VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? SAMIRA, A RUIVINHA SARDENTA - Quase enlouqueci de paixonite aguda pela
Samira, uma lindíssima ruivinha sardenta que me deixou nas nuvens encantado com
a sua beleza adolescente. Tínhamos quinze anos quando a conheci. Ganhou o
concurso de miss, eleita na capital e seguindo pra São Paulo para concorrer à
miss Brasil. Aos dezoito, desapareceram-lhe milagrosamente as sardas e estudamos
juntos na faculdade. Privei da sua amizade, tornando-me íntimo de suas
confidências, enquanto me encantava por inteiro com o sua companhia para lá de
prazerosa. Ah, aqueles seus seios expressos na blusinha de alça a dar-me água
na boca e estimular minha libido; aquela geografia sedutora de milagre dos
céus, formas assimétricas deliciosamente harmonizada com a expressão da maior
lindeza do universo; aquele jeito encantador de olhar meigamente, falar doce na
alma alheia, tocar daquelas mãos sedosas e maravilhosamente imantada de ser
capaz de acender-me as mil e uma volúpias. Deus fora generoso com aquela
criatura. Foi nessa época que descobri que toda marmanjada da cidade se
enrabichara por seus encantos pra lá de envolventes. Eu sabia que não era pro
meu bico, todavia ela gostava de conversar comigo nos horários vagos e no
intervalo das aulas, às vezes até me convidando a ir pra sua casa jogar
conversa fora e segredar suas íntimas ansiedades e decepções. Tulinho, um
fazendeiro rico da região, também foi tragado por uma paixão avassaladora por
ela. E não fez cerimônia, cortejou-la insistentemente até levar um fora de sair
enraivecido, dizendo de si pra si: - Se não for minha, não será de ninguém. Ela
só deitara seus olhares mais insinuantes para mim e pro Gersinho, um promissor
jogador de futebol que estava sendo contratado por um time da capital. Por causa
disso, saí do páreo, a barra estava pesando demais e eu sabia que não sairia
incólume dela. Os ciúmes não me deixariam em paz. E ela, linda além da conta,
já se entregara de vez aos agarros com o jogador pra cima e pra baixo. Meses
depois, com o anúncio do noivado e futuro casamento, ouço a notícia: foram
ambos encontrados terrivelmente mortos, completamente decapitados no veículo
dele, jogado numa vala à beira do acostamento da rodovia federal. Minha nossa! Foi.
E vamos aprumar a conversa aqui.
PICADINHO
Imagem: Reclining female nude, do pintor
expressionista alemão August Macke
(1887-1914). Veja mais aqui.
Curtindo o
álbum Harpa Bossa (Enja Records,
2010), da harpista, cantora e compositora Cristina
Braga.
EPÍGRAFE – Para
quem monta cavalo esperto, toda lonjura é perto! Provérbio caipira
recolhido por Hernani Donato e
registrado no Dicionário de provérbios, locuções e ditos curiosos
(Documentário, 1974), organizado por R. Magalhães Junior, correspondente aos
ditados de que o tempo só é ruim para quem não esperar. Assemelha-se pela
formulação com seu antônimo conceitual: Para quem está perdido, todo o mato é
vereda. Veja mais aqui.
SEGUNDA
INTERATIVIDADE – O livro
Criação e interatividade na ciberarte
(Experimento, 2002), da professora, pesquisadora e artista multimídia Diana Domingues, trata sobre cibercultura
e interatividade; ciberarte, criação e interatividade; fronteiras da arte e da
ciência. Da obra destaco o trecho que aborda sobre a segunda interatividade
criando situações: [...] geradas no
interior de sistemas guiados por modelos perceptivos oriundos das ciências
cognitivas que simulam o funcionamento da mente e por princípios de
inteligência artificial e vida artificial. São simulações que operam de forma
complexa, em ambientes que evoluem em suas respostas, como, por exemplo, os
dotados de redes neurais e suas camadas ou percetrons que funcionam como
conexões de sinapses artificiais e que podem ser treinadas para a aprendizagem,
dando respostas para além da mera comunicação em moldes clássicos [...] Em pesquisas mais recentes, surgem, assim,
sistemas artificiais dotados de fitness, com plena capacidade de gerar e lidar
com imprevisibilidades resultando em processos de solução de problemas por
trocas aleatórias, seleção de dados, cruzamentos de informação, auto-regulagem
do sistema, entre outras funções [...]. Veja mais aqui.
