A VIDA NA BOLSA & O MERCADO SALVADOR - Olá,
gentamiga, salve, salve! Hoje resolvi levar um papo ameno, acho. É que tem
tanta gente na maior jogando parvoíces a granel na nossa lata, soltando seus
peidinhos a torto e a direito, daí resolvi cuspir as minhas pilherias torpes
pro desassossego dos tremebundos sonsos que rezam na cartilha do certinho, como
manda o figurino. Seguinte: pra onde você se vira só se fala de mercado prali e
pracolá, a economia assim e assado, o governo e as grandes corporações, a
lucratividade, investimentos, desemprego e exclusão, a crise tal e qual sei vem
antes mesmo de eu ter nascido e por aí vai, no meio de seca verde e chuvarada
pras inundações, quebradeira e o escambau. Pronto. Entra ano e sai década na
mesma ladainha na defesa do empresariado nacional, a prestimosa classe
produtiva responsável pelo gigantismo econômico do país que só eles vêem e
gozam. Tá. Pra salvar o mercado tudo é prioritário: injetar dinheiro público em
financiamentos e políticas de desonerações, assistência creditícias e com
isenções em longo prazo, etc e tal, depois que a gente fica sabendo só do
resultado: iniquidade, delações, propinas, sonegações, o diabo a quatro. Mas,
mesmo assim, todo dia você é chamado na grande porque tem que comprar para que
o mercado exista e gere riquezas que um dia, quem sabe, você poderá ou nunca
usufruir. Você tem que possuir tudo que aparecer na frente, um carro ou dois,
casa, tevê, aparelhos diversos, bregueços e troçadas tecnológicas, para que o
mercado possa governar a sua e a vida de todo mundo com seus lóbis, ditando o
que deve e o que não deve fazer do seu destino e muito mais que a gente nem
sonha saber no meio da emboança toda. Você tem que usar do crédito e comprar
fiado em suaves prestações mensais por décadas para que a Bolsa de Valores diga
qual marca de dentifrício você deve escovar os dentes, qual travesseiro deitar
a cabeça, o colchão do seu sono e descanso, a comida da mesa, a água mineral, o
passeio do lazer, a religião e o entretenimento ideal, escolha só dentro do que
eles dispuserem, fora do deles nada existe e você apenas é mais um dos
invisíveis que só aparecerá no noticiário policial, ou na lista dos
inadimplentes ou como testa de ferro dalguma jogada deles, sabendo desde já que
o mercado oferece o paraíso e você tem que viver queimando no inferno da sua
vida, se espremendo e escapando como pode, até alcançá-lo, tomara, depois de patinar
ao titubeio na clausura das etiquetas, rótulos, marcas, feito um animal ferrado
com a insígnia da sua classe social, identificado pelos algarismos do CPF, tido
por cidadão nas dissimulações de tê-lo só por contribuinte, acaso seja
contemplado com as benesses deles ou duma bolada da loteria. Ah, você nem vê
nada disso, né? Pois é, os loquazes cafetões do poder botam sem cuspe no cu da
gente todo dia e ainda tomam tudo que a gente tem se atrasar umas parcelas do
crediário! Sente não? Então já passaram bálsamo mentolado e emoliente no rabo
ou deram um pé de peru procê se entreter por aí. Ah, não. Não esquente, seja
positivo e use do bom humor, ora. Relaxe. Seja desportista, pratique e esteja
pronto pra nocautear ou dar carrinho por trás de quem se atrever atravessar seu
caminho, porque você merece ser feliz a qualquer preço, mesmo que todo mundo
chore ao seu redor. Nem ligue, nessa hora vale tudo: pisada no calo, chute nos
ovos e nas canelas, murro por cima dos óculos, dedo na ferida, pé na goela,
rasteira, camas de gato, puxada de tapetes, cotovelada na venta, tudo, é a sua
integridade que está em jogo, seja o primeiro da fila e não deixe ninguém
passar na frente. Se pintar remorso, no domingo você reza, pede perdão e ficha
limpa pra quando entrar a semana você fazer gol que só de deixar os outros tudo
de cangalha pro ar, não desperdice nada, senão vai pro banco de reserva e aí
babau. Mande ver, não pode é sair de cena e, se queimou o filme, já sabe: um
molho de cinismo não faz mal a ninguém. Pelo visto, o que não mata, engorda.
Afinal, já se convive com tudo envenenado, é peçonha pra todo lado. Aqui também
é South Park. Não há nada a fazer a não ser o de enfiar o pé na jaca e sentir o
fedor comendo tudo. Nem ligue, é só comprar perfume caro e pronto. Não se leve
muito a sério, lavou está novo, entretanto, não nutra grandes expectativas de
antemão, senão morre afogado na onda da sua própria saliva ou escorregando na
briga das etiquetas de Drummond e virando carta fora do baralho, viu? Saiba, viver
na merda é pra derrotados. Pra quem só tem o corpo e posse alguma, não há nada
além da marginalidade. E se só tiver cricri enchendo o saco, pegue um livro ou
revista qualquer. Ah, leia só o que for prático e indispensável, teoria só
serve pra quem não sabe do Chacrinha: eu vim para confundir e não para
explicar! Bote sua mola, dê seus pulos e boa sorte. Sem saída? Nada. Podia ser
pior, não acha? Por exemplo, se na fauna, o leão imperasse totalitário
escravizando e reprimindo rinocerontes, hipopótamos, elefantes e aniquilando
presas ao seu bel prazer, ia encarar? Enquanto isso, os bois na supremacia do
pasto em conflitos armados com eqüinos, suínos e outros até das florestas
remanescentes, entrava nessa? E se fosse pras águas, os tubarões em guerra
contra as baleias, as águas-vivas-juba-de-leão,
as cachalotes, as lulas gigantes e os polvos gigantes, devorando
desde krill até o que aparecer, mergulhava? Ah, e se na flora as árvores se
rebelassem e os eucaliptos entrassem em franca marcha para subestimar e
destruir a soja, a cana, o seringal e subjugar todas as demais fruteiras,
raízes e outros tipos de vegetação, ia lá? Nada, relaxe, coisa desse tipo só
entre os que são chamados por racionais. E se está ruim, vai piorar, hem? Já pensou?
