CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: O AMOR - Os
olhos dela nos meus: uma fisgada de pegar na beca – preste atenção! -,
desarrumando vinco, colarinhos, certezas, tudo em desalinho, a captura do amor
na hora certa. E um beijo seu, primário do nada, profundo de todo, insensato de
loucura prévia, me invade a remover todos os meus muros e minhas mortes, assaltando
as quatro paredes da minha solidão, a me devolver a vida no que me resta de
ser. E me envolve e afeta meu coração a bater descontrolado por saber da soberania
do seu reinado que me toma o céu para reinar com seu reluzente jeito, descartando
lembranças e sarando meus ferimentos para remissão de todas as perdas. E colhe
com carinho as flores murchas dos meus jardins tristonhos para a semeadura da
sua magnifica presença a me salvar dos perigos com a manhã luminosa do seu beijar
que não quer conter seus ímpetos e nem perder a ocasião de me fazer feliz. E me
ronda e espreita para dar-me a paz com o afago da sua amanhecida carícia e a me
enfeitiçar nas horas dos meus sonhos com o deslumbrante emanar do hálito morno do
seu sopro vivente. E me abraça para me defender do perecível e me socorrer da
vida miserável do meu isolamento, e me encoraja para que eu não fraqueje na
ruína da memória a permitir que floresça em mim um ânimo por demais afortunado.
E assim eu sou em suas mãos ternas já entardecidas nas minhas. E ela as mantém entrelaçadas
em sua alma aconchegante para que eu não seja errante na brisa leve que vem do
leste do seu afago. E me traz a fragrância do seu perfume na dança dos meus
desejos que germinam ao toque de caricia dos seus dedos por minhas faces
perdidas. E sinto o seu sorriso amoroso com meus beijos e escuto o suspiro dos
seus segredos mais escondidos e acendo em sua boca ardente os sussurros do seu
coração. E toda a sua majestade se manifesta para me contemplar a alma com as
riquezas de sua entrega. E posso escolher entre as suas faces para proclamá-la
deusa minha com seu manto transparente de visível beleza estival no triunfo da
formosura, e eu com vivas a me embebedar com o místico aroma do incensório que
emana de seu ser. Tomo em meus braços e sinto em meu peito o pulsar do prazer
de seu corpo trêmulo para o meu extravio no seu rosado entardecer e ela inteira
amadurece nas minhas mãos para que eu recolha a colheita de seus prados
enquanto sacode o quadril na travessura dos seus lábios que juram safras
exitosas. E escuta meu coração atenta e envolta ao meu pescoço a se descobrir presa
fácil na troca do meu coração com o seu, se derramando impaciente a sacudir a
cabeça para se erguer altiva e idolatrada nas minhas libações profundas do meu
arado em suas plantações. E se precipita celebrada como quem cumpre a quem
merece com empenho e devoção, como quem esculpe uma obra de arte no meu corpo e
me ensina a voar sobre as águas enquanto passeia o seu deslumbrante emanar no
meu riso. Eu voo e na sua viagem sem pressa lugar algum será longe no seio de
suas numerosas noites, como nenhum prazer jamais será fugaz no esplendor de sua
gloria. Ela ascende máxima e exalta com seus preciosos aromas deleitosos e completamente
destemida na paixão, faz-se roçar com seu ímpeto lascivo o meu corpo de eleito
da sua beleza revelada e a me ofertar o reservado quinhão que me cabe de sua
magnífica presença no centro da sua noite iluminada. E adivinha com o véu das nuvens
de seu abraço a transbordar apressada com a urgência dos meus mais exaltados
sentimentos, quando o eco dos seus desejos perpassa minha carne no voo dos seus
penhascos e se me revelam o ancoradouro no qual meu nome e o seu está inscrito
e apenas o querer nos separa de tudo que nos falta e me faz atado pelo elo da
paixão desesperada. E assim tenho o prêmio do ardor de todo o seu prazer vivo nas
suas luzes extremadas que me dão a perícia suprema de que seus passos farão as
trilhas do meu caminho lado a lado até enlanguescer na caminhada para repousar
o meu prazer na sua fonte profusa que jorrar o nosso prazer. (Luiz Alberto Machado.Veja mais aqui,
aqui e aqui).
PICADINHO
Imagem: Nu, do pintor ítalo-brasileiro Antonio Rocco (1880-1944).
Curtindo o álbum da Symphony nº 1 - Overtures – (Naxos, 2005), do compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897), com a London
Philharmonic Orchestra sob a regeência da violinista e regente estadunidense Marin Alsop que atualmente é a diretora
musical da Orquestra Sinfônica de Baltimore e da Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE – Facilitis
descensos Averno, recolhido do poema épico Eneida, do poeta romano clássico Público Virgilio Maro (70aC-10aC), dando conta da saga de Eneias,
um troiano que é salvo dos gregos em Troia, a viaja errante pelo Mediterrâneo
até chegar à península Itálica. Essa frase significa dizer que as descidas são
sempre mais fáceis que as subidas, até a descida para o inferno é mais fácil. Veja
mais aqui e aqui.
