CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: EU TE AMO - – Quanto
mais os dias renascem em manhãs ensolaradas ou frias, mais eu te amo como quem
busca na tua fonte a água de todas as sedes E quanto mais as horas se consomem
por si só na voracidade do tempo, mais ratifico a minha confissão de dívidas
com o teu amor, sem o menor arrependimento ou culpa, como se cumprisse à risca
a nossa mútua promessa de escoteiro, o nosso anímico pacto de sangue. E quanto
mais os dias passam loucamente uns nos outros na maior confusão da vida, mais
eu te amo como súdito fiel que guarda a recompensa e a devoção pela lua-de-mel
das nossas mil e uma noites. E quanto mais os meses viram cinzas na página
virada que já será jamais, mais persigo megalômano ao ninho do nosso repasto
mútuo, miss minha, como um marupiara encantado tal qual Aquiles venerando
Pentesiléia e que jamais deixará morrer a vibrante incandescência da musa. E
quanto mais os anos revolvam nossas vidas anunciando que o futuro jamais
chegará, mais eu te amo e chegarei sempre ávido e pronto a decorar de cor e
salteado o teu mapa para massagear com apalpadelas acariciantes e manusear
febril de desejo e paixão o teu corpo de deusa, minha Vênus de Milo estonteante.
E quanto mais de ti me vieres com nuto afirmativo, mais te amarei derrubando as
muralhas dos nossos limites, cultivando a liberdade da nossa entrega, e mais me
escravizarei ao teu encanto, e mais me fascinarei pela posse do teu afeto, e
mais me extasiarei com o toque do teu afago e mais te agarrarei a efígie, o
busto, a epiderme, a aura, o gesto, o jeito, a alma, a pérola de tuas sensações
mais desacorrentadas de ti, o perfume mais inebriante de tua expressão. E
quanto mais te achegares ansiando por descobrir meus mistérios mais ignotos,
quanto mais faminta e encantadora, quanto mais vívida e sedutora, quanto mais
possessiva e acasaladora, mais te amarei e mais e mais estarás me cativando ao
paraíso de teu domínio que me promete a felicidade além dos céus e a paixão
além dos confins de tudo. (Luiz Alberto Machado. Veja o vídeo do poema aqui e
mais aqui, aqui e aqui).
CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
PICADINHO
Imagem: sem título do gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Curtindo o álbum Oi (2003) da cantora, compositora e guitarrista Laura Finocchiaro.
EPÍGRAFE:
NO DIA DE SÃO NUNCA – Ad kalendas graecas. O Doro estava procurando o doutor Zé
Gulu, quando ouviu do intelectual altamente puto da vida com um intruso,
mencionar: Ad kalendas graecas e sair
avexado com caras de poucos amigos. Assustado, Doro começou a segui-lo e, com
seu jeito peculiar, começou a puxar conversa acompanhando o passo aligeirado do
emputecido. E na marcha arretada, ele foi soltando uns dedinhos de prosa aqui e
acolá, até que chegou no que queria saber: - Mai, doutô, o qui assignifa essa
tá adicalenda greca, sei lá cumo si apronuncia? O filósofo puxou o freio de
mão, encarou o impertinente e sacou: é uma expressão referida por Suetônio que
explica não haver calendas no calendário grego, logo, quem empresta a
caloteiro, recebe calendas gregas. Ou seja: no dia de são nunca! Veja mais aqui,
aqui e aqui.
TEORIA
& PRÁTICA – No livro
Filosofia da práxis (Paz e Terra,
1968), do filósofo, professor e escritor espanhol Adolfo Sánchez Vázquez (1915-2011), encontro que: A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contribuir para
a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro
lugar, tem que assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais,
efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática
transformadora se insere um trabalho de educação das consciências, de
organização dos meios materiais e planos concretos de ação. Tudo isso como
passagem indispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido,
uma teoria é prática na medida em que materialista, através de uma série de
mediações, o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou
antecipação ideal de sua transformação. Veja mais aqui.
A
PEQUENA SÁBIA – Entre as
narrativas de O Reino do Homem africano
(Cultrix, 1962), encontro a história A pequena sábia, da qual transcrevo alguns
trechos: Uma vez, dizem, uma moça foi
procurar cebolas. Quando chegou ao lugar onde havia, encontrou alguns homens,
um dos quais era meio cego, pois só tinha um olho, enquanto ela cavava, os
homens ajudaram-na, cavando eles também. Quando o saco ficou cheio, os homens
disseram-lhe: - Vai e fala às outras moças, assim virão muitas. – Então ela foi
para casa e falou às amigas e, na manhã seguinte, puseram-se imediatamente a
caminho. Mas seguiu-as uma menina. As outras moças disseram: - Façamos a menina
voltar para casa. A irmã mais velha protestou, dizendo: - Ela anda sozinha; não
precisam metê-la na pela awa. Assim seguiram todas juntas e, chegando ao campo
de cebolas, começaram a cavar. De repetente a menina viu sinais de passos e
disse àquela que as tinha guiado até ali: - Que estranho! Por que há aqui
tantos rastos? Não estiveste aqui sozinha? A outra respondeu: - Andei e
procurei em volta; por isso devo ter deixado muitos sinais de passos. Mas a
menina não acreditava que teriam ficado tantos sinais, se a outra moça
estivesse estado sozinha e ficou muito inquieta, porque era uma pequena sábia. [...]
