ALTO DO INGLÊS – Imagem: Chalé do Inglês, do pintor Luiz Barreto. Certa feita contou-se um
dia lá de não sei quando, o povo todo inheto amontoado nos arredores da estação
recém-construída, esperando Maria Fumaça que vinha lá de longe nos trilhos da
linha férrea do Recife. Uma espera buliçosa com aquela do vem não vem, pra mais
de hora ali plantado de pé, olhando dum lado pro outro, como seria o troço todo,
um invento tão esperado, coisa de nunca se vê. Mais tempo depois, então,
ouviu-se um apito de se parar a respiração: U-huuuuuuu! - É ela, já vem vindo!
E vinha mesmo no maior zoadeiro, soltando fumaça, apareceu lá no fim bem
pequenininha da lonjura, fumaceiro no meio do canavial, vixe, um corre-corre
medonho, muita gente se escondeu de medo: - E se fosse a coisa ruim ao invés
dum danado dum trem, ora? Sou lá besta de não me precaver, ora. Não tinha quem
não tremesse com aquela barulheira chegando perto, quem não foi agora vai, quem
não foi agora vai, quem não foi agora vai que eu acabei de chegar! Danou-se!
Que bicho bonito danado, cheio dos apitos, descargas fumegantes, desafogos de
engrenagens, arriados de puxa-encolhe, peidos de todo jeito: - Essa bicha
pipoca que só, né maquinista? É a gota! Isso é que é um mondrongo de respeito! Arrepara
só! O cabra amontado num negócio desse vai até o fim do mundo, se num vai! Já
baixando a bufarra toda, apareceu um galegão embecado duns dois metros de
altura, gritando umas coisas que ninguém entendia. Quem é, hem? Cochicharam que
era um mandão engenheiro da Gretoeste que ia dar ordem naquilo tudo. Vixe! O
homem esbravejava que só e logo um cheleléu dele desceu do trem às carreiras,
explicando que ele procurava pelos funcionários para pegar as suas malas e
levar lá pra casa nova do alto. Ah, tá! Aí que foi gente como a praga pra servir
o homem e pegar as malas só pra ver como é que era a casa bonitona lá do alto. Oxe,
o tanto de mala que tivesse, o povo todo levava. E assim subiram a íngreme
elevação rumo ao casarão, a mundiça toda serpenteando o morro acompanhando o
grandão a gesticular a frente, enquanto cá embaixo, quem ficou, deu de cara com
um verdadeiro espetáculo: apareceu assim do nada uma galegona bonitona dos
olhos brilhosos, vestido solto das pernas vistosas descendo da locomotiva,
braços abertos no sorriso iluminado, cabelos e saias do vestido aos ventos de
aparecer-lhe as mais espetaculares intimidades, e ela nem aí só gingando as
passadas como quem levitasse feliz sem direção certa, tomando pé de toda aquela
redondeza. Lá se ia a branquela como se bailasse no meio duma ventania boa de
mexer com as plantas todas, passarinhos e passantes, e a gente só de flagrar
ela nuínha embaixo de suas vestes soltas, aos boticões de não perder um segundo
sequer de seu encantamento, aquela brancura da maior das bonitezas. E ia nem aí
pra nada com quem ia ou quem viesse do chalé do alto pra pegar as coisas das
mudanças deles e tornarem a subir, por vezes encarreadas carregando tudo, até ela
se encontrar com o mandão, dar-lhe um beijo afetado e se desgarrarem
indiferentes, o chefão descendo com o cheleléu na cola, ela subindo entre os
que iam e vinham, solfejando suas cantigas como quem ganhou da vida o paraíso,
às carreiras pelos degraus, reaparecendo em cada janela e portas da luxuosa
moradia, até se encostar ao alpendre e ficar maravilhada com toda a paisagem da
redondeza. Ela lá e muita gente aqui embaixo só acompanhando os seus mínimos
movimentos, até que lá pras tantas, tudo já descarregado na mansão, vê-se o galegão
dispensar todo mundo para sumir dentro de casa e apenas ouvir os gritos,
gracejos, risadas e felicitações do casal na maior comemoração. A noite entrou
pesada e quando amanheceu o dia, quando não era a chegada e partida da Maria
Fumaça com estardalhaço, era ela não menos retumbante que aparecia desnuda
rodopiante pernuda entre as fruteiras e florais que arrodeavam o oitão do
palacete, exprimindo a satisfação de se encontrar naquele rincão encantador,
quando, na verdade, ela que se tornava o encanto daquelas paragens para todo
ser vivente da freguesia. Dali a pouco quando todos saíam acompanhando o gringo
pro expediente na estação, ela adentrava e não mais reaparecia, ouvindo-se
apenas sua voz cantarolando lá pra dentro de sua clausura. Nem bem a tarde
começava a trazer o espetáculo do pôr do Sol pra noite, ouviam-se os passos do marido
de volta pra casa, pra tudo ficar de ouvido colado pras estripulias do casal. Na
escuridão da noite dava pra ouvir os cantos, risos e gritinhos dela com o vozeirão
do marido, coisas de intimidades mais estreitas no maior dos regalos amorosos.
