CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: É PRA ELA (Imagem:
arte/vídeo de Meimei Corrêa) - É pra
ela que eu canto e vivo em prosa e verso, navegante à sorte no mar, viajando o
mais longe que seja ao seu encontro. Porque é nela que ressuscito quando todos
os muros do abandono são removidos pra me salvar da torre do silêncio. É ela
que revolve meu sangue e recolhe nas asas da manhã a luz do mundo com seu fogo
aceso e bravio da montanha nos meus dias contados, a mostrar caminhos
maravilhosos pros meus pés consumidos pela areia de sombrias ruas. É ela que
retira os espinhos das travessias noturnas dos meus regressos. É ela que traz o
meu pão de cada dia pelo forno do tempo e um pensamento a menos das coisas
efêmeras e das duras marés por noite a fio, me ensinando a viver sonhos de
nuvens em terra firme. É ela que na sua cheia preamar proclamada viaja comigo
com seus sonhos sobre os meus tardios de escuros recintos intermitentes. É ela
que renova o oxigênio quando respiro abandonado e atrevido cantor depois da
canção. É ela com seus olhos indeléveis que celebro toda alma na cantiga e ela
uma vez mais na toada e em revoada quando um beijo meu atalha todo seu talhe,
longe das coisas que o tempo arrefece. É ela que à espreita e pronta, com seu
manto de seda fina torna-se minha cidade e meu país pra conciliar meu sono
difícil e toda insônia da minha vigília de louco. É dela que esbanja luz ao
tê-la feita e desfeita por dares e tomares na gloria dos meus dias. É ela que
se faz terna e carinhosa pra meu aconchego e toco sua palma até a ponta dos
dedos e como pudera esquecer de ser-me entre os seus punhos delicados e
altivos enovelando meu destino com suas pétalas de rosa e a apanhar as folhas
que caem da minha cansada aventura errante. E roço sua pele que me protege das
desventuras, para que eu não arraste meus pés na partida e eu não morra em nome
do amor. E já não sou sem ela, pois ela é janeiro pra inventarmos o Ano Novo. É
fevereiro pra frevarmos no carnaval. É março para semearmos os campos. É abril
pra atravessarmos o outono das minhas difíceis horas. É maio pra festejarmos
nossos anos. É junho pra colhermos todo milho no rastapé do São João. É julho
para nos esquentarmos no inverno. É agosto pra vivermos outro semestre na
estrada tempestuosa. É setembro pra amarmos na primavera. É outubro pra nossa
pronta ressurreição. É novembro pra que não sejamos mais nem sempre, nem nunca
mais. É dezembro porque só sei que vivo porque ela vive em mim para todo o
sempre e sempre e sempre. (Luiz Alberto Machado).
VEJA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
PICADINHO
Imagem: a arte de Aurélio D'Alincourt (1919-1990)
Curtindo as Bachianas Brasileiras
(Complete), compositor e maestro Heitor
Villa-Lobos (1887-1959), com a cantora lírica Rosana Lamosa & Nashville Symphony,Kenneth Schermerhorn, Jose
Feghali &Andrew Mogrelia. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE
–Pulvist et umbra sumus, verso encontrado no livro As odes, epodos e carme secular, do filósofo, poeta lírico e
satírico romano Quinto Horácio Flaco (65-8aC), significando: Não somos senão pó e sombra. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
O
OFÍCIO DO ESCRITOR - Em seu livro O escritor e seus fantasmas(Companhia das Letras, 2003), o escritor
e artista plástico argentino Ernesto
Sábato (1911-2011), traz a expressão: [...] que o gênio criador de um romancista pode mais do que as ideias que
conscientemente professa. [...] ou se
escreve de brincadeira, para entretenimento próprio e dos leitores, para passar
e fazer passar o tempo, para distrair ou procurar alguns momentos de evasão
agradável; ou se escreve para investigar a condição humana, empresa que não
serve de passatempo nem é uma brincadeira nem é agradável. [...]. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
