quinta-feira, março 07, 2013

ELIZABETH SIDDAL, GILKA MACHADO, DONNERSMARCK, MEG TILLY, MARY ELLIS, OFÉLIA DE MILAIS & ANAXÍMENES

 


DE FALAS, DIZERES & PALAVRAS: LINGUAGEM – Estava eu às voltas com palavras, palavrinhas & palavrões quando dei de cara com essa de Aristóteles: O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz... Era eu tendo a primeira noção do que seriam as questões de lógica, das categorias e do significado, além do que seria o nominalismo desenvolvido por Abelardo. Até que chega Hegel e me diz:A arte cultiva o humano no homem, desperta sentimentos adormecidos, põe-nos em presenças dos verdadeiros interesses do espírito... Enquanto Kant me dizia do outro lado: A missão suprema do homem é saber o que precisa para ser homem. A inumanidade que se causa a um outro destrói a humanidade em mim. E logo advertido por Schopenhauer: Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência. Quanto mais elevado é o espírito mais ele sofre... É claro que a coisa estava embananando tudo pras minhas bandas, mas eu seguia o fio. Logo apareceu Saussure: O homem que não lê não pensa... O tempo altera todas as coisas. Mais um pouco e foi a vez de Peirce aparecer com umas das suas: Existir é estar numa relação. É tomar um lugar na infinita miríade das determinações do Universo. Se o homem fosse imortal, ele poderia estar perfeitamente certo que veria o dia em que tudo em que confiava trairá sua confiança... Franzi o cenho, mas já sabia que era semiótica e eu precisava saber do riscado todo. Aí foi a fez de Jakobson: Quando eu falo, é para ser ouvido... Sim, por aí está indo bem, apesar de complicado. Eis que aparece Wittgenstein: O mundo é a totalidade dos fatos, não das coisas. Sentimos que, mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos. Que bom que não me deixo influenciar!... Bem, esclareceu, mas o tanto de dúvidas que eu tinha mais se ampliaram com novos esclarecimentos necessários. Reli tudo e parei em Bakhtin: O que ocorre, de fato, é que, quando me olho no espelho, em meus olhos olham olhos alheios; quando me olho no espelho não vejo o mundo com meus próprios olhos desde o meu interior; vejo a mim mesmo com os olhos do mundo - estou possuído pelo outro... Hummmm. Bem, fodeu tudo agora! Hora de reler tudo, lá vou de volta aos estudos. E vamos aprumar a conversa.

 


DITOS & DESDITOS - E pensar que este país estava nas mãos de pessoas como você... Frase final extraída do premiado filme Das Leben der Anderen (A vida dos outros, 2006), dirigido pelo cineasta alemão Florian Henckel von Donnersmarck, que narra a história do um agente da polícia política da Alemanha Oriental, que se envolve num serviço de escutas clandestinas do apartamento de um casal da cena cultural de Berlim Oriental, no caso um escritor e uma atriz, e mais tarde se vê envolvido na vida do casal e tem um papel decisivo em seus destinos. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Não comecei realmente a fazer mudanças em minha vida até os 20 e poucos anos. E de repente eu pensei, espere um minuto. Eu estava tentando tanto ser o que pensei que deveria ser, em vez de apenas me permitir ser o que eu era ou o que sou... Pensamento da atriz estadunidense Meg Tilly (Margaret Elizabeth Chan), que se encontra desde 1995 morando no Canadá, onde se dedica a escrever livros e a cuidar dos três filhos, autora dos Singing Songs (1994; Dutton Books) e Gemma (2006; Syren Book Company).

 

CASAMENTO DE MEGHAN – [...] Talento é pouco mais que uma semente em solo quente de primavera. Deve ser nutrido e cuidado diligentemente se você quiser que ele cresça. Ninguém se torna proficiente em nada por acaso. [...] Rumores por si só podem causar dor à sua família. Simplesmente não é justo comprometer a reputação de uma pessoa. [...]. Trechos extraídos da obra A Marriage for Meghan (Thorndike, 2012), da escritora e ex-professora estadunidense Mary Ellis.

