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segunda-feira, fevereiro 18, 2019

MARCIO SOUZA, MARIA CARMEN, CONSUELO DE PAULA, HORTAS DO BEM COMUM & DA FELICIDADE COMUNITÁRIA, EDUCAÇÃO & COPERNICANISMO AO CONTRÁRIO


DA EDUCAÇÃO AO COPERNICANISMO AO CONTRÁRIO – Uma coisa é falar sobre educação para quem acha que isso é só papo de professor ou coisa que valha. Outra é tratar sobre o sistema nervoso quando isso é tratado como papo de gente doida, pinel de jogar pedras e outras zuretadas. Rótulos são o que não faltam ao senso comum. Há quem reduza a educação apenas à escolarização, sem levar em consideração a pesquisa e a extensão, afora outras coisas mais além do ensino. Há quem trate sobre neuroeducação restringindo tudo apenas às funções e potencialidades cerebrais, sem levar em conta que além do sistema nervoso central, há também o autônomo e o periférico, afora a importância das glândulas endócrinas e da homeostase para o equilíbrio do organismo humano. Mesmo assim, vai lá que a metáfora leve a conversa de lá praqui e vai dá cá para ali e acolá, enfim, a coisa dá uma engrenada boa e vai praquela do quer dizer então que... É, que bom, dúvidas e perguntas afloram e isso torna qualquer papo para lá de interessante, relacionando a sinapse neuronal e a articulação sistêmica com reciprocidade de relações entre seres humanos. Ou seja, assim como é o funcionamento do organismo humano, pode – e deve – ser também nas relações entre uns e outros no convívio cotidiano. O que ficou de mais positivo foi saber que não há órgão mais importante que outro no corpo humano, cada qual cumpre sua função e papel no contexto da anatomia e fisiologia corporal. Assim poderia ser com a gente: cada um funcionando conforme o projeto cósmico, interagindo com a natureza, no que se poderia chamar de cooperação colaborativa, sem nada de interesse por trás, assim, apenas por ser. Foi com essa condução que ocorreu o bate-papo no último sábado, com os comparecentes à Associação dos Artesãos Palmarenses, que atenderam o chamado da Escola de Filosofia, Artes e Política de Palmares, sob a coordenação do professor Carlos Calheiros. Uma conversa que começou pelas vinte horas e passou da meia noite, com muitas indagações e esclarecimentos, uma confraternização. Por minha conta, me dei para lá de satisfeito com a presença e participação de todos, tomara que assim também com cada um que lá esteve. O que ficou de evidente para mim, conclusivamente, foi a constatação da necessidade de se construir elos, utilizando a metáfora dos dedos e da mão, para que se possa realizar uma verdadeira revolução copernicana ao contrário: a mudança tem que começar por mim, no meu domicilio e comportamento, numa atitude de sujeito cônscio de suas responsabilidades com o seu tempo e a sua terra, para que, só depois disso, possa interagir e atuar em defesa da minha rua, do meu bairro, da minha cidade, estado e nação. Minha gratidão paratodos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS
Houve um tempo em que Manaus tinha calçadas, largos passeios em mármore de Liós, aqui e ali os canteiros de fícus-benjamim distribuindo sombra aos transeuntes. Não há mais calçadas. Caminha-se quase sempre numa terra de ninguém, entre o esgoto a céu aberto e a posta de trânsito. Uma cidade onde o tecido urbano foi destruído e não há uma rua, uma artéria intata. Atravessa-se a cidade e tem-se a impressão de que quase todas as edificações estão inacabadas. [...] O caldo dos trópicos. A alegria da agonia. Manaus é a cidade mais odiada do mundo. Não fosse assim, não a teriam enfeiado tanto [...] Manaus é odiada talvez por não cumprir com o que promete. Engana as gentes das barrancas, os inocentes dos rios. Engana os que chegam de muito longe, carregados de misérias e pesadelos. Essa gente enganada não perdoa a cidade, e castiga Manaus, cada uma delas como células fazendo crescer o tumor canceroso em que foi transformada a velha e orgulhosa capital dos barés. Cidade degenerada, de alegria favelada acostumada a se contentar com pouco. Talvez por isso odiada também pelos que juram amá-la, amor da boca para fora dos que deveriam amá-la ao menos por dever de ofício. Manaus dos últimos acenos de gentileza em meio ao alarido arrivista. Cidade mal-amada. Cidade acostumada a apanhar na cara, a ser violentada, a ser roubada vergonhosamente pelos seus amantes. [...]. Trechos extraídos da obra A caligrafia de Deus (Marco Zero, 1994), do escritor amazonense Marcio Souza. Veja mais aquiaqui.

AGROECOLOGIA: HORTAS DO BEM COMUM E DA FELICIDADE COMUNITÁRIA
A Economia do Bem Comum é um arranjo econômico alternativo e completo, atualmente em discussão e aprimoramento em vários países ao redor do mundo, motivada pela percepção dos múltiplos fracassos ambientais, sociais e econômicos do modelo econômico neoliberal vigente. Enquanto não temos condições diretas de mudar o atual arranjo econômico no Brasil, focado na acumulação de riquezas financeiras de investidores com atuação global, cada vez mais acelerada e concentrada na mão de poucos, podemos nos inspirar começando com uma economia de bem comum ao nível local. Com base comunitária, entre vizinhos, partindo dos nossos terrenos e quintais, para as “Hortas do Bem Comum e da Felicidade Comunitária em Aldeia”. O sistema das hortas do bem comum se fundamenta em oito elementos básicos e uma rede composta por cinco grupos de colaboradores. O sistema das hortas do bem comum é composto por cinco grupos de colaboradores, ou parceiros, formando uma rede. Nesta arranjo, colaboradores específicos podem se enquadrar em vários grupos. Os hortelãos, por exemplo, podem ao mesmo tempo ser beneficiadores, produzindo conservas da colheita, os consumidores podem ao mesmo tempo fazer parte dos apoiadores, entre outros.
Texto introdutório sobre o projeto agroambiental desenvolvido pelo engenheiro ambientalista alemão que atua na área de gestão de recursos naturais e resíduos sólidos, Thilo Smith & da agrônoma especialista em agroecologia, Simone Miranda, por meio de cursos de Cultivo Ecológico e práticas de agricultura urbana como forma de dialogar com as pessoas sobre novas formas de produzir, consumir e se relacionarem entre si e com o meio ambiente. Ambos prestam consultoria e ministram cursos voltados ao cultivo de hortas orgânicas em um projeto de economia solidária, na Rua Limeira – Km 12, da Estrada de Aldeia, Camaragibe – PE. Veja detalhes aqui.

A ARTE DE MARIA CARMEN
A arte da saudosa pintora, escultora e desenhista Maria Carmen (Maria Carmen de Queirós Bastos – 1935-2014), que realizou exposições em Recife, Salvador, Brasília, Aracaju, Vitória, São Paulo, Lisboa, Bélgica, França, Peru, República Tcheca, entre outras. Veja mais aqui.

