quinta-feira, março 07, 2013

GRAMSCI, NANCY MITFORD, CLARENCE DAY, AGNIESZKA HOLLAND, SOLLERS & LITERÓTICA


 

LITERÓTICA: HEDONISMO - Ela chega toda imoderada feita Ísis esplêndida e insone qual fêmea nua alada a carregar outros nomes de antanho na guarda louca de em si ser todas as outras inominadas efêmeras ao banho no bálsamo das noites e dias lascivos do amálgama intemperante da loucura do meu hedonismo para lá de despudorado. Ela chega venturosa à minha vida vesga desmedida com seus lábios sedentos como se fossem sábios em polvorosa reunindo todas as prendas amealhadas a me premiar por comenda todas as suas oferendas aprazíveis de tudo e de nada. Chega etérea de guarida úbere tal fruteira guarnecida de todas as seivas dos deleites incontáveis, ardendo de cio e minando de viço no antro inguinal de todas as iguarias apetitosas que me apetecem e tornam-me corsário reinando sobre todos os seus pertences. É nela que vou idôneo e contumaz de fato, sem licença pelo cheiro da fenda fêmea que ao meu tato subjaz perdulária pelo desacato de prendê-la pelo ancôneo e me apraz submetê-la com toda a abastança do seu pódice na varanda feudal da minha grei abastada até rompê-la aviltada, vou feito um bei a devorar o seu mignon filé que é onde faço o meu cânon e escrevo a minha lei. Nela eu vou prear carniceiro ginófago, esfolando matreiro canibal a sua carne vadia arfante e sensual, feito priapo galante festeiro aos sopapos escarnecendo dos seus selos intactos, seus contornos esfregados aos montões a valer, seu dorso morno fulgurante a me embevecer, a lhe aprisionar com os grilhões do meu poder. É quando ela soluça toda tinhosa atávica, desaprumada errante e idílica, ninfomaníaca ensopada, agarrada no meu galho rijo na sua boca volúvel de todos os devaneios onde ouso jorrar queda dágua na sua cuia e seus meios com a minha cunha e todo estandarte do meu carnaval. Espalmada e nua ela rendida me presenteia a sua grelha emergida para que eu possa espargir meu gozo na sua carne suada, delineada e tépida, nítida na escuridão. Mais eu lhe encharco e sinto seu gozo chiando farto e eu sorvendo seus regatos que escoam no guante do meu desejo, a matar a minha sede na sua vulva férvida onde vejo o palco inusitado para minha língua e meus dedos traquinos vasculharem seus vãos femininos e me acendem para arregaçar minha nova gula na sua altivez que me enlouquece a bússola e de vê eu tomo e crivo pra me apoderar de toda a sua languidez espalmada, tomo enfim posse do que é meu na raça e como um deus furtivo em estado de graça nela faz a morada por onde a vida passa e eu vivo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Pare de se surpreender com a constatação de que o sexo é objeto de tal mal-entendido e de tal falta de jeito automático que implica ou uma aversão universal ou uma veneração universal. O mundo é das mulheres. Em outras palavras, até a morte. Mas todo mundo mente sobre isso. Pensamento do escritor francês Philippe Sollers. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Seja você mesmo. Não finja que sabe algo que não sabe. Não crie a aparência de autoridade falsa. Fale sobre as coisas com as quais você realmente se importa... Pensamento da escritora polonesa Agnieszka Holland. Veja mais aqui.

 

O AMOR EM CLIMA FRIO [...] Você não tem ideia de quanto tempo a vida dura e quantas, muitas mudanças ela traz. Os jovens parecem imaginar que tudo acabou em um piscar de olhos, que eles fazem isso ou aquilo e depois morrem, mas posso garantir que eles estão completamente errados. [...] Bem, agora você pode ver por si mesmo que ela era delicada, disse Davey triunfantemente. “Ela está morta. Isso a matou. Isso não te mostra? Eu gostaria de poder fazer vocês, Radletts, entenderem que não existe doença imaginária. Ninguém que esteja muito bem poderia se dar ao trabalho de fazer todas as coisas que eu, por exemplo, sou obrigado a fazer para manter de pé meu miserável corpo. [...]. Trechos extraídos da obra Love in a Cold Climate and Other Novels ( Penguin, 2000), da escritora britânica Nancy Mitford (1904-1973).

