sábado, abril 29, 2017

DRUMMOND, DEGAS, ELIS REGINA, MACEIÓ, DANÇA & ALTAS HORAS DA MADRUGADA

ALTAS HORAS DA MADRUGADA - Imagem: Maceió, foto de Gustavo Rocha. - Chove lá fora meu coração, há tempo falo sozinho no trâmite da solidão, há tempo que eu mesmo não sei. Aos quatro ventos me molharia até onde a chuva do meu choro levar. Quero apenas um copo d’água, nem isso, um copo d’água apenas e suas mãos, muito obrigado. Apesar de saudável, fui examinado e condenado porque minha doença é estar vivo: açoitado por todos, fui declarado imundo e me lançaram fora do arraial. Estrangeiro eu sou, previ a insônia: querem levar meu futuro roubando meu sono. Tenho a casa e a glória no vento, meus bolsos estão vazios. Roto, mutilado, desfaleci e tive que apodrecer para reconstruir meu mundo. Fui até o fundo do inferno e estou armado de luz. Anjo algum avisou e só me acrescenta às perdas, Quixote dos meus ideais. Por vontade própria optei pela solidão, vou só, coração a bombordo, lutando contra meus próprios moinhos de vento. Na minha morte me recusarão o chão, não terei nada e serei feliz noutra hora em que a abstração não veja que lá vai o tempo sem compaixão a me asfixiar na mordaça do não. Pelo menos, servirá pro arremesso do amor que virá represar esta chuva no peito a me afogar. Servirá pro começo do amor que brotar da demora e ter de esperar é uma tortura ultrajante, como se todo sigilo atrevesse revelar o amor ao abandono, brindando um ermo agreste que me fatia no meio da procela agitada. Deixo ao mundo o meu caleidoscópio de lembranças e sonhos, como se eu desfiasse meu rosário e não restasse mais nada dos meus pedaços. Não estou arrependido, nem quero ser perdoado, nenhum céu me salvará. Se um dia eu tiver a canção, uma apenas seria bastante pra cantar acalanto enquanto a criança de sono impelido não cresce de repente. A noite é cheia de surpresas, todo momento é cilada, o castigo de quem persevera à vigília no silêncio do ermo, o frio da quietude, as luzes das ruas, prédios e veículos como se contasse carneirinhos enquanto estalidos estranhos, o cricrilar dos grilos, os rumores longínquos e o ronco dos motores roubando a calmaria, a alucinação da minha lucidez de alcançar a lua à palma da mão e a noite é cada vez mais íntima na minha solidão. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

CÃO SEM DONO
É nas noites que eu passo sem sono
Entre o copo, a vitrola e a fumaça
Que ergo a torre do meu abandono
E que caio em desgraça
É nas horas em que a noite faz frio
E a lembrança ao castigo me arrasta
Solidão é o carrasco sombrio
E a saudade a vergasta
Se eu cantar a alegria sai falsa
Se eu calar a tristeza começa
E eu prefiro dançar uma valsa
Que ouvir uma peça
E eu recuo, eu prossigo e eu me ajeito
Eu me omito, eu me envolvo e eu me abalo
Eu me irrito, eu odeio, eu hesito
Eu reflito e me calo
.
Cão sem dono, música da cantora e compositora Sueli Costa e do poeta, letrista e compositor Paulo César Pinheiro, incluída no álbum ao vivo Transversal do Tempo (Phonogram/Philipps, 1978), da cantora Elis Regina (1945-1982). Veja mais aqui, aquiaqui. e aqui.

Veja mais sobre:
Uma canção de amor, a literatura de Geoff Dyer & Victor Hugo, a música de Miles Davis & O Jazz de New Orleans, a fotografia de Robert Mapplethoppe, a arte de Debra Hurd & Lisa Lyon, a pintura de C. Vernet & Pedro Cabral aqui.