A MÚSICA DE CONSUELO DE PAULA
Tenho acompanhado há tempos o talento desta competente e belíssima cantora, compositora, poeta e produtora, Consuelo de Paula. Por conta disso, degusto quase que cotidianamente a encantadora voz e verve desta que, para mim, é uma das maiores e mais expressivas artistas da música brasileira contemporânea: uma voz de ontens e amanhãs que se fazem presentes em tons e versos que fascinam o coração e a alma de quem contempla o prêmio instantâneo de tamanha maravilha. No próximo dia 16 de março, a partis das 20:30hs, no Espaço 91, próximo ao Sesc Pompeia, São Paulo, ela anuncia Ventoyá, a próxima obra dela: Maryakoré. Ventoyá é movimento de amor e de luta, um mergulho no dentro do tronco da árvore, vôo rasante sobre as folhas das árvores resistentes. Veja mais dela aqui, aqui, aqui & aqui.
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terça-feira, setembro 25, 2018

FAULKNER, FELICIA HEMANS, MORIN, SCHILLER, CONSUELO DE PAULA, LILIANE DARDOT & PRAZERES DO CÉU


PRAZERES, A AMPARO DO CÉU – Imagem: arte da pintora, desenhista, gravadora e professora Liliane Dardot. - Prazeres do Céu não era filha da mãe, o pai consanguíneo assim lhe fizera: apondo-lhe o nome da consorte na maternidade em documento de registro civil. Prova viva de uma escapadela, não sofreu muito: a mãe postiça logo bateu as botas – nem deu tempo de brincar duns castigos e dela escapar duma sina nas mãos de uma madrastra. Afora isso, sua vida fora excepcional: ambidestra de nascença e possuidora de bunda pra lua, tinha o ganhador aberto: presentes e competições do que jamais se imaginasse, era sempre prestigiada, vez que o pai a tinha por meinino e a mãe por menina. E assim foi educada em casa: destemido de pular o que fosse de obstáculo, faceira de encantar a parentalha: Essa é menina-macho, a Maria Bonita da família. Exímia no tiro ao alvo de direita, de esquerda ou do jeito que fosse, até de cabeça pra baixo era certeira; escrevia e fazia tudo com as duas mãos; e se danava em rapel, enduros, trilhas de Jeep, bundacanasca, luta livre, escaladas, karatê, parapente, ciclismo, surfe, paraquedismo, futebol, capoeira, corridas e pontarias, quanto mais radical, melhor: onde botasse as vistas ou alcançava com os pés ou na mira. E era mesmo: vivia até metida no adestramento dos animais, domesticando bicho selvagem que fosse. Dia desse mesmo apareceu amontada num jacaré raivoso que findou recolhido aos de sua estimação no quarto de dormir: cobras, lacraus, onça, macacos, cágados, gansos, afora pássaros, bodes, cachorros, sapos e abelhas, tudo ensinado – dizem que até um saci Pererê ela capou e tinha amarrado ao pé da cama. Dizem. Quando era à tardinha, as amigas se reuniam cada qual com seu animal de estimação. Aí ela saía com o seu parque ecológico ambulante, tendo à frente a da sua predielação: a vaca Raínha, toda engalanada de brincos, pulseiras, chalés, cordões, laços e fitas, talqualmente a dona que não gostava nada de aparecer na granfinagem. Vale registrar que enquanto ela desfilava com o seu plantel pela praça, o povo todo se trancava de não restar um pé de gente na rua, tudo escondido. Quem era doido? O jacaré mesmo já tinha comido uns três ou quatro que inventaram de se aproximar, a cobra picou uns quinze de matar quase todos, a onça havia devorado uns duas ou três dúzias de atrevidos que se saiba, os gansos e cachorros atacavam quem tivesse pela frente e ela só dando ordem no domínio, sem poder restituir o ataque, vez que eram letais. Ninguém se atrevia de reclamar prejuízo que tivesse, seria a mais descabida petulância: Essa é os pés da doida, pega e esfola, do cabra nunca mais servir pra nada. Isso sem contar com a vingança dos bichos: arengasse com ela, era só esperar a vingança deles. Mais de uma dúzia de vezes teve gente atacada pelos maribondos do criatório dela, avalie. Não só tinha o melhor mel da região, como as abelhas dela só davam ferroadas no osso do mucumbu do desafeto, resultado: lona. Quando ela deu fé não tinha mais amigas, fã-clube, nem nada. Bateu-lhe um desespero. Pensou em mudar de vida, já que estava uma mocinha taluda, peitinhos tomando forma embaixo do primeiro sutiã, quadris ajeitando os guardados que se tornavam salientes, faces enrubecidas com os lábios de cangula pintados pelo batom, cabelos formosos caindo na testa e nos ombros, uma verdadeira perdição aos olhos dos marmanjos. Contudo, niguem tinha topete para encarar, sabiam que iam comer arroiado na mão daquela que chamavam às escondadas de Maria João: Essa engana qualquer um, vá lá e se estrepe, mô fio. Tanto ela dava mole pros desavisados e logo tomarem ciência aprumando o rumo pra casa da peste, longe dela. Chorava a coitada no colo do pai: Tem nada não, filha, é porque o seu príncipe ainda não apareceu, chegará a hora dele. E nada desse “princeso” dar as caras pras bandas dela. E assim ela comeu todo ginasial e mais da metade do colegial, quando ela caiu de amores pelo Zé Peiúdo. Isso foi quase uma fatalidade: a menina-macho virou fêmea saco de pancadas, como se a danada virada ficasse banguela – ou jogado fora as presas com dentadura e tudo -, mansa de ser domada e até achar bom levar umas lamboradas boas do bicado – é que ele só tinha coragem de enfrentá-la completamente bêbado; quando tornava a si de ressaca, tomava um susto de morrer de medo e cair fora; ela catava ele onde estivesse, de ser puxado pra casa pelos colhões. Que danado tinha ela, hem? Braba da peste, ficava mansa e dominada com o safado biritado. O amor tem cada coisa, hem? Pois é, e a salvação dela foi o Padre Bidião, foi quando ela virou Amparo do Céu. Que coisa! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora, compositora, poeta e produtora Consuelo de Paula: Negra, Dança das Rosas, Coletãnea, Samba, seresta & Baião & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais dela aqui, aqui e aqui.

DITOS & DESDITOS – [...] No meio do reino temível das forças e no meio do reino sagrado das leis, o instinto de criação estética vai construindo, sem que dêem por ele, um terceiro reino, feliz, do jogo e da aparência, no qual tira ao ser humano os grilhões de todas as relações e o desliga de quanto seja coação tanto no físico como no moral. [...]. do poeta, dramaturgo, filósofo e historiador alemão Friedrich Schiller (1759-1805). Veja mais aqui.