 

POEMA DA OFÉLIA DE MILAIS: A PASSAGEM DO AMOR - Oh, Deus! Perdoe-me por ter mergulhado minha vida \em um sonho sombrio de amor. \As lágrimas de angústia irão \lavar a paixão do meu sangue? \O amor guarda meu coração \ em uma canção de alegria, \ meu pulso estremece com sua melodia; \enquanto as rajadas frias do inverno sopram \ sobre mim, como uma doce brisa de junho. \ o amor flutua nas brumas da aurora \e repousa nos raios do crepúsculo; \ ele acalmou o trovão da tempestade \ e iluminou todos os meus sentidos. \ o amor me sustenta durante o dia, \e nos sonhos me acompanha à noite, \nenhum mal pode espreitar minha vida, \porque meu espírito é leve como as flores. \ Oh meu Deus! pena do meu coração inocente, \ o passar do tempo quebrou aquele prazer diário, \ o ídolo foi arrastado pela correnteza, \destruindo para sempre o meu santuário. Poema da poeta e modelo britânica Elizabeth Eleanor Siddal (1829-1862), mais conhecida como Lizzie, a Ofélia de John Everett Milais e esposa de Dante Gabriel Rossetti. Como ela vinha de uma família de classe trabalhadora, o marido temia apresentá-la aos seus pais. Ela então foi a vítima de críticas de suas irmãs. O conhecimento que sua família não iria aprovar seu casamento contribuiu para adiá-lo. Ela parecia acreditar, com alguma justificativa, que ele estava sempre procurando substituí-la por uma musa mais jovem, o que contribuiu para seus então períodos depressivos e doenças. Foi encontrada morta e, embora a morte tenha sido julgada acidental pelo médico legista, há sugestões de que o marido teria encontrado uma carta de suicídio. Consumido por luto e por culpa, ele foi instruído a queimar a carta, já que suicídio era ilegal, imoral, traria escândalo para a família e impediria Siddall de ter um funeral cristão. Sete anos após sua morte, o marido publicou uma coleção de sonetos intitulados The House of Life (A casa da vida), neste contendo um poema "Without Her" (Sem ela), sendo uma reflexão de seu amor que uma vez partiu. Veja mais aqui e aqui.

 

SENSUAL - Quando, longe de ti, solitária, medito \ neste afeto pagão que envergonhada oculto, \ vem-me às narinas, logo, o perfume esquisito \ que o teu corpo desprende e há no teu próprio vulto.\ A febril confissão deste afeto infinito\ há muito que, medrosa, em meus lábios sepulto,\ pois teu lascivo olhar em mim pregado, fito,\ à minha castidade é como que um insulto.\ Se acaso te achas longe, a colossal barreira \ dos protestos que, outrora, eu fizera a mim mesma\ de orgulhosa virtude, erige-se altaneira.\ Mas, se estás ao meu lado, a barreira desaba,\ e sinto da volúpia a escosa e fria lesma\ minha carne poluir com repugnante baba… Poema da poeta Gilka Machado (1893 – 1980). Veja mais aqui.

 



