DITOS & DESDITOS - A favela continua sendo o
espaço onde as pessoas não são proprietárias. Portanto, ali podem ser expulsas
e perder os imóveis onde moram. São lugares onde não houve ainda efetivação do
título de propriedade. É um processo extremamente lento, com muitas
complicações legais... Os
trabalhadores pobres constituíam uma categoria bem mais ampla que a de
operário. Uma população heterogênea de todos os pontos de vista, da inserção no
mercado de trabalho, da formação étnica, racial, tudo... Defender o roubo como recurso de
distribuição de renda revela um enorme desconhecimento das redes e tramas do
submundo do crime, onde grassa o capitalismo mais selvagem de que se tem
notícia... Pensamento da antropóloga Alba
Zaluar (1942-2019). Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Os militares contam
demasiado com a força, e os políticos contam demasiado com a habilidade... Questiono-me se a guerra não é provocada
senão pelo único objectivo de permitir ao adulto voltar a ser criança, regredir
com alívio à idade das fantasias e dos soldadinhos de chumbo... Pensamento
do escritor francês Michel Tournier (1924-2016).
POLLYANA - [...] O que homens e mulheres
precisam é de encorajamento.Seus poderes naturais de resistência devem ser
fortalecidos, não enfraquecidos….Em vez de sempre insistir nos defeitos de um homem,
conte-lhe suas virtudes.Tente tirá-lo de sua rotina de maus hábitos.Mostre a ele seu eu melhor, seu verdadeiro eu que pode
ousar, fazer e vencer!… A influência de um personagem bonito, prestativo e
esperançoso é contagiante e pode revolucionar uma cidade inteira….As pessoas irradiam o que está em suas mentes e em seus
corações.Se um homem se sente gentil e prestativo, seus vizinhos
também se sentirão assim, em pouco tempo.Mas se ele repreende, franze a testa e critica - seus
vizinhos retribuirão carranca com carranca e aumentarão o interesse!... Quando
você procura o mal, esperando por ele, você o receberá.Quando você sabe que encontrará o bem - você o
conseguirá...Diga a seu filho Tom que você sabe que ele ficará feliz
em encher aquela caixa de lenha - então observe-o começar, alerta e interessado![...] Bem, talvez seja natural.Claro que as coisas que você não conhece são sempre
melhores do que as coisas que você faz, assim como o pertador do outro lado do
prato é sempre o maior.Mas eu gostaria de olhar assim para alguém distante.Não seria ótimo, agora, se alguém na Índia me quisesse?[...]. Trechos extraídos
da obra Pollyana (Companhia Nacional,
2003), da escritora estadunidense Eleanor Emily Hodgman
Porter (1868-1920).
DOIS POEMAS - SOU UMA MULHER: eu sou uma mulher \
eu sou um amante \ eu sou um poeta \ eu sou uma filha \ Sou esposa, sou mãe! \ eu
perdi a infância \ com a tempestade mais antiga \ lavei a virgindade \ à tão
esperada chuva! \ ao vento \ para a terra \ para a areia \ Eu ainda sou uma
Mulher! \ Para as escadas de \ rachaduras nas paredes \ Eu ainda sou uma
Mulher! \ Lembrar \ a história do estanho na China? \ As fotos! \ Mulheres
limitadas \ Crescendo, mas não os pés! \ Dificilmente andando, dificilmente
pegando até mesmo uma coisa minúscula! \ Seus pais, irmãos, maridos, filhos \ Estas
são mulheres \ Pinturas nas paredes! \ Você torce seus pulmões! \ Aí você se
sente uma mulher! \ ainda estou proibido \ Em suas palavras largas e selvagens
\ Fragmentos de litania rodeada! \ Lembre de mim \ A mulher em mim \Para não
cair no limbo! \ Lâmpadas fluorescentes \ Assemelhando-se aos meus seios! \ retratos
pálidos \ da minha feminilidade \ e Meca ficando azul com minha vergonha! \ anjos
líquidos \ Chamar reuniões secretas \ quebrar \ as fronteiras do silêncio \ Escondido
nos armários \ são meus pensamentos \ Minhas ações \ são roxos demais! PARA MULHERES DO AFEGANISTÃO: Enquanto ando pelas ruas de Cabul, \ atrás
das janelas pintadas, \ há corações partidos, mulheres quebradas. \ Se não
tiverem família masculina para acompanhá-las, \ morrem de fome mendigando o pão,
\ os outrora professores, doutores, professores \ hoje nada mais são do que
casas ambulantes famintas. \ Nem mesmo saboreando a lua, \ eles carregam seus
corpos por aí, nos véus do caixão cobertos. \ São as pedras do fundo da fila...