DE ANTES & HOJE - [...] Os nossos ancestrais caçadores-coletores que, ao longo de milhares de anos, desenvolveram as técnicas da pedra e, depois, elaboraram as do ouro e do metal, dispuseram e usaram, nas suas estratégias de conhecimento e de ação, um pensamento empírico/lógico/racional; produziram, acumulando e organizando, um formidável saber botânico, zoológico, ecológico, tecnológico, uma verdadeira ciência. Contudo, esses mesmos seres arcaicos acompanhavam todos os atos técnicos com ritos, crenças, mitos, magias; por isso, antropólogos do começo do século XX chegaram a crer que, fechados num pensamento mítico/mágico, esses “primitivos” ignoravam toda racionalidade. [...] Antropólogos simplistas incapazes de conceber que os seus “primitivos” moviam-se nos dois pensamentos, completamente sem confundi-los! [...] Também, ainda que nossos espíritos sejam muito diferentes daqueles dos arcaicos ou dos medievais, ainda que os dois pensamentos tenham se tornado antagônicos, vivemos não somente nessa oposição, mas também na cohabitação, na interação e nas trocas clandestinas e diárias entre eles. O problema dos dois pensamentos não é, pois, um problema original e histórico ultrapassado, mas o problema de todas as civilizações, inclusive as contemporâneas: um problema antropossocial fundamental. [...]. Trechos extraídos da obra O método 4 – as ideias (Sulina, 2005), do antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin. Veja mais aqui.

O SOM & A FÚRIA - [...] Ela estava molhada. A gente estava brincando no riacho e Caddy se agachou e molhou o vestido e Versh disse: “Tua mãe vai te bater por causa que você molhou o vestido.” “Vai me bater coisa nenhuma.” disse Caddy. “Como é que você sabe.” disse Quentin. “Sei porque sei.” disse Caddy. “Como é que você sabe.” “Porque ela falou que vai.” disse Quentin. “Além disso eu sou mais velho que você.” “Eu tenho sete anos.” disse Caddy. “Então eu sei.” “Eu tenho mais de sete.” disse Quentin. “Eu já estou na escola. Não é, Versh.” “Ano que vem eu também vou pra escola.” disse Caddy. “Quando chegar a hora. Não é, Versh.” “Você sabe que ela te bate quando você molha o vestido.” disse Versh. “Não está molhado não.” disse Caddy. Ficou em pé dentro d’água e olhou para o vestido. “Eu tiro.” disse ela. “Aí ele seca.” “Duvido que você tira.” disse Quentin “Tiro sim.” disse Caddy. “Melhor não tirar.” disse Quentin. Caddy veio para perto de mim e Versh e virou de costas. “Desabotoa, Versh.” disse ela. “Não faz isso não, Versh.” disse Quentin. “O vestido não é meu.” disse Versh. “Desabotoa, Versh.” disse Caddy. “Senão eu conto pra Dilsey o que você fez ontem.” Então Versh desabotoou. “Quero ver você tirar o vestido.” disse Quentin. Caddy tirou o vestido e o jogou na margem. Ela estava só de corpete e  calcinha, e Quentin deu um tapa nela e ela escorregou e caiu na água. Quando se levantou ela começou a espirrar água em  Quentin, e Quentin espirrou água em Caddy. Caiu um pouco de água em mim e em Versh e Versh me pegou e me pôs na margem. Ele disse que ia contar o que Caddy e Quentin fizeram, e então Quentin e Caddy começaram a espirrar água em Versh. Ele ficou atrás de uma moita. “Eu vou contar pra mamãe o que vocês estão fazendo.” disse Versh. Quentin subiu para a margem e tentou pegar Versh, mas Versh fugiu e Quentin não conseguiu. Quando Quentin voltou Versh parou e gritou que ia contar para a mãe. Caddy disse que se ele não contasse eles deixavam ele voltar. Então Versh disse que não ia contar, e eles deixaram ele voltar. “Agora você está satisfeita, não é.” disse Quentin. “Nós dois vamos apanhar agora.” “Eu não ligo.” disse Caddy. “Eu vou fugir.” “Vai fugir nada.” disse Quentin. “Vou fugir pra não voltar nunca mais.” disse Caddy. Comecei a chorar. Caddy se virou e disse: “Não chora.” Então eu parei. Então eles brincaram no rio. Jason estava brincando também. Estava sozinho separado dos outros. [...]. Trecho extraído da obra O som e a fúria (Com panhia das Letras, 2017), do escritor estadunidense e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1949, William Faulkner (1897-1962). Veja mais aqui.

O MAR PRA ONDE FOI - O mar, pra onde foi? – me despedindo, aqui estou / O meu mar azul, pra onde foi? / Com todos os seus barcos, velozes, singrando / Com suas livres brisas e bandeiras. / Saudades daquela voz de ondas, a primeira que / Da minha infância alegria despertou; / Do toque do sino a hora certa – do trovejar súbito – / Meu mar azul, pra onde foi? / Na serra do pastor um som de flauta ouço – / Da árvore o murmúrio ouço; - / De minha alma, emudecidos, os ecos – / Meu mar azul, pra onde foi? / Oh! Por mais profunda que seja a tua Murta, / Por mais suave e suave que teus ventos sejam, / Em mim, o coração enfermo de bater cessou – / Meu mar azul, pra onde foi? Poema da poeta britânica Felicia Hemans (1793-1835). (Tradução de Cunha e Silva Filho).

A ARTE DE LILIANE DARDOT
A arte da pintora, desenhista, gravadora e professora Liliane Dardot.

AGENDA
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Poetastro mete as catanas sem entender do riscado, William Faulkner, Roberto Piva, Pierre Bourdieu, Vitor da Fonseca, Alice Viveiros de Castro, Frank Furedi, Lia Chaia & Amanda Duarte, Socorro Durán, Gonzaguinha, Rachel Podger, Bia Sion & Mano Melo aqui.


segunda-feira, setembro 18, 2017

LÉVIS-STRAUSS, WILDE, HELEN KELLER, VICTOR HUGO, WILLIAM CARLOS WILLIAMS, LUIZ BARRETO, MICROFISIOTERAPIA & CASARÃO DO ALTO DO INGLÊS

