VAMOS APRUMAR A CONVERSA? A
VIDA, UM SORRISO - A
cada dia que se passa mais me convenço que as pessoas se tornam cada vez mais
rígidas. Quanto mais conheço e me relaciono com pessoas, mais sérias elas estão
e é assim que a mim se demonstram. Muita cara fechada, sisudez, inflexibilidade.
Raro um momento de educação, de descontração, de sorriso. As pessoas pedem
desculpas como se fosse por, sei lá, qualquer coisa, ou conveniência, mas não
há um mínimo de sentimento nisso. Parecem-me pessoas blindadas, como se ao
sorrir traíssem a carapuça de toda sua defesa, ou se desgovernassem
irremediavelmente, ou se desmoronassem vulneráveis. Talvez seja mesmo o reino
da autodefesa: não te conheço, sai pra lá. A definição do território: não és
dos meus, para os amigos todos os favores do mundo; aos inimigos, todos os
rigores da lei. Se bateu, levou; fica lá que fico cá. Assim se relacionam no
dia a dia. Não admitem a menor simpatia. Não sabem, por exemplo, do provérbio
latino que foi seguido à risca por Moliére na Commedia dell’Arte, redigida pelo poeta Jean de Santeul: ao rir é
que se corrigem os costumes. Ôpa! Ah, mas o riso é uma expressão linda, nada
mais lindo que o riso de Elis Regina, o misterioso da Mona Lisa – La Gioconda
de Da Vinci, que a língua de fora de Einstein, das crianças ao brincar. Como é
lindo o sorriso. Como diz o poeta Mário Quintana: O sorriso enriquece os
recebedores sem empobrecer os doadores. Além do mais, o sorriso tem o poder de
deixar tudo mais leve, flexível e democratizado, sem formalidades, nem rituais.
Abre portas, oportunidades. A poeta e jornalista estadunidense Ella Wheeler
Wilcox professa que: Ri, e o mundo rirá contigo; chora, e chorarás sozinho. Isso
traz uma clarividente possibilidade: o riso comunga, é a figura extrema da
irmanação. É como o Sol amanhecendo, sorrindo, paratodos. É como o abraço
amigo, de quem chega, de quem faz parte dos nossos afetos, de quem nos dirige
um ato de ternura e solidariedade. É como o momento da nossa mais feliz
inteireza: ao filho que nos completa, aos pais que nos criou, aos que fazem
parte do nosso coração e os que poderão também fazer parte dessa comunhão,
afinal somos um só na vida do planeta Terra. Comigo guardo a lição do poeta
Cartola, na sua belíssima e imortal O sol nascerá: A sorrir eu pretendo levar a
vida... E veja mais aqui.
Imagem: Secret Smile, do artista plástico Connie Chadwell
SMILE
(Charles Chaplin / G. Parsons / J. Turner
- Vs. Braguinha)
Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Smile
HUMOR & EDUCAÇÃO – O livro A canção da inteireza: uma visão holística da educação (Summus,
1995), do filósofo e professor Clodoaldo
Meneguello Cardoso, trata sobre as mudanças paradigmáticas, fundamentos
filosóficos, teoria da aprendizagem, pratica de ensino, bases axiológicas,
contribuições para a educação, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho:
[...] Educar holisticamente, portanto, é
estimular no aluno o desenvolvimento harmonioso das dimensões da totalidade
pessoal: física, intelectual, emocional e espiritual. E esta, por sua vez,
participa de outros planos de totalidade: o comunitário, o social, o planetário
e o cósmico. Todos estes planos devem também ser desenvolvidos
concomitantemente no processo educacional. Não se entende o homem somente a partir
de si mesmo, como centro e senhor da natureza, mas como parte de um todo.
Questões como autoconhecimento, liberdade, realização, justiça e paz são
enfocadas levando sempre em conta o contexto da interdependência dos fenômenos,
nos diversos planos sistêmicos dos quais o homem é parte. [...] É fundamental manter um ambiente de alegria
e de ludicidade na classe. Sem humor, o educador não experiencia o encontro
existencial como o educando e bloqueia o próprio processo ensino-aprendizagem.
A educação tradicional colocou as virtudes: atenção, dedicação e
responsabilidade como incompatíveis com a alegria e a descontração.
Tradicionalmente, sorrir era sinônimo de imaturidade e irresponsabilidade, daí
a expressão “muito riso pouco siso”. O sorriso, entretanto, é a expressão
simples de felicidade por estar vivo. Veja mais aqui.
Marilyn
Monroe,
by Parziwal
O SORRISO DO LAGARTO – O romance O sorriso do lagarto (Nova Fronteira, 1989), do escritor,
jornalista e professor João Ubaldo
Ribeiro (1941-2014), trata de um apanhado de situações- muito bem
encadeadas e recheadas de diálogos primorosos, em que se identifica o
naturalismo, a degradação do individuo, o cientificismo, o político, o
homossexualismo, a engenharia genética, o consumo de drogas por parte da elite,
a degradação da saúde, a igreja e os pobres, o comportamento sexual feminino.
