segunda-feira, junho 16, 2025

HAN KANG, ALIZÉE DELPIERRE, KARINA SACERDOTE & RECIFE

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som de Apu: Poema Sinfônico para Orquestra (2017), Concertino Cusqueño (2012), Elegia Andina (2000), Escaramuza (2010), Cinco Cenas (2015), Karnavaliango (2013), Lendas: Uma Caminhada Andina -orquestra de cordas (2001), Manchay Tiempo - Tempo de Medo (2005), Peregrinos (2009), Raíces (2012), Requiem for a Magical America: El Día de los Muertos (versão orquestral) (2012), Três Danças Latino-Americanas (2004), Dois Retratos Americanos (2008), Duas Danças Peruanas - para orquestra de cordas iniciante (2015) e Walkabout: Concerto para Orquestra  (2016), da pianista e compositora estadunidense Gabriela Lena Frank.

 

Oito anos quase segundos... – Mais de 20 anos depois – na verdade, quase 30 mesmo – eu retornava. Era meia noite, como se fugisse. E foi mesmo! Ainda anteontem o que era moradia tornou-se um ermo cercado pela tamponagem do interdito. Sim, estava salvo no dia seguinte, escapava por pouco, ufa! Passado o susto, um sentimento de passos sobre pedras falsas. A alvissareira perspectiva: rever os amigos, matar as saudades. Comecei pelos locais do afeto: uma manhã inteira num chá de cadeira e um quase pleno arrependimento de ter comprado uma briga 40 anos atrás, coisas para aprender, ou quase. Nunca mais voltei lá, nem pretendo voltar. Felizmente, o que valeu daquele dia de tamanho desapontamento foi a primeira mão estendida – uma amizade que bateu de cara e me fez esquecer a decepção no meio da tarde perdida: inaugurava uma residência voluntária, até duradoura, ou quase. Graças! Ali o único local de abrigo que restava para um estrangeiro em seu próprio chão. O reencontro quase festivo: uma frieza jamais sentida de forasteiro na esguelha: uma fotografia desbotada duma parede em ruínas. Outra mão estendida, mais uma, alguns dos laços mais estreitos tomados pela idade avançada, um desconhecido pros deslembrados; outros, haviam partido desta para melhor; os sobreviventes, tanto como os parentes restantes e outros quase, de soslaio e bem distantes. A cidade, apesar de ser a mesma desde antes e sempre, agora teimava em ser outra ou quase. A província apequenou-se, como de resto tantos municípios limpinhos e asfaltados, porém desumanos pelo Brasilzão afora. Uns miúdos agrados aqui e ali, conversas com os da mesma laia, descompasso dos diálogos, mesmo assim lavava aos poucos a alma & um tanto de sacrifício, na força da munheca e na garra. Não fossem os gatos pingados, outra seria para desistir definitivamente. Insisti, persisti, queria perseverar, mesmo na desgraça que nunca viria sozinha. Resiliência recorrente para saída da mesmice das quebra-de-braço – já me sentia completamente rejeitado e devidamente defenestrado duma vez por todas do convívio conterrâneo, salvei-me pela ancestralidade e a primeira plenitude, sarando feridas, sangramento estancado para alívio de cicatrizes e talhos renovados. Aí, pálin! E o que era para ser feito: foi. Persistência reiterada, resistir era e continua sendo mais que preciso. E sempre. Se fracassei, fiz o melhor que pude. Não me calei, nem me senti vencido: tirante as doidices, tudo nos conformes, ou quase. Percepção de que estava passando da hora. Aí, minha gratidão para os que comigo estiveram; aos demais, meu aceno. Quem sabe um dia voltarei pra Catuama – queria muito era que minhas cinzas fossem jogadas no Una. Do contrário, mais realista: para onde eu for lá estarei. Até mais ver.

 

Karen Blixen: Eu conheço uma cura para tudo: água salgada... de uma forma ou de outra. Suor, lágrimas ou o mar salgado... Veja mais aqui.

Nathalie Gassel: Da insignificância, foi necessário criar sentido, significância; derrubá-la... Veja mais aqui & aqui.

Lídia Jorge: O teatro ensina o que não ensina a vida... Qualquer paraíso é demasiado belo para que junto da árvore da vida a pessoa possa entreter-se com futilidades... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

TANGENTE - Lá \ no meu ponto de tangência \ Os silêncios estão concentrados \ As culpas são agrupadas \ Meu pai fecha os olhos \ Os meus dedos corrompem-se. \ Estou a chorar num canto outra vez. \ as luzes rasgam \ E você \ Mesmo aí. \ Você está vindo do infinito, então eu não sou eu \ E você está indo embora \ Vais-te embora outra vez.

IMPUGNAÇÃO - Eu me recusei a dizer \ Eu nego inédito. \ Eu disse a ele. \ para me deixar cair a ruína \ Para olhar para baixo o desafio \ Eu me recusei a dizer \ Eu oponho-me. \ para a murcha \ resignar-me à decadência \ Eu me levanto à deterioração da palavra \ E os olhos de fogo \ e a língua bisturi \ e beijos de lábios \ Opôs-me ao anjo. \ Para o anjo escuro que me cerca \ Eu disse a ele sem grito sem sálvia sem selvagem \ Eu disse a ele sublime, corajoso e corajoso \ E tal era a minha certeza. \ E tal era a mentira de sua glória \ Mansamente baixou o olhar \ E ainda me sitiando \ e jurando nunca me deixar \ Ele caiu de joelhos. \ E ele pediu desculpa para mim.

