LÁ VOU EU PRO TEATRO – A primeira leitura a respeito do tema teatral foi o Manual do Encenador de Hermilo Borba Filho, batendo o centro para
melhor me inteirar da arte imortalizada na minha terra por Miguel Jassely, Lelé
Corrêa e Fenelon Barreto. Eu havia assisto umas dramatizações no palco do
ginásio e saí impressionado com aquilo. A responsável pela biblioteca que
também era minha professora, Jessiva Sabino de Oliveira, foi quem recomendou o
livro. A partir daí não parei mais estudar as artes cênicas e dramáticas. Saí
lendo de tudo, dos gregos antigos até os contemporâneos, consumindo páginas e,
como ainda era aluno de ginasial, peiticava para participar aqui e ali de
encenações. Foi por esta época que me caiu às mãos o texto teatral O
náufrago do Mafalda, de Fenelon Barreto, pensando eu que, pelo título,
seria uma comédia e não era – mais uma entre as suas vinte e tantas tragédias. Foi
quando a gente ainda rapazote inventou de montar outra peça deste autor,
Adoração, e tudo malogrou. Estudando e sonhando demais com a realização de um
espetáculo, resolvi eu mesmo escrever meu próprio texto: O Prêmio – que à época possuía o título de Em busca de um lugar ao
Sol sob a especulação imobiliária -, encenada por um jovem grupo adolescente na
quadra do Colégio Diocesano dos Palmares. Foi um sucesso! Embalei na coisa e
escrevi outro: A viagem noturna do Sol,
que foi encenada em Recife, em 1983, com o Grupo TTTrês Produções Artísticas,
dirigida por José Manoel Sobrinho. Por esse tempo eu já zanzava pelas ruas do
Recife poetando, tomando umas e outras, estudando muito e percorrendo palcos e
plateias pra cima e pra baixo – o salário ficava grande parte na compra da Livro 7, quando não alisava as vistas
nas bibliotecas e cursos. Foi justamente por isso que o saudoso Paulo Cavalcanti me jogou na caixa dos
peitos para adaptar, dirigir e musicar João Sem Terra, do Hermilo. Uma trabalheira medonha. Depois tomei gosto e ainda
escrevi mais dois textos: O coronel e seu capaz – inspirado na obra O senhor Puntilla e seu criado Matti, de
Brecht -, afora um outro Corpo versus Corpo – uma metáfora envolvendo três
personagens: dois homens ávidos pelo poder sobre uma mulher. Ficou nisso porque
passei adaptar para o teatro infantil os textos de Elita Afonso Ferreira,
quando fundamos as Edições Bagaço. Daí, então, fiz outras incursões Brasil
afora e participei de cursos, fiz trilhas sonoras, criei uma associação
classista na minha cidade, reuni grupos, dirigi alguns espetáculos, fiz
palestras, oficinas e ministrei cursos na área. Depois a partir dos anos 1990 me
dediquei ao público infantil, publicando livros e contando histórias pelo
Brasil afora, ocasião em que escrevi o texto O lobisomem zonzo e, posteriormente, pelos anos 2000, pulando de
palco em tablado, criei e atuei no espetáculo Nitolino no Reino Encantado de Todas as Coisas, desde 2010. Ainda hoje
atuo, leio e estudo teatro, uma das artes que mais me fascina! Veja mais abaixo
e mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Mas onde está o conhecimento do passado tornado vivo e
presente? Bem, acima de tudo, na literatura! E isso, aos meus olhos, é a maravilha. Encontra-se em textos franceses e estrangeiros, modernos
e antigos. Parece-me, portanto, um erro muito grave representar o
ensino da literatura como uma espécie de elegância supérflua e gratuita. Na verdade, é graças à literatura que se forma quase toda
a nossa ideia de vida; o desvio pelos textos leva diretamente à formação do
homem. Eles nos trazem análises e ideias, mas também imagens,
personagens, mitos e sonhos que se sucederam na mente dos homens; eles nos comoveram um dia porque foram expressos ou descritos
com força; e é dessa experiência que a nossa se alimenta... Pensamento
da filóloga e escritora grega Jacqueline de Romilly (1913-2010).
ALGUÉM FALOU: Para que servem os amigos, senão para ajudar a carregar
nossos pecados?... Acho que ser mãe é a coisa mais cruel
do mundo... Os autores não fornecem imaginação, eles
esperam que seus leitores tenham a sua própria e a usem... Pensamento da enfermeira
e escritora estadunidense Nella Larsen (1891-1964).
BELEZA NEGRA - [...]
