também. Um círculo de dor apertou
meu peito e eu caí de joelhos, cambaleando, impotente. […] e o interior de minha cabeça explodiu em
fogo. Muito tempo mais tarde, eu lentamente recobrei os sentidos, descendo das
nuvens aos pedaços, como pedras de granizo. E me vi deitada, com a cabeça no
colo de Jamie. E o ouvi dizer baixinho, para si mesmo e para mim: - Por você,
eu continuarei. Se fosse apenas por mim… Eu não o faria. [...] Pousei
a mão de leve em seu peito, não como um convite, mas apenas porque queria
senti-lo. Sua pele estava fria de suor, mas ele havia ajudado a cavar a
sepultura; o calor do trabalho irradiava-se pelo músculo sob a pele. - Você era
um dos meus fantasmas - eu disse. - Durante muito tempo. E durante muito tempo
eu tentei esquecê-lo. - É mesmo? - Sua própria mão pousou de leve em minhas
costas, movendo-se inconscientemente. Eu conhecia aquele toque, a necessidade
de tocar apenas para se certificar de que o outro estava realmente ali,
presente em carne e osso. - Eu achava que não poderia viver olhando para trás,
não suportaria. - Minha garganta se fechava com a lembrança. - Eu sei - ele
disse, brandamente, a mão se erguendo para tocar meus cabelos. [...]
Trechos extraídos da obra A Breath of
Snow and Ashes (Arrow
Books, 2005), da escritora estadunidense Diana
Gabaldon.
DOIS POEMAS - CANÇÃO NUA - Tudo está nu ao redor, \ aqui tudo está
nu: \ a planície, as montanhas, o horizonte, \ é dia. \ A criação é
transparente, \ seus palácios permanecem abertos. \ Olhos saciam sua sede de
luz, \ guitarras saciam sua fome de ritmo. \ Aqui as árvores crescem separadas,
\ no caos, \ o mundo é puro vinho, \ aqui reina a nudez. \ As sombras são
sonhos \ e aqui, até a noite \ desenha um sorriso louro. \ Aqui tudo se levanta
\ com os seios nus \ sem dó \ a pedra seca é estrela, \ o corpo é chama, \ tua
divina nudez, nobre Ática,\ é adornado com ouro, prata, pérolas e rubis! \ Aqui,
o jovem é encantamento, \ a carne é deus, \ virgindade, Ártemis, \ desejo,
Hermes, \ Aqui, a cada momento nu \ Hermes assusta o passado, \ os monstros
marinhos, \ Afrodite surge nua e inunda tudo. \ Tire a roupa! \ Vista-se de
nudez, minha alma! \ Vista-se beleza. \ Sacerdotisa do nu, \ minha alma, seu
corpo é um templo. \ Magnetize minha mão. Âmbar da carne, \ que meus braços te
envolvam! \ Dê-me para beber o néctar olímpico da nudez. \ Quebre o véu: tire \
o manto pesado\ Una suas formas esplêndidas\ aos da natureza. \ Abra o cinto!
Cruze os braços \ sobre o coração! Faça uma vestimenta real \ com seu véu .
Torne-se uma \estátua imóvel! \ Deixe seu corpo assumir a perfeição da arte que
brilha na pedra, \ brinque e aja com ideias nuas como ágeis, animais selvagens,
cobras, pássaros. \ Jogue e represente a voluptuosidade do belo, purifique sua
nudez e torne-se um espírito. \ Deixe a aurora redonda, alongada e suave dançar
com suas curvas. \ Oh, divinos tremores dançam, dançam! Testa, olhos, ondas,
cabelos, coxas... ANTIGO
ESPÍRITO ETERNO E IMORTAL - Espírito imortal da antiguidade, \ Pai dos
verdadeiros, belos e bons, \ Desce, aparece, derrama sobre nós a tua luz \ Sobre
esta terra e sob este céu \ Que primeiro testemunhou a fama imperecível. \ Dê
vida e animação a esses nobres jogos! \ Jogue coroas de flores imortais aos
vencedores \ Na corrida e na luta! \ Crie em nossos seios, corações de aço! \ Em
tua luz, planícies, montanhas e mares \ Brilham em um tom rosado e formam um
vasto templo \ Ao qual todas as nações se aglomeram para te adorar, \ Oh
espírito imortal da antiguidade! Poemas do escritor e dramaturgo grego Kostís Palamás (1859-1943);