 

O SEM NOME - Rola, minha canção, como o rio caudaloso, / Que se arrasta para o poderoso mar; / Deus me inspirará enquanto eu entrego / minha alma de ti! / Diga ao mundo, quando meus ossos estiverem embranquecendo / Entre os últimos lares da juventude e da velhice, / Que uma vez houve alguém cujas veias corriam relâmpagos / Nenhum olho viu. / Conte como sua infância foi uma hora sombria da noite, / Como brilhou para ele, através de suas dores e melancolia, / Nenhuma estrela de todo o céu envia para iluminar nosso / caminho para a tumba. / Continue, minha canção, e para além das eras / Conte como, desdenhando tudo o que a terra pode dar, / Ele teria ensinado aos homens, nas páginas da sabedoria, / O caminho para viver. / E contar como pisoteado, ridicularizado, odiado, / E desgastado pela fraqueza, doença e injustiça, / Ele fugiu para se abrigar em Deus, que combinou / Sua alma com o canto. / Com uma canção que sempre, sublime ou insípida, / Flui como um riacho no raio da manhã, / Talvez não profundo, mas intenso e rápido / m riacho da montanha. / Conte como esse Sem-Nome, condenado por muitos anos / A pastorear com demônios do inferno abaixo, / Viu coisas que o fizeram, com gemidos e lágrimas, ansiar / Até mesmo pela morte. / Continue contando como, com o gênio desperdiçado, / Traído na amizade, enganado no amor, / Com o espírito naufragado e as jovens esperanças arruinadas, / Ele ainda, ainda lutou; / Até que, gasto com labuta, sonhando com a morte para os outros / (E alguns cujas mãos deveriam ter trabalhado para ele, / Se os filhos não vivem para pais e mães), / Sua mente tornou-se obscura; / E ele caiu profundamente naquele poço abismal, / O golfo e a sepultura de Maginn e Burns, / E penhorou sua alma pelo sombrio / Estoque de retornos do diabo. / Mas ainda redimiu-o em dias de escuridão, / E formas e sinais da ira final, / Quando a morte, em hedionda e pavorosa dureza, / Parou em seu caminho. / E conte como agora, em meio a destroços e tristezas, / E carência, doenças e noites sem casa, / Ele aguarda em calma o amanhã silencioso, / Que nenhum raio ilumina. / E ele ainda vive, então? Sim! Velho e envelhecido / Aos trinta e nove anos, de desespero e aflição, / Ele vive, suportando o que a história futura / nunca saberá. / Conceda-lhe uma sepultura, vós, nobres compassivos, / Bem no fundo de vossos seios: ali o deixe habitar! / Ele também chorou por todas as almas em apuros, / Aqui e no inferno. Poema do poeta estadunidense Clarence Day (1874-1935).

 