Assim, todos os dias, enquanto o povo ficava vidrado com a travessia da Maria
Fumaça, logo após ela ganhar chão pras bandas de Catende ou pra onde quer que
fosse, as vistas se voltavam pra gringa cada dia mais bonita que antes; - Isso
sim que é espetáculo pras vistas! E se passaram semanas, meses, anos, povaréu
todo lá de butuca nos passeios da princesa nua pelos jardins e fruteiras do casarão
logo que o dia amanhecia ou, vez em quando, no mormaço da tarde que seguia pro
descanso do Sol, ela dançando pelas infâncias, adolescências, marmanjadas,
vetustos esperançosos que viam nela o entretenimento jamais visto. Até que
outro dia lá, muito tempo depois de rotineiras e surpreendentes aparições, a
população deu-se com as notícias de que o gringo fora embora. Dizem ter ouvido
durante a noite um estampido quebrando o silêncio, ninguém sabia o que ocorrera,
era um entra-e-sai, nem a chegada da Maria Fumaça reanimou aqueles que queriam
saber do gringo e sua rainha nua. O casarão estava fechado, coisa de anos nunca
antes vista, sempre portas escancaradas e ela àquela hora, desfilando nua a
cantar pros pássaros, árvores e ventos, pra felicidade da curiosidade de todos.
Não mais ela no casarão do Alto do Inglês, só Maria Fumaça que vinha e zarpava
proutas paragens, levando desejos e esperanças do povinho daqui. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá
especiais com os grandes sucessos e
álbuns Piano & Viola e Imyra, Tayra, Ipy, do
cantor e compositor uruguaio Taiguara (1945-1996); o Concert
Tchaikovisky Live, Four Seasons Vivaldi e Concert Violin Dvorak, na
interpretação da virtuosa e belíssima violinista e violista holandesa Janine Jansen; a música do violonista,
compositor, concertista, cantor e produtor musical Chico Mello com seus parceiros Silvia Ocougne, Helinho Brandão
& Carlos Careqa; e o álbum Negra e canções como Espera e O meu lugar da
cantora e compositora Consuelo de Paula.
Para
conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – Os problemas impostos pelos preconceitos
raciais refletem em escala humana um problema muito maior e cuja solução é
ainda mais urgente: o das relações sobre o homem e as demais espécies viventes.
[...] O
respeito que desejamos obter do homem para com seu semelhante é apenas um caso
particular do respeito que ele deveria manifestar para com todas as formas de
vida [...]. Trechos extraídos da obra Raça e história (Presença, 2003), do
antropólogo belga Claude Lévi-Strauss
(1908-2009). Veja mais aqui e aqui.
O CASARÃO DO ALTO DO INGLÊS – (por Vilmar Carvalho, escritor e historiador).
