O TALENDO DE LINALDO QUE É DE ZÉ &
MARTINS! - Conheci Linaldo
como filho do Sargento Lapércio Martins. Eita! Quem? É filho do sargento! Oxe!
Pense num sujeito filho de um amigo que só tinha de polícia a apresentação, vez
que desde molecote, por conta das folgadas da trupe do meu pai, sempre gritava:
- Sargento! E o Lapércio dava continência com uma cara fechada de autoridade
maior que general! Pense na munganga que era! Depois, era a maior risadagem
entre eles. Aí, eu pirralho ficava: - Sargento! E o homem se transformava numa
careta feiosa daquelas de meter medo até em assombração. Eu ficava parado no
ar, de nem piscar os olhos, atento, até explodirem as gaitadas frouxas. Grande
Lapércio, nem sei se ele subiu de patente, nem queria saber, pra mim era mais
que coronel, privando da amizade entre pilhérias e camaradagens. Pois bem, se o
pai era assim, imagine o filho, como os demais irmãos dele Laércio, Lobinho,
Levi, tudo da minha laia. Saudades da boa, outros tempos. Doutra feita, vejo um
batuque de Linaldo, ao lado de Cikó, maior clima de som. Eu, enxerido como
sempre, queria era participar da levada boa deles. E peguei a viola e me
intrometi entre eles, muito arretado, a dupla era excepcional, eu ficava ancho,
cometendo minhas desafinações e trastejados, e, por cima, me achando o rei da
cocada preta, pelo suingue que eles imprimiam no que eu inventasse de cantar. A
plateia que agüentava querendo de volta a dupla. Foi aí que, um dia, me deparo
com Edição Extraordinária, um álbum
dos tempos do vinil, simplesmente bom demais. Curti da primeira à última faixa,
até estava premiado pela minha parceria com Mazinho, cantada pela dupla Linaldo
& Cikó. Cá comigo eu dizia: essa dupla dá o maior cloro. E deu. Os dois,
pra lá de ótimos; até juntei os dois com Kruel e Robinho, prum show que eu
tencionava fazer, ensaiando no quarto-estúdio do Mané Preto: o som demais de me
deixar embevecido e o ambiente dos ensaios matava a gente de rir. Por isso
escrevi a croniqueta A banda de Mané Preto. Foi o que sobrou vez que o show gorou. Daí por diante, Linaldo &
Cikó, cada um pro seu lado depois de um tanto de sucesso que fizeram. Deles
fiquei acompanhando o trabalho solo de cada um, sempre bom demais. Até que
Linaldo me surpreendeu mais uma vez e continua me surpreendendo até hoje:
músico dos bons, pesquisador, compositor versátil da melhor cepa, gente de uma
aura boníssima, cabra de honrar a espécie humana. O sujeito canta divinamente,
jeito seu exclusivo, músico da estirpe dos bons, o que faz deixa todo mundo de
boca aberta e queixo caído, enfim, um artista de primeira. Já ouvi seus sons de
trás pra frente e vice-versa, vai ser bom assim no palco pros aplausos, meus!
Ainda por cima, faz parte dum trio pra lá espetacular: ele, o poeta Genésio
Cavalcanti e o cantor Marquinhos Cabral. Ô trio que dá gosto de ouvir e curtir.
Coisa do tipo que Deus faz e o diabo ajunta: perfeito. E, acima de tudo, meu
amigo. Tenho orgulho dessa amizade, coisa que faz valer a pena viver. E de me
embevecer com o talento de Linaldo, o Zé Linaldo, o Linaldo Martins. Aplausos
de pé. E vejam a entrevista que ele me concedeu mais abaixo. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: especiais com o
compositor, arranjador e multi-instrumentista Hermeto Pascoal; a
compositora, pianista e escritora Jocy Oliveira; a iniciativa de criação
da arte erudita com elementos da cultura popular Orquestra Armorial &
Quinteto Armorial, oriundos do movimento criado pelo escritor e dramaturgo
Ariano Suassuna; e a artista experimental e performática compositora
estadunidense Laurie Anderson. Para conferir é só ligar o som e curtir.
O SER
QUÂNTICO DE DANAH
ZOHAR - [...]