CULTURA
PÓS-MODERNA & GLOBAL –
No livro Linguagens líquidas na era da
mobilidade (Paulus, 2007), a professora e pesquisadora Lucia Santaella,
encontro sobre a cultura pós-moderna e global o seguinte: [...] enquanto a cultura pós-moderna e global nos
levou ao fim do estilo concebido como padrão capaz de perfilar e permitir o
reconhecimento da uniformidade estilística de um período histórico, o que a
cultura pós-humana está agora colocando sob interrogação é o estatuto do
talento individual como fonte para certa noção de estilo. Enfim, se todos os
processos de criação na era pós-humana, além de serem coletivos, cooperativos e
dialógicos, são também realizados em uma simbiose com a inteligência e vida
artificiais, então o estilo, tradicionalmente concebido como marcas
qualitativas de um talento individual, está destinado a desaparecer? Deixo a
pergunta para a nossa meditação. Veja mais aqui e aqui.
A
BEM-AMADA - O livro A bem-amada (Códez, 2003), do escritor e
arquiteto britânico Thomas Hardy
(1840-1928), conta a história de um escultor que, em busca de um ideal
estético, representado pela bem-amada, se apaixona sucessivamente por três
gerações de mulheres de uma mesma família. Da obra destaco o trecho: A sua bem amada ele sempre fora fiel [...]
Cada uma, conhecida como Lucy, Jane,
Flora, Evangeline, ou o que quer que fosse, fora apenas uma condições
transitória. [...] Em essência, ela
talvez fosse de uma substancia intangível: um espírito, um sonho, um frenesi,
um conceito, um aroma, uma sítese do sexo, uma luz do olhar, um separar de
lábios [...]. Veja mais aqui.
O
JARDINEIRO DO AMOR – No
livro O jardineiro do amor (Thesaurus, 1983), do poeta e músico indiano,
ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath
Tagore (1861-1941), encontro o poema LXVII com o seguinte teor: Paz, meu coração, paz, deixe que seja doce o
momento da separação, / que não se assemelhe à morte, e sim ao que é perfeito.
/ Deixe que o amor se dilua nas recordações, e a dor, em cânticos. / Deixa que
esse longo voo, através dos céus, termine em um seguro bater de asas sobre o
ninho. / Deixa que o último toque de tuas mãos seja suave como a flor da noite.
/ Permanece quieto, - ó final encantado! – quieto por um instante, e dize tuas
últimas palavras em silêncio. / Inclino-me diante de ti, e levanto bem alto o
lampião para iluminar o teu caminho. Veja mais aqui, aqui e aqui.
COMMEDIA
DELL’ARTE - Na obra Teatro Vivo (Civita, 1976), organizada
por Sábato Magaldi, encontro que: A
commedia dell’arte vulgarizou a trama, as intrigas e as situações, aproveitando
máscaras e trajes carnavalescos e os grandes recursos da pantomina popular.
Permitindo ao ator os ilimitados recursos da improvisação, o gênero fez do
interprete o mais importante elemento do espetáculo teatral. O reinado absoluto
do ator confundiu-se com a commedia dell’arte. Embora os intérpretes devessem
seguir os achados cômicos (lazzi) e respeitar os roteiros básicos (canovacci),
havia extrema liberdade de variações. Assim, era válida a ideia de que os
diálogos se conjugassem de acordo com a fantasia do momento. Essa liberdade
criadora, paradoxalmente, confinava-se por outra limitação: os atores
fixavam-se sempre numa máscara, especializando-se em determinado papel, pelo
qual ficavam famosos, até a morte. Com base num esquema, os cômicos davam
largas à imaginação. Mas, na realidade, eles acabavam por ser autores de um só
tipo. Geralmente, o espetáculo mostrava um casal de namorados em luta contra a
proibição dos pais, em meio a intrigas e acrobacias dos criados e intervenções
do Arlequim, da Colombina, de Pantaleão, do Doutor e do Capitão. As companhias
itinerantes fizeram da commedia dell’arte um dos gêneros mais populares em toda
a Itália, com profundos reflexos no teatro europeu da época. Contudo, a pobreza
do texto, provocando desequilíbrios no espetáculo, constituiu o principal fator
de sua decadência. No século XVIII, Carlo Goldoni (1707-1793), autor máximo do
teatro veneziano, iria se inspirar na commedia dell’arte para escrever as suas
principais peças de costumes, mas teria o cuidado de limitar a palhaçada
gratuita e a improvisação arbitrária. A commedia dell’arte pode ser considerada
o ponto de partida das diferentes e posteriores formas de teatro do povo que
culminou no drama shakespeariano. Veja mais aqui e aqui.
FA YEUNG NIN
WA – O premiadíssimo filme
honconguês Fa Yeung Nin Wa
(Amor À Flor da Pele, 2000),
dirigido e escrito pelo também premiado cineasta chinês Wong Kar-Wai,
integrante do movimento
chamado de "Segunda Nova Onda" do cinema de Hong Kong, traz a
significação do seu título como sendo Anos Como Flores, baseado em uma
canção de Zhou Xuan. O longa metragem conta a história de amor mal resolvida e
impossível, dissecando os desencontros de um casal – o envolvimento sexual
entre um jornalista e a sua bela vizinha jovem em um apartamento - à luz da
repressão feminina e das convenções sociais de Hong Kong, no ano de 1962. O destaque
do filme fica por conta da atuação da belíssima atriz chinesa Maggie Cheung. Veja mais aqui.
A arte da artista visual Corina Chirila.
A edição de hoje é dedicada
à jornalista e pedagoga Lenilda Luna
& Pensando Bem.