É NELA QUE O SONHO É REAL – Imagem: arte da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez. - Sonhava e o sonho é dela
de mãos dadas nas calçadas que serviam de passarela para a divisa do real e a
fantasia, porque nela sou real atravessando a rua como quem dança na faixa de
pedestres com seus semáforos reluzentes e esverdeados às nossas juras mais
apaixonadas. No sonho dela eu vivo o que nela é real quando eu vou nela pelas
esquinas que nos levam para o panorama paradisíaco da natureza com suas quedas
d’águas pros rios dos nossos desejos de sermos a comunhão do mar dos nossos
prazeres. E o sonho é ela pelos becos que estreitamos nossos corpos às avenidas
de estrelas forrando nosso chão sideral pela infinitude do amor mais que a
paixão. É nela os sonhos pelas paredes mormaçadas das tardes fagueiras que
servem de colchão vertical pras traquinagens do sarro adolescente no escurinho
do cinema de nossas cenas sonhadas e cometidas em carne viva coração sexo
adentro. É dela que recolho o sonho pelos muros da infância renascida pra gente
pular no quintal do vizinho e colher o fruto da jaqueira a subir nos galhos e a
nos lambuzar da gula do gozo embaixo da saia de folhas pelas mãos nas coxas com
visgo de fruta e sêmen. O meu sonho é o sonho dela na alucinação da vigília por
noites em claro e olhos a fio na rebeldia de estar cônscio da lâmina das horas
estancando a sangria movediça dos dias e desfrutar do prazer de estar acordado
nela enquanto viva, enquanto dorme, enquanto poeta que me encanta e me faz
menino nos seus braços de amante amada. O sonho nela é a vida que sou por ser
ela o real sonho de viver pelas curvas da lua que o sol adormece entre os seios
sobejados de gula na saliva com o sabor das cítricas manhãs nos ventres
ebrifestivos da nossa ruidosa entrega de amor. © Luiz Alberto Machado. Veja
mais aqui.
CANÇÃO DO AMOR-PERFEITO
Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.
Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.
Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.
Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.
Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.
Canção do amor-perfeito, poema extraído da obra Retrato Natural (1949
- Nova Fronteira, 1983), da escritora,
pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais
aqui e aqui.
Veja
mais sobre:
Leitoras
de James leituras de Joyce, Bloomsday, Finnegans
Wake, Ulisses & a música
de James Joyce, Presenças de Otto Maria Carpeau, a fotografia de Humberto Finatti, a arte
de Henri Matisse & Wayne Thiebaud aqui.
E mais:
O
pós-moderno de Jean-François
Lyotard, O decamerão de Giovani Boccaccio
& Pier Paolo Pasolini, Auto da compadecida de Ariano Suassuna, Erica
Beatriz & Quasar Cia de Dança, a música de Ivan Lins, a pintura de Julius Schrader, a poesia de Leila Miccolis,
a fotografia de Michael Helms & Programa Tataritaritatá aqui.
De todo jeito é bom &
Programa Tataritaritatá aqui.
A magia
do ritual do amor & Programa Tataritaritatá aqui.
Vida
Verde Viva - Crença no direito de viver e deixar viver & Direito
ambiental aqui.
Ih, sei não! Acho que essa seleção vai matar
gente do coração, Uma desolação de Yasmina
Reza, o pensamento de Plutarco,
Vocabulário Técnico de Literatura de Assis Brasil, a música de Ulf Adåker, Não é direito beber de José
Adão Filho, o teatro de Luis Alberto Abreu, o cinema de Kevin Reynolds, a pintura de Miguel Ángel López
Melgarejo & a arte de Yasmine Lafitte aqui.
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do Nitolino, Estética da criação verbal de Mikhail Bakhtin, Estado de sítio de Albert
Camus, a música de Luis Gonzaga & Guerra Peixe, O general está pintando de Hermilo
Borba Filho, Pedra no lago de Stella Leonardos, o cinema de Ettore Scola & Sophia Loren, a escultura
de Frederick W. Ruckstull, a arte de Patrice Murciano & Léon Bakst aqui.
