segunda-feira, setembro 18, 2017

LÉVIS-STRAUSS, WILDE, HELEN KELLER, VICTOR HUGO, WILLIAM CARLOS WILLIAMS, LUIZ BARRETO, MICROFISIOTERAPIA & CASARÃO DO ALTO DO INGLÊS

ALTO DO INGLÊS – Imagem: Chalé do Inglês, do pintor Luiz Barreto. Certa feita contou-se um dia lá de não sei quando, o povo todo inheto amontoado nos arredores da estação recém-construída, esperando Maria Fumaça que vinha lá de longe nos trilhos da linha férrea do Recife. Uma espera buliçosa com aquela do vem não vem, pra mais de hora ali plantado de pé, olhando dum lado pro outro, como seria o troço todo, um invento tão esperado, coisa de nunca se vê. Mais tempo depois, então, ouviu-se um apito de se parar a respiração: U-huuuuuuu! - É ela, já vem vindo! E vinha mesmo no maior zoadeiro, soltando fumaça, apareceu lá no fim bem pequenininha da lonjura, fumaceiro no meio do canavial, vixe, um corre-corre medonho, muita gente se escondeu de medo: - E se fosse a coisa ruim ao invés dum danado dum trem, ora? Sou lá besta de não me precaver, ora. Não tinha quem não tremesse com aquela barulheira chegando perto, quem não foi agora vai, quem não foi agora vai, quem não foi agora vai que eu acabei de chegar! Danou-se! Que bicho bonito danado, cheio dos apitos, descargas fumegantes, desafogos de engrenagens, arriados de puxa-encolhe, peidos de todo jeito: - Essa bicha pipoca que só, né maquinista? É a gota! Isso é que é um mondrongo de respeito! Arrepara só! O cabra amontado num negócio desse vai até o fim do mundo, se num vai! Já baixando a bufarra toda, apareceu um galegão embecado duns dois metros de altura, gritando umas coisas que ninguém entendia. Quem é, hem? Cochicharam que era um mandão engenheiro da Gretoeste que ia dar ordem naquilo tudo. Vixe! O homem esbravejava que só e logo um cheleléu dele desceu do trem às carreiras, explicando que ele procurava pelos funcionários para pegar as suas malas e levar lá pra casa nova do alto. Ah, tá! Aí que foi gente como a praga pra servir o homem e pegar as malas só pra ver como é que era a casa bonitona lá do alto. Oxe, o tanto de mala que tivesse, o povo todo levava. E assim subiram a íngreme elevação rumo ao casarão, a mundiça toda serpenteando o morro acompanhando o grandão a gesticular a frente, enquanto cá embaixo, quem ficou, deu de cara com um verdadeiro espetáculo: apareceu assim do nada uma galegona bonitona dos olhos brilhosos, vestido solto das pernas vistosas descendo da locomotiva, braços abertos no sorriso iluminado, cabelos e saias do vestido aos ventos de aparecer-lhe as mais espetaculares intimidades, e ela nem aí só gingando as passadas como quem levitasse feliz sem direção certa, tomando pé de toda aquela redondeza. Lá se ia a branquela como se bailasse no meio duma ventania boa de mexer com as plantas todas, passarinhos e passantes, e a gente só de flagrar ela nuínha embaixo de suas vestes soltas, aos boticões de não perder um segundo sequer de seu encantamento, aquela brancura da maior das bonitezas. E ia nem aí pra nada com quem ia ou quem viesse do chalé do alto pra pegar as coisas das mudanças deles e tornarem a subir, por vezes encarreadas carregando tudo, até ela se encontrar com o mandão, dar-lhe um beijo afetado e se desgarrarem indiferentes, o chefão descendo com o cheleléu na cola, ela subindo entre os que iam e vinham, solfejando suas cantigas como quem ganhou da vida o paraíso, às carreiras pelos degraus, reaparecendo em cada janela e portas da luxuosa moradia, até se encostar ao alpendre e ficar maravilhada com toda a paisagem da redondeza. Ela lá e muita gente aqui embaixo só acompanhando os seus mínimos movimentos, até que lá pras