Por que recuperar um casarão que também
pode ser considerado símbolo da opressão praticada em outras épocas? 1. O
casarão em questão, construído ao final do século XIX, foi residência dos
engenheiros ingleses que trabalhavam em Palmares desde 1859, ano em que começou
a construção da ferrovia que passava a ligar Recife e Palmares; 2. Seu
habitante mais ilustre foi o inglês Edmund Cox, um engenheiro graduado da Grant
Western Railway, fidalgo educado na ótica vitoriana, membro honorário do também
fidalgo Clube Literário de Palmares; 3. O casarão entra em ruína conjuntamente
com todos os equipamentos ferroviários a partir dos anos setenta, considerando
que o Regime Militar fez opção pelo transporte rodoviário; 4. Da construção
dele para 2014, somam nada mais que 38 governos municipais que ali não
colocaram um centavo, não tinham ou não podiam investir: o casarão é da massa
falida da antiga Rede Ferroviária Nacional? 5. O exemplo de ruínas como usinas,
sobrados e casas grandes de engenhos, o casarão do Alto do Inglês é a carcaça
que ficou de um tempo que se montou ainda na escravidão e que viu a opressão de
milhares de famílias pobres para montar a chamada Civilização do Açúcar; 6.
Pode-se perguntar: e um marco que homenageasse os trabalhadores anônimos que
morreram na execução do projeto inglês? Afinal para cada dormente da expansão
ferroviária do século XIX, certamente morreu um trabalhador pobre nordestino; 7.
Pois, como diz Walter Benjamin, “para cada documento de cultura, um documento
de barbárie!”; 8. Documento de barbárie: para cada dormente, um corpo exausto.
Símbolo maior que este não haverá jamais e nunca será ruína. NOTA DO EDITOR DO BLOG: Ao que
me consta, a Casa do Alto do Inglês foi adquirida juntamente com o Teatro
Cinema Apolo pela Prefeitura dos Palmares, na gestão Luís Portela de Carvalho
(1982-1988), para formação do patrimônio instituidor da Fundação Casa da
Cultura Hermilo Borba Filho, fundada em 1983, constante do seu respectivo
Estatuto. Veja mais aqui e aqui.
A GREAT WESTERN – (Por Lucia Gaspar, bibliotecária da FUNDAJ)
– Em 1872, alguns capitalistas ingleses
reunidos em Londres criaram uma companhia para construir estradas de ferro no
Brasil, a Great Western of Brazil
Railway Company Limited, que logo
ficou conhecida no País como Greitueste. Como a sua similar inglesa, The Great Western Railway Company, criada em 1835, para fazer a ligação entre
Londres e a sua parte oeste (Liverpool, Bristol), a nova empresa se destinava a
abrir ferrovias em direção ao oeste, numa marcha para o agreste do Nordeste
brasileiro. Em 1873, a Great
Western foi
autorizada a funcionar no Império do Brasil e, em 1875, conseguiu do Barão da
Soledade, a transferência da concessão para construir em Pernambuco uma
ferrovia que, passando por Caxangá, São Lourenço da Mata, Pau d`Alho e
Tracunhaém (com ramais para Nazaré da Mata e Vitória de Santo Antão), ligaria o
Recife a Limoeiro. A inauguração das obras, em 1879, foi bastante festiva e
realizou-se em Santo Amaro, no Recife, com a presença do presidente da
província de Pernambuco. O primeiro trecho Recife-Pau d’Alho só ficou pronto em
1881 e, em 1882, foi aberto ao tráfego a linha Pau d’Alho-Limoeiro, assim como
o ramal para Nazaré da Mata. Os primeiros diretores da empresa no Brasil foram
James Fergusson, David Davies, Hugh Robert Baines, Alfred Phillips Youle,
Edward Keir Hett e Spencer Herapath. Com a saída de Hugh Robert Baines, Frank
Parish passou a fazer parte da diretoria. Entre 1882 e 1883,
a estrada de ferro de Limoeiro transportou 2.061 passageiros de 1ª classe
e 33.377 de segunda. Em 1884 e 1885, com a introdução dos vagões de 3ª classe,
foram transportados mais de 60.000 pessoas, sendo de apenas 4%,
aproximadamente, os viajantes de 1ª classe. Além de passageiros, a Great Western transportava também os principais produtos da
região, como açúcar, álcool, madeira, algodão, feijão. Depois da estrada
Recife-Limoeiro, a empresa construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco
(1885-1896) ligando o Recife a Caruaru. A ferrovia iniciava no bairro de
Afogados, no Recife, próximo à Casa de Detenção (atual Casa da Cultura),
passando por Vitória de Santo Antão, Gravatá, Bezerros, terminando em Caruaru.