ALTO DO INGLÊS – Imagem: Chalé do Inglês, do pintor Luiz Barreto. Certa feita contou-se um dia lá de não sei quando, o povo todo inheto amontoado nos arredores da estação recém-construída, esperando Maria Fumaça que vinha lá de longe nos trilhos da linha férrea do Recife. Uma espera buliçosa com aquela do vem não vem, pra mais de hora ali plantado de pé, olhando dum lado pro outro, como seria o troço todo, um invento tão esperado, coisa de nunca se vê. Mais tempo depois, então, ouviu-se um apito de se parar a respiração: U-huuuuuuu! - É ela, já vem vindo! E vinha mesmo no maior zoadeiro, soltando fumaça, apareceu lá no fim bem pequenininha da lonjura, fumaceiro no meio do canavial, vixe, um corre-corre medonho, muita gente se escondeu de medo: - E se fosse a coisa ruim ao invés dum danado dum trem, ora? Sou lá besta de não me precaver, ora. Não tinha quem não tremesse com aquela barulheira chegando perto, quem não foi agora vai, quem não foi agora vai, quem não foi agora vai que eu acabei de chegar! Danou-se! Que bicho bonito danado, cheio dos apitos, descargas fumegantes, desafogos de engrenagens, arriados de puxa-encolhe, peidos de todo jeito: - Essa bicha pipoca que só, né maquinista? É a gota! Isso é que é um mondrongo de respeito! Arrepara só! O cabra amontado num negócio desse vai até o fim do mundo, se num vai! Já baixando a bufarra toda, apareceu um galegão embecado duns dois metros de altura, gritando umas coisas que ninguém entendia. Quem é, hem? Cochicharam que era um mandão engenheiro da Gretoeste que ia dar ordem naquilo tudo. Vixe! O homem esbravejava que só e logo um cheleléu dele desceu do trem às carreiras, explicando que ele procurava pelos funcionários para pegar as suas malas e levar lá pra casa nova do alto. Ah, tá! Aí que foi gente como a praga pra servir o homem e pegar as malas só pra ver como é que era a casa bonitona lá do alto. Oxe, o tanto de mala que tivesse, o povo todo levava. E assim subiram a íngreme elevação rumo ao casarão, a mundiça toda serpenteando o morro acompanhando o grandão a gesticular a frente, enquanto cá embaixo, quem ficou, deu de cara com um verdadeiro espetáculo: apareceu assim do nada uma galegona bonitona dos olhos brilhosos, vestido solto das pernas vistosas descendo da locomotiva, braços abertos no sorriso iluminado, cabelos e saias do vestido aos ventos de aparecer-lhe as mais espetaculares intimidades, e ela nem aí só gingando as passadas como quem levitasse feliz sem direção certa, tomando pé de toda aquela redondeza. Lá se ia a branquela como se bailasse no meio duma ventania boa de mexer com as plantas todas, passarinhos e passantes, e a gente só de flagrar ela nuínha embaixo de suas vestes soltas, aos boticões de não perder um segundo sequer de seu encantamento, aquela brancura da maior das bonitezas. E ia nem aí pra nada com quem ia ou quem viesse do chalé do alto pra pegar as coisas das mudanças deles e tornarem a subir, por vezes encarreadas carregando tudo, até ela se encontrar com o mandão, dar-lhe um beijo afetado e se desgarrarem indiferentes, o chefão descendo com o cheleléu na cola, ela subindo entre os que iam e vinham, solfejando suas cantigas como quem ganhou da vida o paraíso, às carreiras pelos degraus, reaparecendo em cada janela e portas da luxuosa moradia, até se encostar ao alpendre e ficar maravilhada com toda a paisagem da redondeza. Ela lá e muita gente aqui embaixo só acompanhando os seus mínimos movimentos, até que lá pras tantas, tudo já descarregado na mansão, vê-se o galegão dispensar todo mundo para sumir dentro de casa e apenas ouvir os gritos, gracejos, risadas e felicitações do casal na maior comemoração. A noite entrou pesada e quando amanheceu o dia, quando não era a chegada e partida da Maria Fumaça com estardalhaço, era ela não menos retumbante que aparecia desnuda rodopiante pernuda entre as fruteiras e florais que arrodeavam o oitão do palacete, exprimindo a satisfação de se encontrar naquele rincão encantador, quando, na verdade, ela que se tornava o encanto daquelas paragens para todo ser vivente da freguesia. Dali a pouco quando todos saíam acompanhando o gringo pro expediente na estação, ela adentrava e não mais reaparecia, ouvindo-se apenas sua voz cantarolando lá pra dentro de sua clausura. Nem bem a tarde começava a trazer o espetáculo do pôr do Sol pra noite, ouviam-se os passos do marido de volta pra casa, pra tudo ficar de ouvido colado pras estripulias do casal. Na escuridão da noite dava pra ouvir os cantos, risos e gritinhos dela com o vozeirão do marido, coisas de intimidades mais estreitas no maior dos regalos amorosos. Assim, todos os dias, enquanto o povo ficava vidrado com a travessia da Maria Fumaça, logo após ela ganhar chão pras bandas de Catende ou pra onde quer que fosse, as vistas se voltavam pra gringa cada dia mais bonita que antes; - Isso sim que é espetáculo pras vistas! E se passaram semanas, meses, anos, povaréu todo lá de butuca nos passeios da princesa nua pelos jardins e fruteiras do casarão logo que o dia amanhecia ou, vez em quando, no mormaço da tarde que seguia pro descanso do Sol, ela dançando pelas infâncias, adolescências, marmanjadas, vetustos esperançosos que viam nela o entretenimento jamais visto. Até que outro dia lá, muito tempo depois de rotineiras e surpreendentes aparições, a população deu-se com as notícias de que o gringo fora embora. Dizem ter ouvido durante a noite um estampido quebrando o silêncio, ninguém sabia o que ocorrera, era um entra-e-sai, nem a chegada da Maria Fumaça reanimou aqueles que queriam saber do gringo e sua rainha nua. O casarão estava fechado, coisa de anos nunca antes vista, sempre portas escancaradas e ela àquela hora, desfilando nua a cantar pros pássaros, árvores e ventos, pra felicidade da curiosidade de todos. Não mais ela no casarão do Alto do Inglês, só Maria Fumaça que vinha e zarpava proutas paragens, levando desejos e esperanças do povinho daqui. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com os grandes sucessos  e álbuns Piano & Viola e Imyra, Tayra, Ipy, do cantor e compositor uruguaio Taiguara (1945-1996); o Concert Tchaikovisky Live, Four Seasons Vivaldi e Concert Violin Dvorak, na interpretação da virtuosa e belíssima violinista e violista holandesa Janine Jansen; a música do violonista, compositor, concertista, cantor e produtor musical Chico Mello com seus parceiros Silvia Ocougne, Helinho Brandão & Carlos Careqa; e o álbum Negra e canções como Espera e O meu lugar da cantora e compositora Consuelo de Paula. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAOs problemas impostos pelos preconceitos raciais refletem em escala humana um problema muito maior e cuja solução é ainda mais urgente: o das relações sobre o homem e as demais espécies viventes. [...] O respeito que desejamos obter do homem para com seu semelhante é apenas um caso particular do respeito que ele deveria manifestar para com todas as formas de vida [...]. Trechos extraídos da obra Raça e história (Presença, 2003), do antropólogo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Veja mais aqui e aqui.