E mais:
Corações solitários, Hipócrates, Isaac Newton & Catherine Barton Conduitt, O homem & pós-homem de Fernanda Bruno, a literatura de Carlos Castañeda, a poesia de William Wordsworth, a música de Elena Papandreou, O teatro do Bharata, a arte de Luis Fernando Veríssimo, a entrevista de Claudia Telles, a pintura de Cristina Salgado, o cinema de Júlio Bressane & Josie Antello aqui.
Solilóquio na viagem noturna do sol, A Educação no Brasil, o pensamento de Sêneca, a música de Maria Esther Pallares, a coreografia de Paula Águas, a pintura de Terry Miura & Amenaide Lima aqui.
Solilóquio das horas agudas, O mito de Sísifo de Albert Camus, Neurofilosofia & Neurociências, a música de Meg Myers, a pintura de José Manuel Merello, Hipócrates & Luciah Lopez aqui.
Solilóquio do umbigocentrismo, Rio São Francisco - Velho Chico, Richard Bach, Quando todo dia é segunda-feira, Chamando na grande & mandando ver no lero aqui.
O espectro da fome de Josué de Castro, Ilíada de Homero, a música de Mercedes Sosa & Martha Angerich, a pintura de Tamara de LempickaAna Botafogo, Eliezer Augusto & Genesio Cavalcanti aqui.
Quem desiste jamais saberá o gosto de qualquer vitória, A ciência da linguagem de Roman Jakobson, a literatura de Marcel Proust, a música de Secos & Molhados & Luiza Possi, a pintura de Henry Asencio, a arte de Regina José Galindo, a fotografia de Thomas Karsten & Tortura é crime aqui.
Boa noite, Penedo, às margens do São Francisco, a literatura de Adonias Filho & Georges Bataille, A história social do Brasil de Manoel Maurício de Albuquerque, a música de Bach & Rachel Podger, a arte de Marcel Duchamp, a pintura de Jaroslav Zamazal, a fotografia de Karin van der Broocke, Vanguard & Kéfera Buchmann aqui.
E a dança revelou o amor, a literatura de Manuel Scorza, A busca fálica de James Wyly, a música de Gabriel Fauré & Ina-Esther Joost, a pintura de Francisco Soria Aedo, a coreografia de Merce Cunningham, a arte de Yves Klein & a fotografia de Richard Rutledge aqui.
Três poemas & a dança revelou o amor..., a pintura de Andrew Atroshenko & Ton Dubbeldam, a fotografia de Klaus Kampert & a arte de Jeremy Mann aqui.
Quando ela dança tangará no céu azul do amor, A condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, A estética da desaparição de Paul Virilio, a música de Anna-Sophia Mutter, a pintura de Alex Alemany & Eloir Junior, a arte de David Peterson & Luciah Lopez, Carlos Zemek & & Isabel Furini aqui.
A dança dos meninos, a poesia de Manuel Bandeira & Amiri Baraka, A bailarina de João Cabral de Melo Neto, O Kama Sutra de Vatsyayana, A dançarina de Yasunari Kawabata, a música de Isabel Soveral & António Chagas Rosa, a pintura de Jose Manuel Abraham, a fotografia de M. Richard Kirstel, Pas de deux & Ary Buarque aqui.
O voo da mulher, Dicionário de lugares imaginários, o teatro de Federico Garcia Lorca, a música de Duke Ellington, o cinema de Lars von Trier & Nicole Kidman, a arte de Tatiana Parcero & Caco Galhardo, Rô Lopes & Como veio a primeira chuva aqui.
Saúde no Brasil, O Fausto de Goethe, o pensamento de Terêncio, Ética & Fecamepa, Os sentidos da integralidade de Ruben Araújo de Mattos & Remexendo as catracas do quengo e queimando as pestanas com coisas, coisitas e coisões aqui.
Todo dia é dia de dançar o amor aqui.
O alvoroço do poema na horagá do amor & a pintura de Oscar Sir Avendaño aqui.
Literatura de cordel : quebra pau no STF, de Bob Motta aqui.
A pingueluda aqui.
A arte de Marcya Harco aqui.
O pensamento de Georg Lukács, A psicanálise de Jacques Lacan, o teatro de Samuel Beckett, a literatura de Henry James, a música de Morton Subotnick, o cinema de Jane Campion & Nicole Kidman, a pintura de Aurélio D'Alincourt, a arte de Fady Morris & As poesias pontilhadas de Dorothy Castro aqui.
Pindura aí, meu! O negócio tá ficando feio, Cidadania insurgente de James Holston, a poesia de Sérgio Frusoni, A cidadania de Maria de Lourdes Manzine Covre, a música de Sol Gabetta, a fotografia de Mara Saldanha, a arte de Stanley Borack & a pintura de Fernando Rosa aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