tantas, tudo já descarregado na mansão, vê-se o galegão dispensar todo mundo para sumir dentro de casa e apenas ouvir os gritos, gracejos, risadas e felicitações do casal na maior comemoração. A noite entrou pesada e quando amanheceu o dia, quando não era a chegada e partida da Maria Fumaça com estardalhaço, era ela não menos retumbante que aparecia desnuda rodopiante pernuda entre as fruteiras e florais que arrodeavam o oitão do palacete, exprimindo a satisfação de se encontrar naquele rincão encantador, quando, na verdade, ela que se tornava o encanto daquelas paragens para todo ser vivente da freguesia. Dali a pouco quando todos saíam acompanhando o gringo pro expediente na estação, ela adentrava e não mais reaparecia, ouvindo-se apenas sua voz cantarolando lá pra dentro de sua clausura. Nem bem a tarde começava a trazer o espetáculo do pôr do Sol pra noite, ouviam-se os passos do marido de volta pra casa, pra tudo ficar de ouvido colado pras estripulias do casal. Na escuridão da noite dava pra ouvir os cantos, risos e gritinhos dela com o vozeirão do marido, coisas de intimidades mais estreitas no maior dos regalos amorosos. Assim, todos os dias, enquanto o povo ficava vidrado com a travessia da Maria Fumaça, logo após ela ganhar chão pras bandas de Catende ou pra onde quer que fosse, as vistas se voltavam pra gringa cada dia mais bonita que antes; - Isso sim que é espetáculo pras vistas! E se passaram semanas, meses, anos, povaréu todo lá de butuca nos passeios da princesa nua pelos jardins e fruteiras do casarão logo que o dia amanhecia ou, vez em quando, no mormaço da tarde que seguia pro descanso do Sol, ela dançando pelas infâncias, adolescências, marmanjadas, vetustos esperançosos que viam nela o entretenimento jamais visto. Até que outro dia lá, muito tempo depois de rotineiras e surpreendentes aparições, a população deu-se com as notícias de que o gringo fora embora. Dizem ter ouvido durante a noite um estampido quebrando o silêncio, ninguém sabia o que ocorrera, era um entra-e-sai, nem a chegada da Maria Fumaça reanimou aqueles que queriam saber do gringo e sua rainha nua. O casarão estava fechado, coisa de anos nunca antes vista, sempre portas escancaradas e ela àquela hora, desfilando nua a cantar pros pássaros, árvores e ventos, pra felicidade da curiosidade de todos. Não mais ela no casarão do Alto do Inglês, só Maria Fumaça que vinha e zarpava proutas paragens, levando desejos e esperanças do povinho daqui. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com os grandes sucessos  e álbuns Piano & Viola e Imyra, Tayra, Ipy, do cantor e compositor uruguaio Taiguara (1945-1996); o Concert Tchaikovisky Live, Four Seasons Vivaldi e Concert Violin Dvorak, na interpretação da virtuosa e belíssima violinista e violista holandesa Janine Jansen; a música do violonista, compositor, concertista, cantor e produtor musical Chico Mello com seus parceiros Silvia Ocougne, Helinho Brandão & Carlos Careqa; e o álbum Negra e canções como Espera e O meu lugar da cantora e compositora Consuelo de Paula. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAOs problemas impostos pelos preconceitos raciais refletem em escala humana um problema muito maior e cuja solução é ainda mais urgente: o das relações sobre o homem e as demais espécies viventes. [...] O respeito que desejamos obter do homem para com seu semelhante é apenas um caso particular do respeito que ele deveria manifestar para com todas as formas de vida [...]. Trechos extraídos da obra Raça e história (Presença, 2003), do antropólogo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Veja mais aqui e aqui.

