ETERNO APRENDIZADO – Imagem:
arte da pintora visionária estadunidense Amanda
Sage. - Há trinta anos, mais ou menos, empunhei a bandeira de que o bloco
do eu sozinho não me levaria a lugar nenhum e que o umbigo era só o centro do
corpo, jamais do universo. Disso fiz minha missão, mãos e braços solidários e disponíveis
a quem chegasse e quisesse. Sabia que o individualismo possessivo
potencializado pelo umbigocentrismo consumista ruiria todos os níveis de
relações. Aprendia a metáfora dos dedos das mãos: todos eram diferentes, um
deles sozinho poderia muito, mas não tudo; e que todos juntos poderiam tudo e
muito mais. Por que então ser apenas um quando poderíamos ser todos? Procurei solidariamente
difundir isso, enquanto aguçava o meu discernimento para flagrar a mais mínima
movimentação ao meu redor, para me levar a investigações e considerações. Por que
isso, por que aquilo? Muitos porquês. Havia então adicionado à minha conduta o
questionamento de tudo por meio de porquês intermináveis, vez que a certeza com
que tudo se expressava impositivamente, se esfacelava entre inúmeras dúvidas.
Por conta disso, além das leituras que habitual e compulsivamente me dedicava,
comecei a testar todas as teorias. Não buscava apenas a utilidade prática, mas
testar o que fosse dito, sentenciado, categoricamente afirmado e o que
aparecesse, por meio da minha própria experiência. Para tanto, testava métodos,
hipóteses, variáveis e problematizações, conferia resultados e, em seguida,
efetuando novas abordagens, explorava novas e todas as possibilidades possíveis
até o alcance das dimensões do que me propunha examinar. Buscava relações e
dicotomias, qual não era a surpreendente constatação de tantas contradições, quanto
paradoxalidades. Afora isso, o desapontamento com as descobertas de subjacentes
ideologias que se encontravam recônditas nas mais cristalinas proposições,
mascarando sofismáveis conjecturas, casuísmos ou idiossincrasias. Desde então
passei a não mais contar apenas do oito a oitenta, pois que antes do limite
mínimo, conforme o plano cartesiano, uma contagem regressiva levaria a zero,
começando nova contagem negativa infinitamente; e que o limite máximo, da mesma
forma, além dos oitenta, também podia contar com oitocentos, oito mil, milhões,
zilhões. Ou seja, a minha finitude estava diante da infinitude e eu não tinha a
mínima ideia de como conciliar forças antagônicas que se apresentavam, não
enxergando que seriam, na verdade, convergentes, quando não complementares. Percebi
dualidades; não só, três, quatro, muitas trindades, múltiplas expressões. Isso me
fez entender que a leitura só não bastaria, se não houvesse experiências para
validarem ou não toda e qualquer coisa. Dos livros obtive muitas e tantas lições
e, aliando a isso, experimentei cada desafio, cada conflito, seus percalços e prejuízos,
para saber e sentir o que há por trás de viver. Dúvidas, muita; certeza, só
uma: nada sei. Preciso aprender mais da vida. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje
na Rádio Tataritaritatá: especiais com os álbuns
Carioca, Stone Alliance, Patamar & Makenna Beach do músico instrumentista Márcio
Montarroyos
(1948-2007); Libertango, Storm & Sitarki da
violoncelista croata Ana Rucner; Rudepoêma
de Villa-Lobos, Rapsódia Brasileira de Radamés Gnatali & Fantasia op. 28 de
Scriabin, com o
pianista brasileiro Roberto Szidon
(1941-2011); e a Suíte 1 & 5 de Bach & a Sonata nº 2 de Myaskovsky, com
a violoncelista russa Natalia
Gutman. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] O estudo da filosofia não será inútil àqueles que lutam, que não se
resignam; efetivamente, só uma concepção objetiva do mundo lhes pode dar razões
para lutar. Sem teoria justa, não há luta vitoriosa. Alguns crêem que, para
atingirmos um alvo, basta que as condições de êxito se realizem. Estão errados,
porque é preciso ainda saber se essas condições estão se realizando. Quanto
mais complicadas forem as situações, mais importante saber situar-se dentro
delas. [...] Essas observações são
válidas também para a luta por outros objetivos: lutas pelas liberdades
democráticas, pelo pão, pela paz. Portanto, é por necessidade prática que
devemos estudar filosofia, que nos devemos interessar pela concepção geral do
mundo. [...]. Trechos extraídos da obra Princípios
fundamentais de filosofia (Hemus, 1970), de Georges Politzer, Guy Besse e
Maurice Caveing. Veja mais aqui, aqui & aqui.
