sexta-feira, janeiro 15, 2016

CANTILENA, GOETHE, RÉGIO, PROUDHON, DUMAS, GRAÇA LINS & MUITO MAIS!!!


CRÔNICA DE AMOR POR ELA: CANTILENA (Imagem: Vídeo/Arte de Meimei Corrêa) - Naquele dia sobressaltado, tal como um viajante de navio por ilhas inexistentes, tal miserando da face desfigurada pela carga de todos os martírios, um penitente crucificado de gritos inauditos com a culpa alheia e o tumulto da humanidade, um peregrino esboroado aos estilhaços de sentimentos com todas as revoltas desmedidas de pedra muda pisada e que sofria pelo mundo inteiro e me dando por bem pago como pato saco de pancada, um fantoche em que a vida se faz emudecida e vazia, um farrapo humano farto da agonia dos meus dias rumorosos e sem um gesto de piedade ou aceno que apaziguasse minha via crucis, eis que ela surge me trazendo a rosa da primavera com um desejo inaugural de vida a quem amou demais além da conta de todos os dias. E eu vi seus grandes olhos abertos quando a sorte cintilou em toda parte apagando todas as nódoas do passado e todos os desesperos das noites insones. E o seu riso largo e sonoro me encantou como quem embalado pela sonata mais envolvente. E a sua boca rubra da voz apaixonante me ensinou ali a capacidade de superar as mágoas e desapontamentos, o discernimento do perdão sob quaisquer condições, o de sorrir ao errar o caminho e ter de voltar, e de falar brando nos momentos iminentes e nas revelações das adversidades e noites de sono. E ela clarividente tornou-se o beijo ardente que instaurou luz no meu dia. E com seu jeito manso ensinou-me a enxergar além dos atributos físicos e fui levado por suas mãos suaves e inquietas para longe do passado. E nelas recolhi os gerânios ofertados por sua generosidade, para juntá-las às minhas desamparadas inventando à flor o orvalho. E dela fez-se o amor que nasce e renasce em meus poemas a devolver o paraíso roubado e a inocência perdida. (Luiz Alberto Machado. Veja mais da canção aqui. E mais aqui).

CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:













PICADINHO
Imagem: Reclining nude with a floral garland, do pintor russo Lev Tchistovsky (1902-1969).


Curtindo o álbum Tears Roll Down-Greatest Hits 82-92 (Universal, 1999), da banda britânica de new wage Tears For Fears, da dupla Curt Smith e Roland Orzabal.

EPÍGRAFE – Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você as ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser, frase do escritor do Romantismo alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

ANARQUISMO PROUDHONISTA - O pensamento do filósofo político, econômico e anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), estava ocupado em traçar os esquemas da futura sociedade livre e igualitária, pertencendo ao grupo dos socialistas utópicos franceses de sua época, como Fourier, Cabet e Considérant. Como eles, era ateu violento e inimigo irreconciliável da sociedade burguesa. Mas defendeu sempre a família e desenvolveu uma filosofia da história, rejeitando a luta politica como fútil e ineficiente. Para ele, a sociedade futura será organizada conforme um sistema de mutualismo, de auxilio reciproco dos associados por intermédio de um banco do povo que dará empréstimos sem juros aos necessitados. Essa ideia utópica revela bem o caráter da sua filosofia política, ideia cuja realização ajudaria aos artesãos e outros pequenos proprietários, mas não ao operariado industrial. Para ele, as associações se reuniriam em federações regionais e a federação das federações substituiria, enfim, o Estado. Essa ideia foi, depois, aceita por todos os grupos anarquistas, inclusive pelos adeptos de Bakunin e pelos anarquistas espanhóis. Veja mais suas obras aqui, aqui e aqui.

MÚSICA DE CORA: DIARA DINKE – O conto A ceifa (Cultrix, 1962), do escritor, dramaturgo, compositor e dançarino guineense Fodéba Keïta (1921-1969), destaco o trecho da Música de Cora – Diara Dinke: Sentada num banco, perto do celeiro de milho, Sona, a filha do joalheiro de Lanoaye, desde a madrugada que soluça, com ardentes lágrimas, ela chora por não ter conseguido obter os pesados colares de âmbar, prometidos por Bomadi, o bufarinheiro. Há mais de um mês que ela formulou o voto de usá-los durante a ceifa. Ora, eis que chegou a ceifa e Bomadi, o bufarinheiro de pernas finas, não voltou ainda de suas longas andanças. Os cultivadores, acocorados debaixo da árvore das palavras, passam uns aos outros pequenos calhaus e calculam, assim, suas futuras colheitas. Em volta deles, seus filhos, nus, brincam de esconde-esconde, pois chegou a ceifa que significa, para eles, o repouso, os divertimentos, depois das longas horas de vigília nas planícies pantanosas. Veja mais aqui.