ANTONIO GRAMSCI - O filósofo, cientista político e militante do partido comunista italiano, Antonio Gramsci, nasceu na vila Cisper, no norte da ilha mediterrâena da Sardenha, no dia 22 de janeiro de 1891. Ele era o quarto filho de pais camponeses e, desde criança, sofria de males nervosos e físicos, além de ser vítima de várias brincadeiras por ser ligeiramente corcunda. Aos 20 anos, recebendo um prêmio estudantil, foi para Turim cursar faculdade de Literatura na Universidade de Turim. Tendo em vista que esta cidade estava em franco desenvolvimento industrial, ocorreram vários conflitos nas relações trabalhadores e fábricas, emergindo um movimento sindical que levou Gramsci a envolver na luta dos trabalhadores. Em 1920, tornou-se jornalista e participou como um dos integrantes da fundação do partido comunista italiano que, mais tarde, lhe viraria as costas. Influenciado pelo pensamento marxista, foi mais adiante e superou as idéias de Marx, Engels e Lênin, escrevendo artigos no jornal oficial do Partido Socialista, adquirindo fama pela sua arte de escrever e de pensar a teoria política. A partir daí passou a ser editor de inúmeras publicações, fundando jornais e se tornando um dos líderes do Partido Comunista, tendo suas teses discutidas em congressos promovidos pelo partido. Viajando à Russia para representar o partido, conheceu a violinista Giulia Schuchit com quem se casou. A partir daí começa uma luta contra o fascismo italiano, tentando unir as esquerdas, principalmente os partidos Socialista e Comunista, o que encontrou resistência, perseguindo o propósito de fazer oposição ao fascismo de Mussolini. Em 1924 ele se elege deputado, passando a viver em Roma quando a família se encontrava alojada em Moscou. A partir daí além da luta contra o fascismo italiano, passou a enfrentar as idéias e os erros políticos de Stálin no Partido Bolchevique russo. Por causa disso, ignorando a sua imunidade parlamentar, a polícia fascista o prendeu, em 8 de novembro de 1926, sendo sentenciado, inicialmente, a 5 anos de confinamento na ilha de Ustica e, logo em seguida, condenado a 20 anos de prisão, em Turi. Foi na prisão que ele produziu cerca de mais de 3 mil páginas, onde teve que criar neologismos e metáforas para camuflar suas idéias revolucionárias conceituais e driblar a censura carcerária. Nesse período produziu obras marcantemente inteligentes, recheadas de princípios originais abordando questões acerca da escola, materialismo, cultura, intelectualidade.
As suas obras foram publicadas a partir de 1947. Destacam-se entre elas “O materialismo histórico e a filosofia de Benedetto Croce”, de 1948, “O ressurgimento”, de 1949, “Os intelectuais e a organização da cultura”, de 1949, “Literatura e vida nacional”, de 1950, e “Passado e presente” de 1951. Por causa dos maus tratos da prisão, seus problemas de saúde se agravaram, levando a uma tentativa de troca de prisioneiros políticos entre a Itália e União Soviética que fracassou. Morreu aos 46 anos de idade, em Roma, no dia 27 de abril de 1937, vítima das condições carcerárias, solidão e doenças porque estava há mais de 10 anos entre o cárcere e as detenções em hospitais.
AS IDÉIAS DE GRAMSCI - As idéias gramscianas estavam baseadas no marxismo. E segundo Anderson (1986, p. 36), as suas idéias “[...] possuíam a crença de para que as barreiras sociais sejam transpostas não adianta fazer uma política apenas de insurreição ou de luta golpista contra o estado”. Neste sentido, o autor chamava a atenção para o fato de que, para Gramsci, haveria a necessidade de uma revolução no cotidiano feita pela sociedade e na sociedade, apregoando que de nada adiantaria a execução de uma luta de pura força física ou de puro poder econômico, mas que deve partir na busca da conquista da consciência das pessoas e ganhar a "batalha das idéias" na luta pela hegemonia da sociedade. No seu pensamento, Gramsci (2005) entende que a hegemonia dá conta das relações travadas entre as classes sociais, especificamente fora do terreno da produção econômica. A novidade da concepção gramsciana de hegemonia é distinguir os dois modos pelos quais ela se manifesta: um pelo domínio; outro, pela direção intelectual e moral. O domínio supõe o acesso ao poder e o uso da força, compreendendo a função coercitiva; a direção intelectual e moral se faz através da persuasão, promove a adesão por meios ideológicos, construindo a função propriamente hegemônica. Encontra-se nas idéias gramsciana uma idéia conceitual de hegemonia