Da obra destaco os trechos: [...] -
Aqui na ilha, se morre de tudo, não tem essa conversa de que aqui não acontece
certas mortes – disse Mero Doido, que desde as cinco horas estava fazendo um
levantamento dos mortos ligados ao Mercado e das causas de suas mortes. – Você
não diz uma doença, inclusive das mais modernas, que alguém aqui não tenha
morrido. Até umas doenças que não são nem bem doenças aqui se morre, como Galo
Cego, que teve uma espinha no nariz que foi virando câncer e comeu a cara dele
toda e ele morreu fedendo e com a cara toda comida. Isso de uma espinha. Filu
foi de hidropisi, Nandá foi derrame, Roque Feio foi diabete, Lazarão foi tifo,
mosquete foi tuberculose, Unha Grande foi doença de Chagas e Zoinho dizem que
foi de Aids. Até Aids já deu aqui, e Zoinho não era falso ao corpo, pelo
contrário. Aqui dá tudo. E agora o neto mais velho de Quatinga morreu de tumor
no cérego. [...] - Não quero discutir questões de fé com o
senhor, para mim isso tem importância, para o senhor não tem. Mas veja o
problema moral contido nisso, o problema político. O poder político plasmando a
Humanidade e a Natureza. - Isso é inevitável. Quem chegou, chegou, quem não
chegou, não chega mais. O poder hoje dispõe de tais instrumentos que se
sedimentou definitivamente, jamais vai mudar realmente de mãos e a tendência é
isso se acentuar. Isso é bom. Isso significa maiores possibilidades de controle
racional. Não haverá revolução, nem alteração radical na estrutura do poder,
nem entre nações, nem entre classes sociais, nesse sentido a História acabou.
Sempre digo que democracia é um mito supersticioso, assim como a igualdade e
outros chavões. Há muito tempo que a democracia não é mais praticada em lugar
nenhum, a não ser microscopicamente, e temos que colocar essa situação a nosso
favor, ou seja, aperfeiçoar o homem de todas as formas possíveis. - Para mim,
isso é extinguir a Humanidade, tal como a conhecemos. Para mim, é o homem se
tornando inimigo do homem, deixando o adversário que traz dentro de si vencer,
fazendo com que se volte contra si mesmo. É como se fosse a obra de Satanás. -
Sim, Satanás, ha-ha! Satanás quer dizer “inimigo”, não é? Neste caso, eu seria
Satanás, ou pelo menos um satanás, pois creio que há controvérsia na própria
Igreja sobre a existência de um ou vários satanases. Engraçado, desculpe-me por
estar rindo, muito engraçado mesmo – Satanás. Pois, olhe, eu aceito, e acho
tecnicamente certa sua inferência. Eu sou inimigo de Deus, sim, embora o
considere um inimigo fictício, vocês me arranjaram esse inimigo fictício, que
eu preciso combater. [...] Deus
não existe e, se existe, é preciso tomar dele o poder, ele não tem sido
competente, para um onipotente tem um desempenho muito pouco satisfatório. E
então, diante do exposto, o senhor tem razão, de fato eu sou Satanás, o senhor
tem razão, é mais do que lógico. Vade retro, pensou Monteirinho [...] Aquilo
tudo era terrível mesmo, e mais terrível ainda por se passar daquela forma
irresistível, como Lúcio Nemésio dissera tão convincentemente. João Pedroso
tentara resistir e fora eliminado. Sim, fora eliminado, agora tinha certeza,
embora não pudesse provar, embora jamais pudesse dizer a ninguém. Tinha
certeza, certeza absoluta de que João fora morto por obra de Ângelo Marcos, ao
sedescobrir enganado – não sabia como, mas fora. E, assim, esse agente do Mal
cumpriu sua missão, removeuum obstáculo. Tudo se encaixava, o Mal havia tido
grande vitória. Dedicaria à vida, tinha dito João, dedicaria a vida a lutar
contra aquilo. Mas apenas perdeu a vida, martirizou-se anonimamente. [...]. Veja mais aqui e aqui.
SORRISO
(Fernando Pessoa)
Sorriso audível das folhas,
Não és mais que a brisa ali.
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.
Ri, e olha de repente,
Para fins de não olhar,
Para onde nas folhas sente
O som do vento passar.
Tudo é vento e disfarçar.
Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou;
E estamos os dois falando
O que se não conversou.
Isto acaba ou começou.
AS
ALEGRES MATRONAS DE WINDSOR – A
comédia de costumes farseca em cinco atos The Merry Wives of Windsor (As
alegres matronas de Windsor, 1602), do poeta, dramaturgo e ator inglês
William Shakespeare (1564-1616), baseada nos costumes da classe média
provinciana da época, conta a história de um cavalheiro falido, Sir John
Falstaff, que se encontra num período de falta de sorte e resolve inventar um
plano para enriquecer. Da obra destaco o trecho da festa e da alegria da
canção: [...] (Entram o reverendo Hugo Evans, disfarçado de sátiro; Pistola,
como duende; Ana Page, como rainha das fadas, seguida do irmão e de outras
pessoas, disfarçadas de fadas, com tochas de cera na cabeça.) ANA - Fadas
verdes e brancas, matizadas, que aqui brincais nas noites enluaradas, herdeiras
e órfãs do fatal destino, alegres acorrei! Entoemos o hino dos duendes e das
fadas. Alegria! PISTOLA - Atenção, elfos! Cesse a correria dos espíritos aéreos!
