É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO ENTRE O ONTEM E O
AMANHÃ – Imagem: arte do artista britânico Nick Gentry – A vida vai e o rito de passagem: sinal verde, nove e
quinze no relógio, tudo escancarado, sol a pino, sal na moleira e o planejado do
dia pro adiamento: de amanhã não passa; melhor, segunda feira, sem falta.
Pensando bem, próximo mês, fechado. E leva tudo nos peitos, no tranco do jeito
que der, a sobrevivência, via de regra, ocupando as possibilidades até exaurir
todas as energias, deixando escapar as preciosas oportunidades de ser mais
humano, terno, compreensivo. Ah, tá. Melhor deixar tudo por menos que qualquer
bronca é café pequeno. Na horagá: é um buruçu dos diabos! Só levando nas coxas
e ao espanto no apurado: isso não estava antes aí, ou estava? Oxe! Coisa de
somenos, a comida, as contas do mês, compromissos, isso sim, o que veio,
passou, foi. Voltar pro trupé e tudo em cima da hora: salvo pelo gongo. Já viu,
né? Vinte e quatro horas pra resolver as coisas, não dão nem na marra. Nem que
um dia tivesse o dobro de horas. O trânsito e a burocracia não ajudam, as
pessoas, ah, as pessoas muito menos, atrapalham tanto de se ter que usar do
expediente de procrastinar xis coisas de menor relevância, negligenciado uma
série de coisas como a saúde física e mental, a leitura, a solidariedade e as
relações. Fica pra depois, um dia tudo em dia, verá, prometido, jurado. Enquanto
isso o individualismo umbigocentrista – ué, quem chega junto na hora da
precisão, hem? Tem de se virar mesmo. No fim das contas, vai ver: inadimplente,
na vera, consigo mesmo e com o lazer, a qualidade de vida. Destá. Sinal amarelo
e o tempo quinze pras três, vai chover! Ih, a sensação de ter esquecido alguma
coisa, conferência mental, vai dar merda. Ah, na hora vê, deixa pra lá. Leva
tudo na esportiva até subir no telhado com as extravagâncias de dar salto solto
de todo jeito, vai ver: que foi que fiz, meu Deus, pra merecer isso? Ah,
Maria-arrependida no departamento da vergonha e do remorso deixando sinais
duradouros no meio de abalos sísmicos tremendos até perder a intensidade e a
razão que desceu pelo ralo: se pensar muito perde é o juízo. Deixa correr. Êpa!
Sinal vermelho, vixe! Quase passa batido. Ah, já é tarde, precisa dormir. Aí
pensa que só foi você que vestiu a camisa e deu a carga da pilha toda? Todo
mundo apressado, correndo atrás. De quê? Tanto tempo concentrado só em ganhar
dinheiro, chegar na hora, pagar em dia, fazer feira, comprar coisas, e se
esquecer do mais importante: viver! Aí aparecem os cabelos grisalhos, as rugas,
dores, e o vazio é um poço sem fundos entre vísceras e mucosidades que
regurgitam aos soluços do coração saindo pela boca e nem se sente ainda
morto-vivo, só esperando a notícia de que não dá mais, quase chegada a hora e
amém. Ôpa! Que é que é isso? Ainda dá uma de se abestalhar e olha pra trás,
resta o arrependimento doendo no que virá. Melhor não desesperar, se levar a
sério demais, pira de vez, aviso. Engole seco, vai ver o tempo passou mesmo,
alma em frangalhos, as relações quando não desgastadas findaram destruídas, a
vida reduzida ao vazio que corrói por dentro no meio de uma torrente de
lembranças desordenadas pelas divagações que dão no insólito, o que seria tão
desconexo quanto inconcebível e não poder conceber nada diferente, impossível
se assim não fosse, porque a memória insiste desenfreada pelo que foi feito ou
deixou de fazer, uma legião de escusas pra justificar a incoerência de certos
atos, a insensatez de muitas atitudes, e já nem domina o pensamento que insiste
importunando em não tirar da cabeça as impertinências cometidas que revogam
qualquer indulto, já está feito, não há mais o que fazer, apenas saber que ao precisar
do que for, saberá que já é tarde: não tem ninguém pra socorrer nem pra
conversar, ou pra deitar a cabeça ou pedir orientação. Ah, é muito difícil a
convivência humana, chega de ficar o tempo todo tentando se explicar, só
incompreensão, diferentes caminhos, ou vai ou racha. Não é bem assim, muito
menos assado. A culpa não é dos outros. Hã? Já é alta madrugada, precisa
dormir. Amanhã será outro dia, de batente, firme sisifismo. É só uma questão de
tempo, ontem, hoje, ou amanhã. Outro dia, pronto. © Luiz Alberto Machado. Veja
mais aqui.
FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL
[...] O todo vem antes das partes. [...] Em caso de perigo supremo e nos conflitos que surgem a propósito da
propriedade jurídica de outrem, a existência pessoal tem um direito de
necessidade que deve prevalecer. Não se trata apenas de equidade, mas de
direito. [...]. É no presente que
precisamos viver, o futuro não é absoluto e está exposto às contingências. Por isso,
apenas a necessidade do presente pode justificar uma ação contrária ao direito,
pois, se nos abstivéssemos de praticar a ação contrária ao direito, cometeríamos
uma injustiça ainda mais grave, negando totalmente a existência da liberdade. [...]
o homem que morre de fome tem o direito
absoluto de violar a propriedade de um outro; ele viola a propriedade de um
outro apenas em seu conteúdo limitado. No direito de necessidade extrema
entende-se que ele não viola os direitos de um outro enquanto direito: o
interesse volta-se apenas para um pedaço de pão; ele não trata o outro como
pessoa privada de direitos. [...].
