ÍNDIO DA TERRA – Minha carne é esta terra e é ela que
me faz igual a tudo que é vivo e sagrado. É nela que sobrevivo como o filho que
cresce nas águas dos rios e não para de seguir suas correntes rumo ao mar. É
nela que o sonho de fruta boa mata a sede e alimenta o dia desde a raiz pro
perfume das rosas, o mel das abelhas. É nela que as nuvens trazem a chuva e
lava o mundo pra que tudo frutifique com o florido das coisas pro nosso prazer
no nascer e no pôr do Sol. É nela que o arco íris faz o sinal da paz de si, das
gentes, dos bichos e feras das matas e florestas, das aves que voam e gorjeiam
pra alegria de tudo, porque a felicidade da cidade vem do mato como a brisa e a
sombra pra refrescar o suor no calor da tarde. É dela que a riqueza vem das
mãos no trabalho e é a mesma que cuido e tiro meu sustento e vida, enquanto os
dedos que não sabem apontam pro que se move, porque as flores, folhas e galhos
das árvores e toda natureza embelezam a vida e ensinam pra gente o que é dar
sem nada em troca. É nela que sei tudo que sou porque sou eu e todos nós que
pisamos a areia nos caminhos que se perdem no horizonte, revirando pedras,
vencendo morros e a seguir na trilha que cada um seja como o Sol que brilha
para todos, como a lua brinca com as estrelas da noite, como o infinito que a
gente não sabe onde vai dar. É nela que não tenho nada pra dizer ou reclamar,
porque cada olhar, gesto ou ação já dizem por si mesmo. É nela que aprendo a
ver o oculto em cada expressão natural das coisas e saber que o muro é a
barreira entre o que se quer e o que não quer, na excludência do egoísmo, a
discriminação do indiscriminável. É dela que sei todas as paredes pra clausura
de quem não sabe viver tudo e se reduz a nada no campo aberto, como quem só
sabe consumo e desperdício e fazer o que não gosta pra ter o que quer, enganando
a si mesmo e no seu sorriso a esconder choros e lamentações. É nela que vejo
passar os que são e não se reconhecem herdeiros da sina: só na posse dos que não tem nada na
miséria de todo dia. É nela que passam os que se negam pra si e pros outros, os
que cultuam a mentira feita de verdade a pulso de séculos, os que se assumem
mamelucos a serviço do mando, e os que perderam a língua e o seu chão, todos
cônscios de que são os algozes que odeiam e traçaram os seus próprios destinos.
É nela que aprendi a lição: onde todos estiverem, eu estou, sou filiado à
humanidade no júbilo de saber a terra que é tão minha quanto de todos e a vida
festejando em todo canto. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
TESTAMENTO
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
Testamento, poema extraído da Antologia Poética (José Olympio, 1974),
do poeta, tradutor, critico literário e de arte, Manuel Bandeira
(1886-1968). Veja mais aqui, aqui e aqui.
Veja
mais sobre:
Um dia
no meio das voltas que o mundo dá, o pensamento de Alan
Watts, a música de Tatiana Catanzaro, a pintura de Joan
Miró & Educação para paternidade/maternidade aqui.
E mais:
Alvoradinha, o curumim caeté, a literatura de Lygia Fagundes Telles, a poesia de Manuel Bandeira, o teatro de Qorpo Santo, o cinema de Tim Fywell
& Ashley Judd, Marilyn
Monroe & Jayne Mansfield, a
pintura de Fernando Botero, a música de
Roberto Carlos, Psicologia Social: infância, imagem & literatura aqui.
Eu &
ela na festa do céu, Academia
Virtual Sala de Poetas e Escritores (AVSPE), Umbigocentrismo, Doro & a
embromação do banco aqui.
Itinerância, O segredo das mulheres de Albertus Magnus, a
literatura de Bruce Chatwin & Eça de Queiroz, o teatro de Elias Canetti, a pintura
de Henri Rousseau, a música de Samantha
Fox, Políticas Públicas, a arte de Ana Claudia
Talancón & Nobuo Mitsunashi aqui.
Maceió, uma elegia para os que ousam sonhar, a literatura de Mario Vargas Llosa & Autran Dourado, o teatro de Máximo Gorki, a música de Sarah Vaughan, o cinema de Suzana Amaral,
a pintura de Carl Barks, o folclore de Luís
da Câmara Cascudo, a arte de Dianne
Wiest, a fotografia de Jannyne Barbosa & A burrinha de padre aqui.
Pra tudo
tem jeito, menos pro que não pode ou não quer, A consciência
fragmentada de Renato Ortiz, A teoria e a prática de Adalberto
Marson, o teatro de Rubens Rewald, o cinema de Wayne Wang & Gong Li, a pintura
de Geraldo de Barros & Katia Almeida, a música de Paula Morelembaum, a
escultura de Émile Antoine Bourdelle, a
coreografia de Eugenio Scigliano, a entrevista de Ulisses Tavares, a
arte de Lisa Yuskavage & Wanda Pepi, Baghavad Gita, Neuroeducação & Até tu, Zé
Corninho aqui.