que, segundo o próprio Gramsci (2004, p. 132), na luta por essa hegemonia “[...] há os que desejam mantê-la e os que desejam forma uma nova”. Para ele, esses dois grupos se unem por afinidade de interesses formando distintos blocos históricos e que cada bloco tem seus intelectuais que são os organizadores da cultura e que definem os parâmetros, conforme seus interesses, pelos quais os homens conceberão o mundo. Esses intelectuais desempenham um papel fundamental tanto na consolidação da hegemonia como na formulação da contra-hegemonia. Para ele, a hegemonia pressupõe a existência de alguma coisa que é verdadeiramente total, que é vivenciada tão profundamente que satura a um tal ponto a sociedade e que constitui o mesmo limite do senso comum para a maioria das pessoas que se acham sob seu domínio. Com isso, entende-se que a luta hegemônica significa precisamente o processo de desarticulação-rearticulação trata-se de desarticular os interesses dominantes, aqueles elementos que estão articulados em torno deles, e rearticulá-los em torno dos interesses populares, dando lhes a consciência, a coerção e a coerência de uma concepção do mundo elaborada. Tal idéia é reproduzida quando Gramsci (2004, p. 90) reflete sobre o Estado que, segundo ele é composto da sociedade civil mais a sociedade política. Para ele, a primeira é o conjunto das instituições responsáveis pela representação dos interesses de diferentes grupos sociais. E a segunda é a hegemônica escudada pela coerção, tendo por portadores materiais os aparelhos coercitivos do estado e a sociedade civil os chamados "aparelhos privados de hegemonia" que são os jornais, revistas, igrejas. E, com isso, essas duas esferas servem para conservar ou transformar uma determinada formação econômica e social, de acordo com os interesses de uma classe social fundamental no modo de produção capitalista.
A sociedade civil, para Gramsci (2004), não pertence ao momento da estrutura, mas ao da superestrutura. O conceito de sociedade civil elaborada por Gramsci leva o autor a reiterar da infra-estrutura esse caráter primário e subordinante, ativo e positivo para atribui-lo a um dos momentos da superestrutura, precisamente a sociedade civil. È, com isso, o momento positivo e ativo, só que dentro da superestrutura, com relação a sociedade política ou Estado em sentido restrito; não com relação s infra-estrutura. Vê-se, pois, que a característica própria da produção teórica de Gramsci é a perspectiva da formação da sociedade que orienta sua reflexão e, portanto, a própria natureza dos conceitos que tal reflexão produz. Essa perspectiva tem origem certamente no seu profundo engajamento na luta de classes, isso porque Gramsci estava preocupado com a transformação dessa sociedade e com os caminhos das classes subalternas rumo á tomada desse poder. É com essas idéias que Gramsci reflete sobre o marxismo quando, segundo Anderson (1986), dando um passo a frente ao apresentar um quadro de alternância entre fascismo e democracia, quando a classe operária coloca-se como um perigo iminente, uma vez possuidora de um ganho de consciência acerca da sua função. É a partir daí que Gramsci transforma o marxismo numa filosofia de práxis, ou seja, parte-se do pressuposto que se tem  um conjunto de atividades que visavam transformar o mundo e, em particular, os meios e as relações de produção, sobre os quais repousam as estruturas sociais.  Nessa direção Gramsci (2005, p. 231) insere os conceitos de "Guerra de movimento" e de "Guerra de posição", que são condicionados pelos diferentes ritmos nos quais têm lugar os processos políticos e econômicos: “[...] devemos considerar as diferenças de ritmos estabelecidos pela economia e pela política, ou seja, uma iniciativa política bem alicerçada consegue liberar o impulso econômico dos empecilhos da política tradicional. Com relação à guerra de posição notamos que esta dissolve a viscosidade que torna improvável uma guerra de movimento. Contudo este argumento é obstaculizado pela possibilidade da guerra de posição guiar profundas transformações da economia a partir da política”. Mediante o exposto, entende que o autor pretende a construção dessa filosofia da práxis como processo continuo, permanente, respondendo aos problemas atuais do momento histórico. Para ele, essa construção deve sempre ter dois momentos: o primeiro é a critica do senso comum; o segundo é a critica das filosofias dos intelectuais, que deve ser sustentada e atualizada sem permitir que a filosofia da práxis se banalize ou vulgarize. Vê-se, pois, que a filosofia de práxis se apresenta como uma corrente de pensamento, cuja riqueza se manifestou não somente em suas versões ortodoxas, mas também em exposições filosóficas. Contudo o projeto de Gramsci tem por meta dar uma vitalidade originária aos clássicos do marxismo. Além disso, Gramsci (1978, p. 6) defendia que é “[...] importante não considerar de antemão toda ideologia como arbitrária e, portanto, inútil para transformar a realidade”, considerando que há ideologias historicamente necessárias que "[...] organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam etc.".