O CASARÃO DO ALTO DO INGLÊS – (por Vilmar Carvalho, escritor e historiador). Por que recuperar um casarão que também pode ser considerado símbolo da opressão praticada em outras épocas? 1. O casarão em questão, construído ao final do século XIX, foi residência dos engenheiros ingleses que trabalhavam em Palmares desde 1859, ano em que começou a construção da ferrovia que passava a ligar Recife e Palmares; 2. Seu habitante mais ilustre foi o inglês Edmund Cox, um engenheiro graduado da Grant Western Railway, fidalgo educado na ótica vitoriana, membro honorário do também fidalgo Clube Literário de Palmares; 3. O casarão entra em ruína conjuntamente com todos os equipamentos ferroviários a partir dos anos setenta, considerando que o Regime Militar fez opção pelo transporte rodoviário; 4. Da construção dele para 2014, somam nada mais que 38 governos municipais que ali não colocaram um centavo, não tinham ou não podiam investir: o casarão é da massa falida da antiga Rede Ferroviária Nacional? 5. O exemplo de ruínas como usinas, sobrados e casas grandes de engenhos, o casarão do Alto do Inglês é a carcaça que ficou de um tempo que se montou ainda na escravidão e que viu a opressão de milhares de famílias pobres para montar a chamada Civilização do Açúcar; 6. Pode-se perguntar: e um marco que homenageasse os trabalhadores anônimos que morreram na execução do projeto inglês? Afinal para cada dormente da expansão ferroviária do século XIX, certamente morreu um trabalhador pobre nordestino; 7. Pois, como diz Walter Benjamin, “para cada documento de cultura, um documento de barbárie!”; 8. Documento de barbárie: para cada dormente, um corpo exausto. Símbolo maior que este não haverá jamais e nunca será ruína. NOTA DO EDITOR DO BLOG: Ao que me consta, a Casa do Alto do Inglês foi adquirida juntamente com o Teatro Cinema Apolo pela Prefeitura dos Palmares, na gestão Luís Portela de Carvalho (1982-1988), para formação do patrimônio instituidor da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, fundada em 1983, constante do seu respectivo Estatuto. Veja mais aqui e aqui.

A GREAT WESTERN – (Por Lucia Gaspar, bibliotecária da FUNDAJ) – Em 1872, alguns capitalistas ingleses reunidos em Londres criaram uma companhia para construir estradas de ferro no Brasil, a Great Western of Brazil Railway Company Limited, que logo ficou conhecida no País como Greitueste. Como a sua similar inglesa, The Great Western Railway Company, criada em 1835, para fazer a ligação entre Londres e a sua parte oeste (Liverpool, Bristol), a nova empresa se destinava a abrir ferrovias em direção ao oeste, numa marcha para o agreste do Nordeste brasileiro. Em 1873, a Great Western foi autorizada a funcionar no Império do Brasil e, em 1875, conseguiu do Barão da Soledade, a transferência da concessão para construir em Pernambuco uma ferrovia que, passando por Caxangá, São Lourenço da Mata, Pau d`Alho e Tracunhaém (com ramais para Nazaré da Mata e Vitória de Santo Antão), ligaria o Recife a Limoeiro. A inauguração das obras, em 1879, foi bastante festiva e realizou-se em Santo Amaro, no Recife, com a presença do presidente da província de Pernambuco. O primeiro trecho Recife-Pau d’Alho só ficou pronto em 1881 e, em 1882, foi aberto ao tráfego a linha Pau d’Alho-Limoeiro, assim como o ramal para Nazaré da Mata. Os primeiros diretores da empresa no Brasil foram James Fergusson, David Davies, Hugh Robert Baines, Alfred Phillips Youle, Edward Keir Hett e Spencer Herapath. Com a saída de Hugh Robert Baines, Frank Parish passou a fazer parte da diretoria. Entre 1882 e 1883, a estrada de ferro de Limoeiro transportou 2.061 passageiros de 1ª classe e 33.377 de segunda. Em 1884 e 1885, com a introdução dos vagões de 3ª classe, foram transportados mais de 60.000 pessoas, sendo de apenas 4%, aproximadamente, os viajantes de 1ª classe. Além de passageiros, a Great Western transportava também os principais produtos da região, como açúcar, álcool, madeira, algodão, feijão. Depois da estrada Recife-Limoeiro, a empresa construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco (1885-1896) ligando o Recife a Caruaru. A ferrovia iniciava no bairro de Afogados, no Recife, próximo à Casa de Detenção (atual Casa da Cultura), passando por Vitória de Santo Antão, Gravatá, Bezerros, terminando em Caruaru. Nessa época, Vitória possuía mais de 70 engenhos; Bezerros, mais de 20 fábricas de rapadura, e Caruaru exportava para o Recife uma grande quantidade de solas, couros, algodão, queijo, feijão, além de realizar uma das maiores feiras de gado da região. O primeiro trem que chegou a Caruaru foi todo ornamentado, levando o governador Barbosa Lima, o chefe de polícia Júlio de Melo e outras autoridades. A partir do século XIX, a empresa anexou a maior parte das estradas de ferro da região, o que abrangia linhas estaduais, municipais e estratégicas. Na época da II Guerra Mundial, a Great Western teve que recorrer à lenha em substituição ao carvão de pedra, o que concorreu para aumentar a devastação das reservas florestais da região. Para remediar um pouco a situação, a empresa criou vários hortos florestais, onde eram cultivadas milhares de mudas de plantas nativas e também aclimatadas no país. Depois, passou a utilizar o óleo combustível, poupando o restante dos recursos naturais existentes. Em 1945, a Great Western possuía quatro linhas principais: Recife-Nova Cruz, Recife-Albuquerque Né , Recife-Jaraguá e Paulo Afonso. A empresa chegou a possuir uma rede ferroviária de mais de 1.600 quilômetros distribuídos entre os Estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. A história da Great Western está tão ligada à da produção no Nordeste brasileiro, que ninguém pode escrever sobre a história econômica da região sem consultar seus relatórios e arquivos. REFERÊNCIAS: PINTO, Estevão. História de uma estrada-de-ferro do Nordeste. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 310 p. (Documentos brasileiros, 61). SOUZA, Alcindo de. Antologia ferroviária do Nordeste. Recife: Bagaço, 1988. 100 p.