O QUE É & PARA QUE SERVE FILOSOFAR? – [...] O que é Filosofia? Poderia ser: A decisão de
não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as
situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais
aceitá-las sem antes havê-los investigado e compreendo. Perguntaram certa vez:
Para que Filosofia? E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata
às coisas, sem maiores esclarecimentos”. [...] Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso mundo
costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos
vistos antes, como se não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros
e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se
estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos
perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também
o que somos, por que somos e como somos. [...] Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos,
relação entre teoria e prática, correção e acúmulos de saberes: tudo isso não é
ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já
respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas. [...]
Trechos extraídos da obra Convite à
Filosofia (Ática, 2002), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí. Veja mais aqui, aqui,
aqui, aqui & aqui.
LER, PENSAR & AGIR - [...] Os livros são o
melhor exemplo da influência do passado, e talvez cheguemos á verdade -
conheçamos de forma mais conveniente o teor dessa influência - considerando
tão-somente o valor deles. A teoria dos livros é nobre. O letrado dos primeiros
tempos recebeu em si o mundo circundante; meditou nele; deu-lhe o novo arranjo
de sua propriamente; e exteriorizou-o novamente. Nele entrou como vida; dele
saiu como verdade. Veio a ele como ações efêmeras; dele saiu como pensamentos
imortais. Veio a ele negócio; dele saiu poesia. Era fato inanimado; é agora
pensamento vivaz. Pode ficar imóvel e pode caminhar. Agora resiste, voa,
inspira. Exatamente em proporção á profundeza da mente que o produziu é a
altura em que paira, o tempo em que canta. Eu poderia dizer, também, que tudo
depende de quão longe foi o processo de transmudar vida em verdade. A pureza e
durabilidade do produto são proporcionais à inteireza da destilação. Mas nenhum
produto é totalmente perfeito. Assim como nenhuma bomba pode produzir vácuo
perfeito, tampouco pode nenhum artista excluir inteiramente de sua obra o
convencional, o local, o perecível, nem escrever um livro de puro pensamento,
que seja de igual modo eficaz para a remota posteridade como para os coetâneos,
ou melhor, para uma segunda idade. Verificou-se que cada época deve escrever
seus próprios livros; ou a sucede. Os livros de um período mais antigo não
servirão para este período. Todavia, disso resulta um grave dano. A santidade
ligada ao ato de criação - o ato de pensar - é transferida para o registro. O
poeta a cantar era considerado como um homem divino; desde então, o canto
passou a ser divino também. O escritor era um espírito justo e sábio; assentou-se
então que o livro é perfeito; assim, o amor pelo herói se corrompe em adoração
de sua estátua. No mesmo momento o livro se torna nocivo; o guia é um tirano. A
mente preguiçosa e pervertida da multidão, lenta no abrir-se às incursões da
Razão, abrindo-se uma vez e recebendo um determinado livro, nele se firma e faz
um alarido se for desacreditado. Colégios são edificados sobre ele. Livros são
escritos acerca dele por pensadores, não pelo Homem Pensante; por homens de
talento, vale dizer, por homens que partiram de um principio errôneo, que
começaram de dogmas aceitos, não de sua própria visão dos princípios. Jovens
submissos crescem em bibliotecas acreditando seja seu dever aceitar as opiniões
que Cícero, que Locke, que Bacon manifestaram, esquecidos de que Cícero, Locke
e Bacon eram apenas jovens em bibliotecas quando escreveram seus livros.
Dessarte, em vez do Homem Pensante, temos ratos de biblioteca. Daí, pois, à
classe letrada, que estima os livros não por estarem relacionados com a
Natureza e a constituição humana, mas como se constituíssem uma espécie de
Terceiro Estado, a par do mundo e da alma. Daí, também, os restauradores de
leituras, os emendadores, os bibliomaníacos de todos os graus. Bem usados, os
livros são a melhor das coisas; mal usados, uma das piores. Qual é o uso
correto deles? Qual o único fim a que se destinam todos os meios? Para nada
mais servem senão para inspirar. Preferiria nunca ver um livro a ser desviado,
por força de sua atração, de minha própria órbita e convertido em satélite, em
vez de o ser em sistema. A única coisa de valor no mundo é a alma ativa. A ela
todo homem tem direito; todos os homens a contêm dentro de si, embora, na
maioria deles, ela esteja obstada e ainda por nascer. A alma ativa vê a verdade
absoluta e formula ou cria a verdade. Nessa ação, é genial; o gênio não é privilégio
deste ou daquele protegido, mas o estado rígido de todo homem. Na sua essência,
é progressivo. O livro, o colégio, a escola de arte, a instituição de qualquer
espécie, se detêm em alguma manifestação pretérita do gênio. Isto é bom, dizem,
vamos apegar-nos a isto. Eles me imobilizam. Olham para trás, não para diante.