A DANÇA DE DRUMMOND & DEGAS
A dança? Não é movimento, / súbito gesto musical. / É concentração, num momento, / da humana graça natural. / No solo não, no éter pairamos, / nele amaríamos ficar. / A dança – não vento nos ramos: / seiva, força, perene estar. / Um estar entre céu e chão, / novo domínio conquistado, / onde busque nossa paixão / libertar-se por todo lado… / Onde a alma possa descrever / suas mais divinas parábolas / sem fugir à forma do ser, / por sobre o mistério das fábulas.
Poema A dança e a alma, extraído da obra Viola de bolso (José Olympio, 1952), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond Andrade (1902–1987), ilustrado pelas esculturas do pintor, gravurista, escultor e fotógrafo francês Edgar Degas (1834-1917). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: Todo dia é dia de dançar!
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Veja os vídeos aqui & mais aqui e aqui.
 

sexta-feira, abril 28, 2017

CLARICE LISPECTOR, GABRIELA MORAWETZ, SUE ADAMS, LUCIAH LOPEZ & O AMOR MOVE SERES E COISAS

O AMOR MOVE SERES E COISAS – Imagem: arte da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez. - É nela que sou afoito menino grande entre as cores de suas estrelas aladas no céu do seu paraíso, a tomar pra mim tudo o que é de sonhos e desejos na sua grandeza deificada mais que real. Sou quem recolhe a virente emanação dos seus campos férteis abertos para lavrar a terra na alvura do seu ventre, semeando nos prazeres ocultos da sua carne viva suplicante, a espoleta certa da explosão em festa maior que a coroação de todas as glórias possíveis e inimagináveis. É nela o motivo de alvorecer o dia com todas as libações no que jorra cachoeira farta do seu flavo riso, a me abrigar nos seus flavescentes lábios que me tingem rubras febres fervidas na paixão mais que transbordante. É nela que o anil da tarde azuleja a vida que as minhas mãos esperam e mais se esmeram ao toque na maciez do seu afago e o encanto dos seus zis feitiços que se derramam em profusão entre abraços, beijos e entregas. É nela a negra noite dos seus olhos graúdos, perscrutando minhas fraquezas de amante faminto na magenta madrugada de nossas tórridas entregas, como se tudo revirasse multicor na ebulição de todas as fervuras de se ter e de se dar. É nela que tudo é claro como a lonjura do mar, tudo é perfeito como as graças da natureza, harmonia sem par pras minhas dissonantes modulações, porque é dela a luz no fim do túnel, porque meu é o seu caminho de idas e voltas ao futuro e agora. É branca a voz do seu desalento ao meu ouvido, recitando versos irisados pelo amor maior de tudo e em mim a sua boca é a poesia que se realiza em fonte pra alma na carne feita de todas as formas e maneiras das profundas raízes do coração. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

O MILAGRE DA ARTE
Quem escreve ou ensina ou pinta ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagres todos os dias.
Frase extraída da obra Uma aprendizagem, ou o livro dos prazeres (Francisco Alves, 1991), da escritora e jornalista Clarice Lispector (1920-1977), ilustrada pela arte da pintora, gravurista, escultura, fotógrafa e artista visual polonesa Gabriela Morawetz. Veja mais aqui, aqui e aqui.

Veja mais sobre:
A educação nossa de cada dia, A ilusão da alma de Eduardo Giannetti, Cibercultura de André Lemos, a música de Francisco Braga & Rosana Lamosa, a pintura de Jean Delville & Lygia Coelho aqui.