O CASARÃO DO ALTO DO INGLÊS – (por Vilmar Carvalho, escritor e historiador). Por que recuperar um casarão que também pode ser considerado símbolo da opressão praticada em outras épocas? 1. O casarão em questão, construído ao final do século XIX, foi residência dos engenheiros ingleses que trabalhavam em Palmares desde 1859, ano em que começou a construção da ferrovia que passava a ligar Recife e Palmares; 2. Seu habitante mais ilustre foi o inglês Edmund Cox, um engenheiro graduado da Grant Western Railway, fidalgo educado na ótica vitoriana, membro honorário do também fidalgo Clube Literário de Palmares; 3. O casarão entra em ruína conjuntamente com todos os equipamentos ferroviários a partir dos anos setenta, considerando que o Regime Militar fez opção pelo transporte rodoviário; 4. Da construção dele para 2014, somam nada mais que 38 governos municipais que ali não colocaram um centavo, não tinham ou não podiam investir: o casarão é da massa falida da antiga Rede Ferroviária Nacional? 5. O exemplo de ruínas como usinas, sobrados e casas grandes de engenhos, o casarão do Alto do Inglês é a carcaça que ficou de um tempo que se montou ainda na escravidão e que viu a opressão de milhares de famílias pobres para montar a chamada Civilização do Açúcar; 6. Pode-se perguntar: e um marco que homenageasse os trabalhadores anônimos que morreram na execução do projeto inglês? Afinal para cada dormente da expansão ferroviária do século XIX, certamente morreu um trabalhador pobre nordestino; 7. Pois, como diz Walter Benjamin, “para cada documento de cultura, um documento de barbárie!”; 8. Documento de barbárie: para cada dormente, um corpo exausto. Símbolo maior que este não haverá jamais e nunca será ruína. NOTA DO EDITOR DO BLOG: Ao que me consta, a Casa do Alto do Inglês foi adquirida juntamente com o Teatro Cinema Apolo pela Prefeitura dos Palmares, na gestão Luís Portela de Carvalho (1982-1988), para formação do patrimônio instituidor da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, fundada em 1983, constante do seu respectivo Estatuto. Veja mais aqui e aqui.

A GREAT WESTERN – (Por Lucia Gaspar, bibliotecária da FUNDAJ) – Em 1872, alguns capitalistas ingleses reunidos em Londres criaram uma companhia para construir estradas de ferro no Brasil, a Great Western of Brazil Railway Company Limited, que logo ficou conhecida no País como Greitueste. Como a sua similar inglesa, The Great Western Railway Company, criada em 1835, para fazer a ligação entre Londres e a sua parte oeste (Liverpool, Bristol), a nova empresa se destinava a abrir ferrovias em direção ao oeste, numa marcha para o agreste do Nordeste brasileiro. Em 1873, a Great Western foi autorizada a funcionar no Império do Brasil e, em 1875, conseguiu do Barão da Soledade, a transferência da concessão para construir em Pernambuco uma ferrovia que, passando por Caxangá, São Lourenço da Mata, Pau d`Alho e Tracunhaém (com ramais para Nazaré da Mata e Vitória de Santo Antão), ligaria o Recife a Limoeiro. A inauguração das obras, em 1879, foi bastante festiva e realizou-se em Santo Amaro, no Recife, com a presença do presidente da província de Pernambuco. O primeiro trecho Recife-Pau d’Alho só ficou pronto em 1881 e, em 1882, foi aberto ao tráfego a linha Pau d’Alho-Limoeiro, assim como o ramal para Nazaré da Mata. Os primeiros diretores da empresa no Brasil foram James Fergusson, David Davies, Hugh Robert Baines, Alfred Phillips Youle, Edward Keir Hett e Spencer Herapath. Com a saída de Hugh Robert Baines, Frank Parish passou a fazer parte da diretoria. Entre 1882 e 1883, a estrada de ferro de Limoeiro transportou 2.061 passageiros de 1ª classe e 33.377 de segunda. Em 1884 e 1885, com a introdução dos vagões de 3ª classe, foram transportados mais de 60.000 pessoas, sendo de apenas 4%, aproximadamente, os viajantes de 1ª classe. Além de passageiros, a Great Western transportava também os principais produtos da região, como açúcar, álcool, madeira, algodão, feijão. Depois