CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: AH, ESSES LÁBIOS (Imagem:
arte de Luciah Lopez) - Ah esses
lábios que me chegaram saudando o meu dia tudo bem como vai para abrigar minha
vida perdida dos pontos cardeais; que sorriram ensolarados para clarear os meus
dias mostrando que estou vivo e que tudo prossegue como a correnteza do rio que
não sabe do mar; que me trouxeram palavras tão ternas apascentando minhas feras
e todo vulcão indômito que não distinguia nada entre farpas e carinhos; que me
sacralizaram com uma voz anímica a banhar minha pagã ousadia de profanar meus próprios
mistérios mais desconhecidos; que me beijaram as faces com o afago ausente de
mãe por séculos de esconjuros; que me curaram as feridas abertas para que eu
pudesse ser reintegrado entre os vivos; que me alimentaram de esperanças no
meio das minhas noites inacabadas; que me mostraram o caminho pra luz quando eu
só via trevas inescapáveis; que me cantaram as canções das esferas para que eu tivesse
noção de que tudo vai além do que captamos pelos cinco sentidos; que chegaram
aos meus lábios trazendo o contato pleno da revelação e desvelando o segredo da
alma humana; que incendiaram o marasmo do meu cotidiano sobrecarregado de tédio
e desesperança; que sussurraram aos meus ouvidos a poesia de tudo por ter cada
coisa um sentido íntimo pra existir; e me roçaram a pele para que eu tivesse
contato com a mais transcendente deificação, a descortinar o divino da minha
desilusão de tudo. E que adoçaram as fatias de sentimentos a quem só sabia o
amargor dos desencantos; e ferveram quenturas a quem já não tinha nada mais
além que a frieza da indiferença; e soltaram as amarras vitais a quem não sabia
nada mais que a caverna do egoísmo fincado no umbigo; e que dançaram com prazer
com quem desaprendera dos músculos nos ossos entrevados; e que abriram as
portas do cosmo a quem já não via nada além de buracos íngremes pra moradia da
existência; e desvendaram o destino das ruas para quem não sabia nem das
escolhas entre ameaças e temores; e distinguiram o que é pra viver a quem nunca
soube de que lado está a saída; e me levaram com seu sorriso pelo enleio do
prazer das descobertas mais fascinantes; e me alcançaram o coração para retomar
o propósito perdido de que tudo pulsa e segue a vibrar indefinidamente para o
apogeu da vida e do amor. (Luiz Alberto Machado. Veja a 2ª parte aqui. E mais
aqui e aqui.
CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
PICADINHO
Imagem: Nude, do artista plástico estadunidense Gladys Nelson Smith (1890 – 1980)
Curtindo o álbum Clara Sverner interpreta
Eduardo Souto – O despertar da montanha (EMI, 1982), com músicas do pianista,
compositor e maestro Eduardo Souto (1882-1942) com a pianista Clara
Sverner.
EPÍGRAFE
– Corruptissima res publica plurimae leges, frase recolhida dos Anais, do
historiador, orador e político romano Públio Caio Cornélio
Tácito, ou simplesmente Tácito (55-120), cujo significado é o
seguinte: Muitas são as leis num Estado corruptíssimo porque, neste caso,
deixaram elas de ser gerais para se tornarem casuísticas. Veja mais aqui.
O
ESPECTRO DO NOIVO – No
livro A lenda de Sleepy Hollow e outros relatos (Urco, 2009), do escritor, historiador e diplomata estadunidense Washington Irving (1783-1859), encontro
o relato O espectro do noivo que trata de um rico senhor que queria casar sua
filha com um conde que, por infelicidade, foi assassinado quando se dirigia
para conhecê-la. Da obra destaco o trecho: [...] Calculem o terror do
castelo! O barão trancou-se no quarto. Os convivas não puderam abandoná-lo em
tamanho transe, tendo vindo como vieram, para rejubilar-se com ele; e assim
vagavam pelos pátios ou faziam grupos no salão, onde escolhiam os ombros ou
lamentavam os desgostos de um homem tão bom. Para distração, demoravam-se mais
do que nunca à mesa, comendo e bebendo ainda mais para salvaguardarem suas
almas. Mas, a situação da jovem noiva viúva era lamentável. Perder um marido
antes de abraça-lo! E que belo marido! Pois se o espectro pudera ser tão
gracioso e nobre, o que não seria em vida! E a noiva enchia o castelo com os
seus lamentos. [...]. Veja mais aqui.