E mais:
A literatura de Osman Lins, o teatro de Adolphe Appia, a poesia de Alberto de Oliveira, a arte de Paul Éluard, a música de Paulo César Pinheiro, o cinema de Pedro Almodóvar & Penélope Cruz, a pintura de José Malhoa, A travessia poética de Valéria Pisauro & Programa Tataritaritatá aqui.
Todo dia é dia da educação aqui.
Passando a limpo aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando as mazelas dão um nó, vôte! A bunda de fora parece mais tábua de tiro ao alvo aqui.
La divina increnca de Juó Bananére, O sexo na história de a Reay Tannahill, A personologia de Henry Murray, a pintura de Adélaide Labille-Guiard, a música de Zeca Baleiro & Borná de Xepa, Dale Messick & Brenda Starr, a arte de Brooke Shields & a poesia de Marcia Lailin aqui.
Infância, imagem & literatura, Hipermnestra, A origem das espécies de Charles Darwin, A educação de István Mészarós, O ateneu de Raul Pompeia, a música de Antonio Salieri & Montserrat Caballé, O batizado da vaca de Chico Anysio, o cinema de Pedro Almodóvar, a pintura de Robert Delaunay & a escultura de Pierre Le Gros aqui.
O beijo que se faz poema, a poesia de Hilda Hilst, a escultura de Auguste Rodin, a fotografia de Eisenstaedt, a pintura de Rubens Gerchman, Franz von Stuck & Ricardo Paula aqui.
O palhaço doido, A filosofia do não de Gaston Bachelard, a poesia de Vinicius de Moraes, As reflexões Jacques Necker, a música de Anton Weber & Christiane Oelze, a fotografia de Evelyn Bencicova, a pintura de Nelina Trubach-Moshnikova & a arte de Karin Vermeer aqui.
O pulo do amante, A natureza do espaço de Milton Santos, O poder da identidade de Manuel Castells, a música de Bach & Alina Ibragimova, a poesia de August Stramm, a fotografia de Man Ray, a pintura de Paula Garcia, a arte de RozArt & Rich Snobby aqui.
Tudo acontece no ermo das ruas, A solidariedade de Edgar Morin, a poesia de Emily Dickinson, O desenvolvimento sustentável de Guillermo Foladori, a Música Brasileira do século, o cinema de Ingmar Bergman, a pintura de János Vaszary & a ilustração de Félix Reiners aqui.
Minha alma tupi-guarani, minha sina caeté, A geração dos poetas de Roman Jakobson, Paregma & Paraliponema de Arthur Schopenhauer, a música de Laura Nyro, a poesia de Vicente de Carvalho, a arte de Deborah De Robertis, a fotografia de Erwin Blumenfeld & Liliana Porter aqui.
Sou um pedaço de nada arrodiado de violência por todos os lados, A violência no mundo de Jean Baudrillard, A violência urbana de Régis de Morais, Neurofilosofia & Neurociências, a música de Pedro Jóia, a poesia de Blanca Varela, a pintura de Flávio de Carvalho, Soninha Porto & Poemas à flor da pele aqui.
Corações solitários, Hipócrates, Isaac Newton & Catherine Barton Conduitt, O homem & pós-homem de Fernanda Bruno, a literatura de Carlos Castañeda, a poesia de William Wordsworth, a música de Elena Papandreou, O teatro do Bharata, a arte de Luis Fernando Veríssimo, a entrevista de Claudia Telles, a pintura de Cristina Salgado, o cinema de Júlio Bressane & Josie Antello aqui.
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A arte da escultora canadense Sue Adams.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra:
Da sua boca / Quero a saliva misturada à minha / Nas convulsões das nossas línguas / Sempre se querendo... / E ajoelhada entre as suas coxas / de olhos enfeitiçados / lhe dou o cheiro da fêmea, / impassível / aos seus carinhos que me percorrem / buscando os meus cabelos / trazendo minha boca sedenta / até as suas águas... / Então somos apenas nós dois / quando nos arremessamos / animais embrutecidos / nos possuindo entre as galáxias / tatuando a nossa pele com o pó das estrelas. / E no seu gozo de chuva morna / minha alma renasce / branca/mulher/anjo / fêmea sua / beleza incandescente/indecente / que me convida / a adormecê-lo / entre os meus seios/entre os meus seios / para sempre seus...
Entre os meus seios, poema & imagens da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez.
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quinta-feira, abril 27, 2017