Nessa época, Vitória possuía mais de 70 engenhos; Bezerros, mais de 20 fábricas
de rapadura, e Caruaru exportava para o Recife uma grande quantidade de solas,
couros, algodão, queijo, feijão, além de realizar uma das maiores feiras de
gado da região. O primeiro trem que chegou a Caruaru foi todo ornamentado,
levando o governador Barbosa Lima, o chefe de polícia Júlio de Melo e outras
autoridades. A partir do século XIX, a empresa anexou a maior parte das
estradas de ferro da região, o que abrangia linhas estaduais, municipais e
estratégicas. Na época da II Guerra Mundial, a Great
Western teve que recorrer à lenha em substituição ao
carvão de pedra, o que concorreu para aumentar a devastação das reservas
florestais da região. Para remediar um pouco a situação, a empresa criou vários
hortos florestais, onde eram cultivadas milhares de mudas de plantas nativas e
também aclimatadas no país. Depois, passou a utilizar o óleo combustível,
poupando o restante dos recursos naturais existentes. Em 1945, a Great Western possuía quatro linhas principais: Recife-Nova
Cruz, Recife-Albuquerque Né , Recife-Jaraguá e Paulo Afonso. A empresa chegou a
possuir uma rede ferroviária de mais de 1.600 quilômetros distribuídos entre os
Estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. A história da Great Western está tão ligada à da produção no Nordeste
brasileiro, que ninguém pode escrever sobre a história econômica da região sem
consultar seus relatórios e arquivos. REFERÊNCIAS: PINTO, Estevão. História de uma estrada-de-ferro
do Nordeste. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1949. 310 p. (Documentos brasileiros, 61). SOUZA,
Alcindo de. Antologia
ferroviária do Nordeste.
Recife: Bagaço, 1988. 100 p.
A HISTÓRIA DA MINHA VIDA - [...] Meus
primeiros dias de vida foram como os de toda criança: como primogênita que fui,
cheguei, vi e venci [...] Luz! Luz!
Era o grito incompreendido da minha alma. Nesse dia o astro luminoso raiou para
mim [...] Gradualmente
acostumei-me ao silencia e à escuridão que me rodeavam e esqueci que algum dia
fora diferente, até que ela chegou, a minha professora, a que iria libertar meu
espírito [...] Não me
lembro quando percebi pela primeira vez “ser diferente” das outras pessoas, mas
eu sabia disso antes da vinda da minha professora. Eu notara que mamãe e meus
amigos não usavam sinais como eu quando queriam algo, mas falavam com a boca. Às
vezes eu ficava entre duas pessoas que conversavam e tocava seus lábios. Como não
conseguia entender, ficava perturbada. Movia os lábios e gesticulava
freneticamente sem resultado. Isso me deixava às vezes tão zangada que eu
chutava e gritava até ficar exausta. [...] Não há melhor maneira de agradecer a Deus
pela visão, do que dar ajude a alguém que não a possui [...] Se metade do
dinheiro hoje gasto em curar cegueira, fosse utilizado em preveni-la, a
sociedade ganharia em termos de economia sem mencionar considerações de
felicidade para a humanidade [...] Que
toda criança cega tenha oportunidade de receber educação e todo adulto cego,
uma oportunidade para treinamento e trabalho útil [...] Quando uma porta de felicidade fecha-se, uma
outra se abre; mas muitas vezes, nós olhamos tão demoradamente para a porta
fechada que não podemos ver aquela que se abriu diante de nós [...] Não há barreiras que o ser humano não possa
transpor [...] Aprendi a fazer tudo o
que podia, para ajudar minha professora. Todas as manhãs, ela levava o marido
de carro à estação, onde ele tomava o trem pata Boston, para depois se ocupar
das compras. Eu tirava a mesa, lavava a louça e arrumava os quartos. Podiam
estar clamando por mim montanhas de cartas, livros e artigos para escrever,
mas, a casa era a casa, alguém tinha de fazer as camas, colher flores, catar
lenha, por o moinho de vento a andar e para-lo quando a caixa estivesse cheia,
enfim, ter em mente essas coisas imperceptíveis que fazem a felicidade da
família. Quem gosta de trabalhar sabe como é agradável a gente estar ajudando
as pessoas a quem estimamos nas tarefas diárias de casa [...]Andar
com um amigo na escuridão é melhor do que andar sozinho na luz [...] O
resultado mais sublime da educação é a tolerância [...]. Trechos
extraídos da obra A história da minha
vida (José Olympio, 1902), da escritora e ativista social estadunidense Helen Keller (1880-1968), a primeira
pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. O livro traz o impressionante
relato autobiográfico de quem tendo ficado cega e surda aos 18 meses de idade,
em fins do século XIX, conseguiu aprender a ler, escrever e falar, dominar
línguas, graduar-se em Filosofia e tornar-se escritora reconhecida. Com a
chegada da professora Anne Sullivan à sua casa, quando ela tinha pouco menos de
sete anos, seu mundo transformou-se: aprendeu a manifestar – através das
palavras, até então desconhecidas os seus desejos, e sentimentos, entendeu
regras, aprendeu a criar. Veja mais aqui.