Enquanto prosseguiam, a menina fez a irmã
mais velha ir à frente e seguiu-a, pousando, cuidadosamente, os pés nos passos
da irmã, deixando assim apenas uma fila de passos, andando na direção oposta.
Deste modo chegaram à toca do urso-formigueiro. Os homens mataram todas as
moças que tinham ficado a dançar com eles. Quando a maior das duas que tinham
fugido ouviu os seus gemidos, disse: - Ai de mim, minha irmã! Mas a menor
respondeu: - Julgas que estarias viva, se estivesse ficado lá? [...] As jovens estavam já quase chegando ao seu
kraal, quando o zarolho despertou e disse: - Oh! Que desgraça! Que vergonha! –
Temos todos os olhos emplastados; que vergonha, irmão – disseram os outros.
Então tiraram a goma dos olhos e puseram-se a perseguir as jovens, mas as duas
chegaram a casa sãs e salvas e contaram aos pais o que tinha acontecido. Então
todos começaram em altos lamentos; e ficaram fechados em casa e não procuraram
as outras moças. Veja mais aqui.
POEMA
DO FUTURO CIDADÃO – No
livro Xibugo (Chá de
Caxinde, 2006), do poeta moçambicano José Craveirinha (1922-2003), destaco o Poema do futuro cidadão: Vim de qualquer parte de uma Nação que ainda
não existe. / Vim e estou aqui! / Não nasci apenas eu / nem tu nem outro... /
mas irmão. / Mas / tenho amor para dar às mãos-cheias. / Amor do que sou / e
nada mais / e / tenho no coração / gritos que não são meus somente / porque
venho de um País que ainda não existe. / ah! Tenho meu amor a todos para dar /
do que sou. / Eu! / Homem qualquer / cidadão de uma Nação que ainda não existe.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
A
VIDA É UM SONHO – Foi o
caráter conflitivo da obra do dramaturgo e poeta espanhol Calderón de la Barca (1600-1681), cuja concepção pessimista
ensombreceu até as suas comédias, que atraiu a atenção dos românticos do começo
do séc. XIX, em detrimento da gloria de Lope de Vega, só reavivada depois. Tal
conflito é o centro da obra principal de Calderón, A Vida é Sonho (La vida es sueño, 1635), que narra as
aventuras de Segismundo, filho renegado de Basílio, rei da Polônia que ao
nascer é trancado em uma torre. Seu único contato com o mundo externo é
Clotaldo, seu guardião e fiel servo de seu pai. Libertado provisoriamente e
sabedor de sua posição, Sigismundo dá tais provas de sua vocação tirânica que é
encerrado outra vez, e lhe afirmam que sua passagem pelo palácio real fora um
sonho. Sigismundo não sabe se o sonho fora a liberdade ou a prisão, terminando
por convencer-se ser a vida uma ilusão, uma sombra, uma ficção. A liberdade de
ação vira, assim, uma ilusão dos sentidos, já que toda a vida é sonho.
Sigismundo se reconcilia com o pai e faz justiça, à moda do tempo, punindo os
culpados pela revolta. Veja mais aqui.
THE
OTHERS - O filme de
suspense The Others (Os outros,
2001), do diretor Alejandro Amenábar, conta a história de uma mãe católica
devota que vive com seus dois filhos pequenos em uma mansão no campo em uma
remota ilha, que são acometidas de uma doença rara caracterizada por
fotossensibilidade, devido a isso suas vidas são estruturadas em torno de uma
série de regras complexas para protegê-los da exposição acidental à luz solar. O
destaque do filme é para a sempre linda
e extremamente talentosa atriz australiana Nicole Kidman, sempre bela,
magistral e exuberante nas suas interpretações cinematográficas. Veja mais aqui
e aqui.
IMAGEM DO DIA
Detalhe da capa da Colectânea breve de literatura moçambicana (Identidades/Gesto,
2000), a mim presenteada pelo poeta e ator moçambicano Rogério Manjate.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritora,
compositora e contadora de história Fátima
Maia. Veja aqui e aqui.
TODO
DIA É DIA DA MULHER