CARLOS MATUS, ANGELS DE RUSSEL JAMES, AGNES-CECILE, RENATO DONZELL & VARAL DA VIDA

VARAL DA VIDA - Imagem: Varal da vida, do artista plástico, designer de produtos e ilustrador Renato Donzell. - Tal como uma roupa num varal, a gente segue a vida ao sabor dos ventos que vão e vêm. Um dia folha, outro algodão, pedra cravada no chão, ou fruto sujeito às rondas dos famintos. De qualquer forma é uma viagem, senão física por paisagens e paragens, pela imaginação ou sonhos de olhos abertos ou fechados. Isso sim, a vida é uma viagem, desejada ou sujeita ao inevitável, é a vida. Tem quem se deixe levar, sem ter nem saber o que fazer, como se tudo estivesse previamente traçado, irrecorrivelmente trilhado para se ter onde ir e que vá, dê no que dê. Há quem prefira ter leme e diligente traçar seu próprio trajeto por retas, curvas, catombos, aclives e declives. Se vier a tempestade, que Deus acuda. Depois a bonança, graças a Deus. Afora isso, as escolhas cônscias e as irrefletidas, opções planejadas, mudanças de rumo e perdeu a passada. O tempo não para, não dá pra demorar, é só intuir e foi, se chegou ou não é outra história, hora de avaliação e não se avexe não, é hora de recomeçar: a vida dá voltas e como dá. Há quem viva como num barco de festa, sobe e desce de um lado pro outro, uma hora cansa ou se atrofia no tédio: desejos substituídos, vontades novas e nunca se satisfaz. Afinal, não sai do lugar. De todas as formas ou modos, é só um lado da vida. Há sempre o imprevisível pra quem tem coragem de sair dos trilhos, criando atalhos, seguir seu caminho. Ou, se preferir, se resguardar pra que só aconteçam coisas agradáveis, sem risco e sem sair da zona de conforto. A vida vem e passa, e quem ficou, pisado ou incólume, foi quem perdeu a hora. Arrependimento há de qualquer jeito, nada demais. As convicções que desolam. Há sempre o que menos se espera. Por bem ou mal, a cada um a sua forma de reagir. Aos previsíveis, se pinta o verão, é hora de plena vitalidade, tudo fazer e festejar. Invernou, hora de se retrair, contrair, até hibernar: as águas são pros peixes; se não tem embarcação segura, não adianta nem ir pro cais, qualquer ressaca pode afundar planos e sonhos. Quando se é passageiro, pouco importa a condução, vale é chegar nalgum lugar seguro ou previsto. A estrada dá sempre numa parada, nem que seja no fim do mundo. As águas, por mais revoltas ou múltiplas correntes, vai dar num porto, sem saber ao certo se hostil ou habitável. Os ventos, ah os ventos, se sair da órbita, se perde de vez na imensidão. O que vale de mesmo é saber que o mundo dos sentidos é o dos efeitos; a causa, esta sim, está dentro de cada um de nós, em nossas mãos: no presente a gente faz o futuro que quiser. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

 [...] Às vezes o medo de perder os objetivos conduz a perda da democracia; as vezes o medo de perder a democracia conduz a perda dos objetivos. Sempre o medo. É a derrota da razão. [...].
Trecho extraído do livro Planificación de situaciones (Fondo de Cultura Econ[om,ica, 1980), do economista chileno Carlos Matus (1931-1998), que desenvolveu o Planejamento Estratégico e Situacional, voltado para a gestão de governo e arte de governar.

Veja mais sobre:
Rompendo o passado pro futuro, a literatura de Hermilo Borba Filho, A história da riqueza do homem de Leo Huberman, a música de Mauro Senise Quarteto, a pintura de Armand Point & Otto Lingner aqui.

E mais:
A sina de Agar, a poesia de Adalgisa Nery, a literatura de Anita Loos, o pensamento de Ayn Rand, o teatro de Jean-Louis Barrault, a  música de Cláudia Riccitelli & The Bossa Nova exciting Jazz Samba Rhythms, a pintura de Jose Gutierrez de la Vega, o cinema de Malcolm St. Clair, Marilyn Monroe & Delasnieve Daspet aqui.
Papo de Antemão, a literatura de Kazuo Ishiguro, A Felicidade de Eduardo Giannetti, A filosofia da arte de Hippolyte Taine, o teatro de Anton Tchekhov, Topsy-Turvy, a música de Gonzaguinha, a escultura de Wolfgang Alexander Kossuth, Direito à Saúde, Fecamepa & O gozo dela aqui.
A Biblioteca Pública Fenelon Barreto, As flores do mal de Charles Baudelaire, O estandarte da agonia de Heloneida Studart, a música de Lenine, o cinema de Amácio Mazzaropi, a pintura de Gino Severini, a arte de Walter Levy & a fotografia de Eadweard Muybridge aqui.
A poesia de Pablo Neruda, a música de Björk, o teatro de Teixeira Coelho, a pintura de Modigliani & Zinaida Evgenievna Serebriakova, a arte de Elsa Zylberstein, a ilustração de René Follet, a arte de Beatrice Brown, Rubens da Cunha & Uma mulher por cem cabeças de gado aqui.
Alô, alô Brasis, Texto/Contexto de Anatol Rosenfeld, A ética de Baruch Espinoza, a música de Edu Lobo & Cacaso, a poesia de Chico Novaes, a fotografia de Albert Arthur Allen, a arte de Lygia Pape & a pintura de Henri Lehman aqui.
Os tantos e muitos Brasis, A arte no horizonte do provável de Haroldo de Campos, As cartas de Geneton Moraes Neto, a fotografia de Brian Duffy, a pintura de W. Cortland Butterfield, a arte de Laura Barbosa & Adriana Zapparolli, a poesia de Leo Lobos & Fonte aqui.
A vida e a lógica da competição, A inteligência brasileira de Max Bense, a filosofia de Max Horkheimer, a poesia de Affonso Romano de Sant’Anna, a música de Pierre Boulez & Pi-Hsien Chen, a fotografia de Sebastião Salgado, a arte de Anna Bella Geiger, a pintura de Herbert James Draper & Umberto Boccioni aqui.
A fábula do maior ninguém, O conhecimento e interesse de Jürgen Habermas, A República de Platão, a música de Antonio Soler & Maggie Cole, a poesia de Zé Limeira, a fotografia de Howard Schatz, a pintura de Ryohei Hase, a arte de Kurt Schwitters & a Companhia do Ballet Eliana Cavalcanti aqui.
Ressonâncias ávidas além do amor, Da diáspora de Stuart Hall, O virtual de Pierre Lévy, a música de Daniel Binelli & Giselle Boeters, a arte de Doris Savard, a pintura de Eloir Júnior, Luciah Lopez & Ana Bailune aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
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Imagens recolhidas da obra Angels (Te Neues UK, 2014), do fotógrafo australiano Russel James, que também atua como diretor cinematográfico e de vídeos musicais para televisão.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: a arte da pintora italiana Agnes-Cecile (Silvia Pelissero).
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quarta-feira, abril 26, 2017