Entretanto, o gênio olha avante; os olhos do Homem estão na parte dianteira,
não na parte traseira de sua cabeça. O homem tem esperança; o gênio cria.
Quaisquer que sejam os talentos que possua, se o indivíduo não criar, não terá
o puro eflúvio da Deidade: haverá cinzas e fumaça, mas não ainda flama. Há
maneiras criativas, há ações criativas e palavras criativas; maneiras, ações e
palavras que não indicam costume ou autoridade, mas que nascem espontaneamente
do senso do bem e do justo da própria mente. Por outro lado, se o homem, em vez
de ser seu próprio vidente, receber de outra mente sua verdade, ainda que seja
em torrentes de luz, mas sem períodos de solidão, indagação e reconquista de si
mesmo, ter-lhe-á sido prestado um fatal desserviço. O gênio é sempre inimigo
figadal do gênio por influência exterior. A literatura de todas as nações
serve-me de testemunho. A esta altura, os poetas dramáticos ingleses já
shakespearizam há mais de duzentos anos. Indubitavelmente, existe uma maneira
correta de ler, pelo que deveria haver rigorosa subordinação. O Homem Pensante
não deve ser escravizado pelos seus instrumentos. Os livros servem para as
horas de ócio dos letrados. Se podemos ler em Deus diretamente, o tempo é
precioso demais para que o percamos com transcrições feitas por outros homens
de suas próprias leituras. Mas quando chegam os intervalos de escuridão, como
lhes cumpre chegar; quando o Sol se oculta e as estrelas recusam seus lampejos,
corremos para as lâmpadas que foram acendidas em seus raios, a fim de guiar
novamente nossos passos até o Oriente, onde está o amanhecer. Ouvimos para
poder falar. Diz o provérbio árabe: "Com olhar para outra figueira, uma
figueira se torna frutífera”. [...] Trecho de O
letrado americano, extraído da obra Ensaios (Cultrix, 1966), do
escritor e filósofo estadunidense Ralf Waldo Emerson (1803-1882). Veja
mais aqui, aqui, aqui & aqui.
NEUROFILOSOFIA – [...] As questões
neurofilosóficas são tão antigas quanto o dia em que o primeiro ser humano se fez
a pergunta de "quem somos nós". A natureza do pensamento e sua origem
perpassou as mentes de grandes filósofos, todavia sem obter consenso.
Atualmente, entretanto, os avanços da pesquisa em neurociências são um forte argumento
a favor das teorias materialistas, sem que, no entanto, as teorias dualistas
sejam abandonadas, pois a pouca idade das neurociências ainda não permite a
construção de um modelo científico capaz de explicar completamente estados
mentais mais complexos como a consciência
[...]. Trecho do artigo Uma introdução à neurofilosofia: o problema
mente-corpo (Revista da
Biologia/USP, 2009).da doutoranda na University of Surrey, Camila Gomes Victorino. Neurofilosofia é um termo que
surgiu na obra Neurophilosophy (1986), da filósofa estadunidense Patricia Churchland,
definida como sendo o estudo filosófico das neurociências, correlato ao estudo
neurocientífico da filosofia da mente e da linguagem, estudando por meio de um
estudo interdisciplinar dos processos mentais efetuados sob as perspectivas das
neurociências e ciências cognitivas, na investigação dos processos cerebrais e
redes neurais nas complexas dimensões interativas do cérebro e da mente com o
meio físico, social e cultural. Os estudos encontram interlocução com os
estudos desenvolvidos pelo filósofo da Universidade de San Diego da Califórnia
(UCSD), Paul Churchland e com a obra
desenvolvida pelo médico neurologista e neurocientista português António Damásio, que é professor da
Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, relacionando estudos que
tratam acerca da articulação filosófica numa visão interdisciplinar com a
psicologia, neurociência, inteligência artificial e sistemas complexos. Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
CONVERSA AS SEIS & MEIA
Nesta quinta, a
partir das 18:30hs, realizarei o Conversa
as seis e meia (Café Filosófico), no Restaurante O Nordestão. Informações (81) 3661-7369. O restaurante é especializado
em grelhados, carnes, aves, peixes e guisados, aceita todos os cartões e possui
amplo estacionamento.
Veja mais:
A arte musical de
Márcio Montarroyos aqui.
A arte de Ana
Rucner aqui.
A arte de Robert
Szidon aqui.
A arte de Natalia
Gutman aqui.
&
INICIAÇÃO DE FERNANDO
PESSOA
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
......
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
......
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
......
Neófito, não há morte.
Poema
extraído da Obra poética (Nova
Aguilar, 1999), do poeta e filósofo português Fernando Pessoa
(1888-1935). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
A ARTE DE AMANDA SAGE
A arte da
pintora visionária estadunidense Amanda
Sage.