CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: CANTILENA (Imagem:
Vídeo/Arte de Meimei Corrêa) - Naquele
dia sobressaltado, tal como um viajante de navio por ilhas inexistentes, tal miserando
da face desfigurada pela carga de todos os martírios, um penitente crucificado
de gritos inauditos com a culpa alheia e o tumulto da humanidade, um peregrino esboroado
aos estilhaços de sentimentos com todas as revoltas desmedidas de pedra muda
pisada e que sofria pelo mundo inteiro e me dando por bem pago como pato saco
de pancada, um fantoche em que a vida se faz emudecida e vazia, um farrapo
humano farto da agonia dos meus dias rumorosos e sem um gesto de piedade ou
aceno que apaziguasse minha via crucis, eis que ela surge me trazendo a rosa da
primavera com um desejo inaugural de vida a quem amou demais além da conta de
todos os dias. E eu vi seus grandes olhos abertos quando a sorte cintilou em
toda parte apagando todas as nódoas do passado e todos os desesperos das noites
insones. E o seu riso largo e sonoro me encantou como quem embalado pela sonata
mais envolvente. E a sua boca rubra da voz apaixonante me ensinou ali a
capacidade de superar as mágoas e desapontamentos, o discernimento do perdão
sob quaisquer condições, o de sorrir ao errar o caminho e ter de voltar, e de
falar brando nos momentos iminentes e nas revelações das adversidades e noites
de sono. E ela clarividente tornou-se o beijo ardente que instaurou luz no meu
dia. E com seu jeito manso ensinou-me a enxergar além dos atributos físicos e
fui levado por suas mãos suaves e inquietas para longe do passado. E nelas
recolhi os gerânios ofertados por sua generosidade, para juntá-las às minhas
desamparadas inventando à flor o orvalho. E dela fez-se o amor que nasce e
renasce em meus poemas a devolver o paraíso roubado e a inocência perdida. (Luiz
Alberto Machado. Veja mais da canção aqui. E mais aqui).
CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
PICADINHO
Imagem: Reclining
nude with a floral garland,
do pintor russo Lev Tchistovsky
(1902-1969).
Curtindo o álbum Tears Roll Down-Greatest Hits 82-92 (Universal,
1999), da banda britânica de new wage Tears
For Fears, da dupla Curt Smith e Roland Orzabal.
EPÍGRAFE
– Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e
você as ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser, frase do escritor do Romantismo alemão Johann
Wolfgang von Goethe (1749-1832). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
ANARQUISMO
PROUDHONISTA - O
pensamento do
filósofo político, econômico e anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), estava ocupado em traçar os
esquemas da futura sociedade livre e igualitária, pertencendo ao grupo dos
socialistas utópicos franceses de sua época, como Fourier, Cabet e Considérant.
Como eles, era ateu violento e inimigo irreconciliável da sociedade burguesa.
Mas defendeu sempre a família e desenvolveu uma filosofia da história,
rejeitando a luta politica como fútil e ineficiente. Para ele, a sociedade
futura será organizada conforme um sistema de mutualismo, de auxilio reciproco
dos associados por intermédio de um banco do povo que dará empréstimos sem
juros aos necessitados. Essa ideia utópica revela bem o caráter da sua
filosofia política, ideia cuja realização ajudaria aos artesãos e outros
pequenos proprietários, mas não ao operariado industrial. Para ele, as
associações se reuniriam em federações regionais e a federação das federações
substituiria, enfim, o Estado. Essa ideia foi, depois, aceita por todos os grupos
anarquistas, inclusive pelos adeptos de Bakunin e pelos anarquistas espanhóis.
Veja mais suas obras aqui, aqui e aqui.
MÚSICA
DE CORA: DIARA DINKE – O
conto A ceifa (Cultrix, 1962), do
escritor, dramaturgo, compositor e dançarino guineense Fodéba
Keïta (1921-1969), destaco o trecho da Música de Cora – Diara Dinke: Sentada num banco, perto do celeiro de
milho, Sona, a filha do joalheiro de Lanoaye, desde a madrugada que soluça, com
ardentes lágrimas, ela chora por não ter conseguido obter os pesados colares de
âmbar, prometidos por Bomadi, o bufarinheiro. Há mais de um mês que ela
formulou o voto de usá-los durante a ceifa. Ora, eis que chegou a ceifa e
Bomadi, o bufarinheiro de pernas finas, não voltou ainda de suas longas
andanças. Os cultivadores, acocorados debaixo da árvore das palavras, passam
uns aos outros pequenos calhaus e calculam, assim, suas futuras colheitas. Em
volta deles, seus filhos, nus, brincam de esconde-esconde, pois chegou a ceifa
que significa, para eles, o repouso, os divertimentos, depois das longas horas
de vigília nas planícies pantanosas. Veja mais aqui.