Literatura
de cordel & livros infantis aqui.
Vamos
aprumar a conversa, A arte de viver de Jiddu Krishnamurti, A arte de viver em paz de Pierre Weil, Ação
cultural para a liberdade de Paulo
Freire, a poesia de Camilo José Cela, a pintura de Salvador Dali, a música de Villa-Lobos
& Bidú Sayão, A grande arte de Rubem
Fonseca, Teatro na educação de Paulo
Coelho, As canções de Eduardo
Coutinho, a escultura de Jean-Baptiste Carpeaux & Anton Graul
Liebende, Convite ao sequestro & a
delação premiada aqui.
O amor
& vamos aprumar a conversa, A arte de amar de Erich Fromm, Desastres de amor de Dalton Trevisan, Abajur lilás de
Plinio Marcos, Limeriques e nonsense de
Edward Lear, o cinema de Claude Chabrol & Isabelle Huppert, a música de Bebel Gilberto, a pintura de Dante Gabriel Rossetti & Coles Phillips, a arte de Katharine Hepburn & Programa
Tataritaritatá aqui.
Alô, alô
Brasis!, Texto/contexto
de Anatol Rosenfeld, Ética de Baruch
Espinoza, a música de Edu Lobo & Cacaso, Salve o cordel de Chico
Novaes, a fotografia de Albert Arthur Allen, a arte de Lygia Pape & a pintura
de Henri Lehman aqui.
&
A VIDA SEXUAL DE CATHERINE M.
[...] Era
junho ou julho, fazia calor e alguém sugeriu que tirássemos a roupa e mergulhássemos
juntos numa grande fonte que ficava no jardim. Eu já passava a camiseta pela
cabeça quando escutei a voz de André, um pouco abafada, exclamando que sua
"namorada" não seria a última a mergulhar. Há muito tempo não usava
mais roupas de baixo (apesar de minha mãe ter me obrigado a usar, desde os
treze ou quatorze anos, sutiã e cinta-liga com o pretexto de que uma mulher
"devia ter postura"). O fato é que, imediatamente, fiquei quase nua. A
outra moça começou também a tirar a roupa e, é claro, ninguém entrou na água. O
jardim era devassado e, por essa razão, as imagens que lembro em seguida são as
do quarto, eu na concavidade de uma cama alta de ferro forjado vendo, através
das barras, apenas as paredes muito iluminadas, imaginando a outra moça
estirada sobre um divã num canto. André foi o primeiro a me comer, demorada e
tranquílamente como costumava fazer. Em seguida, interrompeu bruscamente. Uma
inefável inquietação tomou conta de mim, no tempo justo de vê-lo afastar-se,
andando lentamente, os quadris curvados, em direção a outra moça. Ringo veio
substituí-lo em cima de mim, enquanto o terceiro rapaz, que era mais reservado
e falava menos que os outros, acotovelado perto de nós, passava a mão livre
sobre a parte superior do meu corpo. O corpo de Ringo era muito diferente do de
André, e eu gostava mais dele. Ringo era maior, mais nervoso, era desses que
separam o movimento da bacia do resto do corpo, que metem sem se deitar
totalmente, o tronco sustentado pelos braços. Mas André me parecia um homem
mais maduro (de fato, mais velho, ele tinha lutado na Argélia), sua carne era
um pouco mais flácida e seus cabelos já um pouco ralos, e eu achava agradável
adormecer enroscada nele, com as nádegas coladas em sua barriga, dizendo-lhe
que eu tinha as medidas certas para aquilo. Ringo se retirou e o rapaz, que
antes apenas observava e me acariciava, tomou o lugar dele. Eu estava há algum
tempo com uma terrível vontade de urinar. Tive de ir ao banheiro e o rapaz
tímido ficou desapontado. Quando voltei, ele estava com a outra menina. [...] Em Paris, tinha Claude, o amigo com quem fiz amor pela primeira vez,
que parecia estar apaixonado por uma jovem burguesa capaz de lhe dizer frases
poéticas do tipo "veja como meus seios estão doces esta noite", sem
permitir que ele fosse mais longe. [...] Claude tinha um belo pau, reto, bem proporcionado, e as primeiras