O
MEDO – No premiado livro
A vida de Pi (Rocco, 2004), do
escritor canadense Yann Martel, encontro o trecho em que ele fala sobre
o medo: [...] Preciso dizer uma palavra sobre o medo. É o único verdadeiro adversário
da vida. Só o medo pode derrotar a vida. Ele é um adversário inteligente e
traiçoeiro, eu bem sei. Não tem ética alguma, não respeita nenhuma lei ou
convenção, não demonstra qualquer misericórdia. [...] Começa sempre em nossa mente, sempre. [...]. Veja mais aqui.
APETITE,
GIGA & TOQUE - A poeta e professora Ana Bailune, é autora do livro Vai ficar tudo bem (Pimenta
Malagueta), de mais cinco livros virtuais, participou de diversas antologias e
reúne seu trabalho literário no Recanto das Letras e em diversos blogs, entre
eles Expressão e A Casa e a Alma. Entre os seus poemas, destaco inicial
Apetite: Tinha uma fome insaciável, / Passava tardes entre
banquetes/ A língua lânguida deslizando / Por sobre os cones de mil sorvetes. /
Tinha uma fome tão perigosa! / Enchia a boca de mil mordidas / E mastigava
tudo, ruidosa / E engolia frementemente. / Tinha uma fome de muitas eras, / Prendia
tudo entre lábios e dentes, / E escorriam de sua boca / Todos os sumos das
frutas quentes. / Tinha uma fome que não passava, / E mergulhava em potes de
mel / Cremes, champanhes, e muitos doces / Mas sua fome só aumentava!... / Tinha
uma fome de pratos cheios, / De camas quentes, lençóis de seda, / E ela
servia-se sobre uma mesa / Para senhores de fino gosto. / Tinha uma fome de
fazer gosto, / E devorava, com muito gosto / Tudo o que via e que tinha gosto /
Com tal prazer, e com tanto gosto, / Que sua mesa era sempre farta, / E suas
ancas, sempre tão cheias!... / Deliciosas, todas as ceias, / Mais quente o
sangue de suas veias! Também, GiGa: Em volta do fogo / As palmas se encontram / E
os pés tocam o chão / Em Stacatto / O suor escorre, vermelho, / Dos nús regaços
/ A roda se abre / A procura de espaços. Por fim, o poema Toque: Nada supera, / Nada minimiza / Teu toque de
Midas / Sob as fibras / Da minha camisa! / O prazer ascendendo / Como as
fímbrias / De uma bactéria, / Espalhando-se em luz / Pelas artérias... / Um
toque certeiro, / E o espanto / Pelo que veio, / Um toque certeiro, / E a alma
se entrega / Sem esteio! / Teu toque me sabe, / Me conhece, / Recita, seguro, /
A minha prece! Veja mais aqui.
UMA RELAÇÃO
PORNOGRÁFICA – A peça teatral Uma relação pornográfica (Une
liaison pornographique, 2003), do escritor, dramaturgo e diretor de cinema
iraniano Philippe Blasband, conta a
história de uma mulher que encontra um parceiro sexual por meio de anúncio de
jornal. O que deveria ser uma relação prazerosa e impessoal, acaba se tornando
a repetição de um esquema conjugal de rotina com ansiedade e inseguranças.
Quando assisti a peça no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, no ano de 2005,
pelo grupo mineiro Encena, com direção de Wilson Oliveira, o destaque ficou por
conta da atuação da talentosa atriz e jornalista Christiane Antuña. Veja mais aqui.
LOLA RENNT – O premiado filme Lola
Rennt (Corra Lola, corra, 1998), do diretor Tom Tykwer, conta a história de
um coletor de uma quadrilha de contrabandistas, que esquece no metrô uma sacola
com cem mil marcos e só tem vinte minutos para recuperar o dinheiro ou irá
confrontar a ira do seu chefe, um perigoso criminoso. Desesperado, ele telefona
para Lola, sua namorada, que vê como única solução pedir ajuda para seu pai,
que é presidente de um banco. Assim, Lola corre através das ruas de Berlim,
sendo apresentados três possíveis finais da louca corrida de Lola para salvar o
namorado. O destaque do filme vai para a atriz alemã Franka Potente. Veja
mais aqui.
IMAGEM
DO DIA
A arte do artista plástico
chinês He Jiaying.
DEDICATÓRIA
A edição
de hoje é dedicada à arquitetamiga e produtora cultural Susie Cysneiros & Boibumbarte.
TODO DIA É DIA DA MULHER