da estrada Recife-Limoeiro, a empresa construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco (1885-1896) ligando o Recife a Caruaru. A ferrovia iniciava no bairro de Afogados, no Recife, próximo à Casa de Detenção (atual Casa da Cultura), passando por Vitória de Santo Antão, Gravatá, Bezerros, terminando em Caruaru. Nessa época, Vitória possuía mais de 70 engenhos; Bezerros, mais de 20 fábricas de rapadura, e Caruaru exportava para o Recife uma grande quantidade de solas, couros, algodão, queijo, feijão, além de realizar uma das maiores feiras de gado da região. O primeiro trem que chegou a Caruaru foi todo ornamentado, levando o governador Barbosa Lima, o chefe de polícia Júlio de Melo e outras autoridades. A partir do século XIX, a empresa anexou a maior parte das estradas de ferro da região, o que abrangia linhas estaduais, municipais e estratégicas. Na época da II Guerra Mundial, a Great Western teve que recorrer à lenha em substituição ao carvão de pedra, o que concorreu para aumentar a devastação das reservas florestais da região. Para remediar um pouco a situação, a empresa criou vários hortos florestais, onde eram cultivadas milhares de mudas de plantas nativas e também aclimatadas no país. Depois, passou a utilizar o óleo combustível, poupando o restante dos recursos naturais existentes. Em 1945, a Great Western possuía quatro linhas principais: Recife-Nova Cruz, Recife-Albuquerque Né , Recife-Jaraguá e Paulo Afonso. A empresa chegou a possuir uma rede ferroviária de mais de 1.600 quilômetros distribuídos entre os Estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. A história da Great Western está tão ligada à da produção no Nordeste brasileiro, que ninguém pode escrever sobre a história econômica da região sem consultar seus relatórios e arquivos. REFERÊNCIAS: PINTO, Estevão. História de uma estrada-de-ferro do Nordeste. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 310 p. (Documentos brasileiros, 61). SOUZA, Alcindo de. Antologia ferroviária do Nordeste. Recife: Bagaço, 1988. 100 p.

A HISTÓRIA DA MINHA VIDA - [...] Meus primeiros dias de vida foram como os de toda criança: como primogênita que fui, cheguei, vi e venci [...] Luz! Luz! Era o grito incompreendido da minha alma. Nesse dia o astro luminoso raiou para mim [...] Gradualmente acostumei-me ao silencia e à escuridão que me rodeavam e esqueci que algum dia fora diferente, até que ela chegou, a minha professora, a que iria libertar meu espírito [...] Não me lembro quando percebi pela primeira vez “ser diferente” das outras pessoas, mas eu sabia disso antes da vinda da minha professora. Eu notara que mamãe e meus amigos não usavam sinais como eu quando queriam algo, mas falavam com a boca. Às vezes eu ficava entre duas pessoas que conversavam e tocava seus lábios. Como não conseguia entender, ficava perturbada. Movia os lábios e gesticulava freneticamente sem resultado. Isso me deixava às vezes tão zangada que eu chutava e gritava até ficar exausta. [...] Não há melhor maneira de agradecer a Deus pela visão, do que dar ajude a alguém que não a possui [...] Se metade do dinheiro hoje gasto em curar cegueira, fosse utilizado em preveni-la, a sociedade ganharia em termos de economia sem mencionar considerações de felicidade para a humanidade [...] Que toda criança cega tenha oportunidade de receber educação e todo adulto cego, uma oportunidade para treinamento e trabalho útil [...] Quando uma porta de felicidade fecha-se, uma outra se abre; mas muitas vezes, nós olhamos tão demoradamente para a porta fechada que não podemos ver aquela que se abriu diante de nós [...] Não há barreiras que o ser humano não possa transpor [...] Aprendi a fazer tudo o que podia, para ajudar minha professora. Todas as manhãs, ela levava o marido de carro à estação, onde ele tomava o trem pata Boston, para depois se ocupar das compras. Eu tirava a mesa, lavava a louça e arrumava os quartos. Podiam estar clamando por mim montanhas de cartas, livros e artigos para escrever, mas, a casa era a casa, alguém tinha de fazer as camas, colher flores, catar lenha, por o moinho de vento a andar e para-lo quando a caixa estivesse cheia, enfim, ter em mente essas coisas imperceptíveis que fazem a felicidade da família. Quem gosta de trabalhar sabe como é agradável a gente estar ajudando as pessoas a quem estimamos nas tarefas diárias de casa [...]Andar com um amigo na escuridão é melhor do que andar sozinho na luz  [...] O resultado mais sublime da educação é a tolerância [...]