Trechos extraídos da obra Princípios da Filosofia do Direito (Ícone, 1997),
do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), apresentando a filosofia legal,
moral, social e política, defendendo que a lei provê a pedra angular do Estado
moderno, a partir de uma discussão do conceito de livre arbítrio que só pode
ser entendido no contexto da propriedade privada e relações, contratos,
compromissos morais, vida familiar, economia, sistema legal e politeuma. Veja
mais aqui.
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mais sobre:
E mais:
A vida
dupla de carolyne & sua cheba beiçuda, Psicologia da arte de Lev
Vygotsky, Poemas de William Butler
Yeats, A música de Leonard Cohen, a pintura de Raphael
Sanzio & Boleslaw von Szankowski, o cinema de
Paolo Sorrentino & World Erotic Art Museum (WEAM) aqui.
Serenar
& Crônica de amor por ela, Tantra & o culto da feminilidade de André Van Lysebeth, A psicologia de Vygotsky,
Aniversário de Fernando Pessoa,
Uma relação pornográfica de Philippe Blasband, a música de Guinga, a pintura de Lasar Segall & Luciano Freire aqui.
Será que
dá hexa dessa vez?, Neurociências, Pílulas de humor de Max
Nunes, O assassinato do anão de Plinio Marcos, o cinema de Neil LaBute & Stacy Edwards, a música de Laura Voutilainen, a arte de Octávio
Araújo & Gosto do proibido de Sonia Pallone aqui.
Aurora & Todo
dia o Sol se põe para uma nova alvorada..., A uma mulher amada de Safo, O homem unidimensional de Herbert Marcuse, a literatura de Amos Oz,
a música de Händel & Caroline Dale,
Não consultes médico de Machado de Assis, a pintura de Frederic Edwin Church & François Gerard,
o cinema de Blake Edwards & Audrey
Hepburn, a arte de Ronald Golias
& Keith Haring aqui.
Alvorada
& Bom dia, O capital de Karl Marx, a poesia de Miklós Radnóti, O desespero humano de Soren
Kierkegaard, A construção do personagem de Constantin Stanislavski, Eles eram
muitos cavalos de Luiz Ruffato, o cinema de Ingmar Bergman & Harriet Andersson, os desenhos de Federico Fellini, Memória Musical
Brasileira de Anna Maria Kieffer, a
pintura de Isabel Magalhães & Programa
Tataritaritatá aqui.
A
salvação bidiônica depois da bronca, Filosofia, ideologia &
ciência social de István Mészarós, Mal de amores de Ángeles Mastretta, O horror
econômico de Viviane Forrester,
A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a música de Tatjana Vassiljeva, a pintura de Auguste Chabaud, a arte de Lia Chaia & Wesley Duke Lee aqui.
Colocando
os pingos nos iiiiis, Teoria da viagem de Michel Onfray, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, Neurofilosofia &
Neurociência Cognitiva, a música de Natalia Gutman, Toda palavra de Viviane Mosé, A argumentação de Débora
Massmann, a fotografia de Cris Bierrenbach, a arte de Mira Schendel, Conversa
de bar & filho não reconhece pai & Quando se pensa que está abafando,
das duas, uma: ou contraria ou se expõe ao ridículo. Cadê o simancol, meu aqui.
A gente
tem é que fazer, nunca esperar que façam por nós, Lenda,
mito & magia, Os catadores de conchas de Rosamunde Pilcher, As viagens de Marco Polo, A gaia ciência de Friedrich
Nietzsche, a arte de Beth Moyses & Antonio Saura, a música de Silke
Avenhaus, Os passos desembaraçados
nos emaranhados caminhos, Quando os ventos sopram a favor, tudo fica mais fácil & Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG) aqui.
Palestras: Psicologia, Direito &
Educação aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
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OCTAEDRO DE JÚLIO CORTÁZAR
[...] É verdade que escrever de vez em quando me
acalma, será por isso que há tanta correspondência de condenados à morte, quem
sabe lá. Inclusive me diverte imaginar por escrito coisas que apenas pensadas
de repete nos entopem a garganta, sem falar das glândulas lacrimais; nas
palavras me vejo como se fosse outro, posso pensar qualquer coisa desde que o
escreva logo em seguida, deformação profissional ou alguma coisa que começa a
amolecer nas meninges. [...] ver-me
já morto em seus olhos me tiraria esse resto de força com que posso falar-lhe e
retribuir algum de seus beijos, com que continuo escrevendo apenas ela sai e
começa a rotina das injeções e das palavrinhas simpáticas. [...] embora lhes doa e amaldiçoem esse absurdo de
morrer jovem e em plena carreira, existe a reação que todos conhecemos, o gosto
de tornar a entrar no metrô ou no carro, de tomar um banho de chuveiro e comer
com fome e vergonha ao mesmo tempo, como negar a fome que se segue às noites em
claro, o cheiro das flores do velório e os interminaveis cigarros, e os
passeios pela calçada, uma espécie de forra que sempre se sente nesses momentos
e que eu nunca me neguei porque teria sido hipócrita. [...].
Trecho de
Liliana chorando, extraído da obra Octaedro (Civilização Brasileira, 1977),
do escritor argentino de origem belga Julio
Cortázar (1914-1984). Veja mais aqui.
A arte
da pintora britânica Jenny
Saville.
New
Jersey Ballet Beauty and the BeastPeter and the Wolf. Mayo Performing Arts
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