Tudo tem
seu lado bom & ruim & vice-versa, a obra secreta de Hermes Trismegistus, A linguagem de Ludwig Wittgenstein, O homem criador e
sensato de Alan Watts, a música de Mozart & Alicia De Larroch, a
poesia de Mariana Ianelli, a coreografia de Merce Cunningham, o teatro de Maria
Adelaide Amaral & Marília Pêra, o cinema de Don
Ross & Christina Ricci, a escultura
de Aristide Maillol, a
pintura de Johfra Bosschart & Sharon Sieben, a fotografia de Luiz Cunha, a
ilustração de Ana Starling, Flor do Una de Juarez Carlos, a entrevista de Valquiria
Lins, a arte de Rodrigo Branco, A criança: Vygotsky e o Teatro & O
evangelho segundo Padre Bidião aqui.
Precisamos
discutir sobre os próximos 20 anos, As vitórias e derrotas de Zygmunt Bauman, A vida íntima e
privada de Fernanda Bruno, a coreografia de Janice Garrett, a poesia de Carolina de Jesus, o teatro de Tennessee William, o cinema de Jules Dassin & Melina Mercouri, a
entrevista de Rejane Souza, a arte
de Arlinda Fernandes & Alessandra Tomazi, a música de Irina Costa, Brincarte & Literatura Infantil, Luciah
Lopez & Canção de quem ama além da conta aqui.
Aprendi
a voar nas páginas de um livro, o pensamento de Carl Gustav Jung, O homem e a sociedade de Wilfred
Ruprecht Bion, A atualidade de Georg
Simmel, a escultura de Wilhelm Lehmbruck, a literatura de Eduardo
Caballero Calderón, o teatro de Oduvaldo
Vianna Filho & Helena Varvaki, a arte de Tracey Emin & Samuel
Szpigel, a
entrevista de Katia Velo, a música de Tarita de Souza, a
fotografia de Rebeka Barbosa, a arte de Karen Robinson & Luiz Paulo Baravelli,
Cidadania nas Escolas, Por mais que a gente faça nunca será demais & Do que
fui e o que não sou mais aqui.
O que
deu, deu; o que não deu, só na outra, Platão, O afeto e o apego
de Edward John Bowlby, Nascente & a entrevista de Geraldo Azevedo, Sociedade sem
escolas de Ivan Illich, o teatro de Nelson
Rodrigues, a pintura de Cândido Portinari, a música de Zap Mama & Marie
Daulne, a coreografia de Katherine Lawrence, a fotografia de Ryan
Galbrath & Mario Testino, a poesia de Bastinha Job, o cinema de Shohei
Imamura & Misa
Shimizu, A Notícia & Jamilton Barbosa Correia, a arte de Rachel Howard, Depois
das eleições & De cara pro futuro, levando tudo nos peitos, munheca em dia
& pé na tábua aqui.
&
RELAÇÕES NATURAIS DE QORPO SANTO
[...] Estou só a
escrever, a escrever; e sem
nada ler; sem nada ver (muito
zangado). Podendo estar em casa de alguma bela gozando, estou aqui me
incomodando! Levem-me trinta milhões de diabos para o céu da pureza, se eu
pegar mais em pena antes de ter... Sim! Sim! Antes de ter numerosas moças com
quem passe agradavelmente as horas que eu quiser. (Mais brabo ainda.) Irra! Irra! Com todos os diabos!
Vivo qual burro de carga a trabalhar! A trabalhar! Sempre a me incomodar! E sem
nada gozar! - Não quero mais! Não quero mais! E não quero mais! Já disse! Já
disse! E hei de cumpri-lo! Cumpri-lo! Sim! Sim! Está dito! Aqui escrito (pondo a mão na testa); está feito; e dentro
do peito! (Pondo a mão neste.) Vou
portanto vestir-me, e sair para depois rir-me; e concluir este meu útil trabalho!
(Caminha de um para outro lado; coça
a cabeça; resmunga; toma tabaco ou
rapé; e sai da sala para um quarto; veste-se; e sai o mais jocosamente que
e possível.) Estava (ao aparecer) eu já ficando ansiado
de tanto escrever, e por não ver a pessoa que ontem me dirigiu as mais
afetuosas palavras! (Ao sair, encontra
uma mulher ricamente vestida, chamada Consoladora).
Trecho da comédia em quatro atos Relações naturais, extraída da obra As relações naturais e outras comédias (Peixoto Neto, 2007), do
dramaturgo, escritor e jornalista brasileiro José Joaquim de Campos Leão, mais
conhecido como Qorpo Santo (1829-1883). Veja mais aqui.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: ilustrações extraídas da obra Ideias
de João Ninguém (José Olympio, 1935), do caricaturista, pintor, cartunista,
escritor e ilustrador Belmonte
(1896-1947).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.