São boas pessoas que fazem bons lugares. [...] Você sabe por que este mundo é tão ruim
quanto é?... É porque as pessoas pensam apenas em seus próprios negócios e não
se preocupam em defender os oprimidos, nem trazer os malfeitores à luz. […] Minha doutrina é
esta: se virmos crueldade ou injustiça que temos o poder de impedir e não
fizermos nada, tornamo-nos participantes da culpa. [...]
Se algo é certo, pode ser feito, e se for
errado, pode ser feito sem; e um bom homem vai encontrar uma maneira
[...]. Trechos extraídos da obra Black Beauty (Ridel, 2004), da escritora inglesa Anna Sewell (1820-1878). Veja mais aqui.
FESTA – Gastei talão-de-passe \ à tua
procura, \ cozinhei os miolos \ nesta fervura. \ Gastei meu sapato novo \ no
itinerario, \ botei anúncio na TV \ rário e no Diário. \ Gatei 999,99
esperanças \ sem nenhuma pista z peguei até um táxi \ na Conde da Boa Vista. \
Soube que tu estavas \ no Beco da Fome \ ouvindo outros versos \ nos braços
doutro homem. \ Soube que tu estavas \ na Tamarineira \ tomando choques \ e
falando besteiras? Poema do
escritor e jornalista Xico Sá, in:
Varal de poesias (s\d), textos selecionados Projetos das Quartas. Veja mais aqui, aqui e aqui.
CONSTANTIN STANISLAVISKI – pseudônimo de Constantin Siergueieivitch Alexei teve grande destaque entre os séculos XIX e XX. Sua primeira apresentação ocorreu quando ainda tinha sete anos em um teatro que seu pai mandara construir em sua casa. Neste local, também conhecido como Circulo Alexeiev, aconteciam vários encontros com atores, diretores, músicos, artistas plásticos conhecidos. Após os casamentos na família, esses encontros começaram a ficar mais raros. Em 1888, Stanislavski funda a Sociedade Literária de Moscou, no qual passa a estudar a arte teatral com grandes personalidades da época, como o diretor Fiédotov. Este empreendimento não teve muito sucesso, principalmente no aspecto financeiro o que levou Stanislavski a arcar sozinho com as despesas. Após trocar correspondências com Vladímir Ivânovitch Niemiróvitch-Dântchenco (1858 – 1943), escritor e professor de arte dramática na Filarmônica de Moscou; iniciou no dia 22 de junho de 1897, às 14h; no Slaviánski Bazar (Mercado Eslavo, nome de um restaurante), não só um conversa histórica, mas um diálogo, de um empreendimento, que marcaria o teatro no século XX: o Teatro de Arte (ou Artístico) de Moscou Acessível a Todos, que depois passaria a ser conhecido como o Teatro de Arte de Moscou. Foi neste local que Stanislavski, durante anos, teve a oportunidade de testar métodos e técnicas no trabalho de preparação do ator. Muito desses foram deixados de lado e outros aprofundados. Estes seus estudos geraram o conhecido "sistema" Stanislavski (como ele mesmo o chamava).Em 1905 ele acrescentou ao teatro o estudio experimental, base de sua pedagogia e critica do teatro. Dedicando ao teatro, durante mais de 40 anos, uma atitude critica e de constante preocupação, Stanislavski revê e dignifica a função do ator, oferecendo-lhe quer no incansavel dia a dia de direitor, quer em seus escritos didaticos e teóricos, uma orientação que abrange todos os niveis do comportamento dramatico. Com seu método ele apresenta os meios praticos de atingir-se o desempenho, ensinando os procedimentos psicologicos e tecnicos do aproveitamento de estmulos sensoriais, da memória emotiva, da descontração muscular, da imaginação e da pratica de observar e observar-se.
FONTE BIBLIOGRÁFICA
REVERBEL, Olga. Teatro na sala de aula. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979.
BIBLIOGRAFIA:
STANISLASVSKI, Constantin. A construção da personagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983,
FONTE:
PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 2008.
A AUTORA: A poeta, escritora, professora e dramaturga paulista Renata Pallottini cursos Filosofia na PUC e direito na Faculdade do Largo de São Francisco, estudou dramaturgia na Escola de Arte Dramática onde mais tarde lecionou. É autora de diversos livros de poesia e teatro.
PALLOTTINI, Renata. Introdução à dramaturgia. São Paulo: Brasiliense, 1983.
FONTE BIBLIOGRÁFICA:
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 1979.
