Imagem: The Fairy Feller's Master-Stroke (1855-1864), do pintor inglês da era vitoriana, Richard Dadd (1817-1886).
LITERÓTICA: A NATA DO
PRAZER - Quando enfim flagrei sua presença, jamais poderia
imaginar que perderia por completo a noção de tudo. Estava completamente
extasiado com a grandiosa beleza que emanava da fogueira ardente de seu corpo,
de seus olhos de mar revolto, de sua boca sedutora, do seu jeito mais que divino
e maravilhoso, ali, à mão-tenente. Nossa, como irradiava onímoda, pojante,
escorreita, máxima potranca ao meu dispor de ginete bem-aventurado. Graças à
vida, eis que ela, édule de antemão, sorria a mais linda feição fagueira. E
tudo isso me levava por um redemoinho agitado que eu abdicava de qualquer
salvação. Tomei pé ao possuí-la abrasada e colada ao meu corpo para que eu
pudesse exalar a odora maravilha de sua manifestação, enquanto beijava seus
olhos de céu, suas faces de maçã, sua boca de sedução. Nessa hora, o mundo e o
tempo se perderam de mim e de nós. Eu só sentia a saudade morrer de velha e o
desejo emergir indomavelmente. De tão extasiado, não pude conter a exagerada
ereção que se insinuava no meu membro dilatado e saliente ao contato de suas
coxas. Eu ardia de prazer e seu corpo me eletrocutava na mais das fantásticas
sensações ruidosas. Beijos estalavam incólumes. E de tão alvoroçado sequer
percebi que encurralado pelo seu domínio, era conduzido por um percurso jamais
saboreado. Eu só sabia de estar ao seu lado. Nem de longe percebi que
transcorríamos longo trajeto até chegarmos onde definitivamente nos fazíamos só
para o amor. Eu estava febril, juro, loucamente febril e só ansiava amar com
todo afinco de minha loucura apaixonada. Estávamos, finalmente, a sós num
quarto de hotel. Ali, a penumbra permitia que pudéssemos nos fitar efígie dada,
nos vasculhar, nos acercar de nós, tomar de nós a ciência de tudo que somos e
que podíamos nos fartar na mais libertina das vontades. O escuro não escondia
de todo a sua beleza. E eu devaneava agarrado como quem se entrega
definitivamente a tudo aquilo que mais e sempre desejava. Senti o seu domínio
ao arrancar-me a camisa, a demover as vestes, a me jogar com brusquidão na cama
e a se deitar por cima de mim como quem está disposta a me sufocar com a maior
avalanche de prazer. Tudo muito desordenado, muito intuitivo. Queríamos e
queríamos tudo. Até que aos poucos desnudados com displicência, é que pude
deparar sua nudez santa e cristalina. Jamais poderia prever o tamanho cósmico
de sua entrega. Eu verdadeiramente estava entregue, me batizando com o seu suor
delicioso, me crismando com o seu desejo demoníaco e incontrolável, me salvando
com a sua sacralização pecaminosa. Não havia como nem desejaria jamais me
desvencilhar de tal circunstância. Eu caía de cabeça no seu feitiço solaçoso.
Daí o ritual. Senti-lhe os mamilos duros dos seios roçarem meu tronco numa
dança sensual de arrepiar-me a alma. Depois seus ductos expressivos saíram
passeando pelo meu ventre, onde tomei uma dose generosa de vida. Seguiu alada
pelas minhas coxas de pêlos eriçados, pelas minhas pernas trêmulas e pelos meus
pés esquentados pela louca roçada. Senti o toque de sua mão exímia no meu
calcanhar, meus dedos, solado, tornozelo. Foi fundo na magia quando pude
perceber seus lábios tocarem minhas pernas, sua língua viajando pelo meu
joelho, contornando minhas coxas, alisando-me o ventre num ziguezague pra lá de
extasiante. Cheguei ao zênite quando sua mão tocou leve o meu macho cajado
iluminado e o fez mais voraz e rijo com a carícia táctil de sua condução,
enlevando-me iniciado na sua maestria. Atravessei sua mística cerimônia, quando
fez esfregar minha dura turturina mais que tomada de tesão, por seu rosto,
lábios e pele sedosa. Embeveci quando fez uns carinhos cervicais, espremendo
majestosamente meu louco membro desajuizado ao pescoço, lado a lado, até
deixá-lo em riste ao queixo e beijá-lo com um beijo terno e mágico. Como
sucumbi a esses beijos. Fui ao Nirvana e pude contemplar a maior beleza da vida
quando chegou a lamber meu dardo túmido com o veludo de sua língua abissal.
Agitei-me com sua libação como se chupasse bíbula o real manjar dos deuses. Ah!