AS TROVAS – Sempre é tempo para se homenagear um
grande poeta, a exemplo de Argemiro
Corrêa, pai
da poeta Meimei Corrêa, era poeta, trovador, contista e cronista. Fundou
o jornal Voz da Cidade, juntamente com Jorge Beltrão, no ano de 1948, além de
ser um agitador cultural que muito realizou em matéria de concursos e eventos
literários na sua cidade, tornando-se conhecido como um poeta apaixonado pelas
rosas e que se intitulava "O feliz cantor das rosas". Eis algumas
trovas dele: I - Nos quatro versos da trova / Eu ponho a minha paixão, /
Velha história - sempre nova, / E fonte de inspiração. II - Com alguém que
recebeu / Seu título de doutor, / Recebi também o meu / Diploma de trovador.
III - O sorriso de Maria / Tem um mistério estupendo, / Lembra o sol de um belo
dia, / E a paz da tarde morrendo. IV - Tanto o bem como a maldade, / Tem linha
satisfatória, / E a plantação é à vontade, / Só a colheita é obrigatória.
Para melhor conhecer a dimensão do seu nome conheça um vídeo que está
circulando na rede clicando aqui. Aproveite e confira mais aqui, aqui e aqui.
CELIMENA – Personagem central feminina da peça
teatral O misantropo (1666 – Zahar, 2014), do dramaturgo, ator e encenador
francês Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (1622-1673),
que será cortejada por Alceste que, embora apxionado, ao ver que ela seria
incapaz de sacrificar por ele a espécie de vida a que se habituara. Ela também
foi personagem do livro Memórias de duas jovens esposas (1841 – Portugália,
s/d), do escritor do Realismo francês Honoré de Balzac (1799-1850), no
qual a personagem Luísa de Macumer se expressa: Que admirável obra-prima aquela criação de Celimena no Misantropo de
Molière! É a dama da sociedade do tempo de Luís XIV, como a de nossos dias,
enfim, a dama mundana de todas as épocas. Esta a razão pela qual esse nome
de mulher significa uma mulher de espírito frívolo, faceira, maldizente,
namoradeira, dessas que colocam a vida mundana acima de tudo. Por fim, esta
personagem também foi protagonista do romance Celimene sem coração (1935), da
escritora, jornalista e radialista argentina Pilar Lusarreta (1903-1967). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e
aqui.
ONE
TRUE THING – O drama One True Thing (Um Amor
Verdadeiro, 1998), dirigido
por Carl Franklin, é baseado no livro homônimo de Anna Quindlen e conta a
história de uma mulher que é forçada a colocar sua vida em espera, a fim de
cuidar de sua mãe que está morrendo de câncer. É quando ela descobre os defeitos
de seu pai, um célebre romancista e professor universitário que ela sempre
idolatrara, e o valor de sua mãe, a qual sempre foi desprezada pela filha em
razão de sua personalidade afável e romântica. Nesse filme um destaque duplo: o
primeiro é para a premiadíssima atriz estadunidense Meryl Streep; o segundo para a lindíssima atriz
estadunidense Renée Zellweger. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do cartunista e desenhista estadunidense, criador da história de
quadrinhos Torchy, William Ward Hess (1919- 1998), mais
conhecido como Bill Ward.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritoramiga
e ambientalista Sandra Fayad. Veja
aqui, aqui e aqui.
TODO
DIA É DIA DA MULHER