SÁBATO ANTONIO MAGALDI é teórico, critico teatral e professor mineiro radicado no Rio de Janeiro desde 1948. Ele pertence ao primeiro escalão intelectual brasileiro, influente pensador ligado a momentos decisivos da história do teatro brasileiro. Formou-se em direito, em 1949, pela Universidade de Minas Gerais (faz o último ano no Rio de Janeiro). De 1950 a 1953, foi crítico teatral do Diário Carioca, enviando colaboração da França, enquanto lá permanece de 1952 a 1953. Nesse ano recebe o certificado de estética da Sorbonne (Universidade de Paris), sendo seu professor Etiènne Souriau. A obtenção desse certificado exige ainda aprovação nos cursos de psicologia e história da arte moderna. Regressa ao Brasil, transfere-se para São Paulo, a convite de Alfredo Mesquita, a fim de lecionar história do teatro na Escola de Arte Dramática - EAD, e se torna redator do jornal O Estado de S. Paulo. Com a criação do Suplemento Literário, em 1956, tornou-se titular da coluna de teatro até 1969. Participou do Seminário de Dramaturgia do Teatro de Arena, em 1958, e dirigu nos anos 60 a coleção Teatro Universal, da Editora Brasiliense, e a coleção Teatro Vivo, da Editora Abril, nos anos 70. Fundada a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP, em 1967, chegou por concurso a professor titular de teatro brasileiro. E recebeu o título de professor emérito em 2000. Foi o primeiro secretário municipal de Cultura de São Paulo, a convite do prefeito Olavo Setúbal. Com Maria Thereza Vargas, lançou, em 1975, Cem Anos de Teatro em São Paulo, publicação fasciculada destinada a comemorar o centenário do jornal O Estado de S. Paulo e depois editada em livro (Editora Senac São Paulo, 2001). Doutorou-se na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, FFLCH/USP, em 1972, com a tese Teatro de Oswald de Andrade, e fez livre-docência, em 1983, na ECA/USP, defendendo a tese Nelson Rodrigues: Dramaturgia e Encenações. Prestou, em 1985, concurso para professor adjunto, tornando-se, em 1988, professor titular de teatro brasileiro. Organizou e prefaciou a publicação do Teatro Completo de Nelson Rodrigues (quatro volumes), que se estende de 1981 a 1989. De 1985 a 1987, lecionou na Sorbonne, em Paris, e de 1989 a 1991, na Universidade de Aix-en-Provence. Em 1994 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, ABL. Entre os títulos de sua produção destacam-se Panorama do Teatro Brasileiro, 1962; Iniciação ao Teatro, 1965; O Texto no Teatro, 1989; Moderna Dramaturgia Brasileira, 1998; Depois do Espetáculo, 2003; Teatro da Ruptura: Oswald de Andrade e Teatro da Obsessão: Nelson Rodrigues, 2004. Outras publicações: Temas da História do Teatro, 1963; O Cenário do Avesso, 1977; Um Palco Brasileiro (O Arena de São Paulo), 1984; O Texto no Teatro Moderno Brasileiro, em Literatura Brasileira: Ensaios, Crônica, Teatro e Crítica, 1986; O Papel de Brecht no Teatro Brasileiro: Uma Avaliação, em Brecht no Brasil, Experiências e Influências, de W. Bader; Teoria e Prática da Censura no Brasil Atual, em Le Thêatre sous la Contrainte, 1988; Teatro Brasileiro, em O Teatro através da História (vol.II), 1994; As Luzes da Ilusão (Discurso de recepção na ABL), 1995; O Crítico de Teatro, em Sobre Anatol Rosenfeld. Em obras de referência e especializadas, é autor do verbete sobre o teatro brasileiro da Enciclopédia Mirador Internacional e do Díctionnaire des Littératures das Presses Universitaires de France. Atualiza verbetes sobre teatro do dicionário Novo Aurélio - Século XXI. Acumula muitos prêmios ao longo de sua carreira no país. É conselheiro vitalício da Fundação Bienal de São Paulo; torna-se Chevalier des Arts et Lettres, do governo francês, em 1967; e Chevalier de l'Ordre National du Mérite, do governo francês, em 1979. (Fonte: Itau Cultural)
FONTE:
GUINSBURG, Jacó. Apresentação. In: MAGALDI, Sábato. Moderna dramaturgia brasileira. São Paulo: Perspectiva, 1998.
MAGALDI, Sábato. Iniciação ao teatro. São Paulo: Ática, 1985.
REFERENCIA:
BORNHEIM, Gerd. O sentido e a máscara. São Paulo: Perspectiva, 1975.