E como a vida me pareceu ringente e eu mergulhando na catarse oriforme do gozo
pleno. Aí, soltei as amarras, capitoso, deixei-me levar pela sua abalizada
sucção e ejaculei o meu elixir para cajila de nossa esfomeada carência. Ah,
quanta maravilha sedenta onde sou sua caça em particular temporada. Levou-me
aos extremos até a última gota da minha satisfação plena. Não satisfeita,
ainda, saiu-me lambendo como cadela no cio, até alcançar-me os lábios e nos
beijarmos até a ressurreição dos nossos mais infinitos prazeres. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Uma
verdade científica não se impõe por convencer os que a ela se opõem e por
levá-los a verem com clareza, mas sim, antes, porque os opositores acabam
morrendo e surge uma nova geração que aceita a verdade nova. Pensamento do físico
alemão e ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1918, Max Planck
(1959-1947). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Nosso cérebro é o
melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive os
da felicidade... Pensamento do ator e cineasta inglês Charlie Chaplin
(1889-1977). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
DON JUAN - [...] Qualquer
caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum - para si mesmo ou
para os outros - abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. [...] Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o
tantas vezes quantas julgar necessárias. Então, faça a si mesmo e apenas a si
mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em
caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui
importância alguma [...]. Trechos
extraídos da obra Las enseñanzas
de don Juan Matus - Una forma Yaqui de conocimiento (Fondo de Cultura Económica, 1974), do escritor e
antropólogo estadunidense Carlos Castañeda (1925-1998). Veja mais aqui e
aqui.
TRÊS POEMAS – ECOS: Nascida tardiamente e com
alma de mulher, não ouso esperar, / O frescor do ancião jaz, o poder / Da paixão
viril e moderna pousará Nos / lábios de minha Musa, nem posso lidar / (Quem
velado e encoberto pela feminilidade deve tatear) / Com o mundo guerreiros de
armas fortes e recitam / os perigos, feridas e triunfos da luta; / Vibrando a
lira de cordas completas em todo o seu alcance. / Mas se você alguma vez em
alguma caverna no fundo do lago / O'erbrow por rochas, uma voz selvagem
cortejou e ouviu, / Respondendo de uma vez do céu e da terra e da onda, / Emprestando
música élfica à sua palavra mais dura, / Não interprete mal esses ecos que
pertencem / A um apaixonado pela solidão e pela música. VÊNUS DO LOUVRE: No longo corredor ela brilha
como uma estrela, / A mãe do Amor nascida da espuma, paralisada na pedra, / Ainda
assim, imortal, respirando. / A mão brutal do tempo mutilou, mas não conseguiu
estragar. / Quando pela primeira vez a feiticeira encantada de longe / Deslumbrou
meus olhos, Eu não a vi sozinha, / Serenamente posicionada em seu trono adorado
pelo mundo, / Como quando ela guiou uma vez seu carro puxado por pombas, - / Mas
a seus pés um judeu pálido e mortal, / Seu adorador de vida, chorou adeus ao
amor. / Aqui Heine chorou! Aqui ainda ele chora de novo, / Nem nunca sua
sombra se erguerá ou se moverá, / Enquanto lamenta um coração ardente, um
cérebro-poeta, / Pelas dores da Hélade desaparecida e da dor hebraica. TRABALHAR:
No entanto, a vida não é uma visão nem uma oração, / mas um trabalho obstinado;
ela não pode fugir de sua tarefa. / Depois da primeira compaixão, ninguém
poupará / Sua porção e sua obra realizada, para pedir. / Ela implora por
descanso - ela virá em breve / Quando, descansando à beira da estrada, ela for
forte. / Não, pois a multidão apressada de transeuntes a / esmagará com seu
fluxo contínuo. / Muito deve ser feito antes que a breve luz morra; / Ela pode
não demorar, absorta no sonho vão. / Com mãos trêmulas não usadas e pés
vacilantes, / Ela cambaleia adiante, sua sorte designada a cumprir. / Mas
quando ela preenche seus dias com deveres cumpridos, / Estranho vigor vem, ela
recupera a saúde. / Novos objetivos, novos interesses surgem a cada novo sol, /
E a vida ainda vale para sua riqueza ilimitada./ Tudo o que parecia difícil e
cansativo agora se mostra pequeno, / E nada pode amedrontá-la - ela tem força
para tudo. Poemas da poeta estadunidense Emma
Lazarus (1887-1849). Veja mais aqui e aqui.
O GRITO DE MUNCH
Queremos
mais do que uma mera fotografia da natureza. Não queremos pintar quadros
bonitos que sejam pendurados nas paredes dos salões. Queremos criar, ou pelo
menos estabelecer as bases de uma arte que dê algo à humanidade. Um arte que
prenda e envolva. Uma arte criada do coração mais íntimo de alguém.
Arte e
pensamento do pintor e gravador norueguês Edvard
Munch (1863-1944). Veja mais aqui e aqui.