LIBERDADE – Com
que direito pões pássaros em gaiolas? / Que direito tens tu, que o das aves
violas? / Por que as roubas das nuvens... auroras... nascentes? / Por que
privas da vida esses seres viventes? / Homem, tu crê que Deus, o Pai, faria
nascer / asas p’ra que à janela as fosses suspender? / Se não o fazes, hás de
viver descontente? / Que é que te fizeram esses inocentes / para que os
condenasses, com a fêmea e seu ninho? / As desventuras deles é o nosso caminho!
/ Talvez o sabiá, que do seu galho roubamos, / e o infortúnio que aos animais
nós causamos / e a escravidão inútil que impomos às bestas / qual Nero não
cairão sobre nossas cabeças? / E se o cabresto então desprendesse os grilhões?
/ Oh! Quem sabe o desfecho de nossas ações, e que fruto nefasto estarão
produzindo / as cruezas que na Terra perpetramos rindo? / Quando aprisionas sob
o ferro de uma grade / pássaros feitos para o azul da liberdade, / os nadadores
do ar que arribam por aqui / - Pintassilgo, Chopin, pardal ou bem-te-vi -, / O
bico ensangüentado deles – ouve bem! - / ao se bater nas grades fere a ti
também! / Tem cuidado com teu julgamento furtivo! / Deus olha em toda parte
onde grita um cativo. / És incapaz de ver que és sórdido e cruel? / A esses
detentos abre a porta para o céu! / Aos campos, rouxinóis! Aos campos,
andorinhas! / Perdoai o que fizemos às vossas asinhas! / E a ti, pois, da
justiça as misteriosas redes, / pois são masmorras que ornamentam tuas paredes!
/ Das treliças com fios de ouro nascem bastiões; / a perversa gaiola é a mãe
das prisões. / Respeita o augusto cidadão do ar e do prado! / Tudo aquilo que
aos pássaros é confiscado / o destino, que é justo, toma dos humanos. / Temos
tiranos, pois somos também tiranos. / Queres ser livre, ó homem? Pois pensa
primeiro, / se tens em casa um testemunho prisioneiro... / A sombra ampara
aquilo que parece instável. / A imensidade inteira a essa ave miserável / vem
se prostrar; e te condena à expiação. / É estranho, ó opressor, que grites:
“opressão!” / tens sorte agora enquanto tua demência arrasa / a sombra desse
escravo no umbral da tua casa; / porém essa gaiola com a ave infeliz / encarna
nessa Terra triste cicatriz. Poema do
escritor francês Victor Hugo
(1802-1885), que também se expressa: “Olha
teu cão nos olhos e não poderás afirmar que ele não tem alma”. Tradução de
Raul Passos. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE & O RETRATO – O artista é o criador de coisas belas. O objetivo da arte
é revelar a arte e ocultar o artista. O crítico é aquele que sabe traduzir de
outro modo ou para um novo material a sua impressão das coisas belas. A mais
elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia.
Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem
sedução, o que é um defeito. Os que encontram significações belas nas coisas
belas são os cultos, para esses há esperança. Eleitos são aqueles para quem as
coisas belas apenas significam Beleza. Um livro moral ou imoral é coisa que não
existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo. A aversão do
século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara ao espelho. A
aversão do século XIX pelo Romantismo é a queixa de Caliban por não ver a sua
cara ao espelho. A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo
artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio
imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem
ser demonstradas. Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num
artista é um maneirismo de estilo imperdoável. Um artista nunca é mórbido. O
artista pode exprimir tudo. Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o
modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de
ator o modelo. Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que
penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o
símbolo, fazem-no a expensas suas. O que a arte realmente espelha é o
espectador, não a vida. A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela
que a obra é nova, complexa e vital. Quando os críticos divergem, o artista
está em consonância consigo mesmo. Podemos perdoar a um homem que faça alguma
coisa útil, contanto que a não admire. A única justificação para uma coisa
inútil é que ela seja profundamente admirada. Toda a arte é completamente
inútil. [...] A
única coisa que desejo mudar na Inglaterra é o clima. A mim me satisfaz a
contemplação filosófica. Porém, como o século dezenove falhou de tanto esbanjar
condescendência, sugiro façamos um apelo à ciência, para que nos aprumemos. A
vantagem das emoções é que elas nos desencaminham, e a vantagem da ciência é
que ela não é emocional. [...]. Trecho do romance filosófico O retrato de Dorian Gray (1890 –
Lanmark, 2012), do escritor e
dramaturgo britânico Oscar Wilde
(1854-1900). Veja mais aqui e aqui.
MICROFISIOTERAPIA –
Trata-se de uma técnica de terapia manual criada pelos fisioterapeutas e
osteopatas Daniel Grosjean e Patrice
Benini, em
1983, na França, que consiste em identificar a causa primária de uma doença
ou sintoma e estimular a autocura do organismo, para que o corpo reconheça o
agressor (antígeno) e inicie o processo de eliminação. Seu embasamento teórico
iniciou pelos estudos da embriologia,
filogênese, anatomia e ontogênese, e com essas informações desenvolveram mapas
corporais específicos (similares aos meridianos de Medicina Oriental) e gestos
manuais específicos e suaves que permitem identificar a causa primária de uma
doença ou disfunção e promovendo o equilíbrio e manutenção da saúde. A
Abordagem Manual é realizada seletivamente por camadas especificas do corpo. O trabalho foi reconhecido por
ministérios da saúde de vários países, como Rússia, Polônia e Madagascar e
África do Sul. Capaz de identificar tecidos que perderam sua
função e vitalidade normal após eventos agressores ao organismo, a
Microfisioterapia promove a normalização e a regulação das regiões corporais
afetadas. Dessa forma, complementar à Medicina Tradicional, trata a mente e o
corpo como um todo, do mesmo modo que a Homeopatia e a Medicina Tradicional
Chinesa. Os seus benefícios proporcionam melhoria do estado emocional, tratamento
das dores, estimulação do sistema Imunológico, identificação da causa primária
de um sintoma ou de uma doença e promoção da saúde. Seu tratamento é indicado
nos casos de depressão bipolar, alergias em geral, dores físicas, traumas
emocionais, fibromialgia, fobias e ansiedade, sendo indicada para qualquer
pessoa, independente da patologia ou idade, não se opondo à Medicina ou à
Fisioterapia, atuando de forma preventiva ou curativa.
POEMA
Ao trepar sobre
o tampo do
armário de conservas
armário de conservas
o gato pôs
cuidadosamente
primeiro a pata
cuidadosamente
primeiro a pata
direita da frente
depois a de trás
dentro
depois a de trás
dentro
do vaso
de flores
vazio.
de flores
vazio.
Poema
extraído da obra Poemas (Companhia
das Letras, 1987), do poeta estadunidense William
Carlos Williams (1883-1963) - tradução de José Paulo Paes.
Veja
mais:
A arte
musical de Taiguara aqui.
A poesia
de José Régio aqui.
A arte
de Janine Jansen aqui.
A arte
musical de Consuelo de Paula aqui.
&
A ARTE DE LUIZ BARRETO
Casa Grande do Engenho Paul, arte do pintor Luiz Barreto (Gentilmente
cedida pelo acervo de Marcelo Tiriri – Foto de Eliandro Marques). Veja
mais aqui e aqui.