A HISTÓRIA DA MINHA VIDA - [...] Meus primeiros dias de vida foram como os de toda criança: como primogênita que fui, cheguei, vi e venci [...] Luz! Luz! Era o grito incompreendido da minha alma. Nesse dia o astro luminoso raiou para mim [...] Gradualmente acostumei-me ao silencia e à escuridão que me rodeavam e esqueci que algum dia fora diferente, até que ela chegou, a minha professora, a que iria libertar meu espírito [...] Não me lembro quando percebi pela primeira vez “ser diferente” das outras pessoas, mas eu sabia disso antes da vinda da minha professora. Eu notara que mamãe e meus amigos não usavam sinais como eu quando queriam algo, mas falavam com a boca. Às vezes eu ficava entre duas pessoas que conversavam e tocava seus lábios. Como não conseguia entender, ficava perturbada. Movia os lábios e gesticulava freneticamente sem resultado. Isso me deixava às vezes tão zangada que eu chutava e gritava até ficar exausta. [...] Não há melhor maneira de agradecer a Deus pela visão, do que dar ajude a alguém que não a possui [...] Se metade do dinheiro hoje gasto em curar cegueira, fosse utilizado em preveni-la, a sociedade ganharia em termos de economia sem mencionar considerações de felicidade para a humanidade [...] Que toda criança cega tenha oportunidade de receber educação e todo adulto cego, uma oportunidade para treinamento e trabalho útil [...] Quando uma porta de felicidade fecha-se, uma outra se abre; mas muitas vezes, nós olhamos tão demoradamente para a porta fechada que não podemos ver aquela que se abriu diante de nós [...] Não há barreiras que o ser humano não possa transpor [...] Aprendi a fazer tudo o que podia, para ajudar minha professora. Todas as manhãs, ela levava o marido de carro à estação, onde ele tomava o trem pata Boston, para depois se ocupar das compras. Eu tirava a mesa, lavava a louça e arrumava os quartos. Podiam estar clamando por mim montanhas de cartas, livros e artigos para escrever, mas, a casa era a casa, alguém tinha de fazer as camas, colher flores, catar lenha, por o moinho de vento a andar e para-lo quando a caixa estivesse cheia, enfim, ter em mente essas coisas imperceptíveis que fazem a felicidade da família. Quem gosta de trabalhar sabe como é agradável a gente estar ajudando as pessoas a quem estimamos nas tarefas diárias de casa [...]Andar com um amigo na escuridão é melhor do que andar sozinho na luz  [...] O resultado mais sublime da educação é a tolerância [...]. Trechos extraídos da obra A história da minha vida (José Olympio, 1902), da escritora e ativista social estadunidense Helen Keller (1880-1968), a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. O livro traz o impressionante relato autobiográfico de quem tendo ficado cega e surda aos 18 meses de idade, em fins do século XIX, conseguiu aprender a ler, escrever e falar, dominar línguas, graduar-se em Filosofia e tornar-se escritora reconhecida. Com a chegada da professora Anne Sullivan à sua casa, quando ela tinha pouco menos de sete anos, seu mundo transformou-se: aprendeu a manifestar – através das palavras, até então desconhecidas os seus desejos, e sentimentos, entendeu regras, aprendeu a criar. Veja mais aqui.

LIBERDADECom que direito pões pássaros em gaiolas? / Que direito tens tu, que o das aves violas? / Por que as roubas das nuvens... auroras... nascentes? / Por que privas da vida esses seres viventes? / Homem, tu crê que Deus, o Pai, faria nascer / asas p’ra que à janela as fosses suspender? / Se não o fazes, hás de viver descontente? / Que é que te fizeram esses inocentes / para que os condenasses, com a fêmea e seu ninho? / As desventuras deles é o nosso caminho! / Talvez o sabiá, que do seu galho roubamos, / e o infortúnio que aos animais nós causamos / e a escravidão inútil que impomos às bestas / qual Nero não cairão sobre nossas cabeças? / E se o cabresto então desprendesse os grilhões? / Oh! Quem sabe o desfecho de nossas ações, e que fruto nefasto estarão produzindo / as cruezas que na Terra perpetramos rindo? / Quando aprisionas sob o ferro de uma grade / pássaros feitos para o azul da liberdade, / os nadadores do ar que arribam por aqui / - Pintassilgo, Chopin, pardal ou bem-te-vi -, / O bico ensangüentado deles – ouve bem! - / ao se bater nas grades fere a ti também! / Tem cuidado com teu julgamento furtivo! / Deus olha em toda parte onde grita um cativo. / És incapaz de ver que és sórdido e cruel? / A esses detentos abre a porta para o céu! / Aos campos, rouxinóis! Aos campos, andorinhas! / Perdoai o que fizemos às vossas asinhas! / E a ti, pois, da justiça as misteriosas redes, / pois são masmorras que ornamentam tuas paredes! / Das treliças com fios de ouro nascem bastiões; / a perversa gaiola é a mãe das prisões. / Respeita o augusto cidadão do ar e do prado! / Tudo aquilo que aos pássaros é confiscado / o destino, que é justo, toma dos humanos. / Temos tiranos, pois somos também tiranos. / Queres ser livre, ó homem? Pois pensa primeiro, / se tens em casa um testemunho prisioneiro... / A sombra ampara aquilo que parece instável. / A imensidade inteira a essa ave miserável / vem se prostrar; e te condena à expiação. / É estranho, ó opressor, que grites: “opressão!” / tens sorte agora enquanto tua demência arrasa / a sombra desse escravo no umbral da tua casa; / porém essa gaiola com a ave infeliz / encarna nessa Terra triste cicatriz. Poema do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), que também se expressa: “Olha teu cão nos olhos e não poderás afirmar que ele não tem alma”. Tradução de Raul Passos. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE & O RETRATOO artista é o criador de coisas belas. O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista. O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo ou para um novo material a sua impressão das coisas belas. A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia. Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem sedução, o que é um defeito. Os que encontram significações belas nas coisas belas são os cultos, para esses há esperança. Eleitos são aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza. Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo. A aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara ao espelho. A aversão do século XIX pelo Romantismo é a queixa de Caliban por não ver a sua cara ao espelho. A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem ser demonstradas. Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável. Um artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo. Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de ator o modelo. Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o símbolo, fazem-no a expensas suas. O que a arte realmente espelha é o espectador, não a vida. A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital. Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo mesmo. Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil, contanto que a não admire. A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada. Toda a arte é completamente inútil. [...] A única coisa que desejo mudar na Inglaterra é o clima. A mim me satisfaz a contemplação filosófica. Porém, como o século dezenove falhou de tanto esbanjar condescendência, sugiro façamos um apelo à ciência, para que nos aprumemos. A vantagem das emoções é que elas nos desencaminham, e a vantagem da ciência é que ela não é emocional. [...]. Trecho do romance filosófico O retrato de Dorian Gray (1890 – Lanmark, 2012), do escritor e dramaturgo britânico Oscar Wilde (1854-1900). Veja mais aqui e aqui.

MICROFISIOTERAPIA – Trata-se de uma técnica de terapia manual criada pelos fisioterapeutas e osteopatas Daniel Grosjean e Patrice Benini, em 1983, na França, que consiste em identificar a causa primária de uma doença ou sintoma e estimular a autocura do organismo, para que o corpo reconheça o agressor (antígeno) e inicie o processo de eliminação. Seu embasamento teórico iniciou pelos estudos da embriologia, filogênese, anatomia e ontogênese, e com essas informações desenvolveram mapas corporais específicos (similares aos meridianos de Medicina Oriental) e gestos manuais específicos e suaves que permitem identificar a causa primária de uma doença ou disfunção e promovendo o equilíbrio e manutenção da saúde. A Abordagem Manual é realizada seletivamente por camadas especificas do corpo. O trabalho foi reconhecido por ministérios da saúde de vários países, como Rússia, Polônia e Madagascar e África do Sul. Capaz de identificar tecidos que perderam sua função e vitalidade normal após eventos agressores ao organismo, a Microfisioterapia promove a normalização e a regulação das regiões corporais afetadas. Dessa forma, complementar à Medicina Tradicional, trata a mente e o corpo como um todo, do mesmo modo que a Homeopatia e a Medicina Tradicional Chinesa. Os seus benefícios proporcionam melhoria do estado emocional, tratamento das dores, estimulação do sistema Imunológico, identificação da causa primária de um sintoma ou de uma doença e promoção da saúde. Seu tratamento é indicado nos casos de depressão bipolar, alergias em geral, dores físicas, traumas emocionais, fibromialgia, fobias e ansiedade, sendo indicada para qualquer pessoa, independente da patologia ou idade, não se opondo à Medicina ou à Fisioterapia, atuando de forma preventiva ou curativa.

