A arte do artista
mexicano Antonio Ruiz Sulayez.
LITERÓTICA: PERFUME DE MULHER - É dela todo perfume que emana da vida. E vem dela, ah, mulher nua, linda e cheia de graça, o bálsamo do sol no sexo pra gosto nenhum botar defeito ou achar pouco porque é a fragrância caudalosa na sedução da carne de todos os sabores mais apetitosos de todo paladar aguçado de fome. Vem dela o sândalo do amor, mulher nua, linda e cheia de graça que aquece estirada com o nascedouro a dar passagem e faz de mim iluminado deus todo-poderoso a sentir o primeiro cheiro de rosa silvestre de suas entranhas ao embalo dos gemidos manhosos rente ao coração além do universo. Vem dela a alfazema que me faz hóspede no movediço lençol alvacento da poesia, a me ofertar o baú de suas posses secretas com todas as maçanetas arrancadas, todos os trincos destrancados, todas as portas escancaradas para que extremamente amada e querida tanto quanto a minha própria vida possa em sua mágica dádiva seguir abrindo, fechando, prendendo, soltando, tudo disparando a nossa peleja prazerosa no fogo da felicidade. Vem dela nua, linda e cheia de graça, todas as lanternas acesas do seu desejo vigoroso na sua secreta fogueira, de onde me nascem asas e vôo amparado pela égide de sua devotada oferenda. É nela que vou como chama a sua boca, como querem seus braços, como desejam suas perversas coxas erguendo o véu e colhendo as horas no ar da tarde demasiada no mormaço do querer. É nela que vou como um rei apaixonado com todos os versos fesceninos imersos no gozo, adestrando o seu impetuoso desejo até a bifurcação dos destinos da nossa dança perfumada, a me satisfazer com o cheiro gostoso da mulher amada. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
A arte do artista mexicano Antonio
Ruiz Sulayez.
DITOS & DESDITOS - Os pessimistas não têm razão: vista de longe, a vida não
tem nada de trágico, ela só o é de perto, vista em detalhe. A visão de conjunto
a torna inútil e cômica. E isso vale para nossa experiência íntima. Pensamento do filósofo
romeno Emil Cioran (1911-1995). Veja mais aqui e aqui.
ARQUIVO & TESTEMUNHO – [...] A respeito de que tal língua dá testemunho?
Porventura de algo – fato ou evento, memória ou esperança, alegria ou agonia – que
poderia ser registrado no corpus do já-dito? Ou da enunciação, que atesta no
arquivo a irredutibilidade do dizer ao dito? Não é nem de uma nem de outra
coisa. Não enunciável, não arquivável é a língua na qual o autor consegue dar testemunho
da sua incapacidade de falar. Nela, uma língua que sobrevive aos sujeitos que a
falam coincide com um falante que fica aquém da linguagem. [...] A relação
entre a língua e sua existência, entre a langue e o arquivo, exige, por sua
vez, uma subjetividade como aquilo que atesta, na própria possibilidade de
falar, uma impossibilidade de palavra. Por tal motivo, ela se apresenta como
testemunha, pode falar por quem não pode falar. O testemunho é uma potência que
adquire realidade mediante uma impotência de dizer e uma impossibilidade que
adquire existência mediante uma impossibilidade de falar. Os dois movimentos
não podem nem identificar-se em um sujeito ou em uma consciência, nem sequer
separar-se em duas substâncias incomunicáveis. Esta indivisível intimidade é o
testemunho [...] Que Auschwitz seja
aquilo de que não é possível dar testemunho e que, ao mesmo tempo, o muçulmano
seja a absoluta impossibilidade de dar testemunho. Se a testemunha dá
testemunho pelo muçulmano, se ele consegue trazer à palavra a impossibilidade
de falar – se, dito de outro modo, o muçulmano é constituído como testemunha
integral – então o negacionismo é refutado no seu próprio fundamento. No
muçulmano, a impossibilidade de dar testemunho já não é, realmente, uma simples
privação, mas tornou-se real, existe como tal. Se o sobrevivente dá testemunho
não da câmara a gás ou de Auschwitz, mas pelo muçulmano; se ele fala apenas a
partir de uma impossibilidade de falar; então seu testemunho não pode ser
negado. Auschwitz – de que não é possível dar testemunho – fica provado de modo
absoluto e irrefutável [...]. Trechos extraídos da obra O arquivo e o testemunho (Boitempo, 2008),
do filósofo italiano Giorgio
Agamben. Veja mais aqui e aqui.