LORCA, BERNARD LOWN, MAGDALENA CAMPOS-PONS & AMOR EM ALAGOINHANDUBA

AMOR EM ALAGOINHANDUBA - Alagoinhanduba é um lugar que não existe, só no meu coração e na minha molecagem de aprendiz de poetastro. Para ela eu faria uma canção de amor de filho pródigo desterrado. Todavia, ela é a minha casa, meu abrigo e lugar. Nela sobrevivo e angario meu sustento, alimento esperanças, vomito decepções. Quando ela chora, estou desolado. É quando sei de suas angústias e frustrações: ela sempre sonhou imortalizada feito Macondo, Antares, Dublin, ou o Aquário das Cobras, ou mesmo aquela que Paris só é melhor à noite. Infelizmente, o único filho que se poderia considerar por ilustre, desculpe a imodéstia, sou eu aquele que é o cúmulo do anonimato entre os inúteis. Triste sina, a dela. A par de tudo isso, asseguro: ela é só de nome, um distrito perdido no mapa, onde a vida mais parece desenho animado. Não há rio, deságua seus lamaçais. Todo dia e o ano todo, a vida é uma só: ou chuva, ou ensolarada, só inverno ou verão, sem meio termo, só eu e ela, meio a meio. As suas ruas, umas com nomes de santos, outras na glória dos seus vencedores, como a sua principal atração que se diga turística, a Praça Coronel Tinhoso da Gruta, montada no cume do morro, e que o povo só trata por Catombo da Bêba; ou a Travessa Prefeito Bordão que ninguém sabe ou lembra mais nem quem foi, pois a ela só se refere como o Beco do Cu da Mãe. Nela se faz de tudo: abusos, chantagens, malquerenças, arrumadinhos, blasfêmias e pirataria. Nela se mata, arranca, enterra, cavouca e revira insepultas desavenças, escabrosas vilanias, indecorosas safadezas. Só se vê o prefeito Zé Peiúdo em conchavo com os poderosos para se manter no poder, mandando o cabo distribuir lotes da beira do rio pros eleitores achegados, e os capangas a dar sumiço em tudo quanto for de putas e gays na localidade. Lá Tomé e Vitalina todas as tardes às escondidas trocam juras de amor no banco da praça deserta, e no meio de um sarro pesado são surpreendidos por ladrões que levaram seus pertences, não antes abusar libidinosamente dos dotes dela. Biritoaldo junta pules de bicho e canhotos da loteria de domingo a domingo, apelando pra sorte na esperança de arribar desse lugar odiento pra ele. Zé Corninho serra tronco das árvores a mando do dono que maldiz todo dia dos prejuízos que elas deram às suas casas e casebres que ruíram pelas raízes. Robimagaiver na maior faxina dentro de casa, juntando o que acha de imprestável na sua mania de colecionar o que lhe cai às mãos, e ao sair do aluamento joga tudo no primeiro terreno baldio que encontrar pela frente que sirva de lixão. Cada morador ama esta cidade ao seu modo: entre xingamentos, fofocas, ganâncias, bofetadas, abrindo valetas, levantando muros, promovendo intrigas. Como em qualquer lugar, os fieis rezam na igreja por suas misérias, esponsais comparecem às obrigações do coito, fossas e lixos alagando meio fio, a festa dos insetos pelos arruados emporcalhados por pôsteres e cartazes dos políticos, comemorações entre fezes de animais mortos ao relento, inaugurações entre esgotos a céu aberto, monturos e detritos, procissões pelas guaritas e lixeiras destruídas nas calçadas iguais as ruas esburacadas, passantes pra e pra cá entre os entulhos, muco, pus, catarro, santos e crucifixos, discussões entre metralhas, poças, matagal, sacos plásticos levitando aos ventos; namoricos entre moedas pelos regos com pedaços de fios, arames, vidros, cordões, retalhos, madeiras e pegadores, traições com maçanetas, parafusos, telhas, galhos, folhas e fotos, enterros entre flores, papéis, caixas, pregos, roelas, clips, caqueiras e latões, colações de grau pelas varetas, rótulos, bisnagas, cachetes e flâmulas, comícios entre botons, sacolas, sandálias, panelas e talheres, homicídios entre brinquedos, penicos, livros, balas e bulas, a vida toda entre destroços, tapumes e escombros. Cada qual se livra das broncas jogando pro lado, ou pro quintal do vizinho ou soltando na primeira esquina: agora o problema é dos outros. A cidade que chore, definhe, apodreça, cada um que se vire, resolvendo o seu, o resto se dane. A cidade é o retrato do povo que nela habita. Até que um dia, por desgraça do destno, enforcou-se o último alagoianhandubense com as tripas do último índio que havia na redondeza. A cidade foi varrida do mapa e tudo se perdeu numa brecha do tempo para nunca mais. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