POEMA
Ao trepar sobre
o tampo do
armário de conservas
o gato pôs
cuidadosamente
primeiro a pata
direita da frente
depois a de trás
dentro
do vaso
de flores
vazio.
Poema extraído da obra Poemas (Companhia das Letras, 1987), do poeta estadunidense William Carlos Williams (1883-1963) - tradução de José Paulo Paes.

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A ARTE DE LUIZ BARRETO
Casa Grande do Engenho Paul, arte do pintor Luiz Barreto (Gentilmente cedida pelo acervo de Marcelo Tiriri – Foto de Eliandro Marques). Veja mais aqui e aqui.

quinta-feira, junho 02, 2016

GINSBERG, FAYGA OSTROWER, BELTRÁN MASSÉS, CLAUDIA ANDUJAR, CONSUELO DE PAULA, BETÚLIA, PORTO CALENDÁRIO, PETROLINA & TEATRO


BETÚLIA, A BELEZURA E OS RESTOS NOS CONFINS DO MUNDO (Imagem: A Sônia, da série O sonho dos outros – da exposição da fotógrafa Claudia Andujar: No lugar do outro) – Betúlia, linda, amável, gentil, educadíssima, nascida em berço de ouro. Tão formosa e sempre na dela, não dava trela pra ninguém. Sempre terna e atenciosa com todos, índole materna, uma vistosa filantropa de assistir crianças, marmanjos, idosos. Sempre dedicada, elegante, obsequiosa e tão nobre na finura do trato com pobres e oprimidos, sempre com um sorriso deferente nos lábios, uma palavra de conforto, um abraço amigo. Uma perfeição encantadora em forma de gente. Um dia seu coração palpitou, abriu mão de tudo: riqueza, família, amigos. Enrabichou-se por um certo Jorgão Bezário, um inculto vistoso, sem eira nem beira, tosco jumento e grosso que só papel de enrolar prego, que se encontrava de passagem por sua cidade. Porte atlético, musculoso, cabeça de fósforos, homem de poucas palavras e brabeza nos gestos. Com todos esses atributos insuportáveis, fora ele responsável por ela abdicar de tudo e findar em Alagoinhanduba depois de perder os três vinténs, o juízo, a vida. Agora tinha um dono, um tosco Apolo pras vistas dela, o seu deus em carne e osso a quem estava reduzida, nada mais. Com seu ar desabrido e todo pavoneado, ele a exibia com seu jeito agreste como um troféu. De forma tarasca e com beijos arrancados na marra, exigência de bruto: - Minha quenga! E ela se ria, enamorada. Toda elegante fineza dela, ao lado do mais brucutu dos descorteses mandonistas. Não havia por ali quem não arregalasse os olhos, caísse o queixo e não cobiçasse aquela engenhosidade do Criador. Ao mesmo tempo que estranhavam como havia de uma belezura daquela, se visse atraída por bonitão tão primitivo. Coisas de catimbó, só sendo. É certo que ele já fora a perdição de muita moça donzela por onde passou. Mas daí admitir a conquista do coração de Betúlia, já era exagero da sorte. Logo ela que parece ter saído por encomenda: lindíssima das faces graciosas, formas assimétricas perfeitas, jeito fascinante, uma maravilha jamais vista de boniteza em qualquer pessoa. Aonde ele chegasse, rispidamente apresentava: - Eis minha quenga, pessoal. Respeitem sempre que sou o macho dela! E ela toda faceira, encantada de andar nas nuvens, enfeitiçada pelo amor. Anos se passaram e a cidade inteira nunca se cansara do assombro com beleza tão refulgente. Cada dia ela se tornava mais bonita. Por onde passasse era admirada, cultuada, reverenciada, invejada até. Certo dia ele chegara duma viagem sozinho e entrara no bar para tirar a poeira da garganta. Alguns desconhecidos numa mesa de perto, exaltavam a beleza de certa mulher. Ele se virou pra eles e disse sem a menor parcimônia: - É porque vocês nunca viram a minha quenga, não existe mulher mais bonita no mundo! Dito isso de peito inchado com toda soberba, tomou uma lapada da aguardente e foi ao sanitário arriar o mijo. De lá ouviu a gritaria: - É ela! É ela! Aquilo que é mulher gostosa! -, comentava um mais afoito do trio visitante. - Aquela merece o cara arriscar a vida pra botar uma gaia! -, arguiu um dos petulantes. E a risadagem corria solta. Ao retornar, Jorgão pega o copo com nova lapada da pinga e foi até a porta vê quem era que os caras estavam elogiando, enquanto degustava do aperitivo. Era ela. Virou-se pra eles e perguntou: - É aquela que vocês acham a belezura que querem foder, é? Eles se levantaram às pressas, conferiram e responderam: - É aquela gostesuda mesmo, aquilo que é uma mulher gostosa de verdade! Nem terminou a frase, o bofete comeu no centro. Jorgão estava mais brabo do que sempre fora. E em meio às tapas, deu pernadas a três por quatro, mãozadas distribuídas a granel. No meio da confusão entrou uma grossa turma do deixa disso, apartando a briga. Os três desafetos insolentes foram prum lado e Jorgão, mais que injuriado, foi pro outro. Ele fumaçava, de cabeça quente. Ruminando sua raiva, resolveu ir proutro bar encher o tampo. Entupiu-se de esborrar e foi pra casa trocando as pernas. Capenga, mal conseguiu entrar em casa aos gritos: - Cadê ele? Ele quem? O macho que tá me botando gaia! Não tem ninguém aqui, meu amor. Meu amor, uma porra! Vou matar esse macho! E saiu revirando às quedas quartos, sala, cozinha, banheiro, até escorregar no lodo do quintal e dar trabalho pra ser levado pra cama. Dormiu de roncar a noite toda e metade da manhã. Acordou-se virado num saco de pentelho arrepiado, aos palavrões e mordido do porco: - Cadê o macho? Que macho? Tô sentindo cheiro de macho! Não tem macho nenhum, meu amor. Meu amor, uma porra! E assim foi-se o dia, entrou pelo outro, uma semana, meses, quase ano, ele brigando com um e com outro, até chegar um dia em casa e fazer do inferno que virou a vida de Betúlia, um momento do mais autêntico terror. Um brilho sinistro no olhar, uma assustadora maldade nas suas faces. A culpa é sua, sua quenga! Você que é a culpada! E partiu pra cima dela, esmurrando, chutando com a fúria dos horrores. Ela se defendia como podia, ele a estapeava, dava-lhe chutes e murros em todas as partes do corpo, até ela cair, aos prantos, arriada num canto da sala. Ele então saca de uma faca peixeira e dá-lhe um talho na face esquerda, na perna direita, na coxa esquerda, numa das mãos. Quanto mais ela tentava se desvencilhar dos golpes, mais o sangue espirrava. E sussurrava irado, vingativo: - Esse é um sangue amaldiçoado! E mais desferia golpes, ela cada vez mais encolhida no canto da sala, não sabia o que fazer. Ele arreou de cócoras para fitar bem seus olhos e bafejou maledicência na sua cara, enquanto deslizava a faca amolada na pele dela, abrindo a carne aos poucos nos braços, pernas, passando a esmurrá-la até cravar várias peixeiradas no dorso, no ventre, nas faces, pescoço, nos seios e membros, arrancar-lhe um a um dos olhos, retalhar os seios, até deixá-la completamente desfigurada. Insatisfeito, saiu arrancando a pele dela, até deixá-la em carne viva. Depois saiu esquartejando, quebrando os ossos, reduzindo-a a pequenos pedaços. Uma calma estranha se apoderava dele, parecendo mais que abatia o mais feroz e odiado animal. Começou a ensacar os pedaços dela: mãos, pés, crânio, tripas e carne. Acomodou tudo num saco grande e depositou ao pé da cama, enquanto foi tomar banho e remover toda a sujeira de sangue. Completamente restabelecido, vestiu-se da domingueira, perfumou-se, armou-se do saco com os restos delas e partiu assobiando como se nada tivesse acontecido para nunca mais ser visto dali. Dezesseis anos depois reaparece ele pelas bandas de Alagoinhanduba, multimilionário, impune e sorridente, adquirindo terras e outras posses, acoloiado de uma tuia de baba-ovo que o endeusa até hoje. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

