CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: SERENAR (Imagem:
arte de Meimei Corrêa) - Ah, o amor,
não fosse ela apaziguando minha febre irremediável toda fulgurante como uma
Deusa de Sol, a se fazer rubra na escuridão das nossas noites escuras e
fechadas, como quem rutila em plena efervescência de larvas vulcânicas, a se
fazer clarividente ao meu toque profano nas cascatas da sua sacralizada
clausura, não teria eu jamais prazer nem sentido na vida. É que sou ave cega
com as raízes dos meus ossos trazidos da terra e a minha alma desenterrada na
minha vida de pedras jogadas. Sou as minhas errâncias arrastando os vestígios sem
rumo com todas as heranças perdidas, devorado pelas sombras da inquietação
solitária na minha paz despedaçada, posto que o desditoso destino ignoto, mesmo
assim, me concedeu a cortesia misteriosa de estar vivo. Não tivesse eu tantos
danos por reparar com a minha culpa esdrúxula, não ficaria à boquinha da noite na
espera da sua chegada toda viçosa remendando a desordem da minha vida desordenada,
a serenar o meu coração enamorado. É quando sou grato pelo bálsamo da sua
coroação de rainha a alinhar o curso de todas as minhas luas desnorteadas pra percorrer
o mundo com nossos beijos errantes e a me dar sua roseira aberta que se reflora
a cada toque que ouso pelo sigilo da noite mais que advena até a abóbada
celeste de sua boca insana. E me pega pela mão no voo desde a origem do dia e
toda verdade revolta na terra viva do seu ser, manejando com perícia as minhas
extraviadas e pálidas insanidades, quando morde minha carne e me lambe a pele
amainando as féridas cálidas, derramando o sobejo da sua boca na minha alegria.
Não fosse eu ter a dádiva da vertiginosa dança do seu bailado venturoso, a me
fazer Odur no seu ser de Valquíria Freya, quando já nos tornamos Súcubus e
Íncubus no meio de toda tempestade dos desejos. Não tivesse eu a chama ardente
de buscar sua silhueta em cada recanto e a todo instante, sem que seja cedo ou
tarde para que eu me sinta nas suas pálpebras de ternas emoções, onde um só
minuto é toda eternidade, pra não me deixar morrer porque já fui condenado de
tudo no campo minado do amor. Não soubesse eu a escolha do que amo, não lhe
veria os sinais vibrantes que ondulam em seu ser por todas as estações, porque
aprendi a dormir com a noite em que a fragrante flor do seu ditoso e
incendiário corpo madurado me é mais estrelado com seus prazeres inesgotáveis. Ah,
o amor, não fosse ela atravessando o meu dia repleta de plena satisfação para erigirmos
na dúplice taça dos amantes o mel dos felizes, ah, o amor, eu jamais teria
sentido na vida, porque o amor é mútua condecoração. (Luiz Alberto Machado).
VEJA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
DESEJO
QUANDO TE VI
SERENAR
PICADINHO
Imagem: Nuvem em azul, da artista plástica, desenhista e ilustradora
vienense Agi Strauss (Agathe
Deutsch).
Curtindo os álbuns Luar e café (2004),
Gaagua (2006) e Elisete – Remixes (2007), da cantora e compositora Elisete Retter, além de ser
apresentadora do programa Elisete de manhã, todas as segundas-feiras na Rádio
Shiga, no Japão.
EPÍGRAFE
– Uma vida é vivida num momento de êxtase! Recolhida do livro Sussurros do eu
interior (Rennes, 1976), de Validivar
– pseudônimo do grande místico e filósofo estadunidense Ralph M. Lewis. Veja
mais aqui.
