sexta-feira, janeiro 08, 2016

SERENAR, VALIDIVAR, DINAH, PRÉVERT, GREENAWAY, AGI, RETTER, LILIAN PIMENTEL ¨MUITO MAIS!

CRÔNICA DE AMOR POR ELA: SERENAR (Imagem: arte de Meimei Corrêa) - Ah, o amor, não fosse ela apaziguando minha febre irremediável toda fulgurante como uma Deusa de Sol, a se fazer rubra na escuridão das nossas noites escuras e fechadas, como quem rutila em plena efervescência de larvas vulcânicas, a se fazer clarividente ao meu toque profano nas cascatas da sua sacralizada clausura, não teria eu jamais prazer nem sentido na vida. É que sou ave cega com as raízes dos meus ossos trazidos da terra e a minha alma desenterrada na minha vida de pedras jogadas. Sou as minhas errâncias arrastando os vestígios sem rumo com todas as heranças perdidas, devorado pelas sombras da inquietação solitária na minha paz despedaçada, posto que o desditoso destino ignoto, mesmo assim, me concedeu a cortesia misteriosa de estar vivo. Não tivesse eu tantos danos por reparar com a minha culpa esdrúxula, não ficaria à boquinha da noite na espera da sua chegada toda viçosa remendando a desordem da minha vida desordenada, a serenar o meu coração enamorado. É quando sou grato pelo bálsamo da sua coroação de rainha a alinhar o curso de todas as minhas luas desnorteadas pra percorrer o mundo com nossos beijos errantes e a me dar sua roseira aberta que se reflora a cada toque que ouso pelo sigilo da noite mais que advena até a abóbada celeste de sua boca insana. E me pega pela mão no voo desde a origem do dia e toda verdade revolta na terra viva do seu ser, manejando com perícia as minhas extraviadas e pálidas insanidades, quando morde minha carne e me lambe a pele amainando as féridas cálidas, derramando o sobejo da sua boca na minha alegria. Não fosse eu ter a dádiva da vertiginosa dança do seu bailado venturoso, a me fazer Odur no seu ser de Valquíria Freya, quando já nos tornamos Súcubus e Íncubus no meio de toda tempestade dos desejos. Não tivesse eu a chama ardente de buscar sua silhueta em cada recanto e a todo instante, sem que seja cedo ou tarde para que eu me sinta nas suas pálpebras de ternas emoções, onde um só minuto é toda eternidade, pra não me deixar morrer porque já fui condenado de tudo no campo minado do amor. Não soubesse eu a escolha do que amo, não lhe veria os sinais vibrantes que ondulam em seu ser por todas as estações, porque aprendi a dormir com a noite em que a fragrante flor do seu ditoso e incendiário corpo madurado me é mais estrelado com seus prazeres inesgotáveis. Ah, o amor, não fosse ela atravessando o meu dia repleta de plena satisfação para erigirmos na dúplice taça dos amantes o mel dos felizes, ah, o amor, eu jamais teria sentido na vida, porque o amor é mútua condecoração. (Luiz Alberto Machado).


VEJA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:

DESEJO 
QUANDO TE VI
ARDÊNCIA 
SERENAR

PICADINHO
 

Imagem: Nuvem em azul, da artista plástica, desenhista e ilustradora vienense Agi Strauss (Agathe Deutsch).


Curtindo os álbuns Luar e café (2004), Gaagua (2006) e Elisete – Remixes (2007), da cantora e compositora Elisete Retter, além de ser apresentadora do programa Elisete de manhã, todas as segundas-feiras na Rádio Shiga, no Japão.

EPÍGRAFE – Uma vida é vivida num momento de êxtase! Recolhida do livro Sussurros do eu interior (Rennes, 1976), de Validivar – pseudônimo do grande místico e filósofo estadunidense Ralph M. Lewis. Veja mais aqui.