Poemas da escritora experimentalista, ilustradora e editora argentina Karina Sacerdote, criadora do fórum literário Blue and Words, fundou a Revista Axolotl, coordena o Axolotl e o Blessed Erato, o ciclo de leituras literárias de Picadas e Eros Aires.

 

NÓS NÃO NOS SEPARAMOS - [...] Às vezes, com alguns sonhos, você acorda e sente que o sonho está acontecendo em outro lugar. [...] Pode ser difícil distinguir tolerância de resignação, tristeza de reconciliação parcial, coragem de solidão. Pensei em como pode ser difícil distinguir essas emoções com base em expressões faciais e gestos, em como a pessoa em questão pode ter dificuldade em distinguir esses sentimentos em si mesma. [...] Lembro-me da sensação de amor doloroso, como ele penetrava na minha pele. Entupindo a medula dos meus ossos e murchando meu coração... foi então que percebi. Que o amor era uma agonia terrível. [...] Como suportar isso? Sem um fogo queimando no peito, Sem um você para quem retornar e abraçar. [...]. Trechos extraídos da obra We Do Not Part (Hogarth Press, 2025), da escritora sul-coreana Han Kang. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

EXPLORAÇÃO DOURADA: EMPREGADOS & RICAÇOS [...] "Exploração dourada" é um oximoro que me ajuda a explicar que os empregados estão em uma situação de exploração porque trabalham de forma ilimitada, mas, ao mesmo tempo em que trabalham muito, também ganham muito. Eu mesma vi como, apesar de eu ser uma empregada apenas meio período, os patrões me pediam para trabalhar muito mais do que havíamos combinado. Então, os empregados que trabalham todos os dias nas casas dos ricos, que dormem lá — porque essa é uma condição para trabalhar para os ricos —, trabalham o dia inteiro e também à noite. Por exemplo, as mulheres que cuidam das crianças quase não dormem. Elas precisam dormir nas camas ou nos quartos das crianças, então não dormem bem à noite. E durante o dia têm que cozinhar para as crianças, sair com elas, etc. É um tipo de exploração, porque não têm tempo para fazer outra coisa além de trabalhar. [...] A exploração dourada é um sistema que funciona assim: quanto mais dinheiro e presentes os ricos dão aos seus empregados, mais legitimados se sentem para exigir que eles trabalhem ainda mais. Cria-se, então, uma espécie de dívida. Os empregados sentem que precisam trabalhar para compensar tudo o que receberam — o salário alto, os presentes, os privilégios. [...] Nas casas dos ricos, os empregados não podem circular por todas as áreas. Não podem usar a piscina, não podem ir para as partes da casa onde os ricos se reúnem com seus amigos. Não têm liberdade de circulação. Nas casas maiores que vi, há corredores diferentes para os empregados e para os patrões, para que os patrões não vejam os empregados o tempo todo. Outra forma de os patrões imporem distância é mudando os nomes dos empregados. Se o seu nome é Juan, podem te chamar de Joseph, por exemplo. E há uma racialização nessa mudança de nome. Quando os empregados são estrangeiros — o que é o caso de muitos atualmente — os patrões trocam seus nomes por um nome francês. Isso é uma violência simbólica, como diria Pierre Bourdieu. Há patrões que sempre colocam o mesmo nome para todos os seus empregados. Por exemplo, a babá se chama sempre Maria. Se chega uma nova babá, também será chamada Maria. É uma maneira de demonstrar a superioridade do rico sobre as outras pessoas, que são despersonalizadas. [...] Se um empregado decidisse recorrer à Justiça, os ricos sairiam ganhando, porque seus amigos são advogados, têm muito capital social. Sabem que são intocáveis. Sabem que nada pode acontecer com eles. Nos poucos casos que encontrei na Justiça em que um empregado processou seu patrão, quem ganhou foi o patrão. Então, não, eles não têm medo dos empregados. [...] Trechos da entrevista concedida à BBC News Mundo (08/06/2025), pela socióloga francesa Alizée Delpierre, autora da obra Servir les riches - Les domestiques chez les grandes fortunes (La Decouverte, 2022) e co-autora da coletânea Les femmes de ménage dans l'intimité du domicile: Une relation de travail complexe (Téraèdre, 2023).

 

O RECIFE: IMAGENS DA CIDADE SEREIA

[...] O Recife não é uma cidade que agrade ao forasteiro à primeira vista, faz-se necessário penetrar no seu âmago, na alma alegre de sua gente, para entender as suas características únicas e a formação do ideário nativista do seu povo. [...]

Trechos extraídos do livro O Recife: imagens da cidade sereia (PFR/Comunigraf, 1998), do historiador Leonardo Dantas Silva (1945-2023), autor de obras tais como Recife: uma história de quatro séculos (1975), Pequeno calendário histórico-cultural de Pernambuco (1977), Ritmos e danças - frevo (1978), Cancioneiro pernambucano (1978), O Piano em Pernambuco (1987), Arruando pelo Recife (2021), entre outros.

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A POESIA ABSOLUTA DE TONY ANTUNES

Veja mais Tony Antunes aqui, aqui, aqui & aqui.

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O MACHADO POÉTICO DE SYDIA

Veja mais Sydia Araújo aqui, aqui & aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

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SAMANTA SCHWEBLIN, NANCY FRASER, PAULA ESPAÑA & PINTANDO NAS PRAÇAS DE PERNAMBUCO

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Monte A (2006), Without Sinking (Touch, 2009), Leyfðu Ljósinu (Touch, 2012) e Saman (Touch, 2014)...