Imagem: Mujeres, do pintor cubano Federico Beltrán Massés (1885 - 1949)


Curtindo o álbum Dança das rosas (Tratore, 2006), da cantora e compositora Consuelo de Paula. Veja mais aqui.

PESQUISA
Evolução e sentido do teatro (Zahar, 1964), do educador, professor e crítico de teatro e mitologia Francis Fergusson (1904-1986), tratando sobre o ritmo trágico da ação, o teatro da razão, o teatro da paixão, o teatro moderno, a poesia e o poeta no teatro, entre outros assuntos. Veja mais aqui.

LEITURA 
 Foi na proa da Boa Paisagem que apareceu pela primeira vez a figura de uma mulher mirando o rio. Xico Baquiba me disse: amigo Cipriano, tenho encomenda do capitão Zé Custódio, de Juazeiro, de uma carranca diferente. Penso em muitos assucedidos e um me vem na cabeça. Era a estória de Siana Branca. Foi numa noite no Alto do Menino Deus, eu maginava olhando pro céu: oo que irá acontecer no dia em que a arca de Noé, navegando, for se aprotar nas Tres Marias? De repente – e me benzi – uma cuereira veio por cima da minha cabeça e foi sentar-se no cruzeiro. Apagaram-se as luzes do firmamento e tudo ficou escuro. Foi quando um resplendor se abriu e vi o desencantamento. A ave virou uma mulher e veio rezar por seus pecados. Vi suas feições e elas ficaram direitinhas nos meus olhos tal qual Xico Biquiba fez a cabeça da Boa Paisagem. Subiu mais um degrau da escada e continuava, arrebatado: - Nunca vouve por todo o São Francisco e os corghos mulher tão bonita como esta Siana Branca de Correntina. Desgraçada, por si nunca aceitou um homem por mais rico e poderoso que fosse e, só aos remeiros dava seu amor. Um belo dia vinha chegando uma barca embalada na cantiga de quem chega sorrindo. Neste tempo passava uma menina com uma rosa para o altar de Nossa Senhora e Siana Branca lhe disse: - Menina, me vende essas rosas... – Não vendo, não. É promessa de minha mãe... Se dava; as mulheres nos porotos enfeitavam a cabeça com flores no dia em que chegavam os seus amigos, e Siana Branca entrou na igreja e roubou as rosas para botar nos seus cabelos castanhos. Quando a barca encostou foram para sua casa e estava vazia. Por mais que procurassem nunca mais foi vista. Nem na Barra, nem em Juazeiro, nem em Januária e por aqui, e tudo se esclareceu. Siana Branca, pelo seu pecado, tinha virado uma cuereira. E entrando por um bico de pinto e saindo por um bico de pato, eu lhes digo meus meninos: deste dia em diante as cuereiras que eram brancas, acordam cedo para tingirem na madrugada suas penas com a cor das rosas. Agora, nas noites de lua, a Boa Paisagem, na parada dos pousos, se ouve a modinha de eu sou como a garça triste e a tripulação acorda chorando com saudade de alguém [...].
Trecho do romance Pôrto Calendário: romance do São Francisco (Francisco Alves, 1961), do romancista, alfaiate e militante comunista Osório Alves de Castro (1898-1978). Veja mais aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA:
[...] Eu, de qualquer forma, talvez tão velho como o universo – e penso que ele morre conosco – o suficiente para cancelar o que vem depois – Aquilo que veio parte sempre cada vez – isso é bom! Assim, não há do que arrepender-se – nada de radiadores de medo, desamor, tortura, até dor de dento no final – embora ao vir seja um leão devorando a alma – e o cordeiro a alma em nós, ah! Oferecendo-se em sacrifício para a feroz fome da mudança – pelo e dentes – e o rugido da dor nos ossos, crânio, pelado, costela quebrada, pele rasgada, implacabilidade Ai, ai! Cada vez pior! Estamos numa fria! E você está fora, a Morte deixou-a fora, a Morte teve piedade, você passou pelo século, passou por Deus, passou pelo caminho que chega lá – finalmente passou por você mesma – pura – de volta à escuridão Bebê anterior a seu Pai, anterior a todos nós, anterior ao mundo – lá, repousa. Mais nada de sofrimento para você. Seu para onde foi, tudo bem. [...]
Trecho do poema Kadish da obra Uivo, Kadish & outros poemas (1953-1960 - L&PM, 1984), do poeta estadunidense da geração beat Allen Ginsberg (1926-1997). Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Estátua de Iemanjá, Mãe D’Água, Rio São Francisco – Petrolina – PE. Veja mais aqui.

Veja mais sobre Brincarte do Nitolino, Allen Ginsberg, José Lins do Rego, Alain Resnais, Catherine Deneuve, Raoul Dufy, Charles Lecocq, Signo Teatral & O Choque das Civilizações aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Klimt plus Fayga, da pintora, gravadora, desenhista, ilustradora, professor e teórica de arte brasileira nascida na Polônia, Fayga Ostrower.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá
Veja aqui.

NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...