O QUE SOU DELA & NELA... - Sou seu pescador para fisgá-la com meus tentáculos pelas correntes e presa deslavada trazê-la à tona com olhos de raios faiscantes sob as pálpebras apaixonadas de irresistível pagã, nua sereia tentadora dos seios flutuantes e pecaminosos, a se impor silhueta voluptuosa de escrava extraordinariamente sedutora pro incêndio devastador do meu apetite irrefreável. Sou caçador dos seus movimentos inquietantes a conspirar sua submissão para inflamá-la rastejante e devotada à caçada de seu corpo ondulante de felina indomável, arredia à minha espreita em riste, refém da armadilha e eu sorvo seu fôlego agitado de ninfomaníaca estabanada. Sou seu escultor porque cheiro e tateio as suas linhas e curvas, superfície etérea, recantos insondáveis até que tonta desvairada me faça seu brinquedo favorito, rendida, esfaimada a amolegar meu sexo degenerado com todos tagatés de sua perícia amorante às fricções, bem-me-quer e mal-me-quer, enquanto o conduz para desvendar todos os seus ângulos, rotas e derivas, aos esfregões e suspiros pro reino da sua calcinha negra estufada guardando o nenúfar em brasa. Sou seu sorvete na ponta da língua estirada pelos arredores da glande e a saborear aclives pra cura dos supostos talhos da solidão e pronta para abocanhar faminta a minha vertical ereção com todas as estrelas da sua abóbada palatina, como se fosse o consolo por mais desejado. Sou depois então o seu alazão insone para cavalgar Lady Godiva nua lúbrica indômita, esfregando-se úmida a deslizar o ventre, cavaleira fremente com o sangue quente, a fazer nela todos os dias para que eu chuvisque o cume vulnerável do platô púbico e roce-lhe o clitóris do bico da chaleira ferver abrindo-se em flor para devassá-la funduras vertiginosas, lonjuras por usurpar com todos os festejos ardorosos a derramar a fonte de todas as suas águas e eu às braçadas, dedos vasculhadores, um a um se enfiando em seu ânus e a revirando toda para que seja rechaçada completamente qualquer fuga ou evasão, sou esfregando-me às suas costas arqueadas por seu esfíncter mais que cobiçado, enquanto aos rebolados manhosos dos glúteos ela saracoteia despudorada cheia de molejo e disposta a ser escalpelada, inclinando-se aos solhos revirados para excruciante açoite, até senti-la em convulsão a se sacudir macia como algodão como se me quisesse prato pra comer, cama pra se aninhar, e toda viagem enfiada ao meu bastão até o fim de toda eternidade. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Os livros que eu escrevo sempre funcionam como mapas, procurando unir pontos de uma constelação não antes vista... Pensamento extraído da obra La historia de mis dientes (Sexto Piso, 2013), da escritora mexicana Valeria Luiselli.
ALGUÉM FALOU: E o que é a morte senão uma só e mesma coisa, vazia e obscura, pouco importando o braço que a executa?... Pensamento extraído da obra
El viento que arrasa (Mardulce, 2012), da escritora argentina Selva Almada.
MEMÓRIA – [...] A memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem e no objeto. A história se prende às continuidades temporais, à evolução e às relações entre as coisas. [...]. Trecho extraído da obra Les lieux de mémoire (Gallimard, 1984), do historiador francês Pierre Nora.
CEGUEIRA - [...] Chegara mesmo ao ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era afinal, senão a simples ausência da luz, que o que chamamos cegueira era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os intactos por trás do seu véu negro. Agora, pelo contrário, ei-lo que se encontrava mergulhado numa brancura tão luminosa, tão total, que devorava, mais do que absorvia, não só as cores, mas as próprias coisas e seres, tornando-os, por essa maneira, duplamente invisíveis. [...]. Trecho extraído da obra Ensaio sobre a cegueira (Companhia das Letras, 1995), do escritor, teatrólogo, jornalista e dramaturgo português José Saramago (1922-2010). Veja mais aqui e aqui.
POEMAS – HINO A AFRODITE - Afrodite imortal de trono brilhante, \ Filha de Zeus, Feiticeira, eu te imploro, \ Poupe-me, ó rainha, desta agonia e angústia, \ Não esmague meu espírito. II - Sempre que antes você me ouviu - \ À minha voz chamando por você à distância, \ E atendendo, você veio, deixando os \ domínios dourados de seu pai, III - Com a carruagem atrelada aos teus corcéis de asas velozes, Agitando asas \ velozes sobre a escuridão da terra, \ E levando-te através do infinito, deslizando \ Do céu para baixo, IV - Então, logo eles chegaram e tu, deusa abençoada, \ Com sorriso divino, me perguntaste \ Que novo infortúnio me sobreveio agora e por quê, \ Assim eu chamei o. V - Qual era o meu maior desejo em meu coração louco, \ Quem era agora que deveria sentir minhas seduções, \ Quem era a bela que deveria ser persuadida, \ Quem te ofendeu Safo? VI - Pois se agora ela foge, rapidamente ela seguirá \ E se ela rejeita presentes, logo ela os oferecerá \ Sim, se ela não conhece o amor, logo ela o sentirá \ Mesmo relutante. VII - Venha então, eu rogo, conceda-me o fim da tristeza, \ Afaste o cuidado, eu te imploro, ó deusa \ Cumpra para mim o que eu anseio realizar, \ Seja meu aliado. UMA GAROTA – Eu \ Como a doce maçã que fica vermelha no galho mais alto, \ No topo do galho mais alto, - que os depenadores esqueceram, de alguma forma, - \ Não esqueça, não; mas não conseguiu, pois ninguém poderia obtê-lo até agora. II - Como o jacinto silvestre que se encontra nas colinas, \ Que os pés que passam dos pastores para sempre dilaceram e ferem, \ Até que a flor roxa seja pisada no chão. CHARAXOS E LARICHOS - Diga o que quiser sobre Charaxos, \ isso é um sujeito com um navio barrigudo \ sempre em algum porto ou outro. \ O que importa a Zeus ou ao resto de sua gangue? \ Agora você gostaria de me de joelhos, \ gritando para Hera: “Blá, blá, blá, \ traga-o para casa são e salvo e livre de verrugas”, \ ou choramingando: "Wah, wah, wah, obrigado, \ obrigado, por curar minha condição de fígado.” \ Meu Deus, os deuses fazem o que querem. \ Eles chamam furacões com um sussurro \ ou envie um tsunami da mesma forma que enviaria uma carta de amor. \ Se eles têm um capricho, eles fazem alguns capangas \ conserte, como aqueles idiotas da Ilíada. \ Uma nuvem de fumaça, um pouco de névoa, lá vai o herói, \ é feliz para sempre. Quanto a Larichos, \ aquela cama deitada vive para o travesseiro. Se por uma vez \ ele se levantaria, ele poderia fazer algo de si mesmo. \ Então daquele fedorento esgoto da minha vida \ Eu poderia puxar um balde de água de nascente. Poemas extraídos da obra Stung with Love: Poems and Fragments (Penguin, 2009), da célebre poeta grega Safo de Mitilene, da ilha de Lesbos (ilha esta que à época seu nome significava Felação, conforme anotado no grego antigo e por Luciano de Samósata), contemporânea dos poetas Pítaco e Alceus. Veja mais aqui e aqui.
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