PERÍODO NATURALISTA – OS JÔNIOS: ANAXÍMENES
Anaxímenes (588-524 a.C.) é o último representante notável da escola jônica, autor de uma obra Da Natureza, de que não ficou quase nada. Foi discípulo de Anaximandro e seu continuador. Dedicou-se à meteorologia, foi o primeiro a considerar que a lua recebe a luz do sol. Era companheiro de Anaximandro. Pensa Anaxímenes que o principio das coisas seja o ar, ilimitado e em movimento incessante, de que todas as coisas derivam pela rarefação e condensação do mesmo ar. Como Tales, Anaximenes imagina a terra como um disco suspenso no ar. Suas idéias tiveram por característica básica explicar a origem do universo ou arché a partir de uma substância única fundamental.
Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar. As diversas coisas que existem, mesmo apresentando qualidades diferentes entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento. Atribuindo vida à matéria e identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios professavam o hilozoísmo e o panteísmo naturalista. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol.
Refutando a teoria da água de Tales, e do ápeiron de Anaximandro, Anaxímenes ensinava que essa substância era o arinfinito, pneuma ápeiron. O universo resultaria das transformações do ar, da sua rarefação, o fogo, ou condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra e por último pedra. Esse era o processo por qual passava uma substância primordial, e resultava na multiplicidade, os quatro elementos. Para ele, o ar tinha o eterno elemento.
Hegel diz que Anaxímenes ensina que nossa alma é ar, e ele nos mantém unidos, assim um espírito e o ar mantém unido o mundo inteiro. Espírito e ar são a mesma coisa. Isto quer dizer que em Anaxímenes a substância da origem volta a ser uma coisa determinada como em Tales. Ele identificou o ar talvez porque tenha visto seu movimento incessante, e que a vida e o ar andam juntos, na maioria dos casos. A respiração é um processo vivificante, dependemos dela durante toda a nossa vida. Ele via que no céu existem nuvens, e que a matéria possui diferentes graus de solidez. Ou seja, para ele o universo resultaria das transformações de um ar infinito, o pneuma apeíron. Aproveitando a sugestão oferecida pela técnica de fabricação de ferro, produzido por aglutinação de materiais dispersos, em grande expansão em Mileto de sua época, ele afirmava que todas as coisas seriam produzidas através do duplo processo mecânico de rarefação e condensação do ar infinito.
No entendimento de Hegel, em lugar de matéria indeterminada de Anaximando, põe ele novamente um elemento determinado da natureza, o absoluto numa forma real, em vez da água de Tales, o ar. Ele achava, com certeza, que para a matéria era necessário um ser sensível; e o ar possui, ao mesmo tempo, a vantagem de ser o mais liberto de forma. Ele é menos corpo que a água; não o vemos, apenas experimentamos seu movimento. Dele tudo emana e nele tudo se dissolve. Ele o determinou igualmente como infinito. Diógenes Laercio diz que o principio é o ar e o infinito, como se fossem dois princípios. Mas Simplicio diz expressamente que para Anaximenes o ser originário foi uma natureza infinita e una, como para Anaximandro, só não, como para ele, uma natureza infinita, mas uma determinada, a saber o ar, que ele, porem, parece ter concebido como algo animado. Plutarco determina a maneira de representação de Anaximenes, que do ar, que posteriores chamaram no éter, tudo se produz e nele se dissolve, mais precisamente assim: “Como nossa alma que é ar nos mantem unidos, assim um espirito e o ar mantem unido também o mundo inteiro, espírito e ar significam a mesma coisa”. Anaxímenes demonstra muito bem a natureza de seu ser pelo exemplo da alma. Ele como que caracteriza a passagem da filosofia da natureza para a filosofia da consciência ou a renuncia ao modo objetivo do ser originário. A natureza do ar originário era antes determinada de maneira estranha, negativa, com relação à consciência. Tanto sua realidade, a água, ou também o ar, enquanto o infinito é um alem da consciência. Mas como a alma assim o ar é este meio universal: uma multidão de representações que esta unidade, continuidade, desapareçam – e seu desaparecimento e surgimento; ele é tão ativo quanto passivo, fazendo sair de uma unidade as representações, dispersando-as e sobressumindo-as e presente a si mesmo em sua infinitude – significação negativa positiva. Expressou de maneira mais determinada, e não apenas para fins de comparação, é esta natureza do ser originário pelo discípulo Anaximenes, Anaxágoras.
O pensamento milesiano adquiria, assim, consistência, pois além de se identificar qual a physis, mostrava-se um processo capaz de tornar compreensível a passagem da unidade primordial à multiplicidade de coisas diferenciadas que constituem o universo. Ele afirma também que uma só é a natureza subjacente e diz que é ilimitada, não porem indefinida, mas definida dizendo que ela é ar. Diferencia-se nas substancias, por rarefação e condensação. Rarefazendo-se, torna-se fogo. Condensando-se, vento, depois nuvem, e ainda mais água, depois terra, depois pedras e as demais coisas provem destas. Também ele faz eterno o movimento pelo qual se dá a transformação. É preciso saber que uma coisa é o ilimitado e limitado em quantidade. O que era próprio dos que afirmavam serem muitos os princípios, e outra coisa é o ilimitado em grandeza, o que precisamente se adapta ao caso de Anaximandro e Anaximenes, que supõem o elemento único e ilimitado em grande. Pois só Anaximemes que da rarefação e condensação, mas é evidente que também outros se serviam das noções deste fenômeno. O contraído e condensado da matéria ele diz que é frio, e o ralo e o frouxo é quente. Como nossa alma que é ar, soberanamente nos mantem unidos, assim também todo o cosmo sopro e ar o mantem.
Como a Anaximandro, também a Anaximenes os doxógrafos – escritores antigos que recolheram ou transcreveram as opiniões dos primeiros filósofos, - atribuem a doutrina da constituição, a partir do arché única, de inumeráveis mundos, gerados de maneira sucessiva e ou simultânea.
Entre os adágios de Anaxímenes encontra-se: "Exatamente como a nossa alma, o ar mantém-nos juntos, de forma que o sopro e o ar abraçam o mundo inteiro”. Ao julgar que o elemento primordial das coisas é o ar, encontra-se que: "O contraído e condensado da matéria ele diz que é frio, e o ralo e o frouxo (é assim que ele expressa) é quente. O princípio de tudo, o arqué, seria o ar e as coisas da natureza seriam o ar condensado em vários graus. A rarefação e condensação do ar forma o mundo. A alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe a sua luz do Sol”. "Com nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmo sopro e ar o mantém”. Outra frase que consta nos fragmentos é "O sol largo como uma folha". Por isso ele foi considerado pelos antigos como a principal figura da escola de Mileto.
Veja mais aqui e aqui.

FONTES:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2002.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. Historia da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
PESSANHA, José Américo Motta (Org). Os pré-socraticos. São Paulo: Abril, 1978.
SOUZA, José Cavalcante. Os pré-socrático. São Paulo: Abril, 1978.




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