O QUE É DO MUNDO
SENÃO A VIDA – UMA: DESTRINCHANDO SENTIDO
OU NÃO – Quando vou no dicionário encontro a palavra mundo como sendo a
indicação de um lugar ou área dentro da Terra, imaginário ou real, tanto faz. E
que a Terra é um planeta que é o mundo dos seres humanos. Tá, trocando em
miúdos: pra mim é uma bola rotativa e translativa – gira por seu próprio eixo e
em torno do Sol, que ninguém, ninguém mesmo sabe onde vai parar. Já estão
dizendo que o núcleo da Terra diminuiu de velocidade, parou e, ao que parece,
está girando em sentido contrário. Consequência disso, não dá pra prever: os
sismólogos que queimem as pestanas. Enquanto isso, uma metáfora demonstra bem a
realidade: a Torre de Babel. Resultado: ninguém se entende. A melhor das
definições quem me deu foi a Clarice Lispector: O mundo me
parece uma coisa vasta demais e sem síntese possível! (Veja mais dela aqui e aqui). Pronto, ponto final. DUAS: AH, NÃO! VOLTANDO A
CONVERSA – Bem, aqui no mundo da gente, reitero: ninguém se entende. Pitaco do
muito procura sentido para isso ou aquilo da gente. Não há acordo ou convensão
plausível. O que se sabe mesmo é o que diz o escritor e ambientalista
britânico, George Monbiot: O progresso é medido pela
velocidade com que destruímos as condições que sustentam a vida... Sim, é o que parece
mesmo! A gente não vive, nos matamos uns aos outros. Mas ele ainda acrescenta
para nossa tragédia: Nenhum desafio
político pode ser enfrentado com compras... Pois é, precisamos inventar um
local onde se venda vida digna, paz e felicidade. Agora, se puder, enquanto isso
durma com um barulho deste! TRÊS: DAGORA OU NUNCA – Mas como a gente leva sempre tudo nas coxas
porque só vem bronca na caixa dos peitos, deixa passar, com o tempo ou a gente
aprende ou se lasca do mesmo jeito. Pior: esquecemos. Pois bem, no meio disso
aparece uma do escritor e jornalista ucraniano, Ilya Ehrenburg (1891-1967) que saiu com a dele para embananar um pouquinho mais nossa
existência: Não se tem razão
quando se diz que o tempo cura tudo: de repente, as velhas dores tornam-se
lancinantes e só morrem com o homem... Eita! Pois é, como a gente nasce mesmo pra morrer e no meio do maior
vaivem, qual seria, na vera, a razão pela qual a gente passa pela vida num
mundo que roda que só e deixa a gente mais confuso e sem saber mesmo nem quem a
gente é de verdade... Melhor a vida dos pássaros, das pedras, das árvores e
tudo o mais, que não precisam questionar nada, vivem por viver. E vamos aprumar
a conversa!!!!
DITOS &
DESDITOS - Eu respeito um homem que
consegue reconhecer uma citação. É uma
arte moribunda... Eu também sou um pouco
desconstrucionista. É meio
excitante – a última emoção intelectual restante. Como
serrar o galho em que você está sentado. Essa é a atração
do circuito de conferências: é uma forma de transformar o trabalho em diversão,
combinando profissionalismo com turismo, e tudo às custas de terceiros. Escreva
um papel e veja o mundo! Eu sou
Jane Austen – voe comigo!...
Pensamento do escritor e crítico inglês David Lodge.
ALGUÉM FALOU: Chega um momento para o homem em que ele deve agir,
apesar dos perigos, sabendo que pode morrer... Pensamento do mangaka
japonês Leiji Matsumoto.
SISTEMA PEDAGÓGICO MUSICAL - [...]
Depois de vários anos em que as crianças têm contato com representações coloridas de um sistema musical (e um quadro de anotações especial também), eles começam ter associações relativas no que diz respeito ao passo “colorido”... [...] Trecho extraído do artigo Employment of
Multicultural and Interdisciplinary Ideas in Ear Training - “Microchromatic”
Pitch. “Coloured”Pitch (ISME,
2008), do musicólogo, poeta, educador e compositor russo Valeri Brainin, apresentando um sistema pedagógico que compreende o
desenvolvimento do raciocínio musical, método pelo qual as crianças aprendem
desde cedo a perceber a música como um fenômeno integral. Os elementos da
linguagem musical são estudados com o auxílio do canto, da gesticulação, das
montagens visuais e da execução do próprio instrumento. O sistema Brainin é
basicamente voltado para o trabalho com crianças a partir dos quatro anos, mas
também pode ser utilizado com adultos. Ele distingue o profissional (“ouvinte
especialista” segundo a terminologia de T. Adorno) e o amante da música (“bom
ouvinte” segundo Adorno) simplesmente na consciência e no nível de domínio dos
elementos do raciocínio musical, onde o profissional deve ir mais longe. A
atenção principal é dada aos seguintes aspectos: 1. Desenvolvimento do ouvido
musical absoluto, pseudoabsoluto e relativo: melódico, harmónico e polifónico. 2.