A EDUCAÇÃO E SEUS PROBLEMAS - No livro Educação e seus problemas (Nacional, 1950), do professor, educador, crítico e ensaísta e sociólogo Fernando de Azevedo (1894-1974), encontro que: [...] A cada época, na marcha da civilização, correspondem processos novos da educação para uma adaptação constante às novas condições da vida social e à satisfação de suas tendências e de necessidades. As ideias e as instituições spedagógicas são essencialmente o produto de realidades sociais e políticas. À medida que os meios de ação se multiplicam à volta dos homens, pondera C. Bouglé, eles reclamam satisfações multiplicadas para as suas necessidades não mais somente do seu corpo, mas também do seu espirito. O seu organismo refinado complica as suas exigências; e elas se apresentam logo ás suas consciências, como expressões de outras necessidades vitais. Ora, não podia permanecer inalterável um aparelho educacional, a cuja base residia uma velha concepção da vida, na sua rigidez clássica, numa época em que a indústria mecânica, aumentando a intensidade, transformou as maneiras de produção e as condições de trabalho, e, criando esse fenômeno novo da urbanização precipitada da sociedade, acelerou as modificações nas condições e nas normas da vida social a que correspondem variações nas maneiras de pensar e de sentir e nos sistemas de ideias e de conceitos. Era preciso, pois, examinar os problemas da educação do ponto de vista, não de uma estática social (que não existe senão por abstrato), mas de uma sociedade em movimento; não dos interesses da classe dirigente, mas dos interesses gerais (de todos), para poder abraçar, pela escola que é uma instituição social, um horizonte cada vez mais largo, e atender, nos sistemas escolares, à variedade das necessidades dos grupos sociais. [...]. Veja mais aqui.

MARGARIDA LA ROCQUE – No romance Margarida La Rocque (José Olympio, 1949), da escritora Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982), destaco o trecho: [...] Fiquei perplexa, sem saber se devia ou rão recear meus semelhantes, ao mesmo tempo que reparava na energia de Juliana, dispondo de nossas pobres coisas, arrumando-as num desvão da rocha, em vez de se deixar cair por terra, como eu fazia, vencida pelo cansaço e pela emoção. Imaginava os terrores que me esperavam. Como me defenderia das feras? Ai de mim! Não sabia atirar. Receei contar aos homens, e eles nos roubarem os arcabuzes. Contava aprender por mim mesma. [...] Do meu corpete tirei um saquinho, de onde fiz cair algumas moedas. Guardei as outras comigo, com a esperança desmaiada e distante de um dia sair daquele ermo, e necessitar delas. Variando, infinitamente, o coração morre mil vezes e renasce outras tantas! No fundo de meu desgosto brilhava um raiozinho de luz. Talvez fosse o ânimo emprestado por Juliana [...] Estávamos tão separadas do nosso, Padre, como um menino, ao nascer, quando o desligam da mãe! [...]. Veja mais aqui.

TANTAS FLORESTAS – No livro Poemas (Nova Fronteira, 1983), do poeta e roteirista francês Jacques Prévert (1900 – 1977), destaco o poema Tantas florestas: Tantas florestas arrancadas da terra / e massacradas / arrasadas / rotativadas / Tantas florestas sacrificadas para virar pasta de papel / milhares de jornais chamando anualmente a atenção dos leitores para os perigos do desmatamento dos bosques e das florestas. Veja mais aqui e aqui.

O CANTO DE GREGÓRIO – A peça teatral O canto de Gregório, de Paulo Santoro, conta a história de um personagem em busca de respostas às suas dúvidas cotidianas e místicas. Ele busca a sua ética nos mitos da religião e da filosofia, ao mesmo tempo que se prepara par aser julgado pelo crime de não ser considerado um homem bom. Pude conferir a peça no Teatro Sesc Anchieta, na Sala CPT, em São Paulo, no ano de 2004, com direção de Antunes Filho destacando a atuação da atriz Arieta Corrêa. Veja mais aqui.

FELIZES JUNTOS – O premiado drama honconguês Felizes juntos (1997), do cineasta Wong Kar-Wai, é baseado no romance "The Buenos Aires Affair", do escritor argentino Manuel Puig, com a trama centrada na conturbada relação afetiva entre dois homens que viajam de Hong Kong a Buenos Aires à procura das Cataratas do Iguaçu e de renovar o relacionamento. Eles se perdem no caminho e a relação desmorona aos poucos. Os dois homens são muito diferentes em seus traços de caráter. Enquanto um é introvertido e age de forma mais responsável, o outro é impulsivo e extravagante e não consegue se manter dentro de uma relação monogâmica e começa a se relacionar com outros homens. O destaque do filme fica por conta da atuação da atriz e cantora honconguesa Shirley Kwan. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 
Imagem da ópera 100 objetos que representam o mundo com retrospectivas de filmes e vídeos do cineasta e artista multimídia britânico Peter Greenaway. Veja mais aqui, aqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à cantora, apresentadora e compositora Lilian Pimentel.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.