\ suas vozes não podem sair de suas bocas secas. \ Borboletas voando não têm
cor nos olhos das mulheres afegãs \ pois eles não podem ver nada além de ruas
sombreadas de sangue \ por trás das janelas coloridas, \ e não consigo sentir o
cheiro do pão de nenhuma padaria \ para os corpos de seus filhos expondo,
cobrem qualquer outro cheiro, \ e seus ouvidos não podem ouvir nada \ pois eles
ouvem apenas suas barrigas famintas \ chorando vozes inéditas de seus donos\ com
cada som de tiro e terror. \ Remédio para a amarga anistia silenciada, \o
derramamento de sangue da vida da mulher afegã \ sobre
a-sem-limitação-de-sentenças-pedindo ajuda \ enquanto as vozes se afastam, não
saindo, mas pressionando com força \nos finais trágicos de suas vidas. \ "Mulher,
você é o Marrom Violetas de Março?" \ "Eu vi um anjo no Miramar \ eu
esculpi e esculpi \ até que eu a libertei". \ -Michele Ângelo \ Minha
utopia escovada \ uma corrente incomum \ se tornou\ circulação autobiográfica
de \ sorte extraviada diabólica. \ como mulher hoje \ Eu tenho \ nunca tive
muita fruta \ Muita felicidade \ A ambição dos meus pais \ para não me ver
selando meu corpo \ às tristes janelas pintadas \ Homens com identidade
desconhecida \ sem rostos \ decidir pela minha própria existência \ Minha voz \
uma declaração gravada \ eu sou um pardal saltitante \ Talvez amanhã \ atrás do
véu \ a carne \ morre \ toda a dor \ a tristeza \ de ser mulher \ no
Afeganistão \ no ano zero, zero, zero \ eu tentei \ eu tentei \ derramar óleo
ardente nas células que choram \ no meu corpo \ Dentro \ só dentro \ o óleo
queimando \ eram as casas envenenadas dos desejos! \ Um cogumelo na
cidade-mundo-do universo \ De tentar passar pela morte \ a cabeça primeiro e
depois o pão pingando \ vem \ Mudança \ de uma idade para outra \ Animado
brincando com a morte \ Eu morro para morrer e vivo para viver \ Se eu pudesse
viver \ uma vida nobre. Poema da poeta
iraniana Sheema Kalbasi.
A LINGUAGEM NA FILOSOFIA DE MARILENA CHAUÍ - A partir de uma leitura no capítulo 5, da obra “Convite à Filosofia”, da filosófa brasileira Marilena Chauí, sobre “A linguagem”, importantes reflexões são levadas numa abordagem esclarecedora. Inicialmente a autora inicia aborda a máxima aristotélica de que o homem é um animal político, no sentido de social e cívico, em virtude do poder da linguagem. Em sua referência, através do pensamento do filósofo grego Aristóteles, se distingue a manifestação do homem com outros animais, quando ao homem é dado o poder da palavra, no sentido grego “logos” e aos demais animais, apenas, a voz, no sentido “phoné”. A partir de Aristóteles, a eminente professora discorre acerca do aprofundamento temático, com releitura do filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau, que comunga da mesma idéia aristotélica. Daí, ela recorre seguindo o pensamento do lingüista dinamarquês Louis Trolle Hjelmslev, trazendo a importância da linguagem no processo de comunicação e de relação social e política do ser humano.