Desenvolvimento de uma percepção rítmica fina orientada em primeiro lugar para
uma rítmica sem tempo de acentos. 3. Consequentemente desenvolvimento da
percepção musical em geral, desenvolvimento da memória musical e compreensão
profunda da música erudita, além do desenvolvimento de habilidades conducentes
à composição musical individual. Todo este programa é baseado em um tratamento
especial do raciocínio musical e das possibilidades de seu desenvolvimento. O
raciocínio musical (reflexivo, cognitivo) supõe a diferenciação entre o
semelhante e o diferente, a estruturação ideal e adequada do objeto no processo
de conhecimento, a capacidade de analisar a informação recebida que permite que
cada momento da percepção seja executado um ideal conceitual síntese do objeto
percebido, cujo resultado é a fixação mental de uma imagem adequada dele. A
disciplina "Desenvolvimento do raciocínio musical" constitui uma
disciplina integral que envolve todo o círculo de conhecimentos e competências
tradicionalmente estudados nos programas de "teoria musical",
"teoria musical" e "literatura musical". A percepção da
música passa a ser vista como o processo de recepção de uma série de sinais com
certo grau de identificação, que depende do nível de informação do ouvinte. Se
alguém é capaz de detectar algo que ninguém havia percebido antes, mas cuja
viabilidade foi depositada no sistema de comunicação, ocorre uma descoberta
artística. Dá-se então o desenvolvimento
da percepção colorístico-modal, baseado na dependência entre os graus da
escala e as cores do espectro, a partir do desenvolvimento de um modelo
cromático especial (“modelo espectral da escala”) que é usado em sala de aula
como material didático. Assim, o fenômeno da sinestesia colorístico-auditiva é
encontrado com relativa frequência. Os exercícios dedicados diretamente ao
desenvolvimento do ouvido absoluto e pseudo-absoluto estão relacionados a
fenômenos musicais pedagógicos claramente identificados, como o “ouvido de
instrumentista” e o “ouvido de vocalista”. O sistema foi aprovado em diversas
situações e condições e está totalmente adaptado ao processo escolar. Veja mais
aqui e aqui.
DIAS DE HOSPÍCIO - [...] Eu disse que poderia e
faria. E eu fiz. [...] Só depois que alguém está com problemas é que percebe quão pouca
simpatia e bondade existem no mundo. [...] Enquanto eu viver, espero. [...] Para ter um bom cérebro, o estômago deve ser cuidado. [...] Eu gostaria que os médicos especialistas que
estão me condenando por minha ação, que provou sua capacidade, pegassem uma
mulher perfeitamente sã e saudável, a calassem e a fizessem sentar das 6h às
20h em bancos retos, não permita que ela fale ou se mova durante essas horas, não
lhe dê leitura e não deixe que ela saiba nada sobre o mundo ou suas ações,
dê-lhe comida ruim e tratamento severo e veja quanto tempo levará para deixá-la
louca. Dois meses a fariam um
desastre mental e físico. [...] O manicômio
na Ilha de Blackwell é uma ratoeira humana. É fácil entrar, mas uma vez lá é impossível sair. [...] Uma bela jovem hebréia falava tão pouco inglês que não consegui
entender sua história, exceto pelo relato das enfermeiras. Eles disseram que o nome
dela é Sarah Fishbaum, e que seu marido a colocou no asilo porque ela gostava
de outros homens além dele. [...] Compare
isso com um criminoso, que tem todas as chances de provar sua inocência. Quem não preferiria ser
um assassino e arriscar a vida a ser declarado louco, sem esperança de escapar?
[...] Eu tinha certeza agora de que nenhum médico
poderia dizer se as pessoas eram loucas ou não, desde que o caso não fosse
violento. Mais tarde [...] Um incêndio
não é improvável, mas uma das ocorrências mais prováveis. Se o prédio pegasse
fogo, os carcereiros ou enfermeiras nunca pensariam em libertar seus pacientes
loucos. Isso posso provar a você
mais tarde, quando for contar sobre o tratamento cruel que dispensam aos pobres
coitados confiados a seus cuidados. Como eu disse, em caso de incêndio, nem uma dúzia de
mulheres poderia escapar. Todos seriam deixados para assar até a morte. Mesmo que as enfermeiras
fossem gentis, o que não é, exigiria mais presença de espírito do que as
mulheres de sua classe possuem para arriscar as chamas e suas próprias vidas
enquanto destrancavam as cem portas para os prisioneiros insanos. A menos que haja uma
mudança, algum dia haverá um conto de horror nunca igualado [...]. Trechos extraídos da obra Ten Days in a Mad-House (Wildside Press, 2013), da escritora e jornalista
estadunidense Nellie Bly (pseudônimo
de Elizabeth Cochran Seaman – 1864-1922), autora da frase: A energia aplicada e direcionada corretamente realizará
qualquer coisa... Veja mais aqui e aqui.
DOIS POEMAS - PARA
ONDE VOU - Para
onde vou, \ sob que candeeiro brilho, \ em que cobertor me abrigo, \ onde escondo o meu espanto, por \ que vidros
deslizam os meus olhos, \ sobre que escombros me levanto em estupor, \ onde
ponho minha alma para vôlei \ se o tempo não chega, \ se uma vida não chega
para encher \ o buraco onde pastam como restos de órfãos \ os sonhos que
embalei na infância? EU ESPERO POR VOCÊ
- Eu espero \ por você \ sob os sinais quebrados \ do cinema cantonês. \ Eu te
espero \ na fumaça amarela \ de uma linhagem desfeita. \ Espero-te no fosso
onde \ navegam \ ideogramas negros \ que já não dizem nada. \ Eu espero por
você nos portões \ de um restaurante \ em um cenário da Paramount \ para um
filme rodado diariamente. \ Deixo a chuva me cobrir \ com suas pontas dos
trilhos \ enquanto sinto sua chegada. \ Na companhia de um coro de eunucos, \
ao som do violino de uma corda de \ Li Tai Po \ aguardo-vos. \ Mas não venha \
porque o que eu realmente quero \ é esperar por você. Poemas
do escritor e etnólogo cubano Miguel Barnet Lanza.