Quanto é que você vale? Será você também uma mercadoria? Hummmmm. Pois é, seja
feliz, se puder! Quanto a mim? Ah, ouvi alguém dizer: Ego sum quis sum. Vou nessa. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
A MERCADORIA DE BAUMAN
[...] que o destino final de toda mercadoria
colocada à venda é ser consumida por compradores; que os compradores desejarão
obter mercadorias para consumo se, e apenas se, consumi-las por algo que
prometa satisfazer seus desejos; que o preço que o potencial consumidor em
busca de satisfação está preparado para pagar pelas mercadorias em oferta
dependerá da credibilidade dessa promessa e da intensidade desses desejos. [...]
Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem
primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem
reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas
e exigidas de uma mercadoria vendável.
Trecho
da obra Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria (Zahar, 2008),
do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925- 2017). Veja mais aqui, aqui,
aqui e aqui.
Veja
mais sobre:
Eu, Etiqueta
de Carlos Drummond de Andrade, Formação da literatura brasileira de Antonio
Cândido, a música de Adolphe-Charles
Adam & Benedito Pontes, a pintura de Antonio Bedotti Organofone & Mulheres de Ana Mello aqui.
E mais:
Mamão,
novamente o estranho amor, A desobediência civil de Henry Thoreau, As mil e uma noites, a pintura
de Newton Mesquita & Thiago
Hellinger, Fecamepa & Big Shit
Bôbras, a arte de Raimundo Rodriguez, a música de Dery Nascimento &
Planeta MPB aqui.
Poucas
palavras & uma dor, Tônio Kroeger de Thomas Mann, A dominação masculina de Pierre Bourdieu, El Cid de Pierre Corneille, o cinema de Paulo
Thiago Ferreira Paes de Oliveira & Ítala
Nandi, a pintura de Diego
Velázquez, a música de Eugénia
Melo e Castro & Maysa aqui.
O vermelho da amora, a arte
de Larissa Morais & LAM na Radio Difusora de Alagoas com Sténio Reis aqui.
As
receitas & despesas públicas & LAM na Rádio Jovem Pan AM-Maceió com Miguel Torres aqui.
Formação
docente & ensino médio aqui.
Erotismo & Literatura Erótica, A carta de Pero Vaz Caminha, Dicionário da Cachaça de
Mário Souto Maior, Entre a seca e a garoa de Ricardo Ramos, a música de Johnny Alf, o teatro de Max
Frisch, o cinema de Marcelo Piñeyro & Letícia Bretice, a pintura de Ricardo Paula, a arte de Frank
Frazetta & a poesia de Gilmar Leite aqui.
Direito
& antecipação da tutela aqui.
A
lágrima de Neruda & Prelúdio, A divisão
do mundo de Jiddu Krishnamurti, Destino
do homem de Goethe, Elogio ao amor de Alain
Badiou, a música de Chopin & Debra Hurd, Tchaikovsky & Elena
Bashkirova, a escultura de Salvatore Rizzuti, o teatro de Clarice
Niskier, o cinema de Neville de Almeida & Christiane Torloni, a entrevista
de Marcio Borges, Palavra Mínima, a fotografia de Harrison Marks, a pintura de Pierre
Alechinsky, a poesia de Alvaro Posselt, a arte de Roy Lichtenstein
& Jerzy Drużycki aqui.
A
solidão de Toulouse, Desejo
de Elfriede Jelinek, A mulher celta, a música de
Jonatha Broke, a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha,
a pintura de Henri Toulouse-Lautrec, entrevista de Gilberto Mendonça
Teles, Psicologia Ambiental, a fotografia de Marcos Vilas Boas & o grafite de Michael Aaron Williams aqui.
Lavratura, O erotismo da natureza nos megálitos de Orens, O
imaginário em Lacan de Antonio Quinet, A maternidade de Francisca
Praguer Fróes, a pintura de Joan Miró, a música de Bach & Hilary
Hahn, a arte de Peggy Bjerkan & Luciah Lopez, Por um
novo dia & Rolandry Silvério, O que sei de mim é
só de você & A vida começa no final de semana aqui.
&
TODO DIA É DIA DA MULHER
Crônica
de amor por ela.
PROGRAMA TATARITARITATÁ
Paz na Terra:
A arte
do escultor neoclássico estadunidense Hiram Powers (1805-1873).
Programa
Tataritaritatá, sexta, 09/06, meia noite. Confira aqui.