ADÃO E EVA - No livro Antologia de José Régio (Nova Fronteira, 1985), reúne a poesia do escritor, dramaturgo, ensaísta e critico português José Régio (1901-1969), do qual destaco o poema Adão e Eva: Olhámo-nos um dia, / E cada um de nós sonhou que achara / O par que a alma e a cara lhe pedia. / – E cada um de nós sonhou que o achara... / E entre nós dois / Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente, / ... Se deu, e se dará continuamente: / Na palma da tua mão, / Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado. / – Meu nome é Adão... / E em que furor sagrado / Os nossos corpos nus e desejosos / Como serpentes brancas se enroscaram, / Tentando ser um só! / Ó beijos angustiados e raivosos / Que as nossas pobres bocas se atiraram / Sobre um leito de terra, cinza e pó! / Ó abraços que os braços apertaram, / Dedos que se misturaram! / Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri, / Sede que nada mata, ânsia sem fim! / – Tu de entrar em mim, / Eu de entrar em ti. / Assim toda te deste, / E assim todo me dei: / Sobre o teu longo corpo agonizante, / Meu inferno celeste, / Cem vezes morri, prostrado... / Cem vezes ressuscitei / Para uma dor mais vibrante / E um prazer mais torturado. / E enquanto as nossas bocas se esmagavam, / E as doces curvas do teu corpo se ajustavam / Às linhas fortes do meu, / Os nossos olhos muito perto, imensos, / No desespero desse abraço mudo, / Confessaram-se tudo! / ...Enquanto nós pairávamos, suspensos / Entre a terra e o céu. / Assim as almas se entregaram, / Como os corpos se tinham entregado, / Assim duas metades se amoldaram / Ante as barbas, que tremeram, / Do velho Pai desprezado! / E assim Eva e Adão se conheceram: / Tu conheceste a força dos meus pulsos, / A miséria do meu ser, / Os recantos da minha humanidade, A grandeza do meu amor cruel, / Os veios de oiro que o meu barro trouxe... / Eu, os teus nervos convulsos, / O teu poder, / A tua fragilidade / Os sinais da tua pele, / O gosto do teu sangue doce... / Depois... / Depois o quê, amor? Depois, mais nada, / – Que Jeová não sabe perdoar! / O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada... / Continuamos a ser dois, / E nunca nos pudemos penetrar! Veja mais aqui e aqui.

A DAMA DAS CAMÉLIAS – A peça teatral A dama das camélias (1858), do escritor francês Alexandre Dumas Filho (1824-1895), conta a história de um estudante de direito em Paris do século XIX, de uma família burguesa interiorana que se apaixona por Marguerite Gautier, a cobiçada cortesã dos salões e teatros parisienses, personagem inspirada na cortesã francesa Marie Duplessis (1824-1847). Da obra destaco o trecho da cena IV: [...] Armando — Me conte quais. Margarida — Mais tarde! Armando — Por que não agora, Margarida — Porque agora ainda não gosta de mim como é preciso; quando eles se realizarem então eu conto; por enquanto basta saber que é em você que eu andei pensando. Armando — Em mim? Margarida — É, em você, de quem eu gosto tanto. Armando — Vamos, diga o que? Margarida — Para que? Armando — Eu estou pedindo. Margarida — Acha que posso guardar algum segredo de você? Armando — Então diga. Margarida — Eu imaginei um plano. Armando — Que plano? Margarida — Não posso contar; só posso contar o resultado que ele deve ter. Armando — E que resultado deve ter? Margarida — Você gostaria de passar o verão no campo comigo? Armando — Ainda pergunta? Margarida — Bravo! Se o meu plano der certo, e tem que dar, daqui a quinze dias estou livre; não devo mais nada a ninguém e vamos juntos passar o verão no campo. Armando — E não pode me dizer de que jeito? Margarida — Não; mas veja se me pode amar como eu te amo que tudo há de dar certo. [...]. Veja mais aqui e aqui.

SHE’S SO LOVELY – O drama She’s so lovely (Loucos de amor, 1997), dirigido por Nick Cassavetes sobre roteiro do seu pai John Cassavetes, conta a histórias de um casal com a Síndrome de Asperger, uma forma de autismo, cujas disfunções emocionais ameaçam sabotar seu recém-iniciado romance. Ele é um cara legal, mas um motorista de táxi sem sorte que ama os pássaros e tem uma habilidade fora do comum com os números. Como muitos portadores da Síndrome, ele gosta de padrões e rotinas. Mas quando a bela, mas complicada mulher se junta ao seu grupo de ajuda aos autistas, sua vida - e seu coração - ficam de cabeça para baixo. O destaque desse filme fica por conta da atriz estadunidense Robin Wright. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do artista canadense Jean-Francois Painchaud.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à conterrâneamiga & educadora do Instituto Qualidade no Ensino, Graça Lins.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.