. Trechos extraídos da obra A história da minha vida (José Olympio, 1902), da escritora e ativista social estadunidense Helen Keller (1880-1968), a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. O livro traz o impressionante relato autobiográfico de quem tendo ficado cega e surda aos 18 meses de idade, em fins do século XIX, conseguiu aprender a ler, escrever e falar, dominar línguas, graduar-se em Filosofia e tornar-se escritora reconhecida. Com a chegada da professora Anne Sullivan à sua casa, quando ela tinha pouco menos de sete anos, seu mundo transformou-se: aprendeu a manifestar – através das palavras, até então desconhecidas os seus desejos, e sentimentos, entendeu regras, aprendeu a criar. Veja mais aqui.

LIBERDADECom que direito pões pássaros em gaiolas? / Que direito tens tu, que o das aves violas? / Por que as roubas das nuvens... auroras... nascentes? / Por que privas da vida esses seres viventes? / Homem, tu crê que Deus, o Pai, faria nascer / asas p’ra que à janela as fosses suspender? / Se não o fazes, hás de viver descontente? / Que é que te fizeram esses inocentes / para que os condenasses, com a fêmea e seu ninho? / As desventuras deles é o nosso caminho! / Talvez o sabiá, que do seu galho roubamos, / e o infortúnio que aos animais nós causamos / e a escravidão inútil que impomos às bestas / qual Nero não cairão sobre nossas cabeças? / E se o cabresto então desprendesse os grilhões? / Oh! Quem sabe o desfecho de nossas ações, e que fruto nefasto estarão produzindo / as cruezas que na Terra perpetramos rindo? / Quando aprisionas sob o ferro de uma grade / pássaros feitos para o azul da liberdade, / os nadadores do ar que arribam por aqui / - Pintassilgo, Chopin, pardal ou bem-te-vi -, / O bico ensangüentado deles – ouve bem! - / ao se bater nas grades fere a ti também! / Tem cuidado com teu julgamento furtivo! / Deus olha em toda parte onde grita um cativo. / És incapaz de ver que és sórdido e cruel? / A esses detentos abre a porta para o céu! / Aos campos, rouxinóis! Aos campos, andorinhas! / Perdoai o que fizemos às vossas asinhas! / E a ti, pois, da justiça as misteriosas redes, / pois são masmorras que ornamentam tuas paredes! / Das treliças com fios de ouro nascem bastiões; / a perversa gaiola é a mãe das prisões. / Respeita o augusto cidadão do ar e do prado! / Tudo aquilo que aos pássaros é confiscado / o destino, que é justo, toma dos humanos. / Temos tiranos, pois somos também tiranos. / Queres ser livre, ó homem? Pois pensa primeiro, / se tens em casa um testemunho prisioneiro... / A sombra ampara aquilo que parece instável. / A imensidade inteira a essa ave miserável / vem se prostrar; e te condena à expiação. / É estranho, ó opressor, que grites: “opressão!” / tens sorte agora enquanto tua demência arrasa / a sombra desse escravo no umbral da tua casa; / porém essa gaiola com a ave infeliz / encarna nessa Terra triste cicatriz. Poema do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), que também se expressa: “Olha teu cão nos olhos e não poderás afirmar que ele não tem alma”. Tradução de Raul Passos. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE & O RETRATOO artista é o criador de coisas belas. O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista. O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo ou para um novo material a sua impressão das coisas belas. A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia. Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem sedução, o que é um defeito. Os que encontram significações belas nas coisas belas são os cultos, para esses há esperança. Eleitos são aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza. Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo. A aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara ao espelho. A aversão do século XIX pelo Romantismo é a queixa de Caliban por não ver a sua cara ao espelho. A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem ser demonstradas. Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável. Um artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo. Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de ator o modelo. Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o símbolo, fazem-no a expensas suas. O que a arte realmente espelha é o espectador, não a vida. A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital. Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo mesmo. Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil, contanto que a não admire. A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada. Toda a arte é completamente inútil. [...] A única coisa que desejo mudar na Inglaterra é o clima. A mim me satisfaz a contemplação filosófica. Porém, como o século dezenove falhou de tanto esbanjar condescendência, sugiro façamos um apelo à ciência, para que nos aprumemos. A vantagem das emoções é que elas nos desencaminham, e a vantagem da ciência é que ela não é emocional. [...]. Trecho do romance filosófico O retrato de Dorian Gray (1890 – Lanmark, 2012), do escritor e dramaturgo britânico Oscar Wilde (1854-1900). Veja mais aqui e aqui.

MICROFISIOTERAPIA – Trata-se de uma técnica de terapia manual criada pelos fisioterapeutas e osteopatas Daniel Grosjean e Patrice Benini, em 1983, na França, que consiste em identificar a causa primária de uma doença ou sintoma e estimular a autocura do organismo, para que o corpo reconheça o agressor (antígeno) e inicie o processo de eliminação. Seu embasamento teórico iniciou pelos estudos da embriologia, filogênese, anatomia e ontogênese, e com essas informações desenvolveram mapas corporais específicos (similares aos meridianos de Medicina Oriental) e gestos manuais específicos e suaves que permitem identificar a causa primária de uma doença ou disfunção e promovendo o equilíbrio e manutenção da saúde. A Abordagem Manual é realizada seletivamente por camadas especificas do corpo. O trabalho foi reconhecido por ministérios da saúde de vários países, como Rússia, Polônia e Madagascar e África do Sul. Capaz de identificar tecidos que perderam sua função e vitalidade normal após eventos agressores ao organismo, a Microfisioterapia promove a normalização e a regulação das regiões corporais afetadas. Dessa forma, complementar à Medicina Tradicional, trata a mente e o corpo como um todo, do mesmo modo que a Homeopatia e a Medicina Tradicional Chinesa. Os seus benefícios proporcionam melhoria do estado emocional, tratamento das dores, estimulação do sistema Imunológico, identificação da causa primária de um sintoma ou de uma doença e promoção da saúde. Seu tratamento é indicado nos casos de depressão bipolar, alergias em geral, dores físicas, traumas emocionais, fibromialgia, fobias e ansiedade, sendo indicada para qualquer pessoa, independente da patologia ou idade, não se opondo à Medicina ou à Fisioterapia, atuando de forma preventiva ou curativa.

POEMA
Ao trepar sobre
o tampo do
armário de conservas
o gato pôs
cuidadosamente
primeiro a pata
direita da frente
depois a de trás
dentro
do vaso
de flores
vazio.
Poema extraído da obra Poemas (Companhia das Letras, 1987), do poeta estadunidense William Carlos Williams (1883-1963) - tradução de José Paulo Paes.

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A ARTE DE LUIZ BARRETO
Casa Grande do Engenho Paul, arte do pintor Luiz Barreto (Gentilmente cedida pelo acervo de Marcelo Tiriri – Foto de Eliandro Marques). Veja mais aqui e aqui.