A
EDUCAÇÃO E SEUS PROBLEMAS
- No livro Educação e seus problemas
(Nacional, 1950), do professor, educador, crítico e ensaísta e sociólogo Fernando de Azevedo (1894-1974),
encontro que: [...] A cada época, na
marcha da civilização, correspondem processos novos da educação para uma
adaptação constante às novas condições da vida social e à satisfação de suas
tendências e de necessidades. As ideias e as instituições spedagógicas são
essencialmente o produto de realidades sociais e políticas. À medida que os
meios de ação se multiplicam à volta dos homens, pondera C. Bouglé, eles
reclamam satisfações multiplicadas para as suas necessidades não mais somente
do seu corpo, mas também do seu espirito. O seu organismo refinado complica as
suas exigências; e elas se apresentam logo ás suas consciências, como
expressões de outras necessidades vitais. Ora, não podia permanecer inalterável
um aparelho educacional, a cuja base residia uma velha concepção da vida, na
sua rigidez clássica, numa época em que a indústria mecânica, aumentando a
intensidade, transformou as maneiras de produção e as condições de trabalho, e,
criando esse fenômeno novo da urbanização precipitada da sociedade, acelerou as
modificações nas condições e nas normas da vida social a que correspondem
variações nas maneiras de pensar e de sentir e nos sistemas de ideias e de
conceitos. Era preciso, pois, examinar os problemas da educação do ponto de
vista, não de uma estática social (que não existe senão por abstrato), mas de
uma sociedade em movimento; não dos interesses da classe dirigente, mas dos
interesses gerais (de todos), para poder abraçar, pela escola que é uma
instituição social, um horizonte cada vez mais largo, e atender, nos sistemas
escolares, à variedade das necessidades dos grupos sociais. [...]. Veja
mais aqui.
MARGARIDA
LA ROCQUE – No romance Margarida La Rocque (José Olympio, 1949),
da escritora Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982), destaco o trecho:
[...] Fiquei perplexa, sem saber se devia
ou rão recear meus semelhantes, ao mesmo tempo que reparava na energia de
Juliana, dispondo de nossas pobres coisas, arrumando-as num desvão da rocha, em
vez de se deixar cair por terra, como eu fazia, vencida pelo cansaço e pela
emoção. Imaginava os terrores que me esperavam. Como me defenderia das feras?
Ai de mim! Não sabia atirar. Receei contar aos homens, e eles nos roubarem os
arcabuzes. Contava aprender por mim mesma. [...] Do meu corpete tirei um saquinho, de onde fiz cair algumas moedas.
Guardei as outras comigo, com a esperança desmaiada e distante de um dia sair
daquele ermo, e necessitar delas. Variando, infinitamente, o coração morre mil
vezes e renasce outras tantas! No fundo de meu desgosto brilhava um raiozinho
de luz. Talvez fosse o ânimo emprestado por Juliana [...] Estávamos tão separadas do nosso, Padre,
como um menino, ao nascer, quando o desligam da mãe! [...]. Veja mais aqui.
TANTAS
FLORESTAS – No livro Poemas (Nova Fronteira, 1983), do poeta
e roteirista francês Jacques Prévert (1900 – 1977), destaco o poema
Tantas florestas: Tantas florestas
arrancadas da terra / e massacradas / arrasadas / rotativadas / Tantas florestas
sacrificadas para virar pasta de papel / milhares de jornais chamando
anualmente a atenção dos leitores para os perigos do desmatamento dos bosques e
das florestas. Veja mais aqui e aqui.
O
CANTO DE GREGÓRIO – A
peça teatral O canto de Gregório, de
Paulo Santoro, conta a história de um personagem em busca de respostas às suas
dúvidas cotidianas e místicas. Ele busca a sua ética nos mitos da religião e da
filosofia, ao mesmo tempo que se prepara par aser julgado pelo crime de não ser
considerado um homem bom. Pude conferir a peça no Teatro Sesc Anchieta, na Sala
CPT, em São Paulo, no ano de 2004, com direção de Antunes Filho destacando a
atuação da atriz Arieta Corrêa. Veja
mais aqui.
FELIZES
JUNTOS – O premiado
drama honconguês Felizes juntos
(1997), do cineasta Wong Kar-Wai, é baseado no romance "The Buenos
Aires Affair", do escritor argentino Manuel Puig, com a trama centrada
na conturbada relação afetiva entre dois homens que viajam de Hong Kong a
Buenos Aires à procura das Cataratas do Iguaçu e de renovar o relacionamento.
Eles se perdem no caminho e a relação desmorona aos poucos. Os dois homens são
muito diferentes em seus traços de caráter. Enquanto um é introvertido e age de
forma mais responsável, o outro é impulsivo e extravagante e não consegue se
manter dentro de uma relação monogâmica e começa a se relacionar com outros
homens. O destaque do filme fica por conta da atuação da atriz e cantora
honconguesa Shirley Kwan. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Imagem da ópera 100 objetos que
representam o mundo com retrospectivas de filmes e vídeos do cineasta e artista multimídia
britânico Peter Greenaway. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à cantora,
apresentadora e compositora Lilian Pimentel.
TODO
DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.