ADÃO E EVA - No livro Antologia de José Régio (Nova Fronteira, 1985), reúne a poesia do
escritor, dramaturgo, ensaísta e critico português José Régio (1901-1969), do qual destaco o poema Adão e Eva: Olhámo-nos um dia, / E cada um de nós sonhou
que achara / O par que a alma e a cara lhe pedia. / – E cada um de nós sonhou
que o achara... / E entre nós dois / Se deu, depois, o caso da maçã e da
serpente, / ... Se deu, e se dará continuamente: / Na palma da tua mão, / Me
ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado. / – Meu nome é Adão... / E em que
furor sagrado / Os nossos corpos nus e desejosos / Como serpentes brancas se
enroscaram, / Tentando ser um só! / Ó beijos angustiados e raivosos / Que as nossas
pobres bocas se atiraram / Sobre um leito de terra, cinza e pó! / Ó abraços que
os braços apertaram, / Dedos que se misturaram! / Ó ânsia que sofreste, ó ânsia
que sofri, / Sede que nada mata, ânsia sem fim! / – Tu de entrar em mim, / Eu
de entrar em ti. / Assim toda te deste, / E assim todo me dei: / Sobre o teu
longo corpo agonizante, / Meu inferno celeste, / Cem vezes morri, prostrado...
/ Cem vezes ressuscitei / Para uma dor mais vibrante / E um prazer mais
torturado. / E enquanto as nossas bocas se esmagavam, / E as doces curvas do
teu corpo se ajustavam / Às linhas fortes do meu, / Os nossos olhos muito
perto, imensos, / No desespero desse abraço mudo, / Confessaram-se tudo! /
...Enquanto nós pairávamos, suspensos / Entre a terra e o céu. / Assim as almas
se entregaram, / Como os corpos se tinham entregado, / Assim duas metades se
amoldaram / Ante as barbas, que tremeram, / Do velho Pai desprezado! / E assim
Eva e Adão se conheceram: / Tu conheceste a força dos meus pulsos, / A miséria
do meu ser, / Os recantos da minha humanidade, A grandeza do meu amor cruel, /
Os veios de oiro que o meu barro trouxe... / Eu, os teus nervos convulsos, / O
teu poder, / A tua fragilidade / Os sinais da tua pele, / O gosto do teu sangue
doce... / Depois... / Depois o quê, amor? Depois, mais nada, / – Que Jeová não
sabe perdoar! / O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada... / Continuamos
a ser dois, / E nunca nos pudemos penetrar! Veja mais aqui e aqui.
A
DAMA DAS CAMÉLIAS – A
peça teatral A dama das camélias
(1858), do escritor francês Alexandre
Dumas Filho (1824-1895), conta a história de um estudante de direito em
Paris do século XIX, de uma família burguesa interiorana que se apaixona por
Marguerite Gautier, a cobiçada cortesã dos salões e teatros parisienses,
personagem inspirada na cortesã francesa Marie Duplessis (1824-1847). Da obra
destaco o trecho da cena IV: [...] Armando
— Me conte quais. Margarida — Mais tarde! Armando — Por que não agora,
Margarida — Porque agora ainda não gosta de mim como é preciso; quando eles se
realizarem então eu conto; por enquanto basta saber que é em você que eu andei
pensando. Armando — Em mim? Margarida — É, em você, de quem eu gosto tanto.
Armando — Vamos, diga o que? Margarida — Para que? Armando — Eu estou pedindo. Margarida
— Acha que posso guardar algum segredo de você? Armando — Então diga. Margarida
— Eu imaginei um plano. Armando — Que plano? Margarida — Não posso contar; só
posso contar o resultado que ele deve ter. Armando — E que resultado deve ter?
Margarida — Você gostaria de passar o verão no campo comigo? Armando — Ainda
pergunta? Margarida — Bravo! Se o meu plano der certo, e tem que dar, daqui a
quinze dias estou livre; não devo mais nada a ninguém e vamos juntos passar o
verão no campo. Armando — E não pode me dizer de que jeito? Margarida — Não;
mas veja se me pode amar como eu te amo que tudo há de dar certo. [...].
Veja mais aqui e aqui.
SHE’S
SO LOVELY – O drama She’s so lovely (Loucos de amor, 1997),
dirigido por Nick Cassavetes sobre roteiro do seu pai John Cassavetes, conta a
histórias de um casal com a Síndrome
de Asperger, uma forma de autismo, cujas disfunções emocionais ameaçam sabotar
seu recém-iniciado romance. Ele é um cara legal, mas um motorista de táxi sem
sorte que ama os pássaros e tem uma habilidade fora do comum com os números.
Como muitos portadores da Síndrome, ele gosta de padrões e rotinas. Mas quando
a bela, mas complicada mulher se junta ao seu grupo de ajuda aos autistas, sua
vida - e seu coração - ficam de cabeça para baixo. O destaque desse filme fica
por conta da atriz estadunidense Robin
Wright. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do artista canadense Jean-Francois Painchaud.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à
conterrâneamiga & educadora do Instituto Qualidade no Ensino, Graça Lins.
TODO
DIA É DIA DA MULHER