BODAS DE SANGUE DE LORCA
(Minutos antes acabam de partir o noivo e sua mãe, que vieram pedir a mão da noiva em casamento e deixaram presentes). CRIADA Estou louca para ver os presentes. NOIVA (áspera) Sai! CRIADA Ai, menina, deixe eu ver! NOIVA Não quero. CRIADA Ao menos, as meias. Dizem que são todas rendadas! NOIVA Já disse que não! CRIADA Por Deus. Está bem. É como se não estivesse com vontade de casar. NOIVA (mordendo a mão com raiva) Ai! CRIADA Menina, filha, o que você tem? É pena de deixar tua vida de rainha? Não pense nessas coisas tristes. Tem algum motivo? Nenhum. Vamos ver os presentes. (apanha a caixa) NOIVA (agarrando-a pelos pulsos) Larga. CRIADA Ai, mulher! NOIVA Larga, já disse. CRIADA Tem mais força que um homem. NOIVA Não tenho feito trabalho de homem? Antes eu fosse! CRIADA Não fale assim! NOIVA Cale-se já disse. Vamos mudar de assunto! CRIADA Você ouviu um cavalo ontem à noite? NOIVA Que horas? CRIADA Às três. NOIVA Era algum cavalo solto? CRIADA Não era, tinha cavaleiro! NOIVA Como você sabe? CRIADA Porque eu vi. Estava parado na sua janela, estranhei muito. NOIVA Não seria o meu noivo? Algumas vezes ele passa essa hora! CRIADA Não. NOIVA Você o viu? CRIADA Vi. NOIVA Quem era? CRIADA Era Leonardo. NOIVA (forte) Mentira! Mentira! O que veio fazer aqui? CRIADA Veio. NOIVA Cale-se! Maldita seja a sua língua! CRIADA (à janela) Olha. Chega aqui! Era? NOIVA Era.
Trecho da peça teatral Bodas de Sangue (Agir, 1968), do poeta, dramaturgo espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Veja mais sobre:
Ganhar o mundo no rumo das ventas, O mito e a política de Jean-Pierre Vermant, a literatura de Cesare Pavese, a pintura de Eugène Delacroix & Caroline Vos, a música de Wagner & Hélène Grimaud aqui.