trepadas me deixaram na lembrança um tipo de entorpecimento,como se eu tivesse
ficado intumescida e obturada por ele. Quando André abriu a braguilha na altura
do meu rosto, fiquei surpreendida ao descobrir um objeto menor e também mais
maleável porque, ao contrário de Claude, ele não era circuncidado. O pau com a
cabeça imediatamente à mostra se dirige ao olhar e provoca excitação por sua
aparência de monolito liso, enquanto o vai-e-vem do prepúcio, revelando a
glande como se fosse uma grande bolha de sabão na superfície da água, suscita
uma sensualidade mais fina, sua flexibilidade se propagando em ondas até o orifício
do corpo do parceiro. O pau de Ringo era mais do tipo do de Claude, o do rapaz tímido
mais como o de André, e o do estudante pertencia a uma categoria que eu só reconheceria
mais tarde, a dos que, sem ser particularmente grandes, proporcionam à mão uma
imediata sensação de consistência, talvez em razão de uma camada cutânea mais
densa. Eu aprendia que cada sexo suscitava de minha parte gestos e até comportamentos
diferentes. Da mesma maneira que, a cada vez, era necessário adaptar-me a outra
epiderme, outra carnadura, outra pilosidade, outra musculatura (não é preciso
dizer, por exemplo, que a maneira de agarrar um tronco que nos cobre varia
segundo sua conformação: ele pode ser liso como uma pedra, pesado e com algum
veio ou ainda os que impedem a visão da genitália. É, também, evidente que estas
visões não repercutem no imaginário da mesma forma, e, assim, retrospectivamente,
parece que minha tendência era de ser mais submissa aos corpos mais magros,
como se eu os considerasse verdadeiramente machos [...].
Trechos
extraídos da obra de autoficção A vida
sexual de Catherine M (Asa, 2001), da escritora, editora, curadora e
crítica de arte francesa Catherine Millet, expondo
publicamente os detalhes de sua movimentada vida sexual,
ao descrever de forma explícita uma irrefreável sequência de relações sexuais
que envolviam desconhecidos, grupos de até 150 pessoas e os mais variados
cenários, entre clubes, beiras de estradas, praças públicas ou casas de amigos,
reunindo dois estilos: a de autobiografia e ficção. A obra tornou-se um marco
da liberdade feminina, ao abordar as relações estáveis e as crises de ciúmes
vividas pela escritora em paralelo às aventuras sexuais.
O
TERCEIRO DIA DA ARTE DE LUCIAH LOPEZ
[ ! ] através da penumbra o meu olhar
sucumbia às correntes obscuras encerrando mais um dia e tampouco o sono era
capaz de manter o silêncio nos meus pensamentos. Naturalmente a sua imagem era
resgatada de cada espectro projetado na parede nua e remetido a alguma aventura
em vestes de herói tupiniquim montado num pássaro azul. Eu já havia perdido o
habito de sonhar, me considerando mais uma hipócrita extravagante representando
a difícil e árdua tarefa de caminhar em solo
adulto. Ah, como era repulsiva e empobrecedora essa caminhada diária com ares
de mandona - até os meus ossos doíam - então, em meio a uma tarde morna (onde
eu, bem que devia estar lendo Joyce, Whitman ou Bukowski), aconteceu a
renovação da minha existência - e eu, já acostumada a uma boa dose de solidão,
me rebelei a ela e passei a existir sobremaneira encantada com a sua presença
espontânea na minha vida. Há uma amável tranquilidade entre você e eu e isso
não nos deixa indiferentes às necessidades puramente carnais, contudo, o que
está em nós se renova a cada dia ( e noite sucessivamente) e assim será.
Terceiro dia, poema/imagens da
poeta, artista visual e blogueira LuciahLopez.
A arte da artista estadunidense Ann James Massey.