DITOS & DESDITOS – O país é
a memória… Pedaços de vida envolto em pedaços de amor ou dor; a palma
farfalhando, música conhecida, o jardim e sem flores, sem folhas, sem
vegetação. Oh tão pequena que você caber toda todo país sob a sombra da nossa
bandeira: talvez você era tão jovem para que eu pudesse tomar em toda parte
dentro do coração! Pensamento do escritor panamenho Ricardo Miró (1883-1940).
ALGUÉM FALOU: A música
não vive até que seja interpretada - com todas as suas falhas, maneirismos,
etc. Ela precisa ser encarnada para ser algo... Não podemos subestimar o poder das
diferentes formas de arte e as correspondências entre elas, que são uma fonte
inesgotável de inspiração e enriquecimento. Pensamento da pianista,
escritora e ativista francesa Hélène
Grimaud. Veja mais aqui,
IDENTIDADE CULTURAL – [...] o tempo e o
espaço são as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação. Todo
meio de representação – escrita, pintura, desenho, fotografia, simbolização
através da arte ou dos sistemas de telecomunicação – deve traduzir seu objeto
em dimensões espaciais e temporais. [...]. Trecho extraído da obra A identidade cultural na pós-modernidade
(DP&A, 2005), do teórico cultural e sociólogo jamaicano Stuart
Hall (1932-2014). Veja mais aqui e aqui.
A COMÉDIA DE DEUS – Este é o segundo filme da trilogia realizada pelo
cineasta João César Monteiro, iniciada
com Recordações da Casa Amarela, depois por esta A Comédia de Deus e, por fim,
com As Bodas de Deus. Essa trilogia explora por meio de repetidas
referências autobiográficas e estilo sarcástico com humor mal humorado, a personagem
de Deus, o protagonista, encarnado num bem humano pobre diabo. Trata-se de uma
caricatura de alguém menos virtuoso que vicioso, autor e ator de
inqualificáveis comédias num mundo hipócrita, com abundantes referências
literárias, artísticas e filosóficas. Veja mais aqui e aqui.
A NOITE
DOS MORTOS - [...] Quanto mais sombrias as
perspectivas e mais difícil era ter esperança, mais firmemente eles agarravam a
esperança quando ela surgia... [...] Ah,
sim — poderia realmente ser dito que as pessoas que não tinham esperança em
seus corações estavam vivas? Sina achava que não. Bem, é claro que eles ‘correram’, como ela expressou; eles poderiam fazer isso bem; mas, na verdade, o que Sina chamava de vida — que ela
achava que não se encontrava naqueles que não tinham nada a esperar. Esta foi a opinião de Clever Sina sobre o assunto. [...].
Trechos extraídos da obra En Dødsnat (Softcover, 1912-2012),
da escritora dinamarquesa descreve
a morte da esposa de um fazendeiro no parto, vista pelos olhos do grande grupo
de crianças, especialmente a filha mais velha de doze anos. O livro era incomum
para a época por descrever de forma totalmente não sentimental as mudanças de
humor e sentimentos entre os parentes do moribundo, mesmo vistos exclusivamente
do ponto de vista das mulheres participantes, de modo que os homens do romance,
incluindo o marido, só aparecem como extras.
GUINEVERE EM ALMESBURY – As senhoras encapuzadas aqui são
maravilhosamente gentis. / Eles têm sido gentis desde o dia em / que cheguei, e
ainda mais desde a noite em que / um mensageiro veio cavalgando pela chuva / para
dizer que o rei estava morto. / Eles me trouxeram tesouras e assistiram / em
silêncio enquanto eu destruí meu cabelo. / Um falcão circulando gritou uma vez
e voou / para as árvores. Alguém vai acreditar / nos próximos dias o quanto eu
amei meu marido? / Fiquei acordado naquela noite sob / as folhas pingando,
depois sob as estrelas silenciosas / que surgiram depois que a chuva passou. / O
jardim aqui tem flores de tons suaves / e árvores de folhas grandes para
sombra. / De manhã e ao entardecer, os pássaros cantam / pelo ar uma doce
música. / Estou aprendendo a viver sem desejo. / Quando Lancelot veio aqui da
França / para ser o falcão de caça para a mão de Arthur, / eu me vi me
apaixonando / e me deitei à noite escondendo isso. / Aprendi. Eu coloquei uma
espada nua / ao longo de minha mente para impedi-lo de meu centro, / sorrindo com
toda a devida cortesia / para ele, como para qualquer homem na corte. / até que
fomos levados a ficar / sozinhos uma vez. Fui feito para ver sua própria
máscara / desmoronar, expondo a dor brilhante por trás. / Eu não podia me
esconder disso. / Não havia lugar para se esconder. / Fui trazido para outra
vida / e comecei a viver com tristeza, / pois Arthur sabia. Ele me conhecia
como conhecia / cada estrela que girava como / ponteiros para o norte. Ouvi o
silêncio / de sua alma ao meu lado no escuro / e sua paciência partiu / meu
coração, pois eu o amava. / Alguém acreditará, nos próximos dias, / quantos? Eu
amei os dois. / Para o meu cabelo, agora cortado e esfarrapado, / toda aquela
aspiração brilhante / foi separada e enviada para a guerra. / Estou aprendendo
a viver com isso. / Pensei em morrer mais de uma vez. / A última vez, na noite
em que Arthur morreu. / Não Desde. Não podemos ser outros do / que somos. Eu
amei dois homens. Um reino / quebrou por isso. Algo caiu que era uma estrela. /
Não podemos ser outros do que somos. / Eu nunca sonho com um deles sozinho. / Eu
os vejo em um caminho de floresta, / cavalgando juntos. Folhas de outono / manchadas,
um sol oblíquo recém-nascido. / Ou na batalha lado a lado / com espadas
ensanguentadas, / no duro norte. Ou conversando / uma noite de inverno ao lado
de uma fogueira / em um reino que não caiu. / Nesses sonhos eu nunca estive em
Camelot. / Essa dor é a pior de todas. / Essas imagens me acordam, tremendo, / precisando
de conforto, sabendo que não há nada, / exceto por isso: não são verdadeiras. /
Nem sempre os sonhos são verdadeiros. / Foi por mim, foi por mim, / foi por
amor a mim que Camelot / tornou-se o que era antes. / Sem Guinevere, não há
nada lá. / E o que deixo fazer, deixo destruir. / Eu vou morrer algum dia. Eu
amei os dois. Poema do escritor canadense Guy Gavriel Kay.