Numa outra vertente, Marilena traz o sentido de linguagem adotado pelo filósofo grego, Platão, que obtinha o sentido de “phámakon”, ou seja, segundo ela, esta palavra adotava um tríplice sentido na idéia platônica, quais sejam, o de remédio, veneno e cosmético. Neste sentido, Chauí (2004, p. 148) assinala: “(...) Platão considerava que a linguagem pode ser um medicamento ou um remédio para o conhecimento, pois, pelo diálogo e pela comunicação, conseguimos descobrir nossa ignorância e aprender com os outros. Pode, porém, ser um veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz aceitar, fascinados com o que vimos ou temos, sem que indaguemos se tais palavras são verdadeiras ou falsas. Enfim, a linguagem pode ser cosmético, maquiagem ou máscara para dissimular ou ocultar a verdade sob as palavras. A linguagem pode ser conhecimento-comunicação mas também pode ser encantamento-sedução”. Nesse sentido, enfatiza a autora que esta idéia platônica é encontrada na passagem bíblica da Torre de Babel, quando o homem fora castigado pela audácia de alcançar a divindade, provocando, pois, a confusão resultante de tal façanha: várias línguas para que se desentendessem.
A partir dessas duas linhas de pensamento, a platônica e a aristotélica, bem como dos mitos e religiões, a autora parte para a apresentação da força da linguagem considerando o mito bíblico da gênese, o exemplo clássico que se mantém até os dias atuais nas liturgias religiosas cristãs, assim como os rituais indígenas, africanos e de feitiçaria, onde a invocação através de sentenças, frases, passes e sons vocálicos, anunciam a transformação do ambiente com introdução divina solidificando suas crenças e, ao mesmo tempo, criando tabus que se tornam sacralizados e não devem ser profanados.
Na dimensão grega dada à linguagem no sentido “logos”, Marilena Chauí ressalta que este sentido possui uma tríplice significação com a idéia de fala/palavra, pensamento/idéia e realidade/ser. Neste sentido, Chauí (2004, p. 149), afirma: “(...) Logos é a palavra racional em que se exprime o pensamento que conhece o real. É discurso (ou seja, argumento e prova), pensamento (ou seja, raciocínio e demonstração( e realidade ( ou seja, as coisas e os nexos e as ligações universais e necessárias entre os seres. Logos é a palavra-pensamento compartilhada: diálogo; é a palavra-pensamento verdadeira: lógica; é a palavra-conhecimento de alguma coisa: o ´logia` que colocamos no final de palavras como cosmologia, mitologia, teologia, ontologia, biologia, psicologia, sociologia, antropologia, tecnologia, filologia, farmacologia, etc”. Fica, portanto, distinguido a dualidade existente no poder da linguagem, sendo uma dimensão apoiada nos mitos que são consagrados nas religiões e sociedades, enquanto que a outra, na racionalidade, ou seja, como bem menciona a autora, “as palavras são conceitos ou idéias, estando referidas ao pensamento, à razão e à verdade”, (p. 150).
Nesse ínterim, a autora se direciona para a abordagem acerca da origem da linguagem, fazendo distinção entre esta e a língua, em conformidade com o que se patenteou da divergência grega, consolidando-se a linguagem como natural e, a língua, convencional. Ou seja, como ela mesmo se reporta: “A linguagem como capacidade de expressão dos seres humanos é natural, isto é, os humanos nascem com uma aparelhagem física, anatômica e fisiológica que lhes permite expressarem-se pela palavra; mas as línguas são convencionais, isto é, surgem de condições históricas, geográficas, econômicas e políticas determinadas, ou, em outros termos, são fatos culturais. Uma vez constituída uma língua, ela se torna uma estrutura ou um sistema dotado de necessidade interna, passando a funcionar como se fosse algo natural, isto é, como algo que possui suas leis e princípios próprios, independentes dos sujeitos falantes que a empregam” (p. 150). Responde, pois, que a linguagem se originou da imitação, ou seja, a onomatopéia ou imitação dos sons animais e naturais; da imitação dos gestos; da necessidade humana para enfrentar as intempéries; e das emoções, ou seja, das sensações intrínsecas do ser humano.