A ideologia, para Gramsci (2005) possui duas tendências: Orgânica e Arbitrária. A primeira é coletiva e necessária aos homens. Já a arbitrária tem o sentido negativo e pertence a classe dominante e não ajuda a estabelecer consenso entre as pessoas. Tudo isso se baseia na idéia gramsciana de que a nova concepção de mundo surgiria de um espaço ideológico a ser conquistado, substituindo a fé religiosa das massas dominadas pela fé em um projeto de classe dotado da mesma solidez e interatividade, fazendo os homens acreditarem na possibilidade de serem donos da própria historia. E, desse modo, pode-se dizer que Gramsci achava possível romper-se o isolamento entre intelectuais e povo através de uma nova concepção de mundo efetivamente difundida e capaz de elevar culturalmente as massas. A partir disso, passa-se para a observação das idéias de Gramsci com relação ao papel do intelectual e a educação.
O PAPEL DO INTELECTUAL E A EDUCAÇÃO - Gramsci, segundo Anderson (1986, p. 51), abordava o papel do intelectual “[...] como os estudiosos que partiram da ciência burguesa e construíram a ciência proletária”, tornando-se mediadores da relação entre a sociedade e o mundo, desdobrando-se em duas modelagens denominadas de intelectual orgânico e tradicional. Os orgânicos, para Gramsci (2004), seriam aqueles a quem cabe levar as massas à filosofia da práxis, não de fora para dentro, mas articulando-a com a reflexão que é possível, através da chamada núcleo de bom senso. Os tradicionais são aqueles que formam as classes que no passado eram os intelectuais da classe dominante da época. Atualmente possuem uma visão conservadora e apenas fazem alianças com as classes dominantes. Ambos os intelectuais tem a função de construir e consolidar a vontade coletiva. Além do mais, esses intelectuais são formados por escolas com certas tendências sociais tornando a educação em um processo tendencioso na formação do lideres e dos liderados. Isso porque, segundo ele, os intelectuais são também os portadores da função hegemônica que exerce a classe dominante na sociedade civil.
O sistema educacional se constitui num dos canais onde se dá a produção e a difusão da ideologia. Nesse sentido, Gramsci (1978, p. 111), "[...] a escola é o instrumento para formar intelectuais de vários níveis", observando, com isso, que a modalidade de Estado que pode garantir a instituição de um bloco histórico é possível na medida em que esse Estado possa ser educador, quando suas idéias seguem na construção da escola unitária que não está condicionada à derrocada do Estado burguês, pois se trata de um processo de superação da escola existente: decorrendo acima de tudo, do desenvolvimento dos elementos racionais da "escola nova" e da luta contra seus aspectos conservadores, elitistas, cristalizadores das divisões sociais. Essa escola atua num processo em que a construção do "novo" se afirma no bojo mesmo da luta pela destruição do "velho". Nisso, ele afirma que o advento da escola unitária significa o início de novas relações entre trabalho intelectual e trabalho industrial não apenas na escola, mas em toda vida social. O princípio unitário, por isso, irá se refletir em todos os organismos de cultura, tranformando-os e emprestando-lhes um novo conteúdo. Vê-se, pois, que Gramsci (2004) vê na educação unitária a solução para acabar com a dominação social. Essa educação, segundo Nosella (2004) e Mochcovith (1990), visa à formação de forma equilibrada entre o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente e o desenvolvimento das capacidades do trabalho intelectual. Nesse método apresentado por Gramsci, assinala Nosella (2004, p. 88) que “[...] ele tenta aproximação da escola com a vida, sem privilegiar um determinado tipo de pessoa”, ainda defendendo que nesta modalidade de escola as condições devem ser criadas para que os indivíduos