E mais:
Brincarte do Nitolino, o Tratado Lógico-Filosófico de Ludwig Wittgenstein, o Teatro Futurista de Filippo Marinetti, a literatura de Azar Nafisi, a pintura de Eugène Delacroix, a música de Nelson Freire, a fotografia de John De Mirjian, Augustine de Charcot, a arte de Stéphanie Sokolinski, a cangaceira Dadá & Maria Iraci Leal aqui.
Do espírito das leis, de Montesquieu aqui.
Caxangá, a literatura de Cervantes & Lima Barreto, o Abstracionismo & Vassili Kandinsky, a música de Sainkho Namtchylak, o cinema de Anthony Minghella & Gwyneth Kate Paltrow, a pintura de Guido Cagnacci, a arte de Adelaide Ristori & Clara Sampaio aqui.
A poesia de Gabriela Mistral & William Wordsworth, a literatura de Gregório de Matos Guerra & Ana Miranda, o cinema de Krzysztof Kieslowski & Irène Jacob, a música de Ravi Shankar & a pintura de Almada-Negreiros aqui.
Brincarte do Nitolino & Lendas do Nordeste, Buda, O caso Anna O de Freud & Bertha Pappenheim, A fenomenologia de Edmund Husserl, a poesia de Basílio da Gama, o teatro de Edmond Rostand, a pintura de Sergei Semenovich Egornov, a música de Steve Howe & a arte de Anne Brochet aqui.
O que deu, deu; o que não deu, paciência, fica pra outra, A teoria das emoções de Jean- Paul Sartre, a literatura de Dyonélio Machado, O fim da modernidade de Gianni Vattimo, a pensamento de Friedrich Nietzsche, Neurofilosofia & Neurociência, a música de Laurence Revey, a pintura de Fernando Rosa & Jonas Paim, a fotografia de Faisal Iskandar & O sisifismo na segunda de outra semana aqui.
Para quem vai & para quem vem, A filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin, a Fenomenologia & o fenômeno de Armando Asti Vera, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a música de Djavan, a fotografia de Gal Oppido, a pintura de João Evangelista Souza, A pancada insólita se alastra na culatra: viver, a arte de Luciah Lopez & Elciana Goedert aqui.
Se o sonho pra se realizar está custoso demais, paciência..., As origens da vida de Jules Carles, Elementos da dialética de Alexander Soljenítsi, a poesia de Gilka Machado, a música de Álbaro Henrique, a fotografia de Camila Vedoveto, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, As torturas prazerosas de Quiba, Aos futuros poetas de J. Martines Carrasco, a arte de Fernando de La Rocque & Fernando Nolasco aqui.
Quando a poluição torna o ar irrespirável, a vida vai pro beleleu, O mundo de Albert Einstein, a literatura de Imre Kertész, a Educação de Dermeval Saviani, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a música de Mafalda Veiga, A pluralidade cultural de Manuel Diégues Júnior, a fotografia de Eustáquio Neves, a pintura de Evelyn Hamilton, a fotografia de Cida Demarchi & Os erradios catimbós de Afredo aqui.
Quem, nunca aprendeu a discernir entre o que é e o que não é, jamais aprenderá a votar, a literatura de Marguerite Duras & Stanislaw Ponte Preta, o pensamento de Friedrich Nietzsche, O combate à corrupção, a música de Miriam Ramos, o Conhecimento de Cipriano Carlos Luckesi, a arte de Lenora de Barros, a fotografia de Ed Freeman, Luciah Lopez & O amor é tudo no clarão dos dias e na escuridão das noites aqui.
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A arte da pintora, fotógrafa, escultora, performer e artista visual cubana María Magdalena Campos-Pons.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: [...] Sinto-me por vezes desanimado quando vejo que, após investir muito tempo na coleta de detalhada história médica que me diz exatamente o que há, o paciente de mostra incrédulo. Mas, quando o levo para minha sala de exames, onde tenho a um canto um antiquado fluoroscópio com intensificador de imagens, máquina cujo painel de instrumentos se assemelha ao de um avião, o paciente fica impressionado e posso imaginá-lo dizendo com seus botões:”Ah, que bom estar num consultório tão bem equipado”. Ou talvez: “O doutor vai usar comigo essa máquina maravilhosa?”. A fé pueril na magia da tecnologia é uma das razões pelas quais o público vem tolerando a desumanização da medicina. [...].
Trecho da obra A arte perdida de curar (Peirópolis, 1998), do médico, professor e inventor lituano Bernard Lown, que só aceitou o Prêmio Nobel da Paz de 1985 em nome dos Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear, que fundou com o cardiologista russo Yevegeny Chazov.
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