Todo o mundo da matéria, incluindo nossos
próprios corpos, é feito de átomos e seus componentes ainda menores, e as leis
que governam esses pequenos pedacinhos de realidade básica transbordam para
nossa vida diária. Um único fóton, ou "partícula" de luz, afeta a
sensibilidade do nervo ótico. O princípio da incerteza que governa o comportamento
dos elétrons desempenha um papel na estrutura dos acidentes genéticos que
contribuem para o processo de envelhecimento e para a evolução de certos tipos
de câncer, sendo que o próprio processo evolutivo talvez seja afetado de
maneira semelhante. [...]
Uma visão de mundo bem-sucedida deve, no
final, reunir todos esses níveis — pessoal, social e espiritual — num só todo
coerente. Se o fizer, o indivíduo tem acesso a algum sentido de quem ele é, por
que está aqui, como se relaciona com os outros e que comportamentos são
desejáveis. Se não fizer, o mundo que ele deveria articular será fragmentado, e
o indivíduo sofrerá alienação em algum nível, talvez em todos. [...] Tendo feito essa ligação, tendo visto que a
física da consciência humana emerge de processos quânticos no interior do
cérebro e que, conseqüentemente, a consciência humana e todo o mundo de sua
criação partilham de uma física comum com tudo mais no Universo — com o corpo
humano, com todas as outras coisas vivas e criaturas, com a física básica da
matéria e do relacionamento e com o estado básico coerente do vácuo quântico em
si —, torna-se impossível imaginar um único aspecto de nossas vidas que não
seja abarcado nesse todo coerente único. A cosmovisão quântica transcende a
dicotomia entre mente e corpo, entre interior e exterior, revelando-nos que as
unidades básicas constitutivas da mente (bósons) e as unidades básicas
constitutivas da matéria (férmions) brotam de um substrato quântico comum (o
vácuo) e estão empenhadas num diálogo mutuamente criativo, cujas raízes remontam
ao próprio cerne da criação da realidade. Em outros termos, a mente é relacionamento
e a matéria é aquilo que é relacionado. Nenhuma delas, sozinha, poderia evoluir
ou expressar algo. Juntas, elas nos dão os seres humanos e o mundo. [...] Em resumo, a cosmovisão quântica enfatiza o
relacionamento dinâmico como a base de tudo o que existe. Diz que nosso mundo
surge através de um diálogo mutuamente criativo entre mente e corpo (interior e
exterior, sujeito e objeto), entre o indivíduo e seu contexto material e
pessoal, e entre a cultura humana e o mundo da natureza. Dá-nos uma visão do
ser do homem como livre e responsável, reagindo aos outros e ao ambiente,
essencialmente relacionado e naturalmente comprometido, e, a cada instante,
criativo. Trechos extraídos da obra O ser
quântico: Uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência, baseada
na nova física (Best Seller, 1990), da
física e filósofa estadunidense Danah
Zohar, tratando sobre uma física da vida diária, a
consciência e o cérebro, um modelo mecânico-quântico da consciência, mente e
corpo, a sobrevivência do ser e a imortalidade quântica, fundamentos de uma
nova psicologia quântica, a liberdade do ser e a responsabilidade quântica, o
mundo material e a estética quântica, criatividade e liberdade, a cosmovisão
quântica, entre outros assuntos. Veja mais aqui, aqui aqui e aqui.
O CÂNTICO DOS CANTOS DE ERNESTO CARDENAL – Amada, teu ventre
tem cheiro de terra recém aberta e a terra recém molhada. /— A sulco recém
molhado por meu amado. / Toda matéria está construída com duas partículas: /
prótons e elétrons; / os prótons são positivos e os elétrons negativos, / macho
e fêmea. / Um nascimento não é por acidente / mas por união. / E prótons e
elétrons no gás estelar estão sexuados. / Daí a evolução do universo. / Uma
atração irresistível / entre partícula subatômica positiva e negativa. / Daí os
átomos, as estrelas, nós. / Esta é a coesão do universo. / Amor essencial!