possam ter acesso ao repertório máximo de informações que facilitem o processo pedagógico e o ensino-aprendizagem para participação do individuo na sociedade. Na ótica de Mochcovith (1990, p. 51) as idéias de Gramsci levam a entender que “A arma de uma escola é a sua ideologia; um sistema de verdade universal”, onde se encontra a necessidade de distinção entre a ideologia orgânica da arbitrária, quando a primeira, neste sentido, serve para organizar as forças sociais e para os homens e mulheres tomarem consciência de sua posição de luta, enquanto que no pensamento ideológico tudo é imposto de maneira alienada, com um domínio pelo poder de Estado do repasse e divulgação da doutrina. Tal fato, segundo o autor mencionado, leva a um confronto nesse processo, entre os intelectuais tradicionais, os orgânicos e a práxis da sociedade. Com isso visualiza-se que nas idéias de Gramsci a escola é uma ponte entre o Estado e a sociedade civil, atuando entre a força política e o consenso, quando a educação assume a representação da maior força ideológica e política do Estado e o papel de dominância na luta das classes.
A contribuição das idéias e filosofia de Gramsci traz uma série de reflexões necessárias ao homem contemporâneo, tendo em vista articular o compromisso do cidadão moderno com o seu tempo e a sua terra. Isso ele traz ao efetuar interrogações sobre o ser humano, a um só tempo libertador e poeta, diante da a ambigüidade profunda com que se defronta em seu cotidiano. Tais reflexões são feitas a partir da expressão da Cultura Popular, como cultura subalterna, a cultura do povo, subordinada à Cultura Oficial, a cultura da classe dominante, hegemônica. Com isso, Gramsci entende que, por exemplo, o Folclore é uma cultura de classe, apresentando-se como o saber do povo, o senso comum, a resistência das classes dominadas e que se opõe à Filosofia, o modo de saber das classes dirigentes. No entanto, ele considera o Folclore como uma coisa séria que tem que ser levado a sério e estudada, para interpretar a realidade das classes oprimidas. Nas suas idéias a diferença entre os modos de saber, compreender e explicar o mundo, e a própria ordem social, é qualitativa. E, nesse contexto, para Gramsci a escola pode ser, em certa medida, transformadora. É nesse sentido que Gramsci se posiciona no sentido de que o Direito precisa incorporar normas que emergem da sociedade, anseios de setores progressistas como igrejas, sindicatos, organizações não-governamentais, movimentos sociais, partidos políticos e universidades, concretizando assim seu papel institucional, propondo a integração entre o mundo do trabalho e o mundo da cultura, visando a unificação dos vários tipos de organizações culturais com o mundo acadêmico e à vida coletiva. Mediante o exposto, observa-se que a contribuição essencial de Gramsci como teórico da superestrutura foi a de proporcionar um conjunto de conceitos que permite pensar o processo de formação da consciência de classe trabalhadora no curso de uma luta hegemônica, para dar ao conjunto da sociedade uma direção política, intelectual e moral. Essa direção deve dispor de um projeto alternativo de sociedade, armando com respostas próprias e alternativas ás do poder vigente para o conjunto das questões enfrentadas pela sociedade em cada conjuntura. Vê-se, portanto, que, conclusivamente, as características do pensamento gramsciano traduz uma perspectiva da transformação da sociedade que orienta sua reflexão e, portanto, a própria natureza dos conceitos que tal reflexão produziu. Assim sua perspectiva é sempre elaborar conceitos que ajudem a classe operária e seus intelectuais (o seu partido) a firmar o poder do proletariado sobre o conjunto das classes subalternas e a disputar a direção intelectual e moral do conjunto da sociedade, visando à tomada do poder político e à alteração da situação de dominação. Veja mais do autor aquiaqui e aqui.

REFERÊNCIAS
ANDERSON, Perry. As Antinomias de Gramsci. São Paulo: Joruês,1986.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
_______. Escritos políticos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
_______. Cartas do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
_______. Literatura e vida nacional. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
MOCHCOVITCH, Luna Galano. Gramsci e a escola. São Paulo: Ática, 1990.
NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. São Paulo: Cortez, 2004



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