O REI SE CURVA E MATA - [...] Conheço de
casa, entre os colonos, um modo de vida que não tinha por costume o emprego de
palavras. [...] Cada frase só tem sua
vez quando a anterior se foi. No calar tudo vem de uma vez só, tudo se acumula
ali, o que por muito tempo não é dito e até mesmo o que nunca é dito. [...]
Como devo explicar com palavras que a
dália me dava uma atitude interna quaseestável frente aos arrepelos de fora,
que em uma dália assenta um interrogatório quando se vem do interrogatório, ou
uma cela, quando uma pessoa de quem se gosta está na prisão. Que em uma dália
está sentada uma criança quando se está grávida e não se quer ter essa criança
de modo algum, porque não se tem a cara de pau de oferecer essa vida de merda a
ela, mas que, caso seja descoberta, se vai para a prisão por aborto. [...] O falar sai voando, o calar fica e fica e
cheira. Cheirava como o lugar na casa em que eu ficava ao lado de mim mesma,
junto dos outros. No quintal,o calar cheirava a florescência de acácia ou a
trevo recém ceifado, no quarto, a veneno de traça ou a uma série de marmelos
sobre o armário, na cozinha, a massa ou a carne. Cada um carregava seus degraus
na cabeça, sobre os quais o calar subia e descia. A pergunta “Em que você está
pensando agora?” teria sido como um assalto. Era óbvio que se estava cheio de
segredos. [...] O vivido enquanto
acontecimento não está nem aí com a escritura, não é compatível com as
palavras. Os acontecimentos reais nunca podem ser apreendidos equitativamente
com palavras. Para descrevê-los, os acontecimentos precisam ser modelados em
palavras e completamente reinventados. Aumentar, diminuir, simplificar,
complexificar, mencionar, passar por alto – uma tática que segue seus próprios
caminhos e que tem o vivido apenas como pretexto. Quando se escreve, arrasta-se
o vivido para outro metier. [...] O
acontecimento real insiste enquanto aparição periférica; com palavras se lhe dá
um choque após o outro. Quando ele mesmo não se reconhece mais, o acontecimento
volta ao centro. Precisa-se demolir a presunção do vivido para se escrever
sobre ele, desviar-se de cada rua verdadeira para uma inventada, pois só esta
pode parecer-se com ela novamente. [...]. Trechos extraídos da obra O rei
se inclina e mata (Carl Hanser, 2003), da escritora e ensaísta alemã Herta Müller.
Veja mais aqui.
TRES POEMAS – LENÇOL
FLORIDO: leoa dilacerando a caça / colocando com a boca / em sua boca / libélula
/ levitando / com a libido / transparente
de suas asas. IGNEA: me faça magma / esculpe de vez / essa estátua sem sal / plasme-a / lambe-a / não se preocupe / não se desculpe / não olho pra trás. NAS NUVENS NO CHÃO - nunca tive chão / estou sempre voando / no entanto / estávamos ali / o chão falando mais alto / nunca o chão / foi tão macio. Poemas da poeta, arte-educadora, contadora de história, professora e terapeuta holística paranaense Juracy Ribeiro. Veja mais aqui e aqui.
de suas asas. IGNEA: me faça magma / esculpe de vez / essa estátua sem sal / plasme-a / lambe-a / não se preocupe / não se desculpe / não olho pra trás. NAS NUVENS NO CHÃO - nunca tive chão / estou sempre voando / no entanto / estávamos ali / o chão falando mais alto / nunca o chão / foi tão macio. Poemas da poeta, arte-educadora, contadora de história, professora e terapeuta holística paranaense Juracy Ribeiro. Veja mais aqui e aqui.
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