Essencial / que estás no coração do universo! / Atração que gerou todas as
coisas. / O universo inteiro é uma boda. / Pedaço de matéria estelar, / um
átomo teu é como um sistema solar, e teu corpo / como um sistema de galáxias
com milhões de sóis. / A atração. A atração. / Os elétrons giram dentro dos
átomos, / os satélites giram arredor dos planetas, / os planetas arredor da
galáxia arredor / de um centro de gravidade comum. / A gravidade que move o sol
e todas as estrelas. Poema Cântico dos cantos, extraído da obra Cántico cósmico (Trotta, 1993), do escritor, sacerdote e teólogo nicaragüense Ernesto Cardenal. (Tradução
do poeta e tradutor Antonio Miranda)
A LIBERDADE DE LUMUMBA
– [...] Desta luta, que
foi de lágrimas, fogo e sangue, estamos orgulhosos até ao mais profundo de nós
mesmos, pois foi uma luta nobre e justa, uma luta indispensável para por fim à
humilhante escravidão que nos era imposta pela força. Qual foi a nossa sorte
durante 80 anos de regime colonial, as nossas feridas estão ainda muito
frescas e muito dolorosas para que nós possamos removê-las da nossa memória;
nós conhecemos o trabalho exaustivo, exigido em troca de salários que não nos
permitiam nem comer para matar a nossa fome, nem nos vestir ou morar
decentemente, nem criar nossos filhos como seres amados. Nós conhecemos as
ironias, os insultos, as pancadas que devíamos suportar, de manhã, de tarde e
de noite, porque éramos negros. Quem esquecerá que a um negro se dizia “tu”,
certamente não como se diz a um amigo, mas porque o respeitável “vous” era
reservado somente aos brancos? Nós conhecemos a pilhagem de nossas terras,
espoliadas em nome de textos pretensamente legais que não faziam mais do que
reconhecer o direito do mais forte. Nós conhecemos o que era a lei não ser a
mesma, caso se tratasse de um branco ou de um negro, confortável para uns,
cruel e desumana para os outros. Nós conhecemos os sofrimentos atrozes dos que
foram degredados por opiniões políticas ou por crenças religiosas, exilados em
sua própria pátria, com sorte pior do que a morte. Nós conhecemos o que era
haver casas magníficas para os brancos e palhoças miseráveis para os negros,
ou, nas lojas ditas europeias, um negro nem poder entrar, ou, nas barcaças, um
negro viajar como um galináceo, aos pés do branco em sua cabine de luxo. Quem
esquecerá, enfim, os fuzilamentos onde pereceram tantos de nossos irmãos, as
masmorras onde foram brutalmente atirados aqueles que não queriam mais se
submeter ao regime de injustiça, opressão e exploração? Tudo isso, meus irmãos,
nós temos sofrido profundamente. Mas, também, tudo isso, nós, que fomos
escolhidos, pelo voto dos seus representantes eleitos, para governar o nosso
amado país, nós, que sofremos em nosso corpo e em nosso coração a opressão
colonialista, dizemos a vocês, em voz alta: tudo isso finalmente acabou. A
República do Congo foi proclamada e o nosso querido país está agora nas mãos
dos seus próprios filhos. Juntos, meus irmãos, minhas irmãs, começaremos uma
nova luta, uma luta sublime que levará o nosso país à paz, à prosperidade e à
grandeza. Juntos, nós vamos estabelecer a justiça social e assegurar que cada
um receba a justa remuneração por seu trabalho. Mostraremos ao mundo o que pode
fazer o homem negro quando trabalha em liberdade, e faremos do Congo o centro
de iluminação de toda a África. Nós vigiaremos para que as terras de nossa
pátria tragam benefícios verdadeiramente para seus filhos. Nós vamos rever todas
as leis de outrora e fazer novas, que serão justas e nobres. Nós vamos pôr fim
à opressão do pensamento livre e fazer com que todos os cidadãos gozem
plenamente das liberdades fundamentais previstas na Declaração dos Direitos do
Homem. Nós vamos suprimir eficazmente toda discriminação, seja ela qual for, e
dar a cada um o justo lugar que merece sua dignidade humana, seu trabalho e sua
dedicação ao país. Nós faremos reinar, não a paz dos fuzis e das baionetas, mas
a paz dos corações e da boa vontade. Para tudo isto, queridos
compatriotas, podem estar seguros de que poderemos contar não somente com as