GUERRA
E PAZ – O romance Guerra e paz (Companhia das Letras,
2008), do escritor russo Liev Tolstói
(1828-1910), narra a história da Rússia à época de Napoleão Bonaparte, criando
um novo gênero de ficção. Da obra destaco o trecho: [...] Ana Pavlovna, com a sua finura especial de dama da
corte e o seu tacto feminino, ao mesmo tempo- que dirigia um remoque ao
príncipe por ter ousado exprimir-se tão livremente a respeito da conduta de uma
pessoa recomendada à imperatriz, procurava de certo modo consolá-lo. - Mas, a
propósito da sua família - disse-lhe ela -, não sei se sabe que a sua filha,
desde que frequenta a sociedade, faz as delícias de toda a gente. Dizem que é
linda como os deuses. O príncipe curvou-se em sinal de estima e gratidão. -
Costumo dizer muitas vezes de mim para comigo - continuou Ana Pavlovna, depois
de um momento de silêncio, aproximando-se do príncipe com um sorriso gracioso,
como se quisesse significar que estavam
terminadas as conversas sobre assuntos políticos e mundanos e que as
confidências íntimas iam principiar -, muitas vezes digo a mim mesma que a
felicidade neste mundo é coisa muito desigualmente repartida. Porque seria que
o destino lhe deu a si, meu amigo, dois filhos tão belos, à parte o Anatole, o
seu benjamim, que não me agrada por aí além - tinha lançado esta observação num
tom que não admitia réplica, franzindo as sobrancelhas... -, tão encantadores?
Sim, quando o senhor, na verdade, é a pessoa que menos importância liga aos
filhos; não os merece. E teve um sorriso vitorioso. [...]. Veja
mais aqui e aqui.
SONETO
DE AMOR – No livro Cem sonetos de amor (L&PM, 2013) do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973 – pseudônimo de Ricardo Eliezer Neftali
Reyws Basoalto), recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1971, como umas das
maiores vozes poéticas da humanidade, destaco o Soneto XXVII – Nua és tão simples como uma de tuas mãos, / lisa, terrestre, mínima,
redonda, transparente, / tens linhas de lua, caminhos de maçã, / nua és magra
como o trigo nu. / Nua és azul como a noite em Cuba, / tens trepadeiras e
restrelas no pelo, / nua és enorme e amarela / como o verão numa igreja de
ouro. / Nua és pequena como uma de tuas unhas, / curva, sutil, rosada até que
nasça o dia / e te metes no subterrâneo do mundo / como num longo túnel de
trajes e trabalhos: ~tua claridade se apaga, se veste, se desfolha / e outra
vez volta a ser uma mão nua. Veja mais aqui, aqui e aqui.
BONECA
DO BARCO - A peça
teatral Boneca do Barco, texto da
escritora e dramaturga argentina Délia
Maunás, traz o enredo em que enquanto procura para mais uma jornada
noturna, uma prostituta conta a sua história, e a de outras colegas, a um jovem
que naquela noite se inicia. Tive oportunidade de assistir o espetáculo
dirigido pela autora, no Centro Cultural São Paulo, em 1999, destacando a
atuação da preamiada atriz Magali Biff. Veja mais aqui.
UM
COPO DE CÓLERA – O drama
Um Copo de Cólera (1999),
dirigido por Aluizio Abranches e adaptado da obra de Raduan Nassar, conta a
história de um ex-ativista que constrói um mundo à parte numa chácara nos
arredores de São Paulo. Ele vive caso de amor com uma jornalista politizada. O
encontro entre os dois é marcado por um clima de sensualidade. Mas no dia
seguinte, um rombo feito por saúvas em sua cerca viva deflagra um ataque de
cólera que leva a trocas de acusações entre os dois. O destaque do filme vai
pro casal de atores Julia Lemmertz & Alexandre Borges. Veja mais
aqui.
IMAGEM DO DIA
Óleo sem título do artista plástico Alipio Barrio.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à
escritoramiga, writter & youtuber blogueira Michelle Ramos & Zine Brasil. Veja aqui, aqui e aqui.
TODO
DIA É DIA DA MULHER
(Imagem:
arte/vídeo de Meimei Corrêa)
Veja as homenageadas aqui.