Grifo, salta para as chaminés de Windsor, onde uma alta lide vais ter, que a
cinza ainda está quente e, por varrer, os lares. Complacente não sejas com as
zagalas; beliscões em todas dá, de produzir vergões azuis como o mirtilo. Nossa
rainha não suporta imundície tão daninha. FALSTAFF - São fadas. Se eu falar com
algumas delas, sou homem morto. Assim, sem mais aquelas, vou me deitar e tapar
bem o rosto. Homem nenhum em vê-las acha gosto. EVANS - Vai, Bode; e onde
encontrares rapariga que as orações três vezes sempre diga antes de se deitar,
com alegria, estimula-lhe a bela fantasia, porque ela, como criança na
aparência, possa dormir o sono da inocência. Mas se achares alguma descuidada
que ao se deitar não tenha dito nada, belisca-lhe à vontade o corpo lasso,
pescoço, braços, pernas e o espinhaço. ANA - Trasguinhos, começai! Todo o
castelo de Windsor varejai; sorte espalhai a flux, alegremente, porque possa
durar eternamente, sem decair jamais em abandono, como convém ao seu mui digno
dono. Seiva esfregai em todas as cadeiras, das plantas mais preciosas e
fagueiras; abençoados se tornem sempre mais seus leais brasões e as cotas
imortais, e como a jarreteira, elfos, à roda, em círculo cantai a noite toda.
Que a vossos passos tornem-se virentes e mais férteis os prados
adjacentes. "Honny soit qui mal y
pense" à volta escrevei dos canteiros em recolta, em tufos brancos, rubros
e azulados, como pedras preciosas nos bordados, que aos joelhos curvos da
cavalaria conferem elegância e altanaria. Com flores escrevei, pois, em porfia.
Vamos, principiai! Antes de uma hora, como de hábito, vinde sem demora dançar
em torno do carvalho de Herne. EVANS - Que cada um com o vizinho o passo
alterne. Em ordem. Mãos com mãos. Vinte luzentes pirilampos levai como
pingentes, porque vos possam dirigir o passo sem vos perderdes nada em pouco
espaço. Mas vejo um ser do mundo intermediário! FALSTAFF - O céu me defenda
desse duende galense, para que ele não me transforme num pedaço de queijo.
PISTOLA - De nascimento, ó verme, és ordinário! ANA - A chama quente lhe
encostas no dedo. Sendo ele casto, não mostrará medo, pois não se queimará. Mas
se gritar, é que é carne corrupta e mui vulgar. PISTOLA - Eia, a postos! EVANS
- Façamos a experiência. (Queimam Falstaff com os archotes.) FALSTAFF - Oh! Oh!
Oh! ANA - Corrupto, Corrupto! É só concupiscência! Cantai-lhe fadas, algo
zombeteiro e, ao dançardes, picai-o o tempo inteiro. Fora a doente fantasia, a
incontinência, a fobia! Loucura é fogo abrasante que o sangue deixa escaldante.
Brota do coração em alta chama, que o pensamento mais e mais inflama.
Beliscai-o com vontade, por sua muita ruindade. Beliscai-o, queimai-o, até que
a lua se esconda e a noite seu rondar conclua. (Durante a canção, as fadas
beliscam Falstaff; o doutor Caius entra por um lado e rouba uma fada de vestido
verde; Slender, por outro, leva uma fada de branco; depois entra Fenton e sai
com Ana Page. Ouve-se barulho de caçada; as fadas saem a correr; Falstaff
arranca da cabeça os chifres e se levanta. Entram Page, Ford, a senhora Page e
a senhora Ford, que seguram Falstaff) [...]. Veja mais aqui e aqui.
SMILE – O satírico drama-comédia Smile (Sorriso, 1975), dirigido por
Michael Ritchie, com roteiro de Jerry Belson sobre um concurso de beleza na
Califórnia, satiriza a cidade pequena na América do Norte, suas peculiaridades,
hipocrisias e artificio dentro de um concurso de beleza. Conta como um vendedor
de veículos usados se torna juiz principal e como um alcoólatra e sua esposa se
tornam diretores executivos que vão se enredando em subtramas que denunciam
infelicidade, rituais humilhantes, conspirações e sabotagens, aproveitamento
dos participantes, cinismo, incompetência na realização de cerimonias
extravagantes, e tudo vai transcorrendo em clima de drama e comédia. O destaque
do filme é pra legendária atriz estadunidense Barbara
Feldon, a que se imortalizou como
Agente 99 do seriado Get Smart, dos anos 1960. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
The
Sweetest Smile, by Jeremy Holton
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Some Moments, a partir das
21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix
MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot
Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para
conferir online acesse aqui .
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