nossas enormes forças e as nossas imensas riquezas, mas também com a ajuda de
numerosos países estrangeiros, cuja colaboração, sempre que for leal e não procurar
nos impor uma política, seja ela qual for, aceitaremos sempre. Nesse domínio, a
Bélgica, que compreende enfim o sentido da História, não tentando opor-se à
nossa independência, está disposta a conceder-nos sua ajuda e amizade, e um
tratado foi assinado nesse sentido entre nossos dois países iguais e
independentes. Essa cooperação, estou seguro, será vantajosa para os dois
países. De nosso lado, mantendo-nos alertas, saberemos respeitar os
compromissos livremente consentidos. Assim, tanto interna quanto externamente,
o Congo, nossa querida república que meu governo irá criar, será um país rico,
livre e próspero. Mas, para que cheguemos sem atraso a esse objetivo, peço a
todos, legisladores e cidadãos congoleses, que me ajudem com todas as suas
forças. Peço a todos que esqueçam as querelas tribais que nos esgotam e que nos
fazem correr o risco de sermos desprezados no exterior. Peço à minoria
parlamentar que ajude meu governo com uma oposição construtiva, ficando
estritamente dentro das vias legais e democráticas. Peço a todos que não recuem
diante de nenhum sacrifício para assegurar o ressurgir da nossa grandiosa
tarefa. Peço a todos, finalmente, que respeitem incondicionalmente a vida e os
bens de seus concidadãos e dos estrangeiros estabelecidos em nosso país. [...] Trecho do
discurso do líder e fundador do Movimento Nacional Congolês (MNC), Patrice Lumumba (1925-1961), defendendo
consistentemente a solidariedade entre os povos da África para além dos limites
de nação, etnia, cultura, classe e gênero, encorajando a luta não-violenta
contra o colonialismo e convocando ao diálogo os países desenvolvidos e em
desenvolvimento, brutalmente assassinado no dia 17 de janeiro de 1961, depois
de um golpe de estado no Congo, promovido pela Bélgica e Estados Unidos, cujas
circunstâncias continuam sendo um mistério e a identidade de seus assassinos
desconhecida. Tradução
do Movimento para a Paz e a Democracia em Angola (MPDA).
O AMOR DE MERTON – [...]
O amor é o nosso verdadeiro destino. Não
encontramos o sentido da vida sozinhos, e sim com outro. Não descobrimos o
segredo de nossas vidas apenas por meio de estudo e de cálculo em nossas
meditações isoladas. O sentido de nossa vida é um segredo que nos tem de ser
revelado no amor, por aquele que amamos. E, se esse amor for irreal, o segredo
não será encontrado, o sentido jamais se revelará, a mensagem jamais será
decodificada. No melhor dos casos, receberemos uma mensagem embaralhada e
parcial, que nos enganará e confundirá. Só seremos plenamente reais quando nos
permitir-nos amar — seja uma pessoa humana ou Deus. [...] Trecho extraído
da obra Amor e vida (Martins Fontes,
2003), do escritor francês, ativista social, monge trapista e estudioso sobre a
espiritualidade e as religiões comparadas, Thomas Merton (1915-1968), defensor
do pacifismo e do ecumenismo.
PAISAGEM INTERIOR
eu morro sufocada neste álbum de retratos, que a
descontinuidade do Tempo faz azular. Quanto mais eu contemplo os detalhes das
penas dos pássaros, mais me dou conta de que não posso voar -, e num impulso me
lanço ao abraço feito pintura de tinta guache e me penduro no dorso da ilusão
de viver em você. Ah, os seus instintos mais primitivos a invocar-me a
docilidade de quem vive à margem da realidade na luminosidade nos seus olhos de
sol e poucas são as palavras que o Tempo nos participa, porque nem o rio, nem a
floresta, nem a montanha ou mesmo o mundo inferior pode separar o que provem de
nossa alma e pode ser refletida no espelho d'água - benéfica e cristalina água
que sacia a sede de todas as sedes: a felicidade de ser assim, tão sua.
Prosa poética da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez. Veja mais aqui.
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ARTE E ENTREVISTA DE ZÉ
LINALDO
A arte na
entrevista do músico, compositor, intérprete, arteducador e produtor cultural Zé
Linaldo. Veja detalhes aqui.