Partindo, pois, para o que significa, enfim, a linguagem, a autora afirma que:”A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comunicação entre pessoas e para a expressão de idéias, valores e sentimentos” (p. 151). Ou seja, a partir de tal definição uma complexa rede de significados se inserem como sendo a linguagem um sistema, que indica coisas, que estabelece a comunicação e que exprime pensamentos, sentimentos e valores. Ou como a própria autora diz: “A definição nos diz, portanto, que a linguagem é um sistema de sinais com função indicativa, comunicativa, expressiva e conotativa”(p. 151). Nessa condução, a autora se direciona para as questões que levam a uma outra duplicidade de idéias, através da divergência conceitual adotada pelos empiristas, de um lado, e pelos empiristas, de outro.Os empiristas consideram a linguagem um fenômeno físico que não se tem consciência de sua causa, mas sim de seus efeitos. Já os intelectualistas consideram a linguagem como um instrumento do pensamento para exprimir conceitos e símbolos, para transmitir e comunicar idéias abstratas e valores.
Na observação da autora, ambas as teorias que se mostram antagônicas, se complementam em pontos comuns como o fato da linguagem ser considerada como um instrumento indicativo ou denotativo e de representação das coisas e das idéias.
Mais adiante a autora aborda o movimento de purificação da linguagem através do positivismo lógico que distinguiam a linguagem natural da lógica, quando a primeira seria a que se fala no dia-a-dia e caracterizada pela imprecisão, enquanto que a segunda, seria formalizada e inspirada na matemática e na física. Com isso, a autora chega nos estudos realizados através da lingüística na definição da origem da linguagem e, com tais estudos lingüísticos chegou-se a conclusão que a linguagem é constituída pela língua e a fala ou palavra, que a língua é uma totalidade ou uma estrutura; que numa língua distinguem-se o significante e o significado; que a relação dos signos e significante com as coisas é convencional; que a língua é um código e se realiza por meio de mensagens; que o sujeito falante possui as capacidades de competência e desempenho; e que a língua é praticada de maneira não consciente.
Por fim, a autora passa descrever a experiência da linguagem no fato de como ela se relaciona e relaciona os seres humanos, considerando a tradicionalidade da relação binária da linguagem a partir do signo verbal como coisa indicada ou como idéia, conceito, valor, ou seja, expressando a realidade ou o pensamento, quando, no entanto, estudos realizados pela filosofia da linguagem encontraram uma forma ternária, considerando que a linguagem refere-se ao mundo por meio das significações possibilitando a relação ser humano com a realidade; que ela se relaciona com sentidos já existentes e cria sentidos novos, proporcionando a relação humana com o pensamento; que exprime e descobre significados, viabilizando a comunicação na relação entre os seres humanos; e tem o poder de suscitar significações, recordando, imaginando coisas novas reais ou fictícias. Ou seja, como a autora explicita: “A linguagem não traduz imagens verbais de origem motora e sensorial nem representa idéias feitas por um pensamento silencioso, mas encarna as significações. As palavras têm sentido e criam sentido” (p. 156).
Esclarecedoras informações são magistralmente abordados à luz da filosofia para compreensão da linguagem e do processo de comunicação entre os seres humanos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
FONTE BIBLIOGRÁFICA:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004, p. 147/156.
Veja
mais sobre:
Fonte no
Crônica de amor por ela, Gabriel García Márquez, Paul
Éluard, José Paulo Paes, Alan Watts, Carmina
Burana de Carl Orff, Michel de Montaigne, Fernando Bonassi, Ingmar
Bergman, Birgitta
Valberg, Maurice Béjart, Birgitta Pettersson & Rachel
Lucena aqui.
E mais:
Ana
Lins, a Revolução Pernambucana de 1817 & Todo dia é dia da mulher aqui.
João
Cabral de Melo Neto, Joan Baez, Rigoberta